A ALMA HUMANA É PORCA COMO UM ANUS – ÁLVARO CAMPOS
A alma humana é porca como um ânus
E a Vantagem dos caralhos pesa em muitas imaginações.
Meu coração desgosta-se de tudo com uma náusea do estômago.
A Távola Redonda foi vendida a peso,
E a biografia do Rei Artur, um galante escreveu-a.
Mas a sucata da cavalaria ainda reina nessas almas, como um perfil
distante.
Está frio.
Ponho sobre os ombros o capote que me lembra um xale —
O xale que minha tia me punha aos ombros na infância.
Mas os ombros da minha infância sumiram-se muito para dentro dos meus ombros.
E o meu coração da infância sumiu-se muito para dentro do meu coração.
Sim, está frio...
Está frio em tudo que sou, está frio...
Minhas próprias ideias têm frio, como gente velha...
E o frio que eu tenho das minhas ideias terem frio é mais frio do que
elas.
Engelho o capote à minha volta...
O Universo da gente... a gente... as pessoas todas!...
A multiplicidade da humanidade misturada,
Sim, aquilo a que chamam a vida, como se não houvesse outros e estrelas...
Sim, a vida...
Meus ombros descaem tanto que o capote resvala...
Querem comentário melhor Puxo-me para cima o capote.
Ah, parte a cara à vida!
Liberta-te com estrondo no sossego de ti!
In Poesia , Assírio
[Não conhecia este poema e até fiquei surpreendida! Tenho a colecção completa das Edições Ática e possivelmente este poema estava censurado!]
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