O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

JOHN KEATS



Ao Outono

I

Estação de névoas e frutífera suavidade,
Amiga do peito do sol maduro;
Conspiras como ele como espargir e abençoar
Com frutas as videiras nos beirais de palha;
Arqueias com maçãs os ramos musgosos,
Preenches até o fim de madurez as frutas;
Inflas as cabaças e farta as cascas das avelãs
Com doce cerne; fazes brotar mais
E mais, flores tardias às abelhas,
Até que pensem jamais findar-se-ão os dias quentes,
Pois o Verão transbordou suas meladas colméias.

(...)
[Mais poemas em: http://john-keats.tumblr.com/Poemasemportuguês

John Keats (Londres, 31 de Outubro de 1795 - Roma, 23 de Fevereiro de 1821). Juntamente com Lord Byron e Percy Bysshe Shelley, foi uma das principais figuras da segunda geração do movimento romântico. A poesia de Keats é caracterizada por um imaginário sensual, mais visível na sua série de odes.
O trabalho de Keats raramente foi bem recebido pelo público e pelos críticos. Indiferente a isso, ele escreveu com abundância e qualidade, por toda a sua curta vida. Entre 1818 e 1819, concentrou-se em dois poemas importantes: Hyperion (inacabado), em versos brancos, sob a influência de John Milton, e La Belle Dame Sans Merci.
Abandonou a carreira médica para dedicar-se à literatura e começou a escrever o longo poema Endymion em 1818, que foi violentamente criticado. Tais críticas, no entanto, apenas estimularam o poeta.
No ano em que se publica Endymion, Keats encontrou Fanny Brawne, a grande paixão da sua vida. Teve que separar-se dela em 1820, devido à tuberculose que havia contraído. Foi para a Itália, onde morreu poucos meses depois. Sobre seu túmulo, no Cemitério Protestante de Roma, foi esculpida a inscrição que ele mesmo redigira: Here lies one whose name was writ in water (Aqui descansa um homem cujo nome está escrito sobre a água).
Keats, o último e maior dos poetas românticos ingleses, exerceria uma profunda influência sobre Tennyson, Robert Browning, pré-rafaelitas e outros.
"Se a poesia não surgir tão naturalmente como as folhas de uma árvore, é melhor que não surja mesmo".

"O prazer visita-nos muitas vezes; mas a mágoa agarra-se cruelmente a nós".

"No mesmo templo do deleite / A velada Melancolia tem o seu santuário".

"'Beleza é verdade, verdade é beleza' - isto é tudo / o que conheceis sobre a Terra, e é tudo o que precisais conhecer".

"Oh, se eu ao menos pudesse ter uma vida de sensações em vez de uma vida de pensamentos".

(WIKI)

domingo, 27 de outubro de 2013

DYLAN THOMAS



Em Meu Ofício ou Arte Tacicturna

Em meu ofício ou arte taciturna
Exercido na noite silenciosa
Quando somente a lua se enfurece
E os amantes jazem no leito
Com todas as suas mágoas nos braços,
Trabalho junto à luz que canta
Não por glória ou pão
Nem por pompa ou tráfico de encantos
Nos palcos de marfim
Mas pelo mínimo salário
De seu mais secreto coração.
Escrevo estas páginas de espuma
Não para o homem orgulhoso
Que se afasta da lua enfurecida
Nem para os mortos de alta estirpe
Com seus salmos e rouxinóis,
Mas para os amantes, seus braços
Que enlaçam as dores dos séculos,
Que não me pagam nem me elogiam
E ignoram meu ofício ou minha arte.
(tradução: Ivan Junqueira)



Dylan Marlais Thomas (Swansea, 27 de Outubro de 1914 – Nova Iorque, 9 de Novembro de 1953).
O pai de Dylan Thomas, recitava-lhe Shakespeare e desde miúdo ficou fascinado pela língua. Aos 16 anos deixou os estudos e foi trabalhar para um jornal. Acabou por deixar o emprego para se dedicar completamente à poesia, foi nessa altura, que Thomas escreveu mais de metade dos seus poemas. Thomas com vinte anos, mudou-se para Londres, ganhou o prémio Poet's Corner e publicou o seu primeiro livro, 18 Poemas, com grande sucesso. Durante este período de sucesso, Thomas começou a abusar do álcool.
Ao contrário dos seus contemporâneos, Thomas não estava preocupado com a exibição de temas de questões sociais e intelectuais, e a sua escrita, com o seu lirismo intenso e altamente carregada emoção, tem mais em comum com a tradição romântica.
O poeta foi aos Estados Unidos. Teatral, romântico e dado a grandes bebedeiras, tornou-se numa figura lendária nos EUA e um ídolo para a geração dos poetas da chamada Geração Beat.
Arrebatou plateias com a sua voz grave ao ler os seus versos em teatros e universidades. Sabe-se que o jovem cantor e compositor americano Robert Allen Zimmerman, adoptou o nome Bob Dylan em homenagem ao poeta galês.
Dylan Thomas morreu de alcoolismo, aos 39 anos.

"Respirei fundo e escutei o velho e orgulhoso som do meu coração. Eu sou, eu sou, eu sou."

ESPELHO

Sou de prata e exacto. Não faço pré-julgamentos.
O que vejo engulo de imediato
Tal como é, sem me embaraçar de amor ou desgosto.
Não sou cruel, simplesmente verídico —

O olho de um pequeno deus, de quatro cantos.
Reflicto todo o tempo sobre a parede em frente.
É rosa, manchada. Fitei-a tanto
Que a sinto parte do meu coração. Mas cede.
Faces e escuridão insistem em separar-nos.

Agora eu sou um lago. Uma mulher se encosta a mim,
Buscando na minha posse o que realmente é.
Mas logo se volta para aqueles farsantes, o brilho e a lua.
Vejo as suas costas e reflicto-as na íntegra.
Ela paga-me em choro e em agitação de mãos.
Eu sou importante para ela. Ela vai e vem.
A cada manhã a sua face alterna com a escuridão.
Em mim se afogou uma menina, e em mim uma velha
Salta sobre ela dia após dia como um peixe horrível.

Sylvia Plath, nasceu na Jamaica Plain, Massachusetts a 27 de Outubro de 1932. Poetisa, romancista e contista.
Reconhecida principalmente pela sua obra poética, Sylvia Plath escreveu também um romance semi-autobiográfico, "The Bell Jar", com detalhes da sua luta contra a depressão. Como Anne Sexton, Sylvia Plath é considerada por dar continuidade ao género de poesia confessional.
Suicidou-se em Primrose Hill, Londres, a 11 de Fevereiro de 1963


segunda-feira, 21 de outubro de 2013

domingo, 13 de outubro de 2013

ALEISTER CROWLEY E FERNANDO PESSOA: O MISTÉRIO

Aleister Crowley, (Royal Leamington Spa, 12 de Outubro de 1875  Hastings, 1 de Dezembro de 1947), foi um membro da Ordem Hermética da Aurora Dourada e influente ocultista britânico, responsável pela fundação da doutrina ou filosofia Thelema. Foi o co-fundador da AA e eventualmente um líder da O.T.O.. É conhecido hoje em dia por seus escritos sobre magia, especialmente o Livro da Lei, o texto sagrado e central da Thelema, apesar de ter escrito sobre outros assuntos esotéricos como magia cerimonial e a cabala.
Crowley também era mago, hedonista, usuário recreacional de drogas, e crítico social. Em muita de suas façanhas ele "iria contra os valores morais e religiosos do seu tempo", era um libertário e a regra era, "Faz o que tu queres". Por causa disso, ele ganhou larga notoriedade na sua vida, e foi declarado pela imprensa do tempo como "O homem mais perverso do mundo."  Além de suas atividades esotéricas, era também um premiado jogador de xadrez, um alpinista, poeta e dramaturgo.
Em 2001, a BBC descrevia Crowley como sendo o septuagésimo terceiro maior britânico de todos os tempos, por influenciar e ser referenciado por numerosos escritores, músicos e cineastas, incluindo Jimmy Page, Alan Moore, Bruce Dickinson, Ozzy Osbourne, Raul Seixas, Marilyn Manson, Kenneth Angere Celso Junior


Fernando Pessoa interessava-se pelo ocultismo e pelo misticismo, com destaque para a Maçonaria e a Rosa-Cruz (embora não se lhe conheça qualquer filiação concreta em Loja ou Fraternidade dessas escolas de pensamento), havendo inclusive defendido publicamente as organizações iniciáticas no Diário de Lisboa (4 de Fevereiro de 1935), contra ataques por parte da ditadura do Estado Novo. O seu poema hermético mais conhecido e apreciado entre os estudantes de esoterismo intitula-se "No Túmulo de Christian Rosenkreutz". Tinha o hábito de fazer consultas astrológicas para si mesmo.
Apreciava também muito o trabalho de Helena Blavatsky tendo inclusive traduzido, em 1916, A Voz do Silêncio, assim como lhe suscitava muita curiosidade o famoso ocultista Aleister Crowley, tendo-lhe traduzido o poema Hino a Pã. Certa vez, lendo uma publicação inglesa de Crowley, encontrou erros no horóscopo e escreveu-lhe para o corrigir. Os seus conhecimentos de astrologia impressionaram Crowley e, como este gostava de viagens, veio  a Portugal conhecer o poeta. Acompanhou-o a maga alemã Hanni Larissa Jaeger . O encontro entre Pessoa e Crowley ocorreu com algum sensacionalismo, dado o Poeta Inglês ter simulado o seu suicídio na Boca do Inferno, o que atraiu várias polícias Europeias e a atenção dos média da época. Pessoa estaria dentro da encenação, tendo combinado com Crowley a notificação dos jornais e a redacção de um "romance policial" cujos direitos reverteriam a favor dos dois poetas. Apesar de ter escrito várias dezenas de páginas, essa obra de ficção nunca foi concretizada.
(Wikipédia)

Segundo João Gaspar Simões, biógrafo de Fernando Pessoa, esse viria a conhecer “um estranho homem, cuja complexidade e desenvoltura se acusam os traços típicos desse misto de charlatão e inspirador que o nosso tímido mistificador debalde procurou ser”.
João Gaspar Simões escreveu ainda que Fernando Pessoa ficou muito preocupado com a não esperada visita “daquele feiticeiro – cuja espantosa biografia lhe fora dado a conhecer lendo a história das suas estranhas aventuras”.
Crowley chegou a Lisboa no dia 2 de Setembro de 1930 acompanhado pela Mulher Escarlate (Miss Hanni Larissa Jaeger, sua assistente), a bordo do “Alcântara”, depois de ter ficado retido em Vigo durante um dia, devido a um intensíssimo nevoeiro. “Em terra”, Fernando Pessoa, transido e tímido, vê avançar para ele um homem alto, espadaúdo, envolto numa capa negra, cujos olhos, ao mesmo tempo maliciosos e satânicos, o fitam repreensivamente, enquanto exclama: “Então que ideia foi essa de me mandar um nevoeiro lá para cima”?  - João Gaspar Simões, in Vida e Obra de Fernando Pessoa – História duma Geração.

Por fim foram para o Hotel l’Europe, e só depois para o Hotel Paris, no Estoril.
Depois da chegada, Fernando Pessoa só esteve com eles por duas vezes, tendo uma sido no Estoril, e a outra em Lisboa.
Porém, no dia 18 de Setembro, Fernando Pessoa recebeu uma carta de Crowley, contando-lhe que Miss Jaeger havia tido, duas noites atrás, um “formidável” ataque de histerismo, deixando o Hotel Miramar de pantanas, e que de manhã, não havia sinal nenhum dela, havia simplesmente desaparecido.
Ainda no dia 18, Crowley foi para Lisboa e encontrou-se com Fernando Pessoa, mostrando-se preocupadíssimo com Miss Jaeger, dizia que estava perturbada e tinha o desejo de se suicidar, pois se achava perseguida por um mago negro chamado Yorke.
Acabou por nunca encontrar Miss Jaeger, nem a detectaram em parte alguma da fronteira, a sair do país em que momento fosse.
Crowley ficou em Lisboa até dia 23 de setembro, seguindo depois para Sintra, onde ficou por alguns dias no Casal de Santa Margarida, casa do dono do negócio da Shell em Portugal.
No entanto… Fernando Pessoa afirma ter visto Crowley por duas vezes no dia 24, sendo que uma dessas vezes foi no Rossio, e outra no Cais do Sodré, a entrar na Tabacaria Inglesa. Em ambas não estava a uma distância que Crowley pudesse entrar em contacto.
A Polícia Internacional viria a dizer tempos depois, no fim do mistério e para o mais adensar, que Crowley havia passado a fronteira no dia 23.
Entretanto, no dia 25, Augusto Ferreira Gomes, um amigo ocultista de Fernando Pessoa, jornalista de Notícias Ilustre encontra acidentalmente junto à Boca do Inferno em Cascais, uma cigarreira (de Aleister Crowley) com uma mensagem debaixo dela.

Segundo os fatos que todos possuíam, Aleister Crowley tinha ido para Sintra no dia 23, saído do país no dia 23, sido visto em Lisboa no dia 24, e no dia 25 a (sua suposta) mensagem era encontrada à beira da Boca do Inferno.
A mensagem era a seguinte:

L.G.P.
                        Ano 14, Sol em Balança
Não posso viver sem ti. A outra “Boca do Infierno” (sic) apanhar-me-á — não será tão
quente como a tua.
        Hisos
                                Tu LiYu.


O grande mistério é: Aleister Crowley foi fotografado em Londres jogando Xadrez com Fernando Pessoa anos após seu suposto suicídio.



O suicídio de Crowley teria sido apenas uma mistificação em que Fernando Pessoa colaborou?
Se sim, qual foi o motivo para que elaborassem tal plano? E o que aconteceu com Miss Jaeger?
Se não foi Crowley, quem cruzou a fronteira do país no dia 23 de setembro?

UM MISTÉRIO!!!