O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

sexta-feira, 30 de julho de 2010

As vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido.

Fernando Pessoa

quinta-feira, 29 de julho de 2010


"A superioridade do sonhador consiste em que sonhar é muito mais prático que viver, e em que o sonhador extrai da vida um prazer muito mais vasto e muito mais variado do que o homem de acção. Em melhores e mais directas palavras, o sonhador é que é o homem de acção. Nunca pretendi ser senão um sonhador."



(Bernardo Soares)

quarta-feira, 28 de julho de 2010

MARQUESA DE ALORNA - UMA MULHER À FRENTE DO SEU TEMPO

MARQUESA DE ALORNA
Disse a escritora, Maria Teresa Horta:
A marquesa de Alorna é para mim uma referência apaixonada. Minha génese, raiz de que tanto me envaideço, neta tentando perseguir-lhe os passos, as pistas, buscando-a que ando há seis anos a esta parte, ao longo da última metade do século XVIII e da primeira metade do século XIX (1750/1839), para a poder trazer até à minha ficção. Tentando entender-lhe mais do que o trajecto, a presença impositiva, o veemente pensamento, afinal sempre contraditório, mulher dividida que foi, ao longo de toda a sua longa vida, única mulher das luzes, de nacionalidade portuguesa. Há seis anos que o venho escrevendo como um romance. Texto que embora partindo da vida de Leonor de Almeida Portugal (Marquesa de Alorna ou Alcipe) não se quer sua biografia em quase nada, sendo-o todavia em quase tudo o que a ela diz respeito. Trajecto invulgar de uma mulher das luzes, dividida entre o coração e a razão, e sem dúvida, também, entre a poesia e o político. Teimosamente, impondo-se, desafiando sempre.Leonor de Almeida Portugal de Lorena e Lencastre (Lisboa, 31 de Outubro de 1750 — 11 de Outubro de 1839)
Vítima das perseguições do Marquês de Pombal para com a sua família, Leonor de Almeida de Portugal Lorena e Lencastre, nascida a 31 de Outubro de 1750, passou a maior parte da sua infância na cadeia, mas foi a primeira mulher portuguesa a estimular a revolução do bom gosto
O atentado contra D. José, na noite de 3 de Setembro de 1758, teve como suspeito o Duque de Aveiro e como cúmplices o Marquês e a Marquesa de Távora, os seus filhos e o Conde de Atouguia, D. Jerónimo de Almeida. D. José foi atingido na carruagem e os suspeitos presos e barbaramente justiçados em Belém.
O pai de Leonor, D. João de Almeida, Marquês de Alorna, era filho dos Marqueses de Távora e foi acusado de ter emprestado uma das armas usadas no atentado. Foi encarcerado no Forte da Junqueira e a mulher e as duas filhas, Leonor com oito anos e Maria, de seis, foram enclausuradas no Convento de S. Félix, em Chelas, local frequentado por muitos homens de letras.
Apenas o irmão, Pedro, de quatro anos de idade, ficou livre e foi admitido no Paço, vindo a morrer mais tarde, após uma carreira militar, em Koenigsberg, depois de ter acompanhado Napoleão à Rússia. Com a sua morte, o título dos Marqueses de Alorna passa para Leonor.
No convento, as duas crianças aplicam-se ao estudo das línguas e à poesia, que Leonor faz durante os dez anos de clausura. A morte de D. José e a subida ao trono de D. Maria I, liberta a família.
De enorme beleza, Leonor casa aos 18 anos com o Conde de Ceynhausen, um jovem oficial hanoveriano, vindo para Portugal com o conde reinante de Schaumbourg-Lippe. Os pais não aprovaram logo o casamento, uma vez que este significava o afastamento da filha do país. Após a sua nomeação como ministro é enviado para Viena de Áustria em 1801.
Em Viena, a vida foi difícil economicamente. Os filhos iam nascendo e o conde acaba por morrer em 1793 com 54 anos. Deixa a mulher com cinco filhos menores e uma pensão baixa, que mantêm a pobreza a rondar de perto. A Marquesa de Alorna sonha com ideias de liberdade e a sua poesia torna-se revolucionária.
De volta a Portugal, é de novo perseguida pelas suas ideias, desta vez por Pina Manique. Vê a sua casa revistada e é exilada em Londres, país que detesta. Só volta a Portugal em 1814, com enorme alegria, apesar de enfrentar enormes dificuldades financeiras. Empenha todos os seus bens, quadros e jóias e fica à mercê dos credores.
Mantém apenas uma pequena parte da casa de Alorna, onde recebe sempre os amigos, numa miséria dourada. Até com as filhas, a felicidade anda longe. Uma é amante de Junot, militar francês, sendo casada, e a outra fora raptada por um médico português fixado em Londres.
A sua residência transforma-se num foco de ebulição cultural, onde se debatem as novas ideias políticas e também as novas correntes estéticas e literárias. Presentes estão Bocage e Alexandre Herculano, em períodos diferentes. Escolhe o pseudónimo de Alcipe e trabalha em traduções de latim, alemão, inglês e francês, cultiva a epistolografia e escreve poesia, reunida em seis volumes, "Obras Poéticas da Marquesa de Alorna" (1844)
Com tantas contrariedades, Leonor, marquesa de Alorna morre em Lisboa no ano de 1839, mas a sua influência literária produziu efeitos numa época de pré-romantismo, que marca a sua poesia, aberta a todas as culturas do seu tempo.
Liberal, atacou as formas de despotismo, de que foi vítima e exaltou a liberdade. As suas cartas a amigos e família, constituem um documento histórico da sua época, de um espírito que viveu para lá do seu tempo.

CANTIGA
Sozinha no bosque
Com meus pensamentos,
Calei as saudades,
Fiz trégua a tormentos.
.
Olhei para a
Que as sombras rasgava,
Nas trémulas águas
Seus raios soltava.
.
Naquela torrente
Que vai despedida
Encontro assustada
A imagem da vida.
.
Do peito em que as dores
Já iam cessar,
Revoa a tristeza
E torno a penar.

O PIRILAMPO E O SAPO
Lustroso um astro volante
Rompera as humildes relvas:
Com seu voo rutilante
Alegrava à noite as selvas.
.
Mas de vizinho terreno
Saiu de uma cova um sapo,
E despediu-lhe um sopapo
Que o ensopou em veneno.
.
Ao morrer exclama o triste:
- Que tens tu de que me acuses?
Que crime em meu seio existe?
Respondeu-lhe: – Porque luzes?
.

SONETOS
1-
Esperanças de um vão contentamento,
por meu mal tantos anos conservadas,
é tempo de perder-vos, já que ousadas
abusastes de um longo sofrimento.
.
Fugi; cá ficará meu pensamento
meditando nas horas malogradas,
e das tristes, presentes e passadas,
farei para as futuras argumento.
.
Já não me iludirá um doce engano,
que trocarei ligeiras fantasias
em pesadas razões do desengano.
.
E tu, sacra Virtude, que anuncias,
a quem te logra, o gosto soberano,
vem dominar o resto dos meus dias.
.
2-Eu cantarei um dia da tristeza
por uns termos tão ternos e saudosos,
que deixem aos alegres invejosos
de chorarem o mal que lhes não pesa.
.
Abrandarei das penhas a dureza,
exalando suspiros tão queixosos,
que jamais os rochedos cavernosos
os repitam da mesma natureza.
.
Serras, penhascos, troncos, arvoredos,
ave, ponte, montanha, flor, corrente,
comigo hão-de chorar de amor enredos.
.
Mas ah! que adoro uma alma que não sente!
Guarda, Amor, os teus pérfidos segredos,
que eu derramo os meus ais inutilmente.
.
3-Vai a fresca manhã alvorecendo,
vão os bosques as aves acordando,
vai-se o Sol mansamente levantando
e o mundo à vista dele renascendo.
.
Veio a noite os objectos desfazendo
e nas sombras foi todos sepultando;
eu, desperta, o meu fado lamentando.
fui com a ausência da luz esmorecendo.
.
Neste espaço, em que dorme a Natureza.
Porque vigio assim tão cruelmente?
Porque me abafa o peso da tristeza?
.
Ah, que as mágoas que sofre o descontente,
as mais delas são faltas de firmeza.
Torna a alentar-te, ó Sol resplandecente!
"A solidão desola-me; a companhia oprime-me."

(Bernardo Soares)

terça-feira, 27 de julho de 2010

POESIAS DE JORGE LUIS BORGES

O REMORSO

Cometi o pior desses pecados
Que podem cometer-se.
Não fui sendo Feliz.
Que os glaciares do esquecimento
Me arrastem e me percam, desapiedados.
Plos meus pais fui gerado para o jogo
Arriscado e tão belo que é a vida,
Para a terra e a água, o ar, o fogo.
Defraudei-os. Não fui feliz. Cumprida
Não foi sua vontade. A minha mente
Aplicou-se às simétricas porfias
Da arte, que entretece ninharias.
Valentia eu herdei. Não fui valente.
Não me abandona. Está sempre ao meu lado
A sombra de ter sido um desgraçado.
Jorge Luis Borges, in "A Moeda de Ferro"
DO QUE NADA SE SABE

A lua ignora que é tranquila e clara
E não pode sequer saber que é lua;
A areia, que é a areia.
Não há uma
Coisa que saiba que sua forma é rara.
As peças de marfim são tão alheias
Ao abstracto xadrez como essa mão
Que as rege.
Talvez o destino humano,
Breve alegria e longas odisseias,
Seja instrumento de Outro.
Ignoramos;
Dar-lhe o nome de Deus não nos conforta.
Em vão também o medo, a angústia, a absorta
E truncada oração que iniciamos.
Que arco terá então lançado a seta
Que eu sou? Que cume pode ser a meta?
Jorge Luis Borges, in "A Rosa Profunda"

segunda-feira, 26 de julho de 2010

JORGE LUÍS BORGES - POESIA

















OS JUSTOS

Um homem que cultiva o seu jardim, como queria Voltaire.
O que agradece que na terra haja música.
O que descobre com prazer uma etimologia.
Dois empregados que num café do Sul jogam um silencioso xadrez.
O ceramista que premedita uma cor e uma forma.
O tipógrafo que compõe bem esta página, que talvez não lhe agrade.
Uma mulher e um homem que lêem os tercetos finais de certo canto.
O que acarinha um animal adormecido.
O que justifica ou quer justificar um mal que lhe fizeram.
O que agradece que na terra haja Stevenson.
O que prefere que os outros tenham razão.
Essas pessoas, que se ignoram, estão a salvar o mundo.
Jorge Luis Borges, in "A Cifra"
Tradução de Fernando Pinto do Amaral

NOSTALGIA DO PRESENTE

Naquele preciso momento o homem disse:
«O que eu daria pela felicidade
de estar ao teu lado na Islândia
sob o grande dia imóvel
e de repartir o agora como
se reparte a música ou o sabor de um fruto.»
Naquele preciso momento
o homem estava junto dela na Islândia.
Jorge Luis Borges, in "A Cifra"
Tradução de Fernando Pinto do Amaral

AS CAUSAS

Todas as gerações e os poentes.
Os dias e nenhum foi o primeiro.
A frescura da água na garganta De Adão.
O ordenado Paraíso.
O olho decifrando a maior treva.
O amor dos lobos ao raiar da alba.
A palavra. O hexâmetro. Os espelhos.
A Torre de Babel e a soberba.
A lua que os Caldeus observaram.
As areias inúmeras do Ganges.
Chuang Tzu e a borboleta que o sonhou.
As maçãs feitas de ouro que há nas ilhas.
Os passos do errante labirinto.
O infinito linho de Penélope.
O tempo circular, o dos estóicos.
A moeda na boca de quem morre.
O peso de uma espada na balança.
Cada vã gota de água na clepsidra.
As águias e os faustos, as legiões.
Na manhã de Farsália Júlio César.
A penumbra das cruzes sobre a terra.
O xadrez e a álgebra dos Persas.
Os vestígios das longas migrações.
A conquista de reinos pela espada.
A bússola incessante.
O mar aberto.
O eco do relógio na memória.
O rei que pelo gume é justiçado.
O incalculável pó que foi exércitos.
A voz do rouxinol da Dinamarca.
A escrupulosa linha do calígrafo.
O rosto do suicida visto ao espelho.
O ás do batoteiro.
O ávido ouro.
As formas de uma nuvem no deserto.
Cada arabesco do caleidoscópio.
Cada remorso e também cada lágrima.
Foram precisas todas essas coisas
Para que um dia as nossas mãos se unissem.
Jorge Luis Borges, in "História da Noite"
Tradução de Fernando Pinto do Amaral


BIOGRAFIA DE JORGE LUÍS BORGES: AQUI

sábado, 24 de julho de 2010

PINTURA - LES NABIS

Les Nabis, grupo de jovens artistas pós-impressionistas vanguardistas da última década do século XIX. Este grupo foi uma consequência do SIMBOLISMO. As suas características são: formas mais simplificadas e cores mais puras, onde estão patentes; emoções, sentimentos e ideologias. Este grupo abriu caminho ao pré-abstracionismo e ao anti-figurativismo.
O impulsionador deste movimento foi, Paul Sérusier, o seu divulgador foi Maurice Denis e o pintor mais influente foi Gauguin. Outros pintores, que aderiram foram: Pierre Bonnard e Edouard Vuillard.
Apesar de outros movimentos terem surgido, como o Fauvismo e o Cubismo, os Nabis continuaram.
Paul Sérusier impulsionou os Nabis, arranjou o nome e a grande influência, Paul Gauguin. A palavra nabi deriva da palavra árabe, profeta. Embora deste grupo houvesse vários nomes a citar, os mais importantes são realmente Paul Gauguin e Pierre Bonnard.

PAUL GAUGUIN (1848 – 1903)

Nos seus primeiros anos, a pintura não fazia parte dos seus horizontes. Foi corrector de valores, casou e teve 5 filhos. Com 35 anos e devido a problemas com a Bolsa de Paris, decidiu dedicar-se à pintura e começou a frequentar o meio boémio. Era um autodidacta. Não se integrou no movimento impressionista e começou a pintar e expor, dentro das suas próprias ideias. A sua obra foi tão singular como a de Van Gogh ou Paul Cézanne, mas teve seguidores e foi o fundador do grupo Les Nabis, que pensavam a pintura como uma filosofia de vida.
Paul Gauguin começou a pintar a vida natural e simples do campo, o seu quadro famoso,
Cristo Amarelo é desse período, onde aplicou as cores de forma arbitrária.



De espírito inquieto, partiu para o Taiti, em busca da pureza das origens. Pintou telas carregadas da iconografia exótica do lugar, onde não falta um erotismo natural, fruto da sua paixão pelas nativas.
Gauguin depois viveu na Bretanha, no sul de França, onde conviveu com Van Gogh e tiveram uma relação tempestuosa. Mais tarde fez uma viagem a Martinica e determinou o objectivo de se dedicar à arte primitiva.
Voltou a Paris, mas o seu maior desejo era voltar ao Taiti e apesar das dificuldades, lá conseguiu o dinheiro para a viagem. Chegou em 1891, pintou cerca de 100 quadros, fez escultura e escreveu o livro, Noa-Noa.


MULHERES DO TAITI
Regressou a Paris para fazer uma exposição, mas voltou ao Taiti, fixando-se na ilha Dominique. Nessa fase, criou algumas das suas obras mais importantes, como "DE ONDE VIEMOS? O QUE SOMOS? PARA ONDE VAMOS?, uma tela enorme que sintetiza toda sua pintura, realizada quando teve conhecimento da morte da filha e antes de uma frustrada tentativa de suicídio.
Em 1901, transferiu-se para a ilha Hiva Oa, uma das Ilhas Marquesas, onde veio a falecer.



PIERRE BONNARD (1867-1947)
Estudou na Academia das Belas Artes, onde foi formado o grupo Les Nabis. Conhecido pelo nabi japonês, devido ao seu interesse pela Arte Japonesa.
Foi um artista bem sucedido e premiado. Além de pintor, foi também gravador.
Juntamente com Gauguin, Bonnard foi sem dúvida um dos pintores mais interessantes do grupo dos Nabis. A sua pintura de interiores, de cores claras e luminosas, reflecte a capacidade de captar os pequenos detalhes, sob um efeito emocional. Os objectos parecem formar-se pela solidificação do ar. Os nus de Bonnard, nada mais são, do que experimentações, nas quais o pintor tenta pesquisar a variação das cores sob a luz. O resultado é uma obra de tranquila intimidade. (Segundo críticos especializados).

Nu

No banheiro
[C&H]

PINTURA - FAUVISMO/CUBISMO

FAUVISMO
Vem da palavra francesa «les fauves» (as feras). Este movimento iniciou-se em 1901, mas só foi considerado como movimento artístico, passados 4 anos. Os fauvistas, eram pintores, que não seguiram o impressionismo. Segundo Henry Matisse, um dos seus seguidores, esta forma de expressão pictórica foi caracterizada, por «uma arte do equilíbrio, da pureza e da serenidade, não abordando temas perturbadores, nem deprimentes».
Os princípios do movimento eram: criação artística à margem do intelecto e dos sentimentos, seguindo os impulsos dos instintos, as sensações primárias. Relativamente à cor, a mesma devia ser pura e de forma exaltante e impulsiva, traduzindo as sensações elementares, com pincelada espontânea, em manchas largas.
As principais figuras deste movimento foram: Paul Gauguin (na sua pintura estão presentes vários movimentos), Georges Braque, Paul Cézanne (considerado depois pai do Cubismo) e Henri Matisse.Este grupo de pintores escandalizou os contemporâneos, ao utilizar nos seus quadros cores violentas, de forma arbitrária. A denominação do movimento deve-se ao crítico conservador Louis Vauxcelles, que, no Salão de Outono de 1905, em Paris, comparou esses artistas a feras (fauves). Tal denominação, inicialmente de carácter depreciativo, acabou por se fixar e passou designar o movimento.



A Dança - Matisse
CUBISMO
O Cubismo é um movimento artístico que ocorreu entre 1907 e 1914, tendo como principais fundadores Pablo Picasso e Georges Braque.
O Cubismo tratava as formas da natureza por meio de figuras geométricas, representando todas as partes de um objecto no mesmo plano. A representação do mundo passava a não ter nenhum compromisso com a aparência real das coisas.
Historicamente o Cubismo teve origem na obra de Cézanne, pois para ele a pintura deveria tratar as formas da natureza como se fossem cones, esferas e cilindros. Entretanto, os cubistas foram mais longe do que Cézanne. Passaram a representar os objectos com todas as suas partes num mesmo plano. É como se eles estivessem abertos e apresentassem todos os seus lados no plano frontal em relação ao espectador. Na verdade, essa atitude de decompor os objectos não tinha nenhum compromisso de fidelidade com a aparência real das coisas. O pintor cubista tentou representar os objectos em três dimensões, numa superfície plana, sob formas geométricas, com o predomínio de linhas rectas. Não representa, mas sugere a estrutura dos corpos ou objectos. Representa-os como se movimentassem em torno deles, vendo-os sob todos os ângulos visuais, por cima e por baixo, percebendo todos os planos e volumes.
Isto leva a: geometrização das formas e volumes; renúncia à perspectiva; o claro-escuro perde sua função; representação do volume colorido sobre superfícies planas; sensação de pintura escultórica; cores austeras, do branco ao negro passando pelo cinza, por um ocre apagado ou um castanho suave.
Cubistas:
Pablo Picasso, Georges Braque Juan Gris, Kazimir Malevich, Fernand Léger, Robert Delaunay, Diego Rivera, entre outros menos conhecidos.


Les Demoiselles de Avignon - Picasso
Guernica - Picasso

[C&H]

sexta-feira, 23 de julho de 2010

GOETHE

Há livros, lidos há anos, dos quais eu nunca me esqueci, WERTHER, é um deles, eu senti intensamente esse livro, numa idade em que o romantismo, estava mais enraizado em mim. A história daquele amor impossível e funesto, emocionou-me e comoveu-me.

WERTHER (1774) de Johann Wolfgang von Goethe. Marco inicial do Movimento Romântico, Goethe foi uma das mais importantes figuras da literatura alemã e do Romantismo europeu, nos finais do século XVIII e inícios do século XIX. Juntamente com Friedrich Schiller foi um dos líderes do movimento literário romântico alemão STURM UND DRANG (TEMPESTADE E PAIXÃO).

Werther, é considerado por muitos como uma obra-prima da literatura mundial. É uma das primeiras obras do autor, de tom autobiográfico - ainda que Goethe tenha o cuidado de trocar nomes e lugares e, naturalmente, acrescentar algumas partes fictícias, como o final. Este livro, é construído através de cartas, que o suposto Werther, envia por um longo período ao narrador - um diário epistolográfico.
J. W. Goethe põe um pouco da sua vida na obra, pois ele também vivera um amor não correspondido, apesar de, evidentemente, não ter cometido suicídio. Ao escrever Werther, produziu uma obra de arte a que deu, como conteúdo, os seus tormentos, os seus próprios estados de alma, procedendo como todo o poeta lírico que, ao procurar aliviar o coração, exprime aquilo de que é afectado. Em tais situações líricas, pode reflectir-se, por um lado, um estado objectivo, uma actividade referenciada ao mundo exterior, e, por outro lado, um estado da alma que, desligando-se de tudo o que é exterior, regressa a si mesma e torna-se o ponto de partida de estados internos e de sentimentos profundos.


A primeira obra romântica conta o dilema do jovem Werther e a sua paixão pela fascinante Charlotte, comprometida e posteriormente casada com Alberto. Werther, culpando-se do amor que sente pela jovem Charlotte, muda-se para outra região, mas não consegue esquecer a amada. Charlotte casa-se com Alberto, que passa a ter ciúmes de Werther, este percebe-se do embaraço que causa ao casal, mas continua nutrindo um amor platónico por Charlotte. Werther promete não mais a visitar e no último encontro, lê em voz alta, os Cantos de Ossain. Ambos se comovem, choram, abraçam-se e beijam-se ; mas de seguida Charlotte repele-o, dizendo que nunca mais quer vê-lo. O jovem Werther parte, acreditando que é amado, mas ciente de que é um amor impossível. Resolve então suicidar-se, mandando pedir as pistolas de Alberto. Charlotte com o coração despedaçado, envia-lhe as armas. Werther dispara um tiro na cabeça e morre. A sua morte é a prova da intensidade de um amor romântico e doentio. A história de Werther retrata a paixão exacerbada e infeliz que culmina com o suicídio, o escapismo do romântico.

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FAUSTO, é o livro mais importante de Goethe.
Dr. Fausto é uma personagem que tem uma vida entediante, que lamenta a sua condição, pois apesar de ter estudado todas as ciências: filosofia, jurisprudência, medicina e teologia, tem a alma inquieta e faz um pacto com o Diabo, vendendo-lhe a alma, pelo rejuvenescimento e o prazer. Fausto é um poema de proporções épicas, escrito e reescrito ao longo de quase sessenta anos. A obra é baseada numa popular lenda alemã do médico, mágico e alquimista alemão, Dr. Johannes Georg Faust (1480-1540).
Sendo um arquétipo da alma humana, o mito de Fausto jamais se esgotou, diversos artistas o retomaram: Puchkin, Christian Dietrich Grabbe, Paul Valéry, Fernando Pessoa, Thomas Mann,.
Fausto também foi tema para vários compositores clássicos como Wagner (Faust), Berlioz (La Damnation de Faust), Schumann (Szenen aus Goethes Faust), Liszt (Faust-Symphonie) e Gounod (Faust).

De referenciar também a sua presença no cinema, teatro, pintura e outros.
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Outro dos seus livros muito referenciado, é: AFINIDADES ELECTIVAS.

E assim descansam os dois amantes um ao lado do outro. A quietude paira sobre a sua morada; anjos serenos, seus afins, olham-nos do espaço. E que momento feliz aquele em que, um dia, despertarão juntos!"
(Epílogo de "Afinidades Electivas")

De todos os livros de Goethe, Afinidades Electivas, é o mais rico em matizes e meios-tons. O esquema de construção do romance está centrado na distribuição dos personagens aos pares. Não são casais no sentido matrimonial do termo, mas sim pares ligados por atracções inevitáveis. O interesse romanesco nasce do jogo de polaridades, encantamentos e repulsas que se estabelece entre os casais.
Mas o relacionamento Homem-Mulher é considerado aqui não apenas na componente sexual, ele é principalmente objecto de análise moral e psicológica.
Embora já muito tivesse lido sobre FAUSTO e AFINIDADES ELECTIVAS, nunca li os livros.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

CANON E GIGA - JOHANN PACHELBEL




Cânon e Giga em Ré maior para três violinos e baixo continuo. É a obra mais conhecida na actualidade, do compositor de música barroca alemão, Johann Pachelbel. Posteriormente foram feitos arranjos para outros instrumentos.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

PENSAR - FERNANDO PESSOA

Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.
Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.
Qual porém é verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.
18-9-1933
Poesias. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995

terça-feira, 20 de julho de 2010

PALÁCIO DAS ARTES - FÁBRICA DE TALENTOS

Exposição "Like Tears in Rain", comissariada pela jovem curadora Luiza Teixeira de Freitas.
A exposição nasceu de um convite a doze artistas nacionais e internacionais, que apresentam em diversos espaços do Palácio obras produzidas especialmente para este projecto.


O conceito de ausência é o tema central desta exposição. Em particular, o conceito de presença encontrada na ausência, através da alusão a espaços onde a vida está presente, mas somente é sentida em objectos materiais ou em traços deixados pela vida humana.
As pessoas agarram-se à eternidade através da memória, dado que é a forma mais válida de se ser lembrado. Porém a maior angústia da vida é precisamente a referida no título desta exposição - todos os momentos que temos, desaparecem, como Lágrimas na Chuva (Like Tears in Rain). É impossível separar as noções de morte, ausência e memória.



[Antes de ir conhecer o Palácio das Artes, tirei esta fotografia, que por coincidência é uma memória da ausência. Aquela casa agora degradada de janelas tapadas de placas brancas, fez parte da minha vida, por ali andei em criança, com a minha família, para visitar um familiar directo.]
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Muito gostaria que fosse visitável todo este edifício, que começou por ser um convento, passou a Banco de Portugal, a seguir Companhia de Seguros Douro. Depois esteve cerca de 20 anos em degradação, acabando por ser restaurado, para Palácio das Artes-Fábrica de Talentos. Uma reanimação surpreendente, de um edifício importante, inserido na zona histórica. Esperemos que outros, que mostram um aspecto de gradação e abandono, possam ter fins similares.

ASPECTOS DO SEU INTERIOR




segunda-feira, 19 de julho de 2010

ANTENA 2 - ZERO EUROS PARA A AQUISIÇÃO DE NOVOS DISCOS


Há cerca de ano e meio, em mensagem dirigida à Provedoria do Ouvinte, o musicólogo e professor universitário Mário Vieira de Carvalho chamava a atenção para o facto de importantes concertos e recitais de música clássica/erudita ocorridos em Portugal não serem gravados pela Antena 2, ficando assim o arquivo sonoro sem registos desses eventos para usufruto dos ouvintes (os actuais e os vindouros). A este problema, há agora que acrescentar outro, não menos grave: a dotação orçamental de zero euros consignada à Antena 2 para a aquisição de novos discos.Quer dizer: os mandantes da Rádio e Televisão de Portugal decidiram que não são necessárias mais edições discográficas de música erudita? Se assim o entendem é porque não percebem patavina do assunto, nem se dignaram consultar quem os pudesse esclarecer. A triste realidade é que a discoteca da RDP tem ainda muitas lacunas, sobretudo no domínio da música antiga. Se me disserem que não faz sentido comprar a enésima gravação das "Quatro Estações" (de Vivaldi) ou da "Quinta Sinfonia" (de Beethoven), que algum chinês ou japonês decidiu fazer, eu aceito de bom grado esse argumento. Mas importa ter em atenção que estão constantemente a sair discos com obras nunca antes gravadas, muitos dos quais largamente elogiados pela crítica especializada e distinguidos com prémios de prestígio (Diapason d'Or, etc.). E quanto a esses, qualquer que seja a nacionalidade do compositor ou intérprete, constitui uma falha grave que não sejam adquiridos pela rádio pública.No que respeita aos compositores e intérpretes portugueses de reconhecido mérito (independentemente da editora ser nacional ou estrangeira), é de todo o interesse que a emissora do Estado possua uma cópia de todos os seus registos fonográficos. A RDP tem a obrigação moral e histórica de ser a depositária de todas as gravações de obras escritas ou tocadas por cidadãos nacionais detentores de talento. Cito, a título de exemplo (um entre muitos que poderia apontar), o caso do pianista português Artur Pizarro, que publicou recentemente um álbum com a suite "Ibéria" (de Isaac Albéniz) e as "Goyescas" (de Enrique Granados), um dos eleitos da BBC Music Magazine.Será que os actuais locatários da direcção da Antena 2 e da administração da R.T.P. acham que mesmo tratando-se de Artur Pizarro, o mais distinto aluno de Sequeira Costa e que vem fazendo uma digníssima carreira internacional, não é importante para o serviço público possuir e divulgar os seus discos? Ou será que julgam que cabe às editoras oferecerem as suas edições à R.T.P., a troco de uma hipotética divulgação? Sendo esta a prática corrente na Antena 1, devem pensar que vale o mesmo para a Antena 2: «Se nos enviarem os discos, nós poderemos - eventualmente - divulgá-los; se não no-los enviarem, escusam de alimentar a ilusão de que os iremos comprar.»Em contraste com esta visão tacanha e ao arrepio das obrigações culturais do serviço público, constata-se que há dinheiro a rodos para dar aos inaudíveis Pedro Malaquias, Paulo Alves Guerra e Raul Mesquita (já são três as séries "apresentadas" por tão "insigne autor" na Antena 2) e para esbanjar em futebóis, com a consequente carga onerosa para os contribuintes (cf. Mundial de Futebol: RTP não chora miséria II). Isto para não falar nos vencimentos verdadeiramente obscenos e afrontosos para os contribuintes que alguns indivíduos estão a auferir da endividada R.T.P., a começar pelo sr. Guilherme Costa com os seus 250 040,00€ anuais (cf. semanário "Sol", de 22.01.2010). A décima parte daquele montante chegaria e sobraria - calculo eu - para comprar todos os discos importantes de música erudita editados em cada ano.


Publicada por Álvaro José Ferreira

IMPRESSIONISMO

A renovação estilística empreendida pelo impressionismo encontra algumas das suas matrizes nos trabalhos precursores de Joseph Mallord William Turner (1775 - 1851)



e John Constable (1776 - 1837),


sobre cujas paisagens luminosas Monet, Sisley e Pissarro se debruçaram na passagem pela Inglaterra em 1870. Na França são sobretudo Eugène Delacroix (1798 - 1863),


e as suas pesquisas de cor e luz, os artistas da Escola de Barbizon e a defesa da pintura ao ar livre, e as paisagens de Jean-Baptiste-Camille Corot (1796 - 1875)


e Gustave Courbet (1819 - 1877),


partidários de novas formas de registo da natureza, são as principais referências para os impressionistas. Isso sem esquecer o impacto causado pelas estampas japonesas - suas soluções formais e colorido particulares - principalmente nos trabalhos de Degas.

Éduard Manet (1832 - 1883),


por sua vez, de precursor do grupo passa a seu integrante - embora nunca tenha exposto com eles -, sobretudo a partir de 1870, quando se volta para a pintura em espaço aberto e aproxima-se mais directamente de Monet.
Impressionismo foi um movimento artístico que surgiu na pintura europeia do século XIX. O nome do movimento, foi dado por um crítico, depois de uma exposição, onde estava exposto, Impression, soleil levant (1872), de Claude Monet.
Impressionismo, foi um movimento, de pessoas com ideias comuns, mas não foi uma escola, todos os pintores seguiam um postulado idêntico, mas eram autónomos e diversificados. Todos eles consideravam, que a descoberta da fotografia, teria forçosamente que influenciar a pintura, portanto estavam contra os preceitos do Realismo e em oposição ao ensino académico. Os impressionistas, portanto, rompem totalmente com o passado; pesquisam sobre a óptica/ efeitos (ilusões) ópticas, são autónomos, embora conversem entre si, não concordam com as mesmas coisas porém discordam do mesmo e pintam preferencialmente no exterior, abandonando o atelier.
A emergente arte visual do Impressionismo foi logo seguida por movimentos análogos, noutros sectores artísticos, assim surgiu a música impressionista e a literatura impressionista.
A pintura impressionista, caracteriza-se pela luz e o movimento, mostrando as tonalidades que os objectos adquirem ao reflectir a luz do sol num determinado momento, pois as cores da natureza mudam constantemente, dependendo da incidência da luz do sol, é portanto uma pintura instantânea e feita ao ar livre As figuras não devem ter contornos nítidos pois o desenho deixa de ser o principal meio estrutural do quadro passando a ser a mancha/cor, pinceladas soltas como principal elemento da pintura, para melhor capturar as variações de cores da natureza, geralmente a pintura era feita ao ar livre. As sombras devem ser luminosas e coloridas, de acordo com a impressão visual que causam. O preto jamais é usado numa obra impressionista. Os contrastes de luz e sombra são obtidos de acordo com a lei das cores complementares. Assim um amarelo próximo a um violeta produz um efeito mais real do que um claro-escuro muito utilizado pelos académicos no passado. Essa orientação viria dar mais tarde origem ao pontilhismo. As cores e tonalidades não devem ser obtidas pela mistura das tintas na paleta, devem ser puras e dissociadas no quadro em pequenas pinceladas. É o observador que, ao admirar a pintura, combina as várias cores. A mistura deixa, portanto, de ser técnica para se tornar óptica.
Os principais pintores que aderiram à nova forma de ver a pintura foram:
Claude Monet (1840-1926), Pierre Auguste Renoir (1841 - 1919), Alfred Sisley (1839 - 1899), Frédéric Bazille (1841 - 1870), Camille Pissarro (1831 - 1903), Paul Cézanne (1839 - 1906), Edgar Degas (1834 - 1917), Berthe Morisot (1841 - 1895) e Armand Guillaumin (1841 - 1927).
MONET

RENOIR

SISLEY

BAZILLE

PISSARRO

CÉZANNE

DEGAS

MORISOT

GUILHAUMIN

Há determinados pintores, contemporâneos dos pintores citados, que orientaram o seu trabalho de forma diferente, estão neste caso: Toulouse-Lautrec (1864-1901) que revolucionou o design gráfico dos cartazes publicitários, ajudando a definir o estilo que seria posteriormente conhecido como Art Nouveau; Eugène-Henri-Paul Gauguin (1848 - 1903) que foi um pintor francês do pós-impressionismo; Van Gogh (1853-1890) considerado pioneiro na ligação das tendências impressionistas com as aspirações modernistas, sendo a sua influência reconhecida em variadas movimentos da arte do século XX, como por exemplo o expressionismo, o fauvismo e o abstraccionismo; Paul Signac (1863-1935) e Georges Seurat (1859-1891), foram dois artistas impulsionadores do chamado Movimento do Divisionismo, também designado por Neo-Impressionismo ou Pontilhismo.
[C&H]

domingo, 18 de julho de 2010

INDIFERENÇA


Aqui na orla da praia, mudo e contente do mar,
Sem nada já que me atraia, nem nada que desejar,
Farei um sonho, terei meu dia, fecharei a vida,
E nunca terei agonia, pois dormirei de seguida.

.
A vida é como uma sombra que passa por sobre um rio
Ou como um passo na alfombra de um quarto que jaz vazio;
O amor é um sono que chega para o pouco ser que se é;
A glória concede e nega; não tem verdades a fé.

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Por isso na orla morena da praia calada e só,
Tenho a alma feita pequena, livre de mágoa e de dó;
Sonho sem quase já ser, perco sem nunca ter tido,
E comecei a morrer muito antes de ter vivido.

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Dêem-me, onde aqui jazo, só uma brisa que passe,
Não quero nada do acaso, senão a brisa na face;
Dêem-me um vago amor de quanto nunca terei,
Não quero gozo nem dor, não quero vida nem lei.

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Só, no silêncio cercado pelo som brusco do mar,
Quero dormir sossegado, sem nada que desejar,
Quero dormir na distância de um ser que nunca foi seu,
Tocado do ar sem fragrância da brisa de qualquer céu.

.
10-8-1929
Poesias. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995).

sábado, 17 de julho de 2010

FILOSOFIAS DE VIDA

A cada etapa da vida do homem corresponde uma certa Filosofia. A criança apresenta-se como um realista, já que está tão convicta da existência de pêras e das maçãs como da sua. O adolescente, perturbado por paixões interiores, tem que dar maior atenção a si mesmo, tem que se experimentar antes de experimentar as coisas, e transforma-se portanto num idealista. O homem adulto, pelo contrário, tem todos os motivos para ser um céptico, já que é sempre útil pôr em dúvida os meios que se escolhem para atingir os objectivos. Dito de outro modo, o adulto tem toda a vantagem em manter a flexibilidade do entendimento, antes da acção e no decurso da acção, para não ter que se arrepender posteriormente dos erros de escolha. Quanto ao ancião, converter-se-á necessariamente ao misticismo, porque olha à sua volta e as coisas lhe parecem depender apenas do acaso: o irracional triunfa, o racional fracassa, a felicidade e a infelicidade andam a par sem se perceber porquê. É assim e assim foi sempre, dirá ele, e esta última etapa da vida encontra a acalmia na contemplação do que existe, do que existiu e do que virá a existir.

Johann Wolfgang von Goethe, in "Máximas e Reflexões"

CONCERTO AO AR LIVRE, NUMA NOITE MUITO FRIA DE VERÃO...

COMPASSOS DE DANÇA
CASA DO MÉDICO
REGIÃO NORTE
ORQUESTRA DO NORTE - DIRECTOR JOSÉ FERREIRA LOBO

PROGRAMA
TCHAIKOVSKY - Valsa das Flores - de, O Quebra-Nozes
SIBELIUS - Valsa Triste
DVORÁK - Dança Eslava nº3
BRAHMS - Dança Híngara
STRAUSS - Polka Trtsch-Tratsch
MASCAGNI - Interlúdio da Cavalleria Rusticana



BIZET - Suite Carmen: Aragonesa e Dança Boémia
SAINT-SAËNS - Baccanale de Sansão e Dalila
FREITAS BRANCO - Suíte nº.1, Fandango

quinta-feira, 15 de julho de 2010

RODRIGO LEÃO





BOSCH E BRUEGHEL – A DIFERENÇA NA PINTURA FLAMENGA

Hieronymus Bosch (c.1450-1516)

Foi um pintor contemporâneo do flamengo, mas o seu estilo era completamente diferente. Os críticos de arte consideram que as suas influências vieram de pintores alemães como Martin Schongauer, Matthias Grünewald e Albrecht Dürer. É considerado o primeiro artista fantástico.
Também se especula que a sua obra terá sido uma das fontes do movimento surrealista do século XX, que teve mestres como Max Ernst e Salvador Dalí.
Realmente o pintor que mais o influenciou foi Pieter Brueghel o Velho, que produziu vários quadros em um estilo semelhante.
O seu nome verdadeiro era, Jeroen van Aeken, flamengo que além de pintor, também foi gravador. Por falta de documentação pouco se sabe da sua vida, mas com certeza pela temática da sua obra, poderia eventualmente ter feito parte de uma seita de ciências ocultas e ter adquirido conhecimentos sobre alquimia. Por essa razão teria sido perseguido pela Inquisição.
A sua obra é o seu maior testemunho de si e da sociedade em que viveu, pintou cenas de pecado e tentação, recorrendo à utilização de figuras simbólicas, complexas, originais, imaginativas e até caricaturais. Viveu numa época de peste e também de rumores do Apocalipse, que surgiram perto do ano 1500.
As obras de Bosch demonstram que foi um observador minucioso bem como um refinado desenhador e pintor. Utilizou estes dotes para criar uma série de composições fantásticas e diabólicas onde são apresentados, com um tom satírico e moralizante, os vícios, os pecados e os temores de ordem religiosa que afligiam o homem medieval.
O seu sucesso na época, é explicado por uma encomenda de um altar que lhe fez Filipe, o Belo da Borgonha. Se a obra foi executada está perdida, mas foi essa encomenda que motivou encomendas posteriores. Em Espanha, no Museu do Prado, é onde se encontra as suas melhores obras e a explicação é dada pelas aquisições de Filipe II de Espanha, apreciador da sua pintura. Actualmente apenas se conservam cerca de 40 originais seus, dispersos na sua maioria por museus da Europa e Estados Unidos da América..
O original tríptico As Tentações de Santo Antão esta incorporado no Museu Nacional de Arte Antiga. Desconhecem-se as circunstâncias da chegada da obra a Portugal, não sendo certo que tenha feito parte da colecção do humanista Damião de Góis, como algumas vezes é referido.


PINTURA DE BOSCH



Pieter Bruegel o Velho (c.1525/1530-1569)

Foi um pintor de multidões e de cenas populares, com tal vitalidade que transborda do quadro. Além da sua predilecção por paisagens, pintou quadros que realçavam o absurdo da vulgaridade, expondo as fraquezas e loucuras humanas, que lhe trouxeram muita fama. A mais óbvia influência sobre sua arte é de Hieronymus Bosch, em particular no início dos estudos de imagens demoníacas, como o "Triunfo da Morte" e "Dulle Griet". Foi na natureza, no entanto, que ele encontrou a sua maior inspiração, sendo identificado como um mestre de paisagens. Ele é muitas vezes referenciado como sendo o primeiro pintor ocidental a pintar paisagens pela paisagem, e não como um pano de fundo da pintura.
Retratava a vida e costumes dos camponeses, a sua terra, uma vivida descrição dos rituais da aldeia, da vida, incluindo agricultura, caça, refeições, festas, danças e jogos. As suas paisagens de Inverno (1565), são tomados como provas corroborativas da gravidade dos Invernos durante a Pequena Era Glacial.
Utilizando abundantemente o espírito cómico e satírico, criou algumas das primeiras imagens de protesto social na história da arte. Exemplos incluem pinturas como "A luta entre Carnaval e Quaresma" (uma sátira aos conflitos da Reforma).


Pieter Brueghel, foi o primeiro de uma família de pintores flamengos, considerado como um dos melhores pintores da Flandres do século XVI. Foi aprendiz de Coecke Van Aelst, escultor, arquitecto e desenhador de tapeçarias e vitrais. Com 26 anos foi admitido como mestre na guilda de São Lucas. Viajou para Itália, para aprender a forma de pintar dos renascentistas, onde pintou várias obras. Depois estabeleceu-se em Antuérpia e passados 10 anos radicou-se em Bruxelas.



[C&H
CONSULTA:
ENCICLOPÉDIA ALFA
GUIA DA HISTÓRIA DA ARTE, SPROCCATI, Sandro, Editorial Presença, Lisboa, 1999
Vários Sites]

segunda-feira, 12 de julho de 2010

SIRBA OCTET & ISABELLE GEORGES : "BEI MIR BIST DU SCHEYN" naiveclassique

INGMAR BERGMAN (1918-2007)

INGMAR BERGMAN, para mim e toda uma geração cinéfila foi um realizador de culto, todos os seus filmes eram esperados com grande expectativa. Dos variadíssimos aspectos técnicos, ao trabalho com os actores e aos temas filosófico/reflexivos que abordava, todo o seu trabalho era de grande qualidade e conteúdo. À saída das salas de cinema, sentia-se um especial peso na cabeça, uma vontade de sentir o vento na cara, mas também a certeza de um enriquecimento. Depois entre amigos dissecava-se o conteúdo dos seus filmes, que eram sempre uma motivação reflexiva e um desafio à inteligência.

Filmes, lidando com temas como a mortalidade, a solidão e a fé. As suas influências provêm do teatro: Henrik Ibsen e August Strindberg.
Sempre vi o cinema como arte e não como entretimento com o saco das pipocas na mão. Relativamente a Bergman, porque a sua linha se manteve muito personalizada, é difícil dizer os filmes que mais gostei, porque realmente gostei de todos, embora não tendo como objectivo o aspecto comercial, há filmes que se tornaram mais conhecidos do grande público.Woody Allen descreveu Ingmar Bergman como "provavelmente o maior artista do cinema, levando tudo em conta, desde a invenção da câmara de filmar". Woody Allen, fez mesmo um filme muito bergmaniano,
Intimidades.
Tarkovsky, Woody Allen e Robert Altman, reconheciam a sua influência. Bergman não gostava de Orson Welles e Godard, mas tinha admiração por Spielberg, Scorsese, Coppola e Soderbergh.
Comentário de Jean-Luc Godard, sobre Bergman no Cahiers du Cinéma:
"O cinema não é um ofício. É uma arte. Cinema não é um trabalho de equipe. O director está só diante de uma página em branco. Para Bergman estar só é questionar-se; filmar é encontrar as respostas. Nada poderia ser mais classicamente romântico".















Ernst Ingmar Bergman nasceu a 14 de Julho de 1918. Foi duramente marcado por uma educação de cruel disciplina e severa educação religiosa (detalhado por si no livro Lanterna Mágica e no filme Fanny och Alexander. O seu refúgio era o seu mundo de fantasia. Com 19 anos afastou-se definitivamente dos pais.
Iniciou-se como encenador e dramaturgo e começou a trabalhar no cinema em 1942 como assistente de argumentista, assinando em 1944 o seu primeiro original, Hets para o maior cineasta daquele tempo, Alf Sjoeberg, e que receberia o Grande Prémio do Júri no Festival de Cannes. Em 1945 realizou o seu primeiro filme, Kris, e a partir daí manteve uma média de dois filmes por ano, conjugados com produções teatrais. O cineasta despertou atenção fora das suas fronteiras com, Sommarnattens leende em 1955, mas foi Det sjunde inseglet e Smultronstället, dois anos mais tarde, que lhe deram aclamação a nível mundial junto da crítica e do público. O primeiro, é uma alegoria sobre os anos da Peste no século XIV, recebeu o Grande Prémio do Júri em Cannes e inclui uma das cenas mais famosas da história do cinema, a de um cavaleiro medieval (interpretado por Max Von Sydow, numa das 13 vezes que trabalharam juntos) a jogar xadrez com a morte.


O segundo ganharia o Urso de Ouro no Festival de Cinema de Berlim e o Prémio da Crítica em Veneza. Criou o que se chamou de um universo bergmaniano, trabalhando repetidamente com certos actores, como: Max von Sydow, Erland Josephson, Gunnar Björnstrand, Bibi Andersson, Liv Ullmann e Ingrid Thulin, entre outros.
Os seus filmes eram esperados religiosamente e imprescindíveis de serem vistos, assim filmou: «Ansiktet/O Rosto» (1958), «Nära livet/O Direito à Vida» (1958, Prémio de Realização em Cannes), «Jungfrukällan/A Fonte da Virgem» (1959, Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, menção especial em Cannes), «Djävulens öga/O Olho do Diabo« (1960), «Såsom i en spegel/Em Busca da Verdade» (1962, segundo Oscar), «Nattvardsgästerna/Luz de Inverno» (1962), «Tystnaden/O Silêncio» (1963), «Persona/A Máscara» (1966),


«A Hora do Lobo» (1968), «Skammen/A Vergonha» (1968) e «En Passion/A Paixão» (1969). Nos anos 70, o prestígio cresceu com «Viskningar och rop/Lágrimas e Suspiros» (1972, Grande Prémio em Cannes),


«Scener ur ett äktenskap/Cenas da Vida Conjugal» (1973), «Ansikte mot ansikte/Face a Face» (1976), «Das Schlangenei/O Ovo da Serpente» (1978) e «Höstsonaten/Sonata de Outono» (1978, nomeação pelo argumento).

Em 1976 tem lugar um dos episódios mais penosos da sua vida, é detido para investigação por invasão fiscal. Bergman, que deixara a gestão de todas as finanças nas mãos de um advogado, foi interrogado durante horas. Após ser dispensado, foi proibido de deixar o país. O caso deu origem a um enorme escândalo na imprensa e o cineasta teve um esgotamento nervoso. Mais tarde, viria a ser absolvido de todas as acusações, mas a experiência -lo exilar-se na Alemanha. Regressou a Estocolmo para filmar, Fanny e Alexandre e afirmou ser a sua última película. Este filme obteve quatro Oscars, incluindo o seu terceiro na categoria de Melhor Filme Estrangeiro.


Dedicou-se depois principalmente ao teatro e televisão, e escreveu argumentos que outros adaptaram ao cinema, ainda que o cineasta admitisse que sentia sempre a necessidade de realizar, mesmo não tendo planos para um novo filme. Mas o seu último filme surgiu em 2002, Saraband, nesse filme recuperava as duas personagens principais de Cenas de Vida Conjugal.


Ingmar Bergman teve 5 casamentos tumultuosos e 9 filhos. Nos seus últimos anos de vida refugiou-se na ilha de Faaro.

O responsável por uma das grandes filmografias da história do cinema evitava ver os seus próprios filmes, porque isso o fazia sentir-se "deprimido e miserável".

[C&H]