O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

ANTÓNIO TÀPIES (1923-2012) - «A sua obra traduz a consciência dividida que é a do nosso tempo»


«Entre o desejo e a ausência é a matéria mesma que emerge com a sua subtil caligrafia» - António Ramos Rosa






segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

PORTUGAL BRILHOU NO FESTIVAL DE BERLIM

TABU, de Miguel Gomes, o mais arriscado, provocador e admirado filme da competição de longas-metragens, ganhou os prestigiados Prémio Alfred Bauer e da Crítica.

RAFA, a curta-metragem de João Salaviza, ganhou a competição na sua categoria e trouxe para Portugal o primeiro Urso de Ouro da história do cinema nacional.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

RUBEM FONSECA EM PORTUGAL


No dia em que conquistou o prémio literário Casino da Póvoa/ Correntes d"Escrita pela sua obra "Bufo e Spallanzani"e a medalha de mérito cultural, que recebeu das mãos de um dos seus mais fervorosos admiradores e um dos responsáveis pela divulgação da sua obra em Portugal, o secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, o escritor brasileiro conquistou também o público deste Correntes d"Escritas que decorre pelo décimo terceiro ano na Póvoa de Varzim.
A entrega da medalha aconteceu no auditório municipal da Póvoa, onde uma sala a rebentar pelas costuras aguardava para ouvir Rubem Fonseca.
Foi com um grande sorriso emocionado que o escritor declarou: "Estou muito, muito feliz de estar aqui em Portugal. Eu que sou filho e neto de portugueses, nasci no Brasil mas o meu sangue é português. Agradeço, por isso, ter recebido esta medalha mais do que merecida. "A frase provocatória arrancou gargalhadas e aplausos de uma plateia já rendida.
Rubem Fonseca, 86 anos, escritor brasileiro também conhecido pela sua aversão a dar entrevistas, aparecer nos media ou participar em eventos literários mostrou ontem que afinal sabe, como poucos, estar sob as luzes da ribalta sendo, ao mesmo tempo humilde, irreverente e arrebatador. O tema sobre o qual lhe pediram para falar era "A escrita é um risco total", a frase pertence a Eduardo Lourenço que, tal como Hélia Correia, Ana Paula Tavares e Almeida Faria dividia com Fonseca a primeira mesa-redonda deste festival literário. E o escritor brasileiro assumiu todos os riscos: levantou-se da mesa e, de microfone na mão, foi andando pelo palco para explicar porque é que a escrita "é uma forma socialmente aceite de loucura" e porque é que todos escritores "incluindo Eduardo Lourenço" não passam de "loucos alfabetizados".
A erudição e as piadas contagiantes do autor de "A Grande Arte" ou "O seminarista" contrastam com a violência e a dureza das suas obras e com "a timidez" da qual o escritor disse sofrer. Contrastaram ainda mais com a voz suave e a delicadeza com que no fim da sessão declamou um poema de Luís de Camões: "busque amor novas artes, novo engenho..."
DN-ARTES

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

DESTINO - MIA COUTO


à ternura pouca

me vou acostumando

enquanto em adio

servente de danos e enganos

 

vou perdendo morada

na súbita lentidão

de um destino

que me vai sendo escasso

 

conheço a minha morte

seu lugar esquivo

seu acontecer disperso

 

agora

que mais

me poderei vencer?

 

 Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

domingo, 12 de fevereiro de 2012

BEATRIZ MILHAZES (1960, Rio de Janeiro)

Inspira-se no ambiente tropical, na história e na cultura do Brasil para criar os motivos básicos das suas pinturas plenas de cor. Flores, arabescos, ornamentos abstractos, formas geométricas e padrões rítmicos cruzam-se nas suas composições, expandindo um espaço plano cuja profundidade surge da colorida dinâmica dos elementos decorativos.

Esta exposição na Gulbenkian está integrada, no ano em que Portugal e Brasil tomam iniciativas para dar a conhecer as suas culturas

Beatriz Milhazes apresenta quatro novas pinturas monumentais representando as quatro estações do ano, acompanhadas por sete impressionantes colagens, uma escultura móvel e uma obra inédita, em vinil, criada especialmente para esta mostra.


quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

FERNANDO LANHAS (Porto 1923 - Porto 2012)


Pintor e arquitecto, foi pioneiro da arte abstracta. Estudou na Escola de Belas Artes no Porto e foi colega de Júlio Resende, Júlio Pomar e Nadir Afonso.

«A morte é uma coisa que não me assusta, mas incomoda-me. Põe-me a pensar e a ideia anda aqui sempre à volta da cabeça».

Apesar de nos seus últimos anos, ter grandes dificuldades para ver, nunca deixou de desenhar, escrever e sobretudo de inquietar-se com «a origem das coisas».

Lanhas além de arquitecto e pintor, desenvolveu trabalhos nas áreas de ciência, arqueologia e astronomia.

A sua última exposição foi no Museu de Arte Contemporânea de Serralves, em 2001, uma exposição antológica. João Fernandes director do museu disse sobre Lanhas: «foi um artista singular, um dos casos mais universais que Portugal, infelizmente ainda não conseguiu divulgar internacionalmente».



domingo, 5 de fevereiro de 2012

A Adopção de Novas Ideias

Que um ou vários homens inventem uma nova ideia ou um novo sentimento não faz alterar o cariz da história, o tom dos tempos, como a cor do Atlântico não muda porque um pintor de marinhas limpa nele o seu pincel carregado de vermelhão. Mas se, de súbito, uma massa ingente de homens adopta aquela ideia e vibra com aquele sentimento, então a ária da história, a face dos tempos tinge-se de um novo colorido. Pois bem: as massas ingentes de homens não adoptam uma ideia nova, não vibram com o seu peculiar sentimento simplesmente porque se lhes faça prédicas. É preciso que essa ideia e esse sentimento se achem neles pré-formados, inatos, prontos. Sem essa predisposição radical, espontânea da massa, todo o pregador seria um pregador no deserto.
Daqui que as mudanças históricas supõem o nascimento de um tipo de homem diferente em mais ou menos do que antes havia; isto é, supõem a mudança de gerações.

Ortega y Gasset, in 'O Que é a Filosofia?'

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

FREYA STARK – A ÚLTIMA ROMÂNTICA


Quando morreu em 1993, acabava de fazer 100 anos. Freya foi uma das mulheres mais singulares e extraordinárias do século passado. Os jornais de todo o mundo elogiaram a sua pessoa. «A Rainha Nómada», «uma viajante lendária», «uma senhora audaz», foram alguns dos títulos dedicados à sua memória, mas foi o jornal londrino «The Times» quem melhor a descreveu. «Freya, a última viajante romântica».
Dame Freya Stark percorreu sozinha o Médio Oriente, da Pérsia até ao Iémen, explorou e descobriu cidades perdidas, atreveu-se a visitar os rebeldes drusos no Líbano, trabalhou como espia e chegou a organizar uma rede de espionagem anti-nazi. Foi, sobretudo, uma magnífica escritora, publicou 30 livros sobre as suas aventuras e quatro volumes auto- biográficos que transportaram o leitor a um mundo de dunas, caravanas, valentes cavaleiros e haréns, um mundo hoje, quase em extinção.
Lawrence Durrell definiu-a como «uma poeta das viagens», embora tivesse sido também: exploradora, filósofa, desportista e artista. Falava nove idiomas, conseguiu que a machista Real Sociedade Geográfica de Londres lhe concedesse uma distinção pelos seus estudos cartográficos e, entre muitas outras honrarias que recebeu, foi-lhe concedido o título de dama pela rainha de Inglaterra. Quando já era muito popular numa carta à mãe em 1930, escreveu: «Um dia destes tenho que fazer uma lista, dos que me consideraram louca».
A sua vida é o guião de um filme onde não faltam paisagens exóticas, viagens audaciosas, extravagâncias, amores impossíveis, penúria económica, uma infância infeliz e uma longa lista de doenças que sempre a acompanharam. Freya era no entanto uma mulher valente, onde se escondia uma menina solitária e adoentada, nascida em Paris, em 1893, que cresceu na Itália e começou a viajar para escapar a uma vida desinteressante e uma mãe possessiva.
Nos seus relatos autobiográficos recorda como muito cedo começou a viajar. O pai levava-a dentro de uma cesta nas suas excursões pelas Dolomitas, na Itália. Os pais foram sofisticados artistas, cultos e boémios, que levaram uma vida bastante nómada até se separarem. Freya instalou-se então com a mãe no norte de Itália. Ali cresceu e passou a sua juventude, mas sempre se sentiu inglesa e admiradora do Império Britânico.
A sua primeira viagem ao Médio Oriente, ocorreu em 1927, tinha 34 anos e chegou a Beirute, após uma penosa viagem num cargueiro, para estudar e aperfeiçoar o árabe, numa aldeia montanhosa. Ao contrário de Gertrude Bell, que explorou durante anos estas mesmas religiões, viajava com um equipamento ligeiro, sem cartas de recomendação, sem amigos e sem dinheiro. Sentiu um forte chamamento do Oriente e sonhava com os intermináveis desertos da Arábia salpicados de ruínas e antigas fortalezas. Os apaixonantes relatos dos exploradores e orientalistas do século XIX, que se haviam aventurado por essas terras disfarçados de ascetas ou peregrinos, tinham incendiado o seu espírito aventureiro.
Depois de ter estado durante uns tempos na aldeia de Brummana, planeou a sua viagem. Atraída pela história e os costumes dos drusos, povo sírio que sentia grande hostilidade em relação aos estrangeiros, propôs-se visitá-los e percorrer as suas aldeias.
Em 1928 dirigiu-se a Damasco, para organizar a sua viagem até ao território de Yebel ed- Druz, ou Montanha dos Drusos para falar com o líder espiritual desta comunidade libanesa. A ideia era então despropositada porque esta região se encontrava sob a lei marcial francesa. Na companhia de uma amiga viajaram 100 kilómetros montadas em burros, com destino às montanhas, mas foram detidas por tropas francesas, que não acreditaram naquelas excêntricas mulheres. O facto esteve quase para criar um incidente internacional, mas serviu para a popularizar.
No ano seguinte chegou a Bagdade, capital do Iraque, com a ideia de estudar uma seita religiosa que durante anos tinha aterrorizado o Oriente. Alugou um pequeno quarto num popular bairro de prostitutas, provocando um escândalo entre as damas britânicas. Alheia a críticas, dedicou-se a estudar a fundo o Corão, a preparar novas viagens e a escrever, para livros que mais tarde foram publicados e que inspiraram toda uma nova geração de viajantes. Foi uma experiente exploradora, preenchendo os espaços vazios nos mapas do governo britânico e corrigindo numerosos erros cartográficos.
Freya viajou até uma idade bem avançada. Durante uma década dedicou-se a explorar a Turquia, que se converteu num dos seus países preferidos. Com mais de 70 anos visitou a China pela primeira vez, conduziu um jipe através do Afeganistão e participou num trekking no Nepal. Com quase 90 anos atravessou montada numa mula algumas zonas do Himalaia, a mais de 5 000 de altitude. Foi a última grande viajante e uma mulher revolucionária para o seu tempo.
FONTE: Moratò, Cristina, «Viajeras Intrepidas y Aventureras» (ed. Plaza y Janés)

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

ANTÓNIO PINHO VARGAS



A Universidade de Coimbra premiou este ano AP Vargas. Os critérios contemplaram não só a música que já produziu, mas também a reflexão que tem feito sobre a mesma, tendo inclusive feito um doutoramento: «Música e Poder: para uma sociologia da ausência da música portuguesa no contexto europeu».

O prémio vai na sua nona edição e já contemplou áreas diversas: Neurociurgia, História, Matemática e Artes Plásticas. Vargas sucede à investigadora Maria de Sousa.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

MAY SHELDON – RAINHA DO KILIMANJARO

Num retrato de 1891, May Sheldon, tem um ar de imperatriz. Veste um magnifico vestido comprido de seda branca, exageradamente espartilhado, coberto de pedrarias, e um cinto também de pedras preciosas junto ao qual leva uma espada ornamentada. O mais interessante na sua indumentária é a sua longa cabeleira loira.
Este era o uniforme de gala que a exploradora May Sheldon utilizava na sua expedição ao Quénia para impressionar os chefes masais. Aos guerreiros africanos anunciava a sua visita com foguetes e música. Os carregadores chamavam-lhe Bebé Bwana, mulher chefe, embora ela preferisse o título mais pomposo de Rainha Branca do Kilimanjaro. Excentricidades à parte, foi uma mulher que viveu à frente do seu tempo, feminina e magnífica comunicadora.
No século XIX, época de grandes explorações africanas, demonstrou que uma mulher também podia organizar uma expedição ao nível de Livingstone ou Stanley. A sua foi das mais originais e menos sangrentas do seu tempo.
O célebre explorador Stanley nunca imaginou que aquela jovem, filha do seu amigo, o coronel French, um dia seguiria os seus passos. A norte-americana, que nasceu em 1858 no seio de uma família sulista abastada e liberal, dedicou a sua juventude ao estudo dos idiomas e das ciências, atraída pelo mundo das explorações. Os seus pais eram cultos e cosmopolitas, além de serem grandes viajantes e com 16 anos acompanhou-os numa viagem à volta do mundo, como era moda entre a aristocracia.
May além de caçar e montar a cavalo, devorava livros de viagens e mapas de remotos países. Com 33 anos casou, mas sentia que tinha de fazer algo na vida de transcendente, que nenhuma mulher tivesse feito. Decidiu viajar sozinha até África, ao país dos masais e organizar a sua própria expedição. Preparou a sua viagem como uma operação militar e como mulher rica queria viajar com o maior conforto.
No seu livro, «De sultão a sultão, aventuras entre os masais e outras tribos da África Oriental, publicado em 1892, enumera a lista interminável da sua bagagem, tendas, espingardas, farmácia ambulante, mas também uma banheira de zinco, um serviço de porcelana, talheres de prata e todo um arsenal de roupa pessoal. Para moeda de troca com os nativos, leva guarda-chuvas, caixas de música, relógios e panos. Para não ser esquecida leva anéis de cobre com o seu nome gravado para oferecer aos africanos. O mais espectacular é um enorme palanquim de vimes entrançado com cortinas e almofadas, para seu transporte.
Em 1891, May Sheldon, despede-se do marido e parte de Nápoles, para Port Said, no Canal do Suez. Continua a viagem até Aden (Iémen) e meses mais tarde chega ao porto de Mombasa, na costa oriental africana. Começam os problemas para May, porque não há carregadores que queiram acompanhar uma mulher ao interior do continente. May não desiste e pede ajuda ao sultão de Zanzibar. Ao fim de várias cartas de recomendação consegue reunir 100 homens, apesar dos mesmos terem medo dos masais e não acreditarem que uma mulher os possa defender. Bebé Bwana, vai ganhando a confiança dos mesmos, preocupando-se e tratando-os das suas doenças e usando mesmo pistolas quando algum perigo os ameaça.
A viagem tornou-se muito penosa, nas páginas do seu livro cita os perigos encontrados: cobras, formigas venenosas, pragas de mosquitos, carraças e pulgas. May Sheldon todos os dias tem que passar revista aos homens e tratar das suas feridas. Ao fim do dia retira-se para a sua tenda, toma um banho de banheira, janta à luz das velas, come na sua louça de porcelana e anota no diário todos os incidentes. Após seis meses de uma esgotante caminhada, a exploradora encontrará os lendários masais ao norte de Kilimanjaro. Sobre eles escreve no seu diário: Estes esplêndidos selvagens lutam em silêncio e têm uma táctica, uma energia, uma audácia e uma intrepidez superior. São originais com os seus adornos, seu corpo tem harmonia e beleza». A arrogância daqueles homens cativaram-na da mesma forma como aconteceu a outras escritoras, entre elas Karen Blixen.
A tribo mais temida pela ferocidade dos seus guerreiros sofreu grandes mudanças depois de May Sheldon, foram convertidos à força em pastores nómadas e atracções turísticas. Não há dúvida que a sua imagem atravessando solitários a imensa savana africana é de uma beleza deslumbrante.
A expedição de May Sheldon durou pouco mais de um ano. Quando regressou a Inglaterra publicou o seu livro, já citado, que alcançou um enorme êxito. May tornou-se uma personagem popular da sociedade britânica e americana. Ela transmitia a sua viagem ao grande público com emoção e romantismo, uma experiência pela qual valia a pena morrer.

FONTE: Moratò, Cristina, «Viajeras Intrepidas y Aventureras» (ed. Plaza y Janés)