O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

terça-feira, 31 de julho de 2012

NEDKO SOLAKOV: TUDO POR ORDEM, COM EXCEPÇÕES


Nedko Solakov (1957, Cherven Briag. Vive e trabalha em Sófia, na Bulgária) é um dos artistas que protagoniza a cena artística contemporânea, como se poderá constatar pela sua participação com um grande projecto, neste momento, na 13ª edição da Documenta de Kassel. Solakov utiliza uma grande diversidade de técnicas artísticas, do desenho à pintura, da fotografia à colagem, da escultura à instalação, do texto ao vídeo, para desmascarar, por vezes através de um humor afinado e certeiro, as convenções da vida quotidiana, os estereótipos dos sistemas de comportamento e de pensamento contemporâneos, articulando as suas histórias pessoais com a história colectiva, a esfera privada com a dimensão social, a realidade e a imaginação.

Patente no MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA DE SERRALVES, uma grande quantidade e diversidade de desenhos, quadros, pinturas murais, fotografias, vídeos, reconstituições de instalações, assim como a apresentação de projectos até agora nunca realizados, feitos especialmente para esta exposição.
De certo modo, a exposição transforma-se numa outra obra que se junta às obras de arte que apresenta, num projecto ambicioso que reconstitui toda a vida e o trabalho de Nedko Solakov, num percurso autobiográfico que as suas salas nos propõem. A vastidão e a diversidade da obra produzida em trinta anos de actividade artística, que atravessaram também importantes mudanças históricas no seu país, a Bulgária, assim como na Europa, serão também acessíveis aos visitantes através de um sistema de apresentação de pastas de arquivo que o artista criou especialmente para esta ocasião, abrindo possibilidades para um conhecimento tão pessoal quanto enciclopédico do mundo de Nedko Solakov, filtrado pelo seu agudo sentido de humor.
















Coleccionador de arte no deserto, com peças cedidas pelo Museu Soares dos Reis e Museu de Serralves,

quarta-feira, 18 de julho de 2012

LUCIEN FREUD


As artes atravessam um período de saturação, um deserto de cansadas reelaborações, Se forem fieis ao real, poucas pessoas sabem ser originais, se o caminho for a abstração fácil é cair na trivialidade. A pintura que chama a atenção…por ex- Lucien Freud! A pintura tem que nos incomodar, causar repulsa… ser   humana! Como está tudo inventado é preciso fazer isso, tocar a consciência.

ALAIN RESNAIS

Em Hiroshima Meu Amor e o Último Ano em Marienbad é visível uma leitura da consciência. Dá-nos o sentimento do eu e do que o mundo é, condição necessária para existir a consciência moral. A consciência é uma sombra projectada sobre a nossa imaginação. A imaginação é dominada pelo problema da sobrevida do próprio e do outro. Esta sombra é a sombra da vida. Tudo que chamamos arte não acontece  por acaso, são produtos da mente humana que estão preocupados com a condição humana. Isto é a grande arte, porque se não for assim não é grande arte. O ponto de vista interior de pessoas não normais. A anormalidade de um ser conduz à diferença, de uma forma ou de outra!
 

quinta-feira, 12 de julho de 2012

L'ÀPRES-MIDI D'UN FAUNE

Prelúdio L'ÀPRES-MIDI D'UN FAUNE", baseado no poema de Mallarmé, causou estranheza pela 'ausência de melodia': Debussy lançou na verdade, a sugestão de um tema melódico, sem desenvolvimento.

”Que à exaltação dos teus sentidos atribuis?
Fauno, a ilusão se escapa dos olhos azuis
E frios, como fonte em prantos, da mais casta
Toda suspiros, a outra, achas que ela contrasta
Qual brisa matinal
 quente no teu tosão?
Mas não! no lasso espasmo e na sufocação
Do calor, que a manhã combate, não murmura
Água se não a verte a minha flauta pura”


O poema «L'ÀPRES-MIDI D'UN FAUNE», de Stéphane Mallarmé, foi um marco na literatura francesa, como expoente do simbolismo e cujo refinamento lírico fez com que Paul Valéry o considerasse como o maior poema da literatura da França. Na obra o autor retrata um fauno a relembrar as aventuras sensuais que tivera pela manhã, junto às ninfas.




quarta-feira, 11 de julho de 2012

NO MEU CASULO

Faço a ronda pela estante dos livros. Retiro Gedeão… ouço o trisavô Bach, dulcificador do tempo e beberico um chá frio. Absorvo poemas e fixo-me num que me retém. Farpeia-me a alma e deixa-me errante na parede amarelecida, em frente! O ruido da rua sobressalta-me, aproximo-me da janela, do mundo complexo e estranho, que também é o meu! Isolo-me da cidade, mas nela estou e soletro em  surdina um excerto do poema de Gedeão!



Tanto sonho! Tanta mágoa!
Tanta coisa! Tanta gente!
São automóveis, lambretas,
motos, vespas, bicicletas,
carros, carrinhos, carretas,
e gente, sempre mais gente,
gente, gente, gente, gente,
num tumulto permanente
que não cansa nem descansa,
um rio que no mar se lança
em caudalosa corrente.





sábado, 7 de julho de 2012

O ESPLENDOR DO ESPAÇO


Joseph Mallord William Turner (Londres, 23 de Abril de 1775 - Chelsea, 19 de Dezembro de 1851), pintor romântico, considerado por alguns um dos precursores do Impressionismo, em função dos seus estudos sobre cor e luz.
Romântico na pesquisa extrema de um absoluto que excede o real e encontra na sensibilidade, intuição e imaginação, o seu ponto de referência, a sua maior garantia de autenticidade. Romântico nos seus grandes temas e na sua expressão, na comunhão da paisagem e do sonho, na apoteose da tragédia, na sua recusa, na sublimação da dor e na afirmação de um espaço de cor e de luz, que é também o do espírito. Perturbadora no elo que não deixa nunca de estabelecer com o mundo perceptível, ainda que este tenha sobretudo o valor de uma metáfora.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

JÜRGEN HABERMAS - Ensaio Sobre a Constituição da Europa

 http://pt.wikipedia.org/wiki/J%C3%BCrgen_Habermas


Ensaio Sobre a Constituição da Europa é a última obra de Jürgen Habermas, com uma vasta obra editada, diversificada na sua temática: teoria política, sociologia, ética do discurso e crítica da razão.
Neste livro são tratadas questões na ordem do dia e mesmo decisivas, no sentido de melhorar a Europa e o Mundo, embora por muitos seja acusada de ser uma «fantasmagoria» normativa própria de um espírito utópico.
O filósofo alemão é um homem de inquietações e uma das suas inquietações é a imagem de uma «Europa sem Europa», procurando eliminar os bloqueios em relação a uma transnacionalização da democracia, colocando a unificação europeia no contexto de uma jurisdição democrática.
Em entrevista a Thomas Assheuer disse: «A minha maior preocupação é a injustiça social, que brada aos céus, e que consiste no facto de os custos socializados do falhanço do sistema atingirem com maior dureza os grupos sociais mais vulneráveis. Toda esta tragédia humana – este escândalo político, este darwinismo social, este programa de submissão desenfreada do mundo da vida aos imperativos do mercado – é acompanhada de um enfado com a política ao qual não é alheia a ascensão ao poder de uma geração desarmada em termos normativos, incapaz de assumir objetivos, causas e esperanças».
Num quadro de crise política, económica e social, onde muitos, já foram duramente atingidos, que fazer? Como ultrapassar a política ridícula e hipócrita da «normalidade social»? Como ultrapassar o flagrante fracasso europeu? Habermas sugere o caminho: «pensar a pessoa, pensar a sua dignidade, pensar os povos»!
A crise da União Europeia à luz de uma constituição do direito internacional permite a Jürgen Habermas tentar uma narrativa nova, no seu livro, a partir da perspetiva de uma constitucionalização do direito internacional.
«O debate atual sobe a Europa restringe-se e continua a restringir-se às saídas imediatas para a crise bancária, monetária e da dívida, perdendo de vista a dimensão política: os conceitos políticos incorretos ocultam a força civilizadora da jurisdição democrática e o compromisso desde o princípio ao projeto constitucional europeu. Políticos e economistas colocados perante a única saída possível - «Mais Europa» - insistem nos conhecidos erros da construção da União Europeia. «Mais Europa» implica um aprofundamento das competências e não o caminho saturado de um existencialismo político errante que vai desde os compromissos assumidos em cimeiras, ineficazes e não democráticas, até à aceleração da «perda de solidariedade a nível europeu». Mais do que isso olham para os ditames dos grandes bancos e agências de notação e não para o desfalque legitimatório perante as suas próprias populações. Em vez de levar a sério um projeto europeu, opta-se por caminhos ínvios».
Como sintetiza Habermas: «instalou-se um estranho fenómeno de acatalepsia onde se mistura ceticismo, dúvidas não metódicas, incapacidade de compreender. As elites político-económicas sentem-se confortáveis com incrementalismos, mas teimam em não assumir a força civilizadora do direito democrático. Tão pouco parecem compreender o «regresso da questão democrática», sendo óbvio que os Estados pagam a governação baseada na intergovernabilidade com o decréscimo dos níveis de legitimação democrática». Segundo Habermas: «o espaço de manobra da autonomia cívica só não fica reduzido se os cidadãos em causa participarem na legislação supranacional em coo-questões – de direito constitucional, internacional e de direito europeu – quanto a este processo de jurisdição».
É sabido que três instâncias – cidadãos, povo, estado – são convocadas de forma muito diversa para explicar concetualmente a estruturação constituinte da União Europeia. Por amor ao Estado, alguns enfatizam o patriotismo nacional e identificam constituição com estado. Outros, navegando no cosmopolitismo sem fronteiras, preferem esquemas de regulação global para além do estado-nacional, os cidadãos da União Europeia devem ter um interesse legítimo em que o seu Estado nacional continue a desempenhar o papel comprovado de garante do direito e da liberdade, mesmo quando assume o papel de Estado-Membro. É importante o papel atribuído aos Estados como neutralizadores de «evolução reacionária» ou de «retrocesso social». Os Estados nacionais são mais do que a mera materialização de culturas nacionais dignas de preservação; eles garantem um nível de justiça e liberdade que os cidadãos desejam, com toda a razão, ver preservado».
«Qualquer acordo institucional deve acentuar as dimensões profundas democrático-igualitárias veiculadoras de solidariedade entre «cidadãos dispostos a responsabilizar-se uns por outros» e a assumir a disponibilidade para também fazer sacrifícios, com base numa reciprocidade de longo prazo. «O facto da União Europeia ter sido, até agora, essencialmente sustentada e monopolizada por elites políticas, gerou uma assimetria perigosa entre a participação democrática dos povos naquilo que os seus governos «conquistam» para eles no palco de Bruxelas – que consideram muito longínquo – e a indiferença, se não mesmo desinteresse, dos cidadãos da União no que diz respeito às decisões do seu Parlamento, em Estrasburgo. Todos sabemos: com indiferença, desinteresse e distância não se constroem democracias – muito menos transnacionais. O resultado é um «buraco negro», vulgarmente designado por «déficite democrático» da União Europeia. Este «déficite» corre o risco de se converter num arranjo para o exercício de um domínio pós-democrático e burocrático».
«A crise do euro pôs a claro o «clube dos ilusionistas» e revelou os pontos fracos do Tratado de Lisboa. Este Tratado não dota a EU de meios para enfrentar os desafios que se lhe colocam enquanto União Económica e Monetária. O que é preciso não é apenas ultrapassar as barreiras institucionais, mas exigir uma alteração radical no comportamento das elites políticas. È necessário uma coesão política reforçada pela coesão social, para que a diversidade nacional e a riqueza cultural incomparável do biótopo – velha Europa – possam ser protegidas no seio de uma globalização que avança rapidamente».