O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

MARIA DO MAR


Restaurado pela Cinemateca Portuguesa, 'Maria do Mar' surpreende pela força com que é contado o quotidiano dos moradores de Nazaré.
O filme suscitou curiosidade em certa imprensa estrangeira: A 'Revue du Cinema' deu-lhe «honras de gravura» na primeira página e a 'Close-up', «cuja crítica era universalmente temida, dedicou-lhe nada menos de cinco páginas.
Leitão de Barros traz à tona uma vida repleta de dificuldades e riscos impostos pela natureza. São colocadas em cena relações humanas intensas, motivadas por uma forte religiosidade e, também, pela crueza natural existente entre homens que estão sob a influência direta de um ambiente selvagem.
· Maria do Mar" (1930): é uma obra de arte e um marco da História do Cinema - do Cinema português e do Cinema mundial.
Excelente documentário. Oportunidade única de ver dois monstros sagrados do teatro português: Alves da Cunha e Adelina Abranches.
Pode haver quem não saiba que o acompanhamento musical de "Maria do Mar" foi tirado da Sinfonia nº 1, em Fá Maior, de Luís de Freitas Branco. Posteriormente para a companhamento musical surgiu uma peça de Bernardo Sassetti.

"Na obra há passagens que alguns dos primeiros estudiosos do cinema português equiparam a algumas das mais célebres de Eisenstein [...]" (Sic: 'Wikipedia').
"É a primeira 'docuficção' e também a primeira 'etnoficção' do cinema português, a segunda mundial depois de 'Moana' (1926), de Robert Flaherty. Trata-se de uma obra percursora, com 'Moana', da prática da 'antropologia visual'." (Sic: 'Wikipedia').

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Prémio José Saramago 2011 atribuído à escritora brasileira Andréa del Fuego

A escritora, natural de São Paulo, tem formação em publicidade, fez produção de cinema e realizou duas curtas-metragens, “Morro da Garça”, inspirada nas paisagens de Guimarães Rosa, e “O Beijo e Ela”. Andréa del Fuego, que se estreou literariamente em 2004 com a antologia de contos “Minto enquanto posso”, esteve entre os finalistas da edição deste ano do Prémio São Paulo de Literatura com este seu primeiro romance, "Os Malaquias".

"Os Malaquias" conta a história da família de Andréa, cujos bisavós morreram ao serem atingidos por um raio. Aqui fica um excerto: "Um gato esticou as pernas, as paredes se retesaram. A pressão do ar achatou os corpos contra o colchão, a casa inteira se acendeu e apagou, uma lâmpada no meio do vale. O trovão soou comprido alcançar o lado oposto da serra. Debaixo da construção a terra, de carga negativa, recebeu o raio positivo de uma nuvem vertical. As cargas invisíveis se encontraram na casa dos Malaquias. O coração do casal fazia a sístole, momento em que a aorta se fecha. Com a via contraída, a descarga não pôde atravessá-los e aterrar-se. Na passagem do raio, pai e mãe inspiraram, o músculo cardíaco recebeu o abalo sem escoamento. O clarão aqueceu o sangue em níveis solares e pôs-se a queimar toda a árvore circulatória. Um incêndio interno que fez o coração, cavalo que corre por si, terminar a corrida em Donana e Adolfo."

"'Os Malaquias' é um romance áspero, poético, original. Voltado para a paisagem rural, a que raramente os autores contemporâneos se circunscrevem, seu perfil arcaico e trágico suscitam emoções intensas", considerou a jurada Nelida Piñon. "Oferta-nos uma leitura da qual não se sai incólume, cada capítulo traçado para nos perturbar.Uma criação que, enquanto avança, sem pausa que nos console, distancia-se dos intimismos, dos individualismos exacerbados, do falso cosmopolitismo que ora pauta a produção urbana.Como se estivera a autora centrada em retratar a injustiça e a crueldade de que somos forjados". Para a escritora brasileira, graças "ao inusitado vigor de sua narrativa", Andréa del Fuego, "merece o prémio Saramago 2011, talhado para o seu talento", disse.

Nas edições anteriores, o Prémio José Saramago foi atribuído: aos portugueses Paulo José Miranda, por “Natureza Morta”, em 1999, e José Luís Peixoto, por “Nenhum Olhar”, em 2001. À brasileira Adriana Lisboa, “Sinfonia em Branco”, em 2003, e aos portugueses Gonçalo M. Tavares, “Jerusalém”, 2005; valter hugo mãe, “O Remorso de Baltazar Serapião”, 2007, e João Tordo, “As Três Vidas”, em 2009.

domingo, 23 de outubro de 2011

PAUL ÉLUARD


A NOITE

Acaricia o horizonte da noite, busca o coração de azeviche que a aurora recobre de carne. Ele te porá nos olhos pensamentos inocentes, chamas, asas e verduras que o sol ainda não inventou.
Não é a noite que te falta, mas o seu poder.


LA NUIT

Caresse l'horizon de la nuit, cherche le coeur de jais que l'aube recouvre de chair. Il mettrait dans tes yeux des pensées innocentes, des flammes, des ailes et des verdures que le soleil n'inventa pas.
Ce n'est pas la nuit qui te manque, mais sa puissance.

****
A CURVA DOS TEUS OLHOS
A curva dos teus olhos dá a volta ao meu peito
É uma dança de roda e de doçura

Berço nocturno e auréola do tempo,
Se já não sei tudo que vivi
É que os teus olhos não me viram sempre.
*
Folhas do dia e musgos de orvalho,
Hastes de brisas, sorrisos de perfume,
Asas de luz cobrindo o mundo inteiro,
Barcos de céu e barcos do mar,
Caçadores dos sons e nascentes de cores.
*
Perfume esparso de um manancial de auroras
Abandonado sobre a palha dos astros,
Como o dia depende da inocência
O mundo inteiro depende dos teus olhos
E todo o meu sangue corre no teu olhar.
«Algumas Palavras» - Paul Éluard (Tradução de António Ramos Rosa)

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

COOPERATIVA ARTÍSTICA ÁRVORE – EXPO. GRAÇA MORAIS: A CAMINHADA DO MEDO

Graça Morais foi a artista distinguida na 6ª edição do Prémio de Artes Casino da Póvoa. Para além da atribuição do prémio será também adquirida uma das obras da artista plástica intitulada "Série 2011: A Caminhada do Medo VIII", que passará a integrar a colecção de arte do Casino da Póvoa, e publicada uma monografia (esta edição, exclusivamente patrocinada pelo Casino da Póvoa e realizada pela Árvore – Cooperativa de Actividades Artísticas, CRL, dá continuidade à colecção de livros de arte associada ao Prémio de Artes Casino da Póvoa).

Para a organização, este prémio "visa distinguir e homenagear a obra de uma artista que ao longo do tempo construiu uma carreira que a consagra como uma das maiores pintoras contemporâneas. Uma mulher cujo universo cruza a herança do mundo rural, que assume a condição da mulher e da natureza na intuição ligada aos sentimentos e às emoções"..

O impacto da comunicação social com a avalanche de imagens de reportagem jornalística que invadem todos os meios de comunicação influenciam a criação da artista.

[...] Desde há vários anos que a actividade de Graça Morais se divide pelos dois ateliers que mantém em Freixiel e em Lisboa e, apesar das dificuldades que essa repartição acarreta, em geral, há sempre trabalho iniciado num e noutro espaço. Por vezes, trabalho contrastante entre um registo mais delicado, em torno das temáticas florais e vegetais, das formas que as estações do ano proporcionam, dominado pela amabilidade da natureza, e um registo mais dramático e exigente dominado pela dimensão humana.

[...] Estas podem ser as migrações provocadas pelos dramas humanos das acostagens nocturnas no sul de Itália, dos africanos sedentos de um lugar na Europa, das lutas religiosas e tribais dispersas pela África e pela Ásia, das revoltas nos países árabes, dos massacres fanáticos disseminados um pouco por todo o mundo, dos conflitos urbanos mal identificados.
Este não é um mundo de abundância nem um mundo marcado pelo ritmo das estações, é um mundo que vive debaixo de um Inverno frio ou de um Verão árido que semeia carcaças de animais mortos e a desolação das catástrofes naturais. Não é um mundo de abrigos domésticos, mas de vida desamparada no exterior onde todos estão expostos, desprotegidos, mal cobertos pelas mantas informes das organizações de assistência.

[...] As peças de menor dimensão, as colagens, dão a chave para os grandes desenhos e o modo como são compostos. Aí se percebe a importância do registo fotográfico, dos apontamentos escritos em folhas de diário e a sua recuperação posterior. Intervencionados e retrabalhados, esses materiais primários transformam-se mediante a pressão de novas circunstâncias: figuras e rostos fotografados cobertos por acrílico ou refeitos em desenho; personagens modificadas mediante a adição de elementos; imagens trancadas e bloqueadas sob uma mancha; papéis com fotografias coladas recebem escorrências de tinta-da-china e pingos de acrílico. Não são apenas reconfigurados os elementos compositivos pré-existentes, são os significados que sofrem uma reconstrução, predispondo-se a novas utilizações e interpretações.

Excertos de texto de autoria de Laura Castro, in catálogo da exposição


quinta-feira, 20 de outubro de 2011

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

POEMA INÉDITO DE PAULO JOSÉ MIRANDA

Esforça-te para que saibam que o

[mundo começou de vez

Estende uma palavra amável ao

[transeunte

E o luxo anacrónico de um sorriso

Àquele que falar mal de ti

Perdoa – o com a ternura de falar bem

[dele

Segue pela rua não esquecendo nunca

Essa missão dura e difícil que tens

[pela frente

Ainda que te esbofeteiam te

[espezinhem te humilhem

És e serás sempre o profeta do

[humano

Aquele que anuncia a chegada do

[mundo

Poema inédito de Paulo José Miranda

Ninguém diria que trazias o cheiro

Dos últimos começos

Da primeira apanha de frutas das

[nossas árvores

Ninguém diria que cheiravas ao

[momento

Em que por fim

O enfermo abre a janela e deixa

[entrar o ar fresco

A prometida e bela manhã tantas

[vezes sonhada

Que faz renascer a vida e seus

[atributos

Ninguém diria que serias o Sol

E sua chama acesa bem alta

Queimando a pele humana

Desgastando todos os outros animais

Deixando o dia e que girar á sua

[volta em cinzas

Ninguém diria que tudo irá acabar

Numa cova profunda e escura

De tão escura que um ou outro

[insecto

Parecerá uma estrela