O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

quinta-feira, 14 de abril de 2011

O CÉREBRO À PROCURA DA ALMA?

A noética (do grego nous: mente) é uma disciplina que estuda os fenômenos subjetivos da consciência, da mente, do espírito e da vida a partir do ponto de vista da ciência. Como conceito filosófico, em linhas gerais define a dimensão espiritual do homem. ----------------------------------------------- Questionamentos sobre um mistério que nos ultrapassa, «De onde vimos, o que somos e para onde vamos», estarão sempre presentes na nossa mente! A filosofia sempre se debruçou sobre isso…muito antes, o homem a partir da evolução do seu cérebro e da percepção do sistema em que vivia, criou os seus deuses e gradualmente esse aspecto tomou amplitude e foram surgindo um conjunto de crenças sobre as causas, natureza e finalidade da vida e do universo. Nesta perspectiva, considero que a ênfase está nos estudos científicos sobre o cérebro e que estão ainda muito longe de um conhecimento satisfatório, o cientista António Damásio, considera que o cérebro ainda é um mistério. ----------------------------------------------------- SOBRE ANTÓNIO DAMÁSIO: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Dam%C3%A1sio
ANTÔNIO DAMASIO: O CÉREBRO À PROCURA DA ALMA




Para o neurocientista português, radicado nos E.U.A., a razão pura não existe: nós pensamos com o nosso corpo e nossas emoções. “Os fenómenos mentais integram verdadeiramente ao corpo tais como eu os visualizo, são capazes de dar lugar às mais altas operações, como aquelas que revelam a alma e o nível espiritual. Sob meu ponto de vista, não obstante, todo o respeito que suscita a noção da alma, podemos dizer por último que esta reflecte somente um estado particular e complexo do organismo”. António Damásio, director do departamento de neurologia da Universidade de Iowa (Estados Unidos), tenta durante anos descobrir os mistérios da consciência e das faculdades mentais superiores, a fim de, talvez, melhor discernir sobre as noções ambíguas do espírito ou da alma.

http://www.psiquiatriageral.com.br/cerebro/texto1.htm ------------------------------------------ É extremamente difícil, no estágio do conhecimento científico em que estamos, falarmos acerca dos processos neuropsicológicos, sem que tenhamos inúmeras discussões. Nossas "verdades" são efémeras. Mal conseguimos "passar a limpo" os rascunhos de nossos estudos e leituras e temos que começar tudo novamente tal o número de informações e reflexões a respeito do tema, pois a Ciência recoloca permanentemente em discussão os conceitos, mesmo os mais solidamente estabelecidos. O homem sempre possuiu um forte, ambicioso e íntimo desejo de conhecer a sua origem e a do mundo em que habita. E, depois de tantos estudos, de tanta especulação, de tantas controvérsias, esta questão é ainda hoje um problema sem solução científica, apesar de constituir a procura e a essência do conhecimento do homem e de ser a questão central do pensamento filosófico. O sistema nervoso central é a porção do corpo humano mais protegida, a que possui maior complexidade anatómica e funcional, a que é dotada de maior plasticidade reaccional, a que tem maiores potencialidades, aquela em que se verifica maior capacidade evolutiva. Todos estes fatos estão relacionados com a sua intensa actividade funcional e com a sua extrema delicadeza. Com efeito, na essência de qualquer fenómeno da vida do homem, encontramos sempre o sistema nervoso, pois este conduz e regula todas as funções e toda a evolução do género humano e do indivíduo. O homem é, por excelência, um ser social que aprende de uma maneira mais complexa, por essa razão, é mais eficiente que os outros seres vivos na medida que possui um tipo único e especial de sistema de comunicação: a linguagem. O que uma pessoa se torna eventualmente, em termos de comportamentos e crenças, depende da cultura na qual está inserida. Não só o homem faz cultura, mas ele também é feito pela cultura. Fascinante é o estudo do sistema nervoso do homem, de sua organização morfopsicofuncional que rege as necessidades do indivíduo e suas relações com o ambiente físico e social peculiares a nossa espécie, que é por nós chamada de personalidade. Nosso modo de ser é único; é a distinção de nossa espécie. Nosso cérebro faz muito mais que recolher, ele compara, analisa, sintetiza, e como nenhum computador usa as emoções e as intuições, gerando abstracções novas e inusitadas, projecta-nos no futuro, liberta-nos do presente. Temos uma qualidade única: a de ver a nos mesmos e um desejo inextinguível de querer saber que somos o instrumento de nossa sobrevivência. Para conhecermos melhor o nosso cérebro, temos de ver os aspectos evolutivos de nossa espécie, porque como todos os nossos órgãos, o cérebro evoluiu aumentando a complexidade e o conteúdo das informações por milhões de anos. Sua estrutura reflecte todos os estágios pelos quais passou o encéfalo. Evoluiu de dentro para fora. Sabe-se que as áreas relacionadas com o comportamento emocional ocupam territórios grandes, de vários centros sub-corticais e do córtex cerebral. No fundo da parte interior está a parte mais antiga o tronco encefálico onde estão localizados vários núcleos de nervos cranianos viscerais ou somáticos como o centro respiratório e o vaso motor, isto é, coordena as funções biológicas básicas, inclusive os ritmos de vida, exercendo sobre o córtex, através da formação reticular, papel activador, pré-requisito para várias formas de comportamento e manifestações emocionais, pois contém estruturas destinadas a manter a vigília ou o sono. A porção alta do tronco encefálico (substância reticular, mesencéfalo) e gânglios da base, tem centros com participação importante na procriação, na predação, no instinto de território e no modo de vida gregário (evolui há centenas de milhões de anos). Intimamente relacionado e circulando parte destas estruturas está o sistema límbico, que tem papel importante no comportamento emocional do indivíduo, apresenta certo grau de plasticidade no sentido de aprendizado e soluções de problemas com base na experiência imediata. É a principal fonte de nossos humores e emoções, de nossos interesses e cuidados (evolui há dezenas de milhões de anos). Também intimamente inter-relacionado a estas estruturas, no lado externo, está o córtex cerebral compreendendo mais de dois terços da massa encefálica, constituindo um mosaico de células diferenciadas em áreas funcionais diferentes (evoluiu há milhões de anos). O estudo do cérebro ocorre dentro de um princípio holístico (A. R. Luria), o qual baseia-se na ideia de que processos psicológicos em larga escala operam em sistemas funcionais intimamente integrados e desempenham cada qual um papel na actividade psíquica. Sendo eles responsáveis pela manutenção do tono do córtex, estado indispensável para o correcto recebimento, processamento, elaboração e conservação da informação, assim como pelos processos de formação e organização de comportamentos e também pelo controle de suas execuções a partir do próprio corpo do indivíduo. Recordamos ainda que toda a movimentada actividade cerebral depende de uma fina e requintada comunicação neuroeletroquímica (hoje são conhecidas algumas dezenas de substâncias que exercem actividades neurotransmissoras) realizada por uma microscópica "rede" de células cerebrais, cujo corpo mede em geral apenas alguns milésimos de milímetros - os neurónios. Possuímos cerca de cem bilhões destas pequenas células especializadas e cada uma delas estabelece em média contacto com 1.000 a 10.000 outros neurónios (algumas chegam a fazer 50.000 junções). Nossos pensamentos, sensações, percepções, fantasias, possuem uma realidade física. Um pensamento é formado por milhares de impulsos electroquímicos. A neurotransmissão é mais um dos intrincados segredos do sistema nervoso que está sendo exaustivamente estudado e lentamente esclarecido, segundo John Eccles "... o entendimento final e completo (do cérebro) está indefinido no futuro e pode até mesmo ser paradoxal; um cérebro compreender completamente o que é um cérebro". Como apropriadamente, diz Sagan: "o córtex onde a matéria é transformada em consciência é o ponto de embarque de todas as nossas viagens, é o reino da intuição e da análise crítica. É aqui que temos ideias e inspirações, aqui que lemos e escrevemos, aqui que fazemos matemática e compomos música. É a distinção da nossa espécie, a sede da nossa humanidade. A civilização é um produto do córtex cerebral". Não se pode negar a imensa carga de dados concretos existentes que nos permite identificar certas funções cerebrais, que se distribuem em grandes sistemas neurofisiológicos sem estarem contudo circunscritas a centros fixos, também é verdade que certos aspectos do comportamento não podem ser equacionados apenas em termos neurológicos e que estas limitações levaram à necessidade da formulação de construtores psicológicos. Sanvito muito oportunamente cita um comentário de Krech: "A minha posição é que se um fenómeno fisiológico contradiz um fenómeno psicológico observado, dê-se preferência para o fenómeno psicológico, porque nós podemos estar mais certos daquilo que observamos comportamentalmente do que daquilo que observamos fisiologicamente ... O problema do psicofisiologista é não reduzir a psicologia para que a fisiologia possa explicá-la, mas sim expandir a fisiologia para que ela possa abranger a psicologia".

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