O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

quarta-feira, 27 de abril de 2011

SYLVIA PLATH (1932-1963)


Os pais de Sylvia, eram professores, com oito anos escreveu o seu primeiro poema, mas foi com essa idade que perdeu o pai e começou a ter problemas psicológicos.
O pai de Sylvia Plath está enterrado no cemitério de Winthrop, onde a sua lápide atrai leitores, devido a um dos poemas mais famosos de Plath, "Daddy".


Cedo Sylvia foi inspirada por imagens de vidro, da lua, do sangue, hospitais, fetos, e caveiras. Os seus poetas preferidos eram: Dylan Thomas, WB Yeats, Marianne Moore.



A situação económica familiar, depois da morte do pai, tornou-se problemática, Sylvia estava consciente dessa realidade, sentia insegurança, mas ao mesmo tempo, procurou ser uma aluna brilhante. Quando frequentava o terceiro ano da Faculdade foi convidada pela revista "Mademoiselle"e esteve um mês na cidade de Nova York. Uma experiência traumatizante, que motivou um desassossego na sua visão sobre si própria e sobre a vida em geral. Tentou o suicídio pela primeira vez, com narcóticos. Muitos acontecimentos dessa altura inspiraram o seu único romance, A Redoma de Vidro, (The Bell Jar).
Sylvia foi internada numa instituição psiquiátrica, foi diagnosticada como doente bipolar, sofreu uma terapia de eletrochoques, mas nunca se recuperou completamente.
Terminou os seus estudos e teve uma bolsa, para frequentar a Universidade de Cambridge, na Inglaterra, onde continuou a escrever poesia activamente, publicando os seus trabalhos no jornal Varsity.
Foi em Inglaterra, que Sylvia conheceu o poeta inglês Ted Hughes e apesar de estar contra os padrões do casamento, defendendo que a mulher devia ter uma experiência sexual similar à dos homens, logo se casou.
Viveram alguns anos nos Estados Unidos, onde em 1960, Sylvia publicou o seu primeiro livro, O Colosso. Os seus poemas, cada vez mais exploraram a paisagem surreal da sua psique, presos sob a sombra ameaçadora de um pai morto e de uma mãe com quem não se entendia, mas são ainda lampejos do que estava para vir no início de 1961.
Plath assistiu a seminários do poeta Robert Lowell, como Anne Sexton, Sylvia Plath optou pelo género de poesia confessional.
Voltam para Inglaterra e sofreu um aborto, que seria um dos temas principais, em grande número dos seus poemas.
Ao fim de três anos o seu casamento terminou, principalmente por uma relação extra-conjugal de Hughes. Foi depois da partida de Hughes, que Plath produziu, os poemas de raiva, desespero, amor e vingança que lhe deram fama póstuma. A poeta ficou com dois filhos, de três anos e um ano. Estava com uma grande depressão e vivia com bastantes dificuldades. Os seus últimos poemas, são poderosos e profundos, a morte é uma atracção física cruel, a única saída digna e a dor psíquica torna-se quase táctil.
Na manhã de 11 de Fevereiro de 1963, Plath vedou completamente o quarto das crianças, deixou leite e pão perto das suas camas, tendo ainda o cuidado de abrir as janelas do quarto. Tomou uma grande quantidade de narcóticos, e meteu a cabeça no interior do forno de gás. Na manhã seguinte foi encontrada morta.

--------------- OBRA

Dois anos depois, Ariel, uma colectânea de alguns dos seus últimos poemas, foi publicada, seguindo-se Crossing the Water, Winter Trees e The Collected Poems.
Em 1982, foi-lhe atribuído o Prémio Pulitzer de Poesia para Collected Poems. Sylvia Plath tornou-se uma heroína e mártir para o movimento feminista. Na verdade, ela foi uma mártir, principalmente pelo psicodrama que viveu, dentro da redoma da sua personalidade tragicamente ferida.
Plath manteve o hábito de escrever diários desde os 11 anos, até ao seu suicídio. Os seus diários, foram publicados em 1980. Em 1982, quando o Smith College recuperou os diários que faltavam, Ted Hughes selou-os até 2013. Em 1998, pouco antes de sua morte, Hughes entregou os manuscritos e no ano 2000, os Diários são publicados, com o título The Unabridged Journals of Sylvia Plath. A escritora americana Joyce Carol Oates descreveu a publicação como um "genuíno evento literário".
Hughes foi alvo de muitas críticas, por ter destruído a última parte dos diários de Plath, que continham escritos desde 1962 até a sua morte. Ele defendeu-se, afirmando que os havia destruído num acto de protecção dos filhos, e que o esquecimento para ele era uma parte essencial da sua sobrevivência.

Cinema:O filme Sylvia, de 2003, com Gwyneth Paltrow, retrata a relação conturbada de Plath com Hughes.














ESPELHO
.

Sou prateado e exacto.
Não tenho preconceitos.
Tudo o que vejo engulo imediatamente
Do jeito que for, desembaçado de amor ou aversão.
Não sou cruel, apenas verdadeiro
- O olho de um pequeno deus, de quatro cantos.
Na maior parte do tempo medito sobre a parede em frente.
Ela é rosa, pontilhada.
Já olhei para ela tanto tempo,
Eu acho que ela é parte do meu coração.
Mas ela oscila.
Rostos e escuridão nos separam toda hora.
.

Agora sou um lago.
Uma mulher se dobra sobre mim,
Buscando na minha superfície o que ela realmente é.
Então ela se vira para aquelas mentirosas,
as velas ou a lua.
Vejo suas costas, e as reflicto fielmente.
Ela me recompensa com lágrimas e um agitar das mãos.
Sou importante para ela. Ela vem e vai.
A cada manhã é o seu rosto que substitui a escuridão.
Em mim ela afogou uma menina, e em mim uma velha
Se ergue em direcção a ela dia após dia, como um peixe terrível.
.
ARIEL

.
Estancamento no escuro
E então o fluir azul e insubstancial
De montanha e distância.
.
Leoa do Senhor como nos unimos
Eixo de calcanhares e joelhos!...
O sulco Afunda e passa, irmão
.
Do arco tenso
Do pescoço que não consigo dobrar.
Sementes
.
De olhos negros
lançam escuros Anzóis...
.
Negro, doce sangue na boca,
Sombra, Um outro vôo
Me arrasta pelo ar...
.
Coxas, pêlos;
Escamas e calcanhares.
Branca Godiva, descasco
.
Mãos mortas, asperezas mortas.
E então
Ondulo como trigo, um brilho de mares.
.
O grito da criança
Escorre pela parede.
.
E eu Sou a flecha,
O orvalho que voa,
Suicida, unido com o impulso
Dentro do olho Vermelho,
caldeirão da manhã.

terça-feira, 26 de abril de 2011

UMA PERDA...





Será que alguma vez voltarei a encontrar-te naquela floresta encantada que me constrói os sonhos? Sinto-me triste…sinto a tua ausência…tu entrastes nos mais belos sonhos, nas mais intensas imagens, nos sentimentos mais puros e completos.As flores que brilhavam na tua presença, a chuva miudinha e leve que nos molhava lentamente e nos deixava melancólicos e os raios brilhantes e suaves que nos acariciavam, penetrando por entre as folhas verdes das árvores, enviados pelo sol para nos iluminarem...


Toda a Natureza, que os nossos sonhos construíram para nós, está triste e pálida. Quero voltar a ver-te… A última vez que estavas no meu jardim encantado senti-te distante. Estavas a boiar no lago dos nenúfares. Quando sentiste a minha presença moveste-te e apareceste ao meu lado, com o teu sorriso húmido. Sentia a tua pureza a dissolver-se lentamente e a entrar na minha alma sob a forma de paz.Há imagens fixas na minha mente, um céu azul com nuvens brancas que se movem languidamente num rodopio sensual, o mar azul por baixo, imenso e assustadoramente infinito. O sol a brilhar como uma bola de fogo pronta a incendiar a minha alma.


Disseste adeus à medida que desaparecias, deixando um rasto de luz que parecia não ter fim...Uma lágrima de dor percorreu-me a face lentamente e vários sentimentos me percorreram por dentro. Os teus lábios murmuraram: “Adeus.” Começou a chover suavemente. As folhas das árvores ficaram acastanhadas e cobriram a relva verde. À medida que nos meus olhos a chuva se misturava com as lágrimas disse baixinho: “Adeus”… Tu foste-te embora e eu fiquei no meu pequeno mundo sem ti, mas tão dentro da minha alma…Estarás sempre no meu Universo de...


A vida é complexa, mas bela, porque nos dá os instrumentos para superarmos tudo, quando pensamos que nem sempre somos capazes. Mas temos que ter a coragem de preservar... E de repente não se olha para trás ou para os lados, para o passado ou para o futuro, apenas se mergulha para o coração da onda, para aquele centro que parece perfeito e onde entretanto o caos reina. A própria vida é uma essência desse caos. Qualquer coisa que nos envolve, nos aperta, às vezes nos dá vontade de gritar, outras de sorrir e sempre vontade de chorar, seja de alegria ou de tristeza...Agora é tempo de chorar, digerir e ganhar forças para o caminho que se segue. Não é fácil, mas nada o é. Vão ser precisos, muitos momentos, mas sempre presente que a vida se faz caminhando.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

UM DIA DE CHUVA...

Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol. Ambos existem; cada um como é.


Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos" Heterónimo de Fernando Pessoa




terça-feira, 19 de abril de 2011

HÁ PRECISAMENTE MEIO SÉCULO, JOHN, PAUL, GEORGE E RINGO, TOCARAM PELA PRIMEIRA VEZ NO CAVERN CLUB

Foi de um prédio decadente, numa rua esconsa da zona operária de Liverpool, que partiram à conquista do mundo, diferentes, irreverentes, revolucionários. O seu primeiro disco oficial de apresentação, Love me Do, foi lançado em 1962 e o seu primeiro LP, saiu em 1963, Please Please Me e a partir dai um conjunto de composições levou-os aos tops até 1975, embora o grupo tivesse acabado em 1970. E já neste milénio, mais de trinta anos depois de Paul McCartney ter anunciado ao mundo a dissolução da banda, os seus membros, continuam a coleccionar Grammy e Óscares. Os Beatles ganharam mais estatuetas do prémio Grammy depois de 1970 (21), do que propriamente durante a sua carreira (11). A sua presença mediática, pela sua música, pela sua história tem sido sistemática. Os Beatles deram contribuições importantes para a história da música popular de expressão mundial, criaram a ruptura, entre o antes e o depois.


domingo, 17 de abril de 2011

PEDRO BURMESTER - MOZART


Pedro Burmester nasceu no Porto em 1963, estudou com a prestigiada pianista Helena Sá e Costa e terminou O Curso do Conservatório do Porto, com 20 valores.


Iniciou a sua actividade concertística aos 10 anos de idade e, desde então, já realizou mais de 1000 concertos a solo, com orquestra e em diversas formações de música de câmara, em Portugal e no estrangeiro. Participou em todos os festivais de música portugueses. No estrangeiro são de realçar apresentações em La Roque d’ Anthéron, na Salle Gaveau, no Festival de Flanders, na Frick Collection e 92nd Y em Nova Iorque, na Filarmonia de Colónia, na Gewandhaus de Leipzig, na casa Beethoven em Bona e no Concertgebouw em Amesterdam.


Leccionou durante dez anos na Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo (ESMAE) no Porto. Foi Director Artístico e de Educação na Casa da Música, projecto que ajudou a criar e a implementar.




Fantasia kv 385 g (397) Wolfgang Amadeus Mozart



Pedro Burmester: "No Porto não toco, como protesto político"




LAMENTO MUITO, MAS CONSIDERO QUE BURMESTER TEM TODA A RAZÃO.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

O CÉREBRO À PROCURA DA ALMA?

A noética (do grego nous: mente) é uma disciplina que estuda os fenômenos subjetivos da consciência, da mente, do espírito e da vida a partir do ponto de vista da ciência. Como conceito filosófico, em linhas gerais define a dimensão espiritual do homem. ----------------------------------------------- Questionamentos sobre um mistério que nos ultrapassa, «De onde vimos, o que somos e para onde vamos», estarão sempre presentes na nossa mente! A filosofia sempre se debruçou sobre isso…muito antes, o homem a partir da evolução do seu cérebro e da percepção do sistema em que vivia, criou os seus deuses e gradualmente esse aspecto tomou amplitude e foram surgindo um conjunto de crenças sobre as causas, natureza e finalidade da vida e do universo. Nesta perspectiva, considero que a ênfase está nos estudos científicos sobre o cérebro e que estão ainda muito longe de um conhecimento satisfatório, o cientista António Damásio, considera que o cérebro ainda é um mistério. ----------------------------------------------------- SOBRE ANTÓNIO DAMÁSIO: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Dam%C3%A1sio
ANTÔNIO DAMASIO: O CÉREBRO À PROCURA DA ALMA




Para o neurocientista português, radicado nos E.U.A., a razão pura não existe: nós pensamos com o nosso corpo e nossas emoções. “Os fenómenos mentais integram verdadeiramente ao corpo tais como eu os visualizo, são capazes de dar lugar às mais altas operações, como aquelas que revelam a alma e o nível espiritual. Sob meu ponto de vista, não obstante, todo o respeito que suscita a noção da alma, podemos dizer por último que esta reflecte somente um estado particular e complexo do organismo”. António Damásio, director do departamento de neurologia da Universidade de Iowa (Estados Unidos), tenta durante anos descobrir os mistérios da consciência e das faculdades mentais superiores, a fim de, talvez, melhor discernir sobre as noções ambíguas do espírito ou da alma.

http://www.psiquiatriageral.com.br/cerebro/texto1.htm ------------------------------------------ É extremamente difícil, no estágio do conhecimento científico em que estamos, falarmos acerca dos processos neuropsicológicos, sem que tenhamos inúmeras discussões. Nossas "verdades" são efémeras. Mal conseguimos "passar a limpo" os rascunhos de nossos estudos e leituras e temos que começar tudo novamente tal o número de informações e reflexões a respeito do tema, pois a Ciência recoloca permanentemente em discussão os conceitos, mesmo os mais solidamente estabelecidos. O homem sempre possuiu um forte, ambicioso e íntimo desejo de conhecer a sua origem e a do mundo em que habita. E, depois de tantos estudos, de tanta especulação, de tantas controvérsias, esta questão é ainda hoje um problema sem solução científica, apesar de constituir a procura e a essência do conhecimento do homem e de ser a questão central do pensamento filosófico. O sistema nervoso central é a porção do corpo humano mais protegida, a que possui maior complexidade anatómica e funcional, a que é dotada de maior plasticidade reaccional, a que tem maiores potencialidades, aquela em que se verifica maior capacidade evolutiva. Todos estes fatos estão relacionados com a sua intensa actividade funcional e com a sua extrema delicadeza. Com efeito, na essência de qualquer fenómeno da vida do homem, encontramos sempre o sistema nervoso, pois este conduz e regula todas as funções e toda a evolução do género humano e do indivíduo. O homem é, por excelência, um ser social que aprende de uma maneira mais complexa, por essa razão, é mais eficiente que os outros seres vivos na medida que possui um tipo único e especial de sistema de comunicação: a linguagem. O que uma pessoa se torna eventualmente, em termos de comportamentos e crenças, depende da cultura na qual está inserida. Não só o homem faz cultura, mas ele também é feito pela cultura. Fascinante é o estudo do sistema nervoso do homem, de sua organização morfopsicofuncional que rege as necessidades do indivíduo e suas relações com o ambiente físico e social peculiares a nossa espécie, que é por nós chamada de personalidade. Nosso modo de ser é único; é a distinção de nossa espécie. Nosso cérebro faz muito mais que recolher, ele compara, analisa, sintetiza, e como nenhum computador usa as emoções e as intuições, gerando abstracções novas e inusitadas, projecta-nos no futuro, liberta-nos do presente. Temos uma qualidade única: a de ver a nos mesmos e um desejo inextinguível de querer saber que somos o instrumento de nossa sobrevivência. Para conhecermos melhor o nosso cérebro, temos de ver os aspectos evolutivos de nossa espécie, porque como todos os nossos órgãos, o cérebro evoluiu aumentando a complexidade e o conteúdo das informações por milhões de anos. Sua estrutura reflecte todos os estágios pelos quais passou o encéfalo. Evoluiu de dentro para fora. Sabe-se que as áreas relacionadas com o comportamento emocional ocupam territórios grandes, de vários centros sub-corticais e do córtex cerebral. No fundo da parte interior está a parte mais antiga o tronco encefálico onde estão localizados vários núcleos de nervos cranianos viscerais ou somáticos como o centro respiratório e o vaso motor, isto é, coordena as funções biológicas básicas, inclusive os ritmos de vida, exercendo sobre o córtex, através da formação reticular, papel activador, pré-requisito para várias formas de comportamento e manifestações emocionais, pois contém estruturas destinadas a manter a vigília ou o sono. A porção alta do tronco encefálico (substância reticular, mesencéfalo) e gânglios da base, tem centros com participação importante na procriação, na predação, no instinto de território e no modo de vida gregário (evolui há centenas de milhões de anos). Intimamente relacionado e circulando parte destas estruturas está o sistema límbico, que tem papel importante no comportamento emocional do indivíduo, apresenta certo grau de plasticidade no sentido de aprendizado e soluções de problemas com base na experiência imediata. É a principal fonte de nossos humores e emoções, de nossos interesses e cuidados (evolui há dezenas de milhões de anos). Também intimamente inter-relacionado a estas estruturas, no lado externo, está o córtex cerebral compreendendo mais de dois terços da massa encefálica, constituindo um mosaico de células diferenciadas em áreas funcionais diferentes (evoluiu há milhões de anos). O estudo do cérebro ocorre dentro de um princípio holístico (A. R. Luria), o qual baseia-se na ideia de que processos psicológicos em larga escala operam em sistemas funcionais intimamente integrados e desempenham cada qual um papel na actividade psíquica. Sendo eles responsáveis pela manutenção do tono do córtex, estado indispensável para o correcto recebimento, processamento, elaboração e conservação da informação, assim como pelos processos de formação e organização de comportamentos e também pelo controle de suas execuções a partir do próprio corpo do indivíduo. Recordamos ainda que toda a movimentada actividade cerebral depende de uma fina e requintada comunicação neuroeletroquímica (hoje são conhecidas algumas dezenas de substâncias que exercem actividades neurotransmissoras) realizada por uma microscópica "rede" de células cerebrais, cujo corpo mede em geral apenas alguns milésimos de milímetros - os neurónios. Possuímos cerca de cem bilhões destas pequenas células especializadas e cada uma delas estabelece em média contacto com 1.000 a 10.000 outros neurónios (algumas chegam a fazer 50.000 junções). Nossos pensamentos, sensações, percepções, fantasias, possuem uma realidade física. Um pensamento é formado por milhares de impulsos electroquímicos. A neurotransmissão é mais um dos intrincados segredos do sistema nervoso que está sendo exaustivamente estudado e lentamente esclarecido, segundo John Eccles "... o entendimento final e completo (do cérebro) está indefinido no futuro e pode até mesmo ser paradoxal; um cérebro compreender completamente o que é um cérebro". Como apropriadamente, diz Sagan: "o córtex onde a matéria é transformada em consciência é o ponto de embarque de todas as nossas viagens, é o reino da intuição e da análise crítica. É aqui que temos ideias e inspirações, aqui que lemos e escrevemos, aqui que fazemos matemática e compomos música. É a distinção da nossa espécie, a sede da nossa humanidade. A civilização é um produto do córtex cerebral". Não se pode negar a imensa carga de dados concretos existentes que nos permite identificar certas funções cerebrais, que se distribuem em grandes sistemas neurofisiológicos sem estarem contudo circunscritas a centros fixos, também é verdade que certos aspectos do comportamento não podem ser equacionados apenas em termos neurológicos e que estas limitações levaram à necessidade da formulação de construtores psicológicos. Sanvito muito oportunamente cita um comentário de Krech: "A minha posição é que se um fenómeno fisiológico contradiz um fenómeno psicológico observado, dê-se preferência para o fenómeno psicológico, porque nós podemos estar mais certos daquilo que observamos comportamentalmente do que daquilo que observamos fisiologicamente ... O problema do psicofisiologista é não reduzir a psicologia para que a fisiologia possa explicá-la, mas sim expandir a fisiologia para que ela possa abranger a psicologia".

domingo, 10 de abril de 2011

ESTE É O FUTURO COM QUE SE SONHOU NO PASSADO?



FREDERIC RZEWSKI, compôs 35 Variações sobre EL PUEBLO UNIDO JAMAS SERÁ VENCIDO, canção de Sergio Ortega, cantada numa manifestação pouco antes do derrube violento do Governo da Unidade Popular, no Chile. Durante anos foi um hino da oposição por todo o mundo e mantém-se como uma bem amada canção da liberdade! Que relevância tem hoje esta canção de um passado já distante, onde entretanto tudo mudou?
Se a música é boa, sobreviverá...disse Rzewski e muitos pianistas tocam esta obra!

sexta-feira, 8 de abril de 2011

IDADE MADURA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

As lições da infância

desaprendidas na idade madura.

Já não quero palavras, nem delas careço.

Tenho todos os elementos

Ao alcance do braço.

Todas as frutas

e consentimentos.

Nenhum desejo débil.

Nem mesmo sinto falta do que me completa e é quase sempre melancólico.

Estou solto no mundo largo.

Lúcido cavalo

com substância de anjo

circula através de mim.

Sou varado pela noite, atravesso os lagos frios,

Absorvo epopeia e carne,

bebo tudo,

desfaço tudo,

torno a criar,

a esquecer-me:

Durmo agora, recomeço ontem.

.

De longe, vieram chamar-me.

Havia fogo na mata.

Nada pude fazer, nem tinha vontade.

Toda a água que possuía irrigava jardins particulares

De atletas retirados, freiras surdas, funcionários demitidos.

.

Nisso, vieram os pássaros,

rubros sufocados,

sem canto,

e pousaram a esmo.

Todos se transformaram em pedra.

Já não sinto piedade.

.

Antes de mim outros poetas,

depois de mim outros e outros

estão cantando a morte e a prisão.

Moças fatigadas se entregam,

soldados se matam

No centro da cidade vencida.

Resisto e penso

numa terra enfim despojada de plantas inúteis,

num país extraordinariamente,

nu e terno,

qualquer coisa de melodioso,

não obstante mudo,

além dos desertos onde passam tropas,

dos morros

onde alguém colocou bandeiras com enigmas,

e resolvo embriagar-me.

.

Já não dirão que estou resignado

e perdi os melhores dias.

Dentro de mim, bem no fundo,

Há reservas colossais de tempo,

Futuro, pós-futuro, pretérito,

Há domingos, regatas, procissões,

Há mitos proletários, condutos subterrâneos,

Janelas em febre, massas da água salgada, meditação e sarcasmo.

.

Ninguém me fará calar, gritarei sempre

que se abafe um prazer,

apontarei os desanimados,

negociarei em voz baixa com os conspiradores,

transmitirei recados que não se ousa dar nem receber,

serei, no circo, o palhaço,

serei,

médico,

faca de pão,

remédio, toalha,

serei bonde, barco, loja de calçados, igreja, enxovia,

serei as coisas mais ordinárias e humanas,

e também as excepcionais:

tudo depende da hora

e de certa inclinação feérica,

viva em mim qual um insecto.

.

Idade madura em olhos, receitas e pés,

ela me invade

com sua maré de ciências afinal superadas.

Posso desprezar ou querer os institutos, as lendas,

descobri na pele certos sinais que aos vinte anos não via.

.

Eles dizem o caminho,

embora também se acovardem

em face a tanta claridade roubada ao tempo.

Mas eu sigo, cada vez menos solitário,

em ruas extremamente dispersas,

transito no canto homem ou da máquina que roda,

aborreço-me de tanta riqueza,

jogo-a toda por um número de casa,

e ganho.



ASAS SOBRE O MUNDO

terça-feira, 5 de abril de 2011

SER OU NÃO SER...

Viajante sobre um mar de névoa (CASPAR DAVID FRIEDRICH) . William Shakespeare - To be, or not to be (from Hamlet 3/1) . “To be or not to be, that is the question; Whether ’tis nobler in the mind to suffer The slings and arrows of outrageous fortune, Or to take arms against a sea of troubles, And by opposing, end them. To die, to sleep; No more; and by a sleep to say we end The heart-ache and the thousand natural shocks That flesh is heir to — ’tis a consummation Devoutly to be wish’d. To die, to sleep; To sleep, perchance to dream. Ay, there’s the rub, For in that sleep of death what dreams may come, When we have shuffled off this mortal coil, Must give us pause. There’s the respect That makes calamity of so long life, For who would bear the whips and scorns of time, Th’oppressor’s wrong, the proud man’s contumely, The pangs of despised love, the law’s delay, The insolence of office, and the spurns That patient merit of th’unworthy takes, When he himself might his quietus make With a bare bodkin? who would fardels bear, To grunt and sweat under a weary life, But that the dread of something after death, The undiscovered country from whose bourn No traveller returns, puzzles the will, And makes us rather bear those ills we have Than fly to others that we know not of? Thus conscience does make cowards of us all, And thus the native hue of resolutionIs sicklied o’er with the pale cast of thought, And enterprises of great pitch and moment With this regard their currents turn awry, And lose the name of action.” Mulher diante da aurora - CASPAR DAVID FRIEDRICH . “Ser ou não ser, eis a questão: será mais nobre Em nosso espírito sofrer pedras e setas Com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja, Ou insurgir-nos contra um mar de provocações E em luta pôr-lhes fim? Morrer.. dormir: não mais. Dizer que rematamos com um sono a angústia E as mil pelejas naturais-herança do homem: Morrer para dormir… é uma consumação Que bem merece e desejamos com fervor. Dormir… Talvez sonhar: eis onde surge o obstáculo: Pois quando livres do tumulto da existência, No repouso da morte o sonho que tenhamos Devem fazer-nos hesitar: eis a suspeita Que impõe tão longa vida aos nossos infortúnios. Quem sofreria os relhos e a irrisão do mundo, O agravo do opressor, a afronta do orgulhoso, Toda a lancinação do mal-prezado amor, A insolência oficial, as dilações da lei, Os doestos que dos nulos têm de suportar O mérito paciente, quem o sofreria, Quando alcançasse a mais perfeita quitação Com a ponta de um punhal? Quem levaria fardos, Gemendo e suando sob a vida fatigante, Se o receio de alguma coisa após a morte, –Essa região desconhecida cujas raias Jamais viajante algum atravessou de volta –Não nos pusesse a voar para outros, não sabidos? O pensamento assim nos acovarda, e assim É que se cobre a tez normal da decisão Com o tom pálido e enfermo da melancolia; E desde que nos prendam tais cogitações, Empresas de alto escopo e que bem alto planam Desviam-se de rumo e cessam até mesmo De se chamar ação.(…)” . Tradução de SILVA RAMOS, Péricles Eugênio da”. Hamlet Editora Abril, 1976. ISBN.