O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

É FELIZ?, a pergunta repete-se ao longo de um dos mais emblemáticos documentários de Jean Rouch, «CHRONIQUE D’UN ETÉ, assinado também por Edgar Morin.

Cinema verdade, sem encenação, sem história premeditada, apenas explorando um tema, com o recurso de meios técnicos leves, para que a busca da verdade possa ser captada de imediato.

“É uma experiência verdadeiramente emocionante, esta que o documentário directo nos proporciona, a de poder acompanhar passo a passo, examinar como num microscópio, uma conversa, a mais banal que seja; observar de que modo nascem as palavras, que gestos as acompanham, deter-se sobre um acontecimento de segundos, reter no tempo algo que aconteceu uma só vez e que jamais voltará a repetir-se”. MORIN

Chronique d‘un été surpreendeu pelo encanto espontâneo das expressões quotidianas colhidas pela câmara de filmar, mesmo nas pequenas observações diante da pergunta “o senhor é feliz?” que Marcelline e Nadine, as duas entrevistadoras, levam às pessoas nas ruas de Paris. O rápido diálogo com um policial encontrado ao acaso:

Você é feliz?
Não
Não? Você não é feliz? Porquê? Fazemos uma pesquisa sociológica
Em civil eu responderia, mas com a farda...
Você não pode responder?
Não, com a farda não. À paisana eu teria respondido.

A resposta do estudante Jean-Pierre

Sim eu vivo, efectivamente eu vivo, e sem dúvida muito melhor que a maior parte dos estudantes de minha idade. Mas vivo bem na medida em que aceito compromissos terríveis. Vivo bem porque aceito estes compromissos, na medida em que aceito que a vida não seja assim como desejaria que ela fosse.


A confissão sofrida de Marilou, que esconde o rosto, desvia o olhar, fala e não fala, diz que não se pode dizer o que ela quer dizer

Mais forte que tudo é o medo... O medo, apesar de tudo, o medo... medo de me encontrar completamente só. Completamente... isolada. Queria ter um emprego que não me fizesse medo... e viver com alguém que... que –
que é que você quer que eu diga?... não se pode falar destas coisas.

o comentário de Jacques operário da Renault

Para mim o trabalho é tempo perdido. É preciso vencer o aborrecimento que é ir para o trabalho todo o dia, ir para um trabalho que não me interessa, um trabalho – como dizer? – no qual não encontro nenhum interesse, nenhum sentido. E no entanto é necessário, é preciso fazê-lo, suportá-lo, até as seis da noite, não é? Depois das seis procuro voltar a ser eu mesmo. Existe um empregado até as seis da tarde, depois um outro homem, uma pessoa em tudo diferente.

Alguns entrevistados sentem-se intimidados diante da câmara, outros, reagem falsamente, interpretam. Talvez se deva falar da possibilidade de um novo cinema verdade não como um meio ou o meio de revelar a verdade por meio de um filme, mas como um modo de actualizar algo sonhado|esboçado a certa altura da história do cinema (por realizadores de documentários, mas não só) a de fazer um cinema que se coloque de verdade diante a realidade.

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