O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

JOLY BRAGA SANTOS (1924-1988)

José Manuel Joly Braga Santos, nasceu em Lisboa, a 14 de Maio de 1924. Desde criança revelou vocação para a música, gostava de ir à ópera e que lhe dessem instrumentos musicais para brincar, mostrando um especial interesse pelo violino. Aos seis anos, iniciou o estudo de violino e aos 10 anos de composição, com Luís de Freitas Branco, com quem estudou todas as matérias teóricas e em cuja doutrina estética se integrou, foi um convívio constante que só terminou com a morte do seu mestre em 1955.

Joly Braga Santos também passou pelo Conservatório de Lisboa, mas saiu incompatibilizado com o director da instituição, era um adolescente irreverente e bastante «aluado». O abandono do ensino oficial, criou uma grande relação com Freitas Branco, que foi de facto o seu «pai artístico» tendo a sua influência sido marcante nas suas primeiras composições, embora as mesmas também revelem influência da escola anglo-saxónica, de Vaughan Williams a Wiliam Walton, assim como de Sibelius. Pedro de Freitas Branco também contribuiu bastante para a carreira de Joly Braga Santos, porque deu a conhecer a sua obra em todo o mundo.

O músico compôs algumas peças de câmara e também canções sobre poemas de Fernando Pessoa, Camões e Antero de Quental, mas depois virou-se para a linguagem sinfónica e escreveu, mantendo-se fiel ao universo de pendor neo-clássico, quatro sinfonias no espaço de cinco anos, de 1945 a 1950, três delas foram logo apresentadas com a direcção de Pedro de Freitas Branco, pela Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional. Obras desta época também são: Elegia a Viana da Motta, Variações Sinfónicas sobre um tema alentejano, Divertimento para orquestra, Concerto para cordas e as óperas Mérope, com texto de Garrett e Viver ou Morrer com texto de João de Freitas Branco. A 4ª. Sinfonia não é uma obra folclórica, mas muitas das suas páginas estão impregnadas de um sabor popular, a construção cíclica obedece aos 4 andamentos e termina com o «Hino à Juventude», que na versão inicial, se destinava só à orquestra, a Sinfonia nº.3 tem as mesmas características, as duas foram escritas no Monte dos Perdigões, perto de Reguengos de Monsaraz e perpassa pelas mesmas, o ambiente alentejano.

Em 1948, passada a Segunda Guerra, foram-lhe concedidas, três bolsas de estudo, pelo Instituto de Alta Cultura. A guerra tinha-o impedido do contacto com a cultura musical europeia. Esta também foi uma das razões, porque procurou inspiração na tradição portuguesa e especialmente na obra de Freitas Branco, características que marcam o seu primeiro período criativo, onde está bem presente o antigo folclore português e o polifonismo renascentista.

A primeira foi para estudar direcção de orquestra com Hermann Scherchen, a segunda em 1957 durou dois anos e destinava-se a frequentar o atelier experimental de Gravesano e a terceira em 1959, teve por destino Roma, onde esteve um ano a estudar com Virgílio Martari e Gioachino Pasqualini.

Joly Braga Santos travou contacto com a vanguarda atonal e sem aderir ao serialismo dodecafónico, principiou a dar uma viragem na sua escrita, que está patente na 5ª. Sinfonia (1965), (escrita 15 anos depois da 4ª), nos Três Esboços Sinfónicos, no Concerto para violino, violoncelo, harpa e cordas, na Sinfonieta, no Réquiem à Memória de Pedro de Freitas Branco, no Duplo Concerto para violino e violoncelo, nas Variações Concertantes e na ópera Trilogia das Barcas, baseada em Gil Vicente e que foi levada à cena no Auditório da Gulbenkian e no Teatro São Carlos, com assinalável êxito. Dissonâncias e cromatismo, invadem a linguagem do compositor. A 6ª. Sinfonia a mais híbrida, escrita na fase atonal reflecte uma nostalgia pelo universo tonal do início, segundo o maestro Álvaro Cassuto, que dirigiu essa sinfonia em 1972, Joly Braga Santos tentou construir uma ponte, entre o que a época o obrigava a escrever e o que realmente lhe apetecia escrever, talvez esse dilema o tivesse impedido de escrever a sétima!

A sua música pode ser vista como uma fusão dos vários estilos europeus, particularmente da Europa Ocidental, ele próprio dizia: Desde sempre entendi que tinha de criar o meu próprio estilo e a minha música devia ser o resultado dessa criação. A melodia era para ele a razão de ser da música.

Foi eleito pela UNESCO em 1969,como um dos 10 melhores compositores da música contemporânea, pela sua Sinfonia nº.5. Joly Braga Santos disse de si próprio, parafraseando Stravinsky: Não me considero compositor, mas sim inventor de música. Os Esboços Sinfónicos foram distinguidos pela fundação holandesa Donemus, que se dedica a arquivar e a divulgar música de todas as nações.

Joly Braga Santos além de ser um compositor profícuo, também teve uma grande actividade social ligada à música: foi um dos fundadores da Juventude Musical Portuguesa (o hino deriva do último andamento da 4ª. Sinfonia); leccionou no Conservatório de Lisboa; foi membro do antigo Gabinete de Estudos Musicais da Emissora Nacional; chefiou como adjunto a Orquestra do Conservatório do Porto de 1955 a 1959 e a Orquestra Nacional em 1960 e foi conferencista, articulista e crítico musical, em vários jornais e revistas.

O músico morreu subitamente aos 64 anos, em 18 de Julho de 1988, em plena actividade e na plena posse das suas faculdades. Seis décadas de vida e mais de seis dezenas de obras, que vão da canção à ópera, passando pela sinfonia, campo este onde foi o maior criador nacional de todos os tempos da nossa história da música. O estudo biográfico, o estudo estético-musicológico da sua obra, a catalogação das usas composições e a divulgação das mesmas, torna-se urgente ser feito, um mal de que padecem todos os compositores portugueses.


OBRAS ESSENCIAIS:
OBRAS TEATRAIS:
-Viver ou Morrer, ópera em 1 acto; Mérope, ópera em três actos; Trilogia das Barcas, ópera em três actos e a Cantata Cénica D. Garcia.
MÚSICA INSTRUMENTAL:
- 6 Sinfonias (a 6ª. Incluiu coro e soprano); 3 Aberturas; Elegia a Viana da Motta; Variações sobre um tema Alentejano; Divertimento nº.1; Três Esboços Sinfónicos; Variações para orquestra 1976 e Staccato brilhante.
MÚSICA PARA ORQUESTRA DE ARCOS:
- Nocturno; Concerto; Sinfonietta; Divertimento nº.2 e Variações Concertantes (orquestra de arcos, harpa e quarteto de cordas solista).

MÚSICA CORAL SINFÓNICA:
-Tríptico; a Cantata A Conquista de Lisboa; Réquiem à memória de Pedro Freitas Branco; Ode à Música e a Cantata As Sombras.MÚSICA CONCERTANTE:
-Concerto para violeta e orquestra; Concerto duplo para violino e violoncelo com orquestra de arcos e harpa; Concerto para piano e orquestra e Concerto para violoncelo e orquestra.MÚSICA DE CÂMARA:
-2 Quartetos de cordas; Trio para piano, violino e violoncelo; Ária a Tre com variazioni para violeta, clarinete e piano; Suite de Danças para piano, violeta, oboé e contrabaixo; Sexteto para 2 violinos, 2 violetas e 2 violoncelos e Improviso, para clarinete e piano.MÚSICA CORAL:
-Três Madrigais (Garcilaso de la Vega); Cuatro Canciones; Cantarcillo (Calderon de la Barca) e Dois Motetes.
EXCERTO DA SINFONIA Nº.2



Symphony No5 (VIRTUS LUSITANIAE)


STACCATO BRILHANTE

Nenhum comentário:

Postar um comentário