O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

«A vida está cheia de uma infinidade de absurdos que nem sequer precisam de parecer verosímeis porque são verdadeiros». PIRANDELLO

Nos tempos que correm confronto-me com o absurdo, não é dos tempos de hoje, noutras épocas o absurdo dominou, mas pensa-se que a partir de certo acontecimento o absurdo pode atenuar, mas o absurdo vai-se vestindo com outras vestes e vai aparecendo sempre!...
Pensando nisso, resolvi revisitar o TEATRO DO ABSURDO, saber mais concretamente como apareceu e como evoluiu e lembrei algumas peças que vi.
Evoluiu neste esquema:
TEATRO DA CRUELDADE, TEATRO DO ABSURDO, TEATRO PÂNICO…
Tudo começou com:


ANTONIN ARTAUD (1896-1948)

SOBRE ANTONIN ARTAUD:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Antonin_Artaud

Foi considerado um louco visionário do teatro surrealista, apesar de ter morrido sem ver muitas das suas teorias postas em prática, influenciou vários teatrólogos. Até ao surgimento do mito Artaud, eram considerados pilares de sustentação teatral, o russo Stanislavski e o alemão Brecht, que propuseram formas teatrais diferenciadas. Artaud junto com Roger Aron, foi um dos primeiros directores surrealistas, com a proposta de contestar o teatro naturalista, principalmente o francês, que se mostrava muito retórico e paradigmático. Artaud pregava o uso de elementos surreais que hipnotizassem o espectador, sem quase a utilização de diálogos, mas outros elementos actuantes: muita música, danças, gritos, sombras, iluminação, forte expressão corporal, para comunicar ao público a mensagem: os sonhos e os mistérios da alma humana. Artaud era incisivo ao abordar as suas concepções teatrais: O teatro é igual á peste, como ela, é a manifestação, a exteriorização de uma crueldade submersa latente, no homem e na sociedade. Assim, surgiu o nome de, TEATRO DA CRUELDADE, que sofreu grande influência do teatro oriental. No seu livro, O Teatro e o Seu Duplo, o teatrólogo denuncia a perda do carácter primitivo do teatro como cerimónia, avaliando o teatro oriental como original, ressaltando que esse manteve o seu aspecto cultural milenar, sem interferência, propondo principalmente saudar o desconhecido e dar uma perspectiva pessoal a respeito do mundo, sem moralismos. O que incomodava fortemente o teatrólogo eram as formas utilizadas com objectivos comerciais, repetitivas e ocas. Hoje considerado como um profeta do teatro, Artaud só veio a ser reconhecido após a sua morte. Durante a sua vida, era considerado um louco e as suas teorias, eram vistas como pretensiosas e muito paradoxais. Como um dos precursores do Surrealismo, abriu a porta à inovação, não só no teatro, mas também na pintura, na arquitectura, na dança, na música, etc.

TEATRO DO ABSURDO foi um termo criado pelo
crítico austríaco Martin Esslin, quando escreveu um livro sobre o tema, em 1961. Depois teve outras edições, a última saiu em 2004. Colocou sob o mesmo conceito obras de dramaturgos completamente diferentes, mas que tinham como centro da sua obra o tratamento inusitado da realidade. Teatro que utiliza, para a criação do enredo, das personagens e do diálogo, elementos chocantes e ilógicos, com o objectivo de reproduzir o desatino e a falta de soluções em que estão imersos o homem e a sociedade.
O inaugurador desta tendência teria sido
Alfred Jarry (Ubu Rei 1896). Esslin relacionou o trabalho desses dramaturgos com o absurdo. As peças passariam a "filosofia" de que é intrínseco à vida o não ter qualquer significado, como por exemplo Camus referenciou em "O Mito de Sísifo". O termo foi aplicado a uma ampla série de peças de vários géneros, mas com características coincidentes. Esslin referenciou preferencialmente, quatro dramaturgos do absurdo: Samuel Beckett, Arthur Adamov, Eugène Ionesco, e Jean Genet, e depois em posteriores edições, acrescentou um quinto dramaturgo, Harold Pinter, embora cada um desses escritores tivesse preocupações e técnicas específicas.
Outros escritores que Esslin também associava a esse grupo: Tom Stoppard,
Friedrich Dürrenmatt, Fernando Arrabal, Edward Albee, Jean Tardieu, G. Schahadé, Antonin Artaud, J. Audiberti, Günther Grass e Hildersheimer.
O TEATRO DO ABSURDO nasceu sob forte influência do Surrealismo e do movimento existencialista. Na segunda metade do século XX, a humanidade vivia uma crise social, os paradigmas e os valores morais da sociedade, eram os factores principais dessa crise, o teatro era um veículo de denúncia e reflexão, explorando os sentimentos humanos, tecendo críticas e difundindo uma ideia subjectiva a respeito do obscuro. Como o próprio nome diz, o TEATRO DO ABSURDO propõe revelar o inusitado. Extremamente existencialista, critica a falta de criatividade do homem, que condiciona toda a sua vida naquilo que julga ser o mais fácil e menos perigoso, negando-se a ousar, utilizando desculpas para justificar uma vida medíocre. O objectivo maior é promover a reflexão ao público, procurando expor o paradoxo, a incoerência e a ignorância, num contexto bastante expressivo, trágico e psicológico. Ionesco, autor de um dos primeiros espectáculos absurdos, A Cantora Careca (1950), foi um renovador da linguagem, da concepção e da visão do mundo. No TEATRO DO ABSURDO, o cenário, o figurino e as nuances nas interpretações tornam-se ainda mais importantes do que o próprio texto. O texto em si pode promover diversas leituras, dando liberdade de acção ao encenador. Samuel Beckett autor do clássico Esperando Godot, conta a história de dois personagens que esperam ansiosos por ajuda numa terra onde nada acontece de inovador, onde tudo se repete sem cessar, obrigando os angustiados personagens a tentar iludir a tristeza e a frustração, esperando Godot, algo hipotético, resultado da sua ansiedade. Esse texto traduz perfeitamente a essência do absurdo. Beckett era uma pessoa que, desde jovem manifestava rebeldia, contrário á religiosidade e grande adepto da revolução dos costumes. Harold Pinter, autor de Velhos Tempos, O Zelador, A Colecção e o autor americano Edward Albee, autor de, Quem Tem Medo de Virginia Woolf?, buscaram a orientação absurda, para tecer também as suas críticas, com identidades próprias, que lhes deram lugar de destaque na história da arte dramática e com o mesmo brilhantismo de Ionesco e Beckett.
O TEATRO DO ABSURDO, como vertente teatral, propunha de forma agressiva expor os seus personagens a uma crítica mordaz contra a sociedade, onde homens e mulheres vivem suas vidas num limite extremo, sempre numa virtual solidão.

Com os paradigmas clássicos do teatro ocidental, surgiu o TEATRO PÂNICO, uma forma de TEATRO DO ABSURDO, também uma forma dramática de revolta perante o mundo. Apesar de possuir algumas ideias artaudianas, o TEATRO PÂNICO mantém elementos básicos do teatro ocidental, como o diálogo dos seus personagens. A concepção do TEATRO PÂNICO nasceu em 1962, em Paris, e misturava terror com humor. Passava a filosofia que a memória é fundamental para o homem, pois o mesmo não passa de um conjunto de saberes que, com o passar dos anos, compõe um quadro estético, ético e moral. Na visão de um dos principais directores do TEATRO PÂNICO, o espanhol Fernando Arrabal, autor de A Guerra dos Mil Anos, o pânico mistura a vida privada com a vida artística, o lirismo e a psicologia, é uma espécie de jogo ou de uma festa. Muitos associaram o TEATRO PÂNICO com o Dadaismo, movimento que contesta a razão em prol do subjectivo. Dessa forma, os espectáculos pânicos propunham, uma linguagem extremamente transcendental em relação aos temas abordados. Nada disso poderia ser possível sem o TEATRO DO ABSURDO, que possibilitou no homem uma evolução no que diz respeito aos seus dogmas.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

«A música exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende». SCHOPENHAUER

O que há em comum, entre os «Quadros Húngaros» de Béla Bartók, as «Danças Sinfónicas» de Edvard Grieg, as «Danças Eslavas» de Dvorák e as «Danças de Galanta» de Kodály, é que todas se inspirarem na recolha de música tradicional, de canções e danças populares. Peças muito interessantes, que sempre agrada ouvir.

DANÇAS DE GALANTA DE KODÁLY


sábado, 19 de fevereiro de 2011

«O INOMINÁVEL» - SAMUEL BECKETT


“Procurei por todo lado. E todas as perguntas faço a mim mesmo. Não é por curiosidade. Não Posso calar-me. Não, nem tudo é claro. Mas o discurso tem de ser feito.”
“É o fim que é o pior, não, é o começo que é o pior, depois é o meio, mas depois é o fim que é o pior, essa voz a cada instante, é que é o pior… é preciso continuar ainda um pouco, é preciso continua ainda muito tempo, é preciso continuar ainda sempre…”
“Eu sou palavras, eu sou feito de palavras, palavras dos outros. Eu sou todas as palavras a poeira de verbo. E preciso de palavras (…) é preciso tentar logo, com as palavras que restam.”
“não posso continuar, vou continuar”

“Je ne peux pas continuer, je vais continuer”
“I can´t go on, I’ll go on”

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

QUARTA SINFONIA DE MAHLER - 3º. ANDAMENTO

GUSTAV MAHLER - QUARTA SINFONIA

A Quarta Sinfonia de Mahler concluiu o ciclo em que o compositor utilizou textos de A Trompa Mágica do Rapaz, colectânea de poesia popular alemã de autores anónimos, um livro que Goethe dizia «ser obrigatório ter em casa».
Mahler compôs vinte e quatro canções que deram forma a andamentos inteiros da segunda, terceira e quarta sinfonia.

Na Primeira encontramos a Natureza primordial, habitada por um herói que acabará por morrer, na Segunda acompanhamos o processo de resgate desse herói do mundo dos mortos para uma ressurreição poderosa, na Terceira, há uma imersão radical na paisagem e fauna dos lagos e bosques do Tirol, seguindo a arquitectura do mundo de Schopenhauer, passamos pela Natureza inorgâmica, pela Flora, pela Fauna, pelo Homem e pelos Anjos até alcançar o Amor, na Quarta é a passagem da vida terrena para a vida celestial.
O quarto andamento consiste no Lied Das himmlische Leben ( A Vida Celestial), canção popular da Baviera, tem um carácter infantil, como se uma criança viesse explicar, no fim, tudo o que se passou.
É uma imagem idealizada, de um mundo pacífico, longínquo, ingénuo, inocente, visão inalcançável! Para Mahler o Paraíso deve mais que ser inalcançável, ser um mistério!
No fim, quando depois de o homem se questionar sobre tudo, uma criança diz-lhe: a vida é celestial! Com a sinfonia celestial acaba também o último sonho de ingénua inocência pueril de todo o reportório sinfónico romântico.



quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A ALMA HUMANA É PORCA COMO UM ANUS – ÀLVARO CAMPOS




A ALMA HUMANA É PORCA COMO UM ANUS – ÁLVARO CAMPOS

A alma humana é porca como um ânus
E a Vantagem dos caralhos pesa em muitas imaginações.

Meu coração desgosta-se de tudo com uma náusea do estômago.
A Távola Redonda foi vendida a peso,
E a biografia do Rei Artur, um galante escreveu-a.
Mas a sucata da cavalaria ainda reina nessas almas, como um perfil
distante.

Está frio.
Ponho sobre os ombros o capote que me lembra um xale —
O xale que minha tia me punha aos ombros na infância.
Mas os ombros da minha infância sumiram-se muito para dentro dos meus ombros.
E o meu coração da infância sumiu-se muito para dentro do meu coração.

Sim, está frio...
Está frio em tudo que sou, está frio...
Minhas próprias ideias têm frio, como gente velha...
E o frio que eu tenho das minhas ideias terem frio é mais frio do que
elas.

Engelho o capote à minha volta...
O Universo da gente... a gente... as pessoas todas!...
A multiplicidade da humanidade misturada,
Sim, aquilo a que chamam a vida, como se não houvesse outros e estrelas...

Sim, a vida...
Meus ombros descaem tanto que o capote resvala...
Querem comentário melhor Puxo-me para cima o capote.

Ah, parte a cara à vida!
Liberta-te com estrondo no sossego de ti!

In Poesia , Assírio

[Não conhecia este poema e até fiquei surpreendida! Tenho a colecção completa das Edições Ática e possivelmente este poema estava censurado!]

domingo, 6 de fevereiro de 2011

CONCERTO

EDWARD ELGAR - IN THE SOUTH
SAMUEL BARBER - KNOXVILLE: SUMMER OF
FELIX MENDOLSSOHN - «HEAR YE, ISRAEL», ÁRIA DE ELIJAH
FELIX MENDELSSOHN - SINFONIA Nº 5 «REFORMA»

DIRECÇÃO: CHRISTOPHER SEAMAN
SOPRANO: EMMA BELL

Referências na sinfonia nº.5 «Reforma» de Felix Mendelssohn

Amen de Dresden – Johan Gottlieb Nauman



Também referenciada em obras compostas por Wagner (Parsifal, Tannhäuser), Mahler (Ressurreição), Bruckner (9ª. Sinfonia)

Ein’ fest burg ist unser Gott, Lutero

sábado, 5 de fevereiro de 2011

UMA LARANJA PARA ALBERTO CARNEIRO


Uma Laranja para Alberto Caeiro
.Um poema de O Vinho e a Lira, de Natália Correia
.
Venho simplesmente dizer
Que uma laranja é uma laranja
E comove saber que não é ave
.
se o fosse não seriam ambas
uma só coisa volátil e doce
de que a ave é o impulso de partir
e a laranja o instinto de ficar.
.
Não sei de nada mais eterno
do que haver sempre uma só coisa
e ela ser muitas e diferentes
e cada coisa ternamente ocupar
só o espaço que pode rodeada
pelo espaço que a
pode rodear.
.
Sei que depois de laranja
a laranja poderá ser até
mesmo laranja se necessária
mas cada vez que o for
sê-lo-á rigorosamente
como se de laranja fosse
a exacta fome inadiável.
.
De ser laranja gomo a gomo
o íntimo pomo se enternece
e não cabe em si de amor
embriagada de saber
que a sua morte nos será doce.