O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

terça-feira, 29 de junho de 2010

POESIA DE KONSTANTN KAVAFIS


Muros

Sem piedade e sem pudor, sem dó e sem cuidado
à minha volta espessos muros tão altos quem teceu?

E eis­‑me agora aqui na sorte a que fui dado,
em mais não penso: não me sai da ideia o que aconteceu.

Lá fora há tanto que fazer - tudo ruído!
E, se estes muros construíram, porque não dei por tal?

Não ouvi de pedreiro nem voz nem ruído
E sem saber fiquei fechado, sem vista e sem portal.

A cidade

Dizes: “Vou para outra terra, vou para outro mar.
Noutro lugar, melhor cidade há­‑de haver certamente.
Será malogro, está escrito, tudo o que aqui tente
E - como morto - o coração sepultado aqui me jaz.
Por quanto tempo há­‑de ficar minh'alma em tão podre paz?
Pra todo o lado olhei, em todo o lado vi
Ruínas negras desta minha vida aqui,
Que tantos anos eu gastei a estragar, a dissipar."

Novo lugar não vais achar, nem achar novos mares.
Vai­‑te seguir esta cidade. Ruas vais percorrer,
serão as mesmas, e nos mesmos bairros hás­‑de viver,
nas mesmas casas ficará de neve o teu cabelo.
Hás­‑de ir ter sempre ao mesmo sítio, sem qualquer apelo.
Para outro lugar não há navio ou caminho
e estragares a vida tu neste cantinho
é pois igual a nesse largo mundo a dissipares.

Quanto puderes

Mesmo que não possas fazer a vida como a queres,
isto ao menos tenta
quanto puderes: não a desbarates
nos muitos contactos do mundo,
na agitação e nas conversas.

Não a desbarates arrastando­‑a,
e mudando­‑a e expondo­‑a
ao quotidiano absurdo
das relações e das companhias
até se tornar um estranho importuno.

Candelabro

Num quarto pequeno e nu, quatro paredes somente,
recamadas de muito verdes panos,
um belo candelabro brilha incandescente;
e em cada uma das chamas se acende
uma lúbrica paixão, um lúbrico ardor.

Na pequena alcova, que ilumina refulgente
a forte luz que vem do candelabro,
não é vulgar fogo esta luz ardente.
Não foi feita para os corpos tementes
a volúpia que há neste calor.

Termópilas

Honra se deve àqueles que na vida
Termópilas fixaram p'ra guardar,
que do seu dever nunca se desviam
que nunca fogem ao que o dever dita
e justos são na acção e sempre rectos,
mas nunca perdem pena e compaixão;
se ricos, generosos, e se pobres
ainda generosos com seu pouco.
Que acodem sempre a todos quantos podem;
e, que à verdade sempre são fiéis,
mas não guardam rancor aos que são falsos.

E honra ainda mais lhes é devida,
se já prevêem (são tantos os que o fazem),
que no fim há­‑de vir um Efiálte,
e os Persas no final hão­‑de passar.

Che fece ... Il gran rifiuto

Para algumas pessoas há­‑de chegar o instante
em que têm que dizer o grande Não ou o grande Sim.
Nessa altura se mostra qual delas tem dentro de si
pronto o Sim, qual o diz e logo segue adiante

do seu valor segura, e da sua certeza.
Quem nega não renega. E à pergunta, repetida,
"Não" diria. Porém durante toda a vida
Aquele "Não" tão certo lhe há­‑de ter a vida presa.

domingo, 27 de junho de 2010

CHARLOTTE RAMPLING EM LISBOA E NO PORTO COM A PEÇA YOURCENAR/ CAVAFIS

Sempre apreciei o trabalho desta artista e, tudo começou com o filme «O Porteiro da Noite», de Lilian Cavalcanti, onde contracenava com outro excelente actor Dirk Bogard. Um filme de tema pesado, uma sobrevivente de um campo de concentração reencontra-se com um guarda nazi que a torturou em tempo de guerra. A partir daí fez uma sucessão de filmes bons, aliando também a sua participação ao teatro.
«Não costumo fazer filmes para entreter as pessoas, escolho antes o que me desafia a superar as minhas próprias barreiras. Para descobrir o que significa a normalidade é preciso experimentar alguma «estranheza».
Esta máxima Charlotte aplica ao ecran e aos palcos de teatro.
Esta peça cruza alguns poemas de Konstanyinos Cavafis com excertos de romances e ensaios de Marguerite Yourcenar (Memórias de Adriano, A Obra ao Negro), que se identificou com o poeta numa viagem a Atenas, apesar do mesmo na altura já ter morrido.

Konstantinos Kavafis AQUI


Ítaca

Quando abalares, de ida para Ítaca,
Faz votos por que seja longa a viagem,
Cheia de aventuras, cheia de experiências.
E quanto aos Lestrigões, quanto aos Ciclopes,
O irado Poséidon, não os temas,
Disso não verás nunca no caminho,
Se o teu pensar guardares alto, e uma nobre
Emoção tocar tua mente e corpo.
E nem os Lestrigões, nem os Ciclopes,
Nem o fero Poséidon hás­‑de ver,
Se dentro d'alma não os transportares,
Se não tos puser a alma à tua frente.

Faz votos por que seja longa a viagem.
As manhãs de verão que sejam muitas
Em que o prazer te invada e a alegria
Ao entrares em portos nunca vistos;
Hás­‑de parar nas lojas dos fenícios
Para mercar os mais belos artigos:
Ébano, corais, âmbar, madrepérolas,
E sensuais perfumes de todas as sortes,
E quanto houver de aromas deleitosos;
Vai a muitas cidades do Egipto
Aprender e aprender com os doutores.

Ítaca guarda sempre em tua mente.
Hás­‑de lá chegar, é o teu destino.
Mas a viagem, não a apresses nunca.
Melhor será que muitos anos dure
E que já velho aportes à tua ilha
Rico do que ganhaste no caminho
Não esperando de Ítaca riquezas.

Ítaca te deu essa bela viagem.
Sem ela não te punhas a caminho.
Não tem, porém, mais nada que te dar.

E se a fores achar pobre, não te enganou.
Tão sábio te tornaste, tão experiente,
Que percebes enfim que significam Ítacas.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

NEUE BAHNEN (Novos Caminhos)


Sonata op.1 ALBAN BERG Não conhecia e segundo o programa permanece na História da Música, como uma das mais auspiciosas primeiras obras, foi a primeira peça depois de 4 anos de estudo de Berg com Schönberg, o fundador da revolucionária SEGUNDA ESCOLA DE VIENA, que incentivava à inovação dentro do respeito pela tradição.
Esta composição tem um pendor lírico extremamente acentuado, alcançando a mais depurada expressão do Romantismo tardio num clima extremamente apaixonado, arrebatador e, simultâneamente, inovador.

Sonata em si menor FRANZ LISZT, contrariamente a Beethoven e Schubert, que estabeleceram os 4 andamentos, esta sonata tem só um andamento, com uma grande unidade temática. O seu universo é inquietante, com momentos apaixonados de grande lirismo. Determinados autores consideram esta sonata autobiográfica.

Sonata op.5 JOHANNES BRAHMS, esta sonata tem proporções gigantescas com carácter heróico e impetuoso, cheio de contrastes violentos de humor, confrontos de emoções e um sentido de libertação. Esta obra foi escrita depois do jovem Brahms ter sido apresentado pelo conceituado compositor Robert Schumann, ao cosmopolita mundo musical de Düsseldorf.
Três sonatas, consideradas inovações na história da música ocidental e tocadas pelo excelente pianista Jorge Moyano

quinta-feira, 24 de junho de 2010

OS DEZ DIAS QUE ABALARAM O MUNDO (OUTROS TEMPOS MUITO VIVIDOS)

O seu autor foi John "Jack" Silas Reed (1887 —1920) - jornalista e activista norte-americano.

John Reed, como jornalista viajou pelo mundo e cedo se interessou pela política. Em Massachusetts, juntou-se a uma manifestação de operários, que lutavam pela jornada de oito horas diárias. A polícia interveio e Reed foi preso.
No México, em 1914, Pancho Villa liderava uma rebelião de camponeses quando Reed foi enviado como correspondente. Em pouco tempo, tornou-se próximo do líder revolucionário. Os relatos apaixonados de Reed, espalharam a notícia da revolução.

Reed também esteve presente no Massacre de Ludlow, onde mineiros em greve foram abatidos pela Guarda Nacional a mando da família Rockefeller. Esses acontecimentos foram registados no livro, A Guerra do Colorado.
Quando a Primeira Guerra Mundial eclodiu na Europa, John Reed escreveu:
And here are the nations, flying at each other's throats like dogs… and art, industry, commerce, individual liberty, life itself taxed to maintain monstrous machines of death. (Aqui estão as nações, a se lançar aos pescoços umas das outras como cães… e a arte, a indústria, o comércio, a liberdade individual, a própria vida são taxadas para sustentar monstruosas máquinas de morte.)
Uma grande influência para Reed, foi Emma Goldman. Ela era uma fonte de inspiração da geração do feminismo e anarquismo.
Reed foi cobrir a Primeira Guerra, esteve em Inglaterra, nos Países Baixos, na Alemanha e depois na França, andando pelos campos lamacentos das frentes da guerra. Também esteve em 1915 na Rússia, onde viu a miséria e a violência dos soldados do Czar sobre os russos. Quando voltou aos E.U.A, escreveu no The Masses: o inimigo do trabalhador americano são os 2% da população que recebem 60% da riqueza nacional. "Nós defendemos que o trabalhador se prepare para se defender do inimigo."
Nessa altura (1916), Reed conheceu, Louise Bryant, uma escritora, anarquista e comunista inconsequente. Emma Goldman disse,
Louise nunca foi um comunista, ela só dormia com um comunista.No ano seguinte quando os Estados Unidos declaram guerra à Alemanha, Reed, como outros americanos fizeram boicote a essa decisão. Reed revoltou-se pelo modo como as classes trabalhadoras na Europa e EUA, eram exploradas, para sustentar a guerra.
John Reed era uma figura importante no Partido Socialista nos EUA, sendo determinante para a fundação do Partido Comunista dos Trabalhadores. Esse partido era ilegal e era apenas um de dos partidos que disputavam o apoio do recentemente fundado Communist International (Comintern).
Com as notícias que chegavam, da deposição do Czar e da Revolução, Reed e Louise Bryant, partiram para a Rússia. Reed acompanhou tudo tomando as suas notas e em 1918 voltou aos Estados Unidos para escrever, OS DEZ DIAS QUE ABALARAM O MUNDO, mas as suas anotações foram confiscadas e só as recuperou tempos depois. Foi a julgamento, pelas suas crenças e pela sua oposição à guerra, o júri não pode chegar a uma decisão e as acusações foram retiradas.
Reed a partir daí foi convidado por várias Universidades para fazer conferências sobre tudo aquilo que viveu, mas continuou a intervir politicamente e a ter problemas com as autoridades.
Em 1919, a guerra acabou, mas as mudanças na agora URSS, preocupavam os Estados Unidos. Reed envolveu-se na formação do Partido Comunista dos Trabalhadores, foi à Rússia como delegado aos encontros da International Communista. Aí contraiu o tifo e em 1920, morreu num hospital de Moscovo. O corpo de John Reed foi sepultado perto do Kremlin na Praça Vermelha, com honras de herói.
Os Dez Dias que Abalaram o Mundo, é um livro que recorda, com uma intensidade e um vigor extraordinários, os primeiros dias da Revolução de Outubro. O contacto com o movimento acabou por extrapolar o campo das informações jornalísticas, Reed tornou-se um ardoroso defensor da Revolução.O livro, não é uma simples enumeração de factos ou uma colecção de documentos, mas de cenas vivas, cheias de realidade. Todo o material recolhido ao vivo traduz, da melhor forma possível, o modo de sentir das massas, e permite apanhar o verdadeiro sentido dos diferentes actos da revolução.Parece estranho, à primeira vista, que esse livro tenha sido escrito por um americano, que não conhece a língua nem os costumes do país. Ele deveria - é o que se admite - cometer erros, omitir factores essenciais, mas é um grande testemunho pessoal de tudo que aconteceu.O livro de Reed oferece um quadro autêntico da revolta, e é por isso que terá sempre uma importância especial, para gerações futuras, porque a Revolução de Outubro, foi um acontecimento ímpar da história. No seu género, o livro de Reed é uma epopeia.

Reds(1981) filme baseado na vida de John Reed. O filme foi realizado por WARREN BEATTY e teve como intérpretes: Diane Keaton como Louise Bryant, Warren Beatty como John Reed e Jack Nicholson, interpretando o dramaturgo Eugene O'Neill, que havia sido amante de Bryant.

C&H

terça-feira, 22 de junho de 2010

ALEXANDERPLATZ – ALFRED DÖBLIN

ALFRED (BRUNO) DÖBLIN (1878—1957), judeu, neurologista e escritor expressionista alemão.

Participou na PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL, mas teve que fugir ao NACIONAL-SOCIALISMO, pela perseguição desenfreada aos judeus. Emigrou para França, Estados Unidos e em 1945 regressou à Alemanha. Döblin envolveu-se totalmente no renascimento cultural alemão do pós-guerra e foi um dos co-fundadores da Academia de Ciências e Literatura Alemã em Mainz. Desapontado com a evolução política, regressou a França em 1953 e passados 4 anos morreu em Emmendingen/Baden.

A sua obra BERLIN ALEXANDERPLATZ, é considerada uma obra-prima e está dentro dos melhores livros de sempre, marcando o início do romance alemão "moderno", apesar da imprecisão deste conceito. Partilha esta honra com Franz Kafka.

''Berlim Alexanderplatz'' é uma obra capital do expressionismo literário alemão. Este clássico narra a história da Alemanha - entre as duas grandes guerras - e de Franz Biberkopf, antigo operário da construção civil que acaba de sair da prisão, após cumprir uma pena de quatro anos, por matar a companheira, num acesso de raiva. Ele jura nunca mais se meter em situações escusas, tenta reconstruir desesperadamente uma vida respeitável. Mas ao defrontar-se logo na saída com uma Berlim irreconhecível, afundada na corrupção, no fanatismo político e na recessão, o seu primeiro impulso é voltar para a sua cela. Hitler já mostrava as suas garras. Biberkopf passa pela provação de vender nas ruas o principal órgão de propaganda nazista (o jornal Völkischer Beobacher). Entre, os inúmeros trabalhos que arranja, nenhum lhe oferece hipóteses de sobrevivência. Com o bolso arruinado, entrega-se à bebida, retoma o contacto com amigos marginais, perde um braço durante um roubo e vira gigolô. O resto da história é uma descida aos infernos. Dá entrada num manicómio, onde morre e depois é "ressuscitado" e guiado por dois anjos, reencontrando no (sub)mundo dos espíritos os infelizes com quem andou em vida. No capítulo final, o autor dá-lhe uma segunda hipótese…
APRECIAÇÃO DO LIVRO POR WALTER BENJAMIM:

A origem deste épico pode ter sido uma simples notícia policial perdida nos jornais populares citados no livro, ao lado de textos publicitários, canções e versos bíblicos, fielmente transcritos nessa "montagem". Nela, o personagem principal não é Franz Biberkopf, mas a cidade que o destrói - e, mais exactamente, Alexanderplatz, praça central e local de confluência de todos os deserdados alemães, na época do advento do nazismo. Döblin, assim, opta por dar voz aos seus personagens, abdicando do papel de narrador. Trata-se de um exercício polifónico que não dispensa o recurso joyciano do monólogo interior - embora Döblin sempre tenha afirmado que conhecia mal a literatura de James Joyce, quando começou a escrever Berlin Alexanderplatz. O facto é que o seu livro, escrito no auge do expressionismo alemão, cruza referências eruditas e linguagem coloquial, para narrar a história de um homem em busca da sobrevivência, amalgamando sua tragédia com a de um país que perde o pudor para pagar suas dívidas de guerra, resgatar a autoconfiança e fugir do colapso económico. O homem comum de Döblin, desejou ser maior que o destino e foi punido por isso. Se acontece nas melhores tragédias gregas, por que não em épicos modernos?
Romance adaptado a uma mini-série de televisão por Rainer Werner Fassbinder
[C&H]

segunda-feira, 21 de junho de 2010

O QUARTETO DE ALEXANDRIA

Há livros, que lidos em determinadas alturas da vida, são marcantes, nunca mais se esquecem. Esta obra de Lawrence Durrell, envolveu-me de tal maneira, que quase se tornou uma vivência real.

O QUARTETO DE ALEXANDRIA. No seu tratamento de paixões extremadas, Durrell tem afinidades com o americano Henry Miller, embora seja menos directo do que Miller em matéria de sexo. Justine (tb. inspirou um filme), foi o primeiro romance da tetralogia, publicado em 1957. Seguiram-se Balthazar (1958), Mountolive (1959) e Clea (1960). O Quarteto conjuga numerosas influências, da filosofia budista – com a qual Durrell se familiarizou na Índia – às ideias de Freud e Einstein. Mas a obra é sobretudo, nas palavras do próprio autor, uma "investigação do amor moderno". A acção transcorre durante a II Guerra Mundial e nos anos que a precedem. Alexandria é mais que um cenário: a cosmopolita cidade funciona quase como personagem, um lugar de beleza, mistério – e também de miséria. Do ponto de vista estilístico, a grande inovação de Durrell é o jogo narrativo. Os três primeiros livros narram basicamente a mesma história, remontada e revista a partir de diferentes pontos de vista. No primeiro livro, o protagonista e narrador é Darley, jovem candidato a escritor que tem um duplo caso: com a bela e fogosa Justine, uma judia casada com o rico negociante copta Nessim, e com Melissa, dançarina de cabaré. A ligação entre Justine e o seu amante é um jogo narcísico, uma paixão perigosa que só pode acabar mal. Nos dois livros seguintes, a história é iluminada com a perspectiva de outros personagens – o médico e cabalista Balthazar e David Mountolive, o influente embaixador britânico no Egipto. Clea funciona como uma espécie de síntese, na qual os aspectos obscuros dos romances anteriores são esclarecidos quando Darley retorna a Alexandria depois de anos isolado numa ilha. (...) com uma exímia técnica narrativa, Lawrence Durrell retratou as paixões mais violentas de uma forma que ainda hoje conserva uma provocante originalidade.

LAWRENCE GEORGE DURRELL (1912-1990)

quinta-feira, 17 de junho de 2010

NEO REALISMO ITALIANO

Se o realismo poético francês, inspirou a Nouvelle Vague, em Itália também foi o inspirador do Neo-realismo e estes dois movimentos foram influenciadores de muito cinema subsequente.
Este movimento é datado nos anos 1944/45, fim da II Guerra Mundial, com o aparecimento do filme, Roma, Cidade Aberta de Rossellini. Um dos realizadores marcantes deste movimento estético, juntamente com Vittorio De Sica e Luchino Visconti. Relativamente à origem do termo, não há certezas.
Seguindo os estilos estéticos da História da Arte e do Cinema, o nascimento dessa corrente aconteceu gradualmente, levando algum tempo até que se observasse o aparecimento de um filme genuinamente neo realista. E, da mesma forma, sofreu uma decadência paulatina, sem um ponto delimitado de começo ou fim.
Este novo cinema pretendia, introduzir realidade dentro da ficção, a realidade social, psicológica, política, económica da época, como veículo estético-ideológico da resistência. Nos filmes os protagonistas eram pessoas da classe operária imersas num ambiente injusto e fatalista, sempre encontrando a frustração na eterna busca por melhores condições de vida.
Surgiu no final da Segunda Grande Guerra, quando a Itália estava em processo de "libertação" do regime fascista, que vigorou de 1922 a 1945,como veículo estético-ideológico da resistência. O Fascismo, muito além de puro fenómeno político, trazia consigo uma ideologia estética vinculada a valores morais e sociais, inerente às ideologias totalitárias. Um dos objectivos da geração neo realista, seria uma maior aproximação ao que acreditava ser a realidade do povo, para contrapor a essa "falsa imagem" da sociedade. Os jovens directores acreditaram no cinema como forma de expor e denunciar os problemas.


OBRAS CARISMÁTICAS:

Luchino Visconti, com seu filme "Ossessione", de 1942. Adaptação do romance "The Postman Always Rings Twice" ("O Carteiro sempre toca duas vezes"). O realizador, retratou um país de contrastes, que destoava da representação estilizada então dominante. Isso chocou a censura que, mesmo tendo aprovado, engavetaram a produção, até que o próprio Duce tivesse visto!



Roberto Rossellini, ainda durante a guerra — e, mais especificamente, no próprio campo de batalha — filma "Roma, Città Aperta" (1945), inserindo registos de combates verdadeiros na dramatização. Rodado clandestinamente, como a própria resistência dos Partisans, o filme situa-se num limiar entre encenação e o documento histórico.



Em "Germania, Anno Zero" (1947), Rosselini visitou a outra nação derrotada (e destroçada), a Alemanha, para mostrar uma realidade muito semelhante à da Itália. Submetidos novamente a uma ocupação, a restrições e a toda sorte de privações, os alemães violaram os valores éticos mais primários por causa da fome, e Rossellini espelha neles a própria crise italiana.



Mas é com Vittorio De Sica que o Neo-Realismo produz uma das obras mais expressivas e emblemáticas da sua estética. O filme «Ladri di biciclette» (1948) contém os principais elementos do filme Neo-Realista: a temática dos problemas sociais, a criança, os actores iniciantes ou desconhecidos, a ambientação in loco, a ausência de apelos técnicos ou dramatúrgicos e ao mesmo tempo um intenso conflito na trama. Pela história de um homem recém empregado, que tem como seu instrumento de trabalho a bicicleta, que lhe é roubada, e desse forma perde o emprego. De Sica emoldura um quadro da classe trabalhadora urbana de então, assombrada pelo desemprego.


Em 1948, também é o ano do aparecimento de vertentes distintas do mesmo movimento, que de certo modo significam estágios paralelos de desenvolvimento.

Em «La Terra Treme» filme de Visconti, pescadores da Sicília interpretam eles próprios, num filme rodado de maneira semi-documental.

[Trailer de «La terra Treme» inexistente. Um pouco sobre Visconti, que deixou filmes inesquecíveis]



Mas o apelativo "Riso Amaro", de Giuseppe DeSantis, constitui outra face do movimento, ainda que se situe dentro da maleável fronteira do "estilo" Neo-Realista. Para muitos críticos, observa-se o início do declínio do movimento. A chamada geração neo-realista, que ainda teve outros realizadores menos significativos, acaba, sucumbindo às circunstâncias.



Na década de 1950, o cenário já é outro, o quadro de crise económica e social parece ter sido amenizado, a televisão ganha cada vez mais espaço e para a enfrentar, os produtores passam a investir no cinema de puro entretenimento. Um pouco mais tarde, Federico Fellini e Michelangelo Antonioni, que tinham participado do Neo Realismo, afastam-se e tomam o caminho da farsa exuberante e do drama existencial.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

terça-feira, 15 de junho de 2010

ROMA

quarta-feira, 9 de junho de 2010

LIVRO DO DESASSOSSEGO - BERNARDO SOARES

Edouard Vuillard (1891)

A intriga a maledicência, a prosápia falada do que não se ousou fazer, o contentamento de cada pobre bicho vestido com a consciência inconsciente [?] da própria alma, a sexualidade sem lavagem, as piadas como cocegas de macaco, a horrorosa ignorância da inimportância do que são...Tudo isto me produz a impressão de um animal monstruoso e reles, feito no involuntário dos sonhos, das côdeas húmidas dos desejos, dos restos trincados das sensações.

Livro do Desassossego, Ática - 1º. Volume - pág.88

terça-feira, 8 de junho de 2010

ZONA EURO: CRISES CONVERGENTES, MAS TAMBÉM DIVERGENTES…

Continuo, continuamos, mergulhados na CRISE, cada vez mais CRISE com as notícias que vão chegando. Há anos que se anda a falar de uma crise de valores éticos, os actos corruptivos dos políticos têm sido manchete diária juntamente com uma displicência do vale tudo. Portugal começou a viver acima das suas possibilidades e a fechar os olhos, a certos sectores, como por exemplo os bancos, que alargaram o crédito e tiveram como contrapartida o não cumprimento dos empréstimos e, claudicaram! Victor Constâncio, Governador do Banco de Portugal, foi um bom «verbo de encher», como é que lhe passou tudo ao lado? Possivelmente estava mandatado para isso! Uma crise mundial desenhou-se, começou pelos Estados Unidos e pelas medidas económicas tomadas e foi-se alastrando, por todo o mundo, com graus de afectação diferentes. A zona euro, foi afectada especialmente. O projecto de uma União de Países, com possibilidades diferentes, para os quais os patamares seriam os mesmos, dizia-se que viria a trazer problemas. Irlanda, Portugal, Espanha, Grécia, Itália, Hungria…estão com grandes dificuldades. Grécia e Hungria já admitiram ter falsificado as contas e outros o fizeram com certeza!

Relativamente a Portugal, assiste-se a contradições estranhas por parte do Governo! Que contenções estão a ser feitas a nível das despesas do Estado?
TGV vai ser construído ou não? Um dia sim, outro dia não, um dia economistas dizem que deve ser, no outro dia economistas dizem que não! E o mesmo se pode dizer, de outras grandes obras que estavam programadas.
Relativamente às despesas do próprio Estado, verdade ou não, quando se diz que o PM tem 12 motoristas, eu pergunto a mim mesma, mas isso é possível?
Hoje fiquei «pasmada», com a notícia: Estado pagou 23 milhões em cartazes partidários! Tem que haver cortes ao financiamento partidário, hoje em dia isso já não se justifica!
O esforço no corte nas subvenções públicas aos partidos entrou na agenda mediática depois do Presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, ter apelado aos partidos para se juntarem aos sacrifícios pedidos aos portugueses.
O PS abriu a porta a entendimentos, mas afastou o cenário de avançar com uma proposta legislativa. Os socialistas acreditam que em tempo de crise é errado rever a lei de financiamento partidário (!) e defendem que era preferível um acordo entre partidos a aplicar nesta conjuntura (até 2013).
Sempre pensei que existia deputados a mais e continuo a pensar e agora como cada deputado tem assessor, esta frota é imensa!..
Penso que se podia reduzir bastante à despesa do governo, porque há de facto muito desperdício, sem afectar demasiado as pessoas de reduzidos proventos ou aumentar mais o índice de desemprego, mas pelos vistos as opções vão mesmo por aí, com redução de subsídios, congelamento de salários e aumentos gerais de impostos. 2011, todos dizem que será um ano negro com a implementação de medidas mais drásticas! Possivelmente terá à frente do governo, Socrátes. Bem dizia outro dia, Adriano Moreira, que Portugal está a necessitar de pessoas confiáveis. Sócrates é um político absolutamente descredibilizado.
A vaga de planos de austeridade está a espalhar-se pela Europa de forma cada vez mais rápida. Depois dos países periféricos (Grécia, Portugal, Espanha, Irlanda e Itália) se terem visto obrigados (primeiro pelos mercados e depois pela Comissão Europeia) a reforçar as medidas anunciadas nos respectivos Programas de Estabilidade e Crescimento (PEC).
Ontem mesmo, foi recomendado a Portugal e a Espanha, complementar as medidas de austeridade recentemente anunciadas com novas reformas estruturais, “nomeadamente no mercado de trabalho e no sistema de pensões”, para acelerar a consolidação orçamental.
Esta decisão foi tomada por 16 países da zona euro no quadro de uma análise preliminar dos programas de austeridade impostos há um mês a Lisboa e Madrid, no quadro dos esforços destinados a sossegar o nervosismo dos mercados financeiros sobre a sustentabilidade da zona euro, sobretudo dos seus membros mais vulneráveis. Lisboa e Madrid, «já anunciaram ou vão anunciar reformas estruturais substanciais». Os planos de austeridade terão de ser reforçados a partir de 2011.
Também a Alemanha e o Reino Unido assumiram, por sua iniciativa, que vão ter de apertar mais o cinto do que o inicialmente esperado. Na Alemanha, país crucial para a actividade em toda a União Europeia, Merkel anunciou um programa de austeridade de 80 mil milhões de euros até 2014, de modo a permitir uma redução do défice para menos de 3 por cento do PIB e Cameron, já está a preparar os britânicos para um novo "estilo de vida". Sarkozy, não toma medidas, porque já está em campanha eleitoral para 2012, dizem os comentaristas! Estes políticos, que só querem ganhar eleições e estão a marimbar-se para o país, também já são o «pão-nosso» de cada dia!


QUE DISSE ONTEM O REPRESENTANTE DO FMI:

O discurso a favor da intensificação da consolidação foi igualmente martelado pelo FMI, que atribuiu a actual crise da zona euro “às políticas orçamentais insustentáveis em alguns países”, em conjunto com “progressos insuficientes no estabelecimento da disciplina” orçamental e “governação deficiente da zona euro”.Para o FMI “uma das soluções para o problema da governação da zona euro passaria, “idealmente”, pela centralização ao nível europeu da fixação de “metas vinculativas” para o défice orçamental e dívida pública dos países membros. Isto, embora reconhecendo que “uma reforma deste tipo exige um consenso sobre alterações do Tratado [da União Europeia], o que levará tempo”.
Ao mesmo tempo, defende que o quadro orçamental da zona euro, tem de ser “reforçado de forma significativa” porque o pacto de estabilidade e crescimento do euro (PEC) “não encorajou os Estados membros a tirar partido dos bons tempos para construir almofadas de segurança e reduzir a dívida para níveis prudentes”. Esta situação reflecte “fragilidades fundamentais na prevenção e aplicação [do PEC] que precisam de ser urgentemente enfrentados”.


PASSEANDO PELOS CLÁSSICOS

Há livros, que embora lidos, há alguns anos, nunca mais se esquecem! Li vários livros sobre Thoman Mann, (Lübeck, 6 de Junho de 1875 — Zurique, 12 de Agosto de 1955). Nobel de Literatura de 1929.
Mais sobre Thomas Mann AQUI
DESTACO:
OS BUDDENBROOKS, um romance que conta a história de uma família protestante de comerciantes de cereais de Lübeck ao longo de três gerações. Fortemente inspirado na história da sua própria família, o romance foi lido com especial interesse pelos leitores de Lübeck que descobriram muitos traços de personalidades conhecidas. Thomas Mann é também um romancista analítico, que descreve como poucos a tensão entre o carácter nórdico, protestante, frio e ascético e as personagens mais rústicas, simples, bonacheironas, das regiões católicas, de onde se destaca o senhor "Permaneder", o paradigma do bávaro de Munique, em "Os Buddenbrook". Thomas Mann viveu entre estes dois mundos. Por um lado a origem familiar e o ambiente da ética protestante de Lübeck, por outro lado a voz interior e a influência da sua mãe brasileira, que o faziam interessar-se menos pelos negócios e mais pela literatura. A influência da mãe acabou por levar a melhor. Thomas Mann via nos Buddenbrook um exemplo de uma família em decadência, em que os descendentes não saberiam levar avante os negócios, que herdaram.
MORTE EM VENEZA, publicado em 1912, conta a história do escritor alemão Gustav von Aschenbach, que vai passar férias a Veneza. Lá, apaixona-se platonicamente pelo jovem polonês Tadzio, de 14 anos, e passa os dias a admirá-lo. O livro faz considerações de Aschenbach sobre as dicotomias, beleza natural do jovem e a arte da escrita tão arduamente trabalhada por ele, ou juventude e velhice, sabedoria e ignorância, saúde e doença."Não estava escrito que o sol desvia nossa atenção do intelectual para o sensível? Que ele entorpece e enfeitiça a razão e a memória de tal modo que a alma, entregue ao prazer, esquece inteiramente sua verdadeira condição e se apega surpresa e maravilhada ao mais belo dos objectos iluminados por ele?"Há citações da literatura clássica, como o relacionamento entre Sócrates e Fedro, tentando justificar os sentimentos amorosos expressos pelo autor. Contudo, o que torna a obra digna de leitura não é a história em si, mas a habilidade de Thomas Mann no manuseio das palavras para mostrar aspectos psicológicos.
Ao chegar a Veneza, o escritor descreve a passagem através de um Portal, sendo conduzido por um estranho gondoleiro até ao seu destino, mas ele desaparece deixando apenas a frase: "O senhor pagará". O Portal é identificado como o do Inferno, e gondoleiro Caronte, barqueiro do rio que leva as almas no rio Estiges. Predição funesta, contudo muito pertinente. Também interpreta a necessidade dos moradores de Veneza em esconder a doença que assola a cidade dos turistas: revelando um falso clima de paz que precedeu a Primeira Guerra Mundial (1914) e mostrando a falsa sensação de que "está tudo bem". O livro leva-nos a descobrir Aschenbach/Mann, os seus traumas, anseios, dúvidas, desejos e contradições. Aschenbach critica justamente aquilo em que depois se vai transformar, o êxtase que será a causa do seu infortúnio.
Teve uma adaptação cinematográfica excelente de Luchino Viscontti.
A MONTANHA MÁGICA ("Der Zauberberg"), publicado pela primeira vez em 1924. Thomas Mann faz um retrato de uma Europa em ebulição, no eclodir da Primeira Guerra Mundial. Imagem simbólica da corrosão da sociedade europeia antes da Primeira Guerra. Ao visitar o primo num sanatório, Hans Castorp acaba por contrair tuberculose. Permanece internado por sete anos, vivendo num ambiente de requinte intelectual. Ler “A Montanha Mágica” é aprender a morrer. Quem vive está morrendo um pouco, e nessa montanha vive-se muito devagar. Narra-se a história de Hans Castorp, um jovem sem muitas qualidades, que o autor apenas não quer chamar de medíocre. Estava um pouco esgotado, ao término de seu curso de engenharia. Antes de assumir um alto cargo na firma dos parentes, vai para um sanatório na montanha para repousar por quinze dias, com o pretexto de visitar o primo tuberculoso. Os médicos descobrem que ele trazia a doença embutida, e fica internado. Então opera-se uma transformação nele, paulatinamente, à medida que vai vivendo nesse lugar, em que parece que o tempo não existe. Na retrospectiva da sua vida, é interessante notar o paralelo com a de Thomas Mann, que também ficou sem pai e, embora tivesse a mãe, ficou entregue à indiferença dos parentes. Falando no paralelo biográfico, vamos notar já o inacreditável capítulo sobre o passeio na praia – isto na montanha, num lugar coberto de neve, mesmo no verão – como se a mãe do autor, brasileira, de Paraty, deixasse nele esse sentimento atávico do mar. Vai conhecendo os hóspedes da clínica, que parece não terem nada de extraordinário. São de facto pessoas comuns que têm uma doença incurável, na época, e convivem com ela da melhor maneira possível. Quanto melhor é essa convivência, quanto mais parecem normais, mais ganham profundidade psicológica, mais vamos conhecendo quanto de humano pessoas comuns carregam dentro de si. Como não poderia deixar de ser, há a discussão religiosa – na pessoa de duas das personagens mais interessantes, mais complexas, um escritor e um jesuíta, dois pândegos a princípio, que vão crescendo e dominando a cena. É a Cidade de Deus e a cidade dos homens em luta, ambas carregadas de erros, tentando justificar-se e impor-se. O desenlace dessa disputa será o clímax do romance. Sem vencedores, mas com perda e desengano. No entanto, a vida continua. Hans Castorp conhece ou pensa conhecer o amor. Não percebe que quem vive nas suas condições não tem direito a amar. É nas vésperas da 1ª Guerra Mundial, quando o mundo vai transformar-se, que Hans Castorp amadurece de repente.Livro, em que não acontece nada, e que nos deixa presos àquele mundo cheio de humanidade, que sangra sem que se perceba, que morre – e olha-se com galhardia a morte –, enquanto nos vamos enriquecendo interiormente. Não é apenas Hans Castorp que cresce ao longo do romance. Não são apenas as personagens – sem grandeza como nós – que crescem ao longo do romance. Nós também.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

A IMPORTÂNCIA DA INTERNET

A Internet, é uma ferramenta de conhecimento imprescindível. Um nome passa pelos meus ouvidos ou olhos e, não conhecendo ou conhecendo mal, a internet abre diversas caminhos ao conhecimento. Necessário é contrapôr uns sites aos outros, para um conhecimento mais confiável. Aquelas enciclopédias que sempre tinha que consultar a maior parte do tempo repousam na estante. Contrariamente às enciclopédias que vão ficando ultrapassadas pelos acontecimentos a internet vai-se sempre actualizando. Este vício que criei de procura, ocupa-me realmente muito tempo e sempre o tempo é pouco!

LOUISE BOURGEOIS, já conhecia, são famosas as suas aranhas, mas de BRIAN DUFFY, nada sabia! Dois artistas que morreram recentemente.

Louise Bourgeois (1911-2010)

Louise Bourgeois, notabilizou-se pela abordagem agressiva e explícita do sexo nas suas obras, centradas no estudo do corpo humano e na necessidade de protecção diante de um mundo assustador. Ela costumava inspirar-se em episódios da sua infância para fazer suas obras, marcadamente a relação entre os seus pais, que mantinham um relacionamento infiel mas se recusavam a admiti-lo. A série de aranhas desenvolvida a partir dos anos 90, inclusive, representa estas inquietações familiares.

MAIS SOBRE LOUISE BOURGEOIS AQUI







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Brian Duffy (1933-2010)

Este fotógrafo ficou famoso ao retratar o universo da moda e da música dos anos 1960 e 1970.Sua foto mais famosa é capa do disco 'Aladdin sane', de David Bowie.
Em 1979, o nome de Duffy correu mundo devido a ter queimado parte de seu trabalho.
MAIS SOBRE DUFFY AQUI

domingo, 6 de junho de 2010

CERTEZAS PRECISAM-SE - GEDEÃO



Certezas, precisam-se
Preciso urgentemente de adquirir
meia dúzia de valores absolutos,
inexpugnáveis e impenetráveis,
firmes e surdos como rochedos.
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Preciso urgentemente de adquirir certezas,
certezas inabaláveis,
imensas certezas,
montes de certezas,
certezas a propósito de tudo e de nada,
afirmadas com autoridade,
em voz alta para que todos oiçam,
com desassombro, com ênfase, com dignidade,
acompanhadas de perfurantes censuras
no olhar carregado,
oblíquo.
.
Preciso urgentemente de ter razão,
de ter imensas razões, montes de razões,
de eu próprio me instituir em razão.
Ser razão!
Dar um soco furibundo e convicto no tampo da mesa
e espadanar razões nas ventas da assistência.
Preciso urgentemente de ter convicções profundas,
argumentos decisivos,
ideias feitas à altura das circunstâncias.
Preciso de correr convictamente
ao encontro de qualquer coisa,
de gritar, de berrar, de ter apoplexias sagradas
em defesa dessa coisa.
Preciso de considerar imbecis
todos os que tiverem opiniões diferentes da minha,
de os mandar, sem rebuço,
para o diabo que os carregue,
de os prejudicar, sem remorsos,
de todas as maneiras possíveis,
de lhes tapar a boca,
de lhes cortar as frases no meio,
de lhes virar as costas ostensivamente.
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Preciso de ter amigos da mesma cor, caras unhadas,
que me dêem palmadinhas nas costas,
que me chamem pá e me façam brindes
em almoços de camaradagem.
.
Preciso de me acocorar à volta da mesa do café,
e resolver os problemas sociais
entre ruidosos alívios de expectoração.
Preciso de encher o peito e cantar loas,
e enrouquecer a dar vivas,
de atirar o chapéu ao ar,
de saber de cor as frequências dos emissores.
O que tudo são símbolos e sinais de certezas.
Certezas!
Imensas certezas!
Montes de certezas!
Pirinéus, Urais, Himalaias de certezas!
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ANTÓNIO GEDEÃO

SERRALVES EM FESTA - SERRALVES NON STOP 40 H.

É interessante, SERRALVES EM FESTA. Dois dias de cultura gratuitos para todos, com os mais diversificados espectáculos. É agradável ver o entusiasmo e a atenção das crianças a tudo que vai acontecendo. Os Jardins de Serralves são mesmo um paraíso para as crianças, mesmo para aqueles bebezinhos que vão de carrinho e respiram tanto ar puro, com os papás também sorridentes, numa festa que vai de artistas amadores a profissionais, mas onde não há cedências ao facilitismo. Gosto de passar por Serralves nesta altura, gosto de ir lá aos domingos, de manhã também é gratuito, para que todos possam usufruir daquele belo espaço.









sábado, 5 de junho de 2010

FERREIRA GULLAR - PRÉMIO CAMÕES 2010

TRADUZIR-SE
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Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
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Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
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Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
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Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
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Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
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Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
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Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte
-será arte?
.
Ferreira Gullar

sexta-feira, 4 de junho de 2010