Disfarçamos os gestos nessa bruma
Que o corpo sabe rente ao coração
- como o perfeito mar morre na espuma
e vem ouvir-se em nós a escuridão.
Perfeito o magoado som de pluma
Que modula em seu arco a solidão
Só nos sossega a hora mais escura
E os passos que em perdido rumo vão.
Sorriem já as máscaras ao lume,
Solto o mundo em redor do coração
- e correm nos seus braços de negrume
os tons dissimulados da canção.
Que mais do que da terra em que se nasce,
Desta escura canção a alba faz-se.
Livro: Viagem de Inverno - Luís Filipe de Castro Mendes
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