O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

UM LIVRO, UM FILME, UM POEMA.

HEART OF DARKNESS, de JOSEPH CONRAD

O livro relata a experiência de um comandante de navio que vai trabalhar para uma companhia comercial na África. Lá ele encontra um homem misterioso, um dos melhores homens da companhia, considerado por todos um verdadeiro génio, mas que acaba completamente louco e doente, morrendo na viagem de volta ao posto da companhia. Numa primeira leitura, o livro é uma denúncia do colonialismo europeu, que comete as maiores barbaridades contra os colonizados em nome de uma missão civilizadora. Ao descrever a exploração e as contradições dos colonizadores Conrad acaba retratando a exploração humana de um modo mais amplo, o que pode acontecer não só numa colónia mas também em outras situações de exploração irresponsável. Este é um dos livros mais lidos e comentados de todos os tempos.


APOCALIPSE NOW, de FRANCIS FORD COPPOLA


Baseado no livro Heart of Darkness de Joseph Conrad.

Em plena Guerra do Vietname, por volta de 1969, um alto comando do exército americano designa o capitão Willard para matar o coronel Kurtz, que tinha enlouquecido, chegando a assassinar inocentes no interior da selva do Camboja. Subindo o rio num barco de patrulha e escoltado por quatro soldados, Willard depara-se com situações inacreditáveis e absurdas geradas pela guerra enquanto examina os documentos a respeito do coronel. Ao chegar ao seu destino, percebe que os nativos adoram Kurtz como a um deus e terá de decidir se cumpre ou não a sua missão.

COM: Martin Sheen,Marlon Brando, Robert Duvall....

POEMA «THE HOLLOW MEN» de T.S. ELIOT

Poema que o Coronel Kurtz lê a Willard.


OS HOMENS OCOS

Nós somos os homens ocos
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada. Ai de nós!
Nossas vozes dissecadas,
Quando juntos sussurramos,
São quietas e inexpressas
Como o vento na relva seca
Ou pés de ratos sobre cacos
Em nossa adega evaporada

Fôrma sem forma, sombra sem cor
Força paralisada, gesto sem vigor;

Aqueles que atravessaram
De olhos rectos, para o outro reino da morte
Nos recordam - se o fazem - não como violentas
Almas danadas, mas apenas
Como os homens ocos
Os homens empalhados.

II

Os olhos que temo encontrar em sonhos
No reino de sonho da morte
Estes não aparecem:
Lá, os olhos são como a lâmina
Do sol nos ossos de uma coluna
Lá, uma árvore brande os ramos
E as vozes estão no frémito
Do vento que está cantando
Mais distantes e solenes
Que uma estrela agonizante.

Que eu demais não me aproxime
Do reino de sonho da morte
Que eu possa trajar ainda
Esses tácitos disfarces
Pele de rato, plumas de corvo, estacas cruzadas
E comportar-me num campo
Como o vento se comporta
Nem mais um passo

- Não este encontro derradeiro
No reino crepuscular

III

Esta é a terra morta
Esta é a terra do cacto
Aqui as imagens de pedra
Estão erectas, aqui recebem elas
A súplica da mão de um morto
Sob o lampejo de uma estrela agonizante.

E nisto consiste
O outro reino da morte:
Despertando sozinhos
À hora em que estamos
Trémulos de ternura
Os lábios que beijariam
Rezam as pedras quebradas.

IV

Os olhos não estão aqui
Aqui os olhos não brilham
Neste vale de estrelas tíbias
Neste vale desvalido
Esta mandíbula em ruínas de nossos reinos perdidos

Neste último sítio de encontros
Juntos tacteamos
Todos à fala esquivos
Reunidos na praia do túrgido rio

Sem nada ver, a não ser
Que os olhos reapareçam
Como a estrela perpétua
Rosa multifoliada
Do reino em sombras da morte
A única esperança
De homens vazios.

V

Aqui rondamos a figueira-brava
Figueira-brava figueira-brava
Aqui rondamos a figueira-brava
Às cinco em ponto da madrugada

Entre a ideia
E a realidade
Entre o movimento
E a acção
Tomba a Sombra
Porque Teu é o Reino

Entre a concepção
E a criação
Entre a emoção
E a reacção
Tomba a Sombra
A vida é muito longa

Entre o desejo
E o espasmo
Entre a potência
E a existência
Entre a essência
E a descendência
Tomba a Sombra
Porque Teu é o Reino
Porque Teu é
A vida é
Porque Teu é o Reino

Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Não com uma explosão, mas com um suspiro.

(tradução: Ivan Junqueira)

http://www.culturapara.art.br/opoema/tseliot/tseliot.htm

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