O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE
JEAN-PAUL SARTRE
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
PALAVRAS QUE DEFINEM OS PRIMEIROS DEZ ANOS DO SÉCULO XXI: AMBIENTE, CRISE, REDES SOCIAIS/EU, MULHER, JUSTIÇA, TERRORISMO, GENOMA
AMBIENTE – Muito aconteceu e se fez em dez anos, mas o que talvez fique na história do ambiente neste período é o investimento brutal que o mundo fez em energias renováveis. Os últimos cinco anos foram prósperos no desenvolvimento das energias renováveis, em especial eólica e solar e isto também foi uma consequência do encarecimento do preço do petróleo.
Seria necessário parar com todas as formas de poluição e mesmo assim levaria três séculos para eliminar toda a poluição! Quem quer parar com a poluição ou ao menos diminuir?
Quatro reuniões cimeiras sobre alterações climáticas foram realizadas: Montreal, Rio de Janeiro, Quioto e Copenhaga. De umas para as outras a desilusão tem aumentado. Os mais poluidores não cedem. Se os cientistas alertam para o colapso, os políticos chamam-lhe «ficção científica, com o aplauso das indústrias.
O petróleo acabará em 2009. O Árctico está a descongelar, o Antárctico está a fragmentar-se. Espécies animais estão ameaçadas. O aquecimento global é uma realidade. Não há vontade colectiva de parar, só promessas.
Ligados aos problemas ambientais, outros acontecimentos despertaram a atenção das pessoas:
GRANDES CATÁSTROFES ECOLÓGICAS:-Maré negra na costa Da Galiza (2002), causada pelo petroleiro Prestige, foram libertadas 51 mil toneladas de fuelóleo, quinze mil aves morreram, a economia local faliu.
-Golfo do México (2010) derramamento de 160 mil litros de petróleo, após explosão e afundamento da plataforma Deepwater Horizon da BP. Afectados quatro estados norte-americanos.
-Vazamento de lama tóxica de uma fábrica de alumínio na Hungria (2010). Um milhão e cem mil litros de substâncias químicas, que se espalharam e se vão infiltrando no solo. Os danos ambientais ainda hoje estão por apurar, três rios podem estar em risco, entre eles o Danúbio, o maior rio da Europa, se isso vier a acontecer além da Hungria, outros países serão afectados: Croácia, Sérvia, Roménia, Bulgária Ucrânia e Moldávia.
FORÇA DESTRUIDORA DA NATUREZA-Furacão Katrina, que destruiu a cidade de Nova Orleães (2005). Devastação quase total, retirada de 1 milhão de pessoas e morte de um milhar.
-Tusnami na Indonésia (2004), região propensa a fenómenos naturais, situada no chamado «Anel de Fogo do Pacífico», conjunto de falhas geológicas com mais de 129 vulcões activos. A onda gigante atingiu a costa de 12 países (230 mil mortes).
CRISE – A crise foi quem mais mandou nesta década.
Tudo começou nos Estados Unidos, com a venda de milhares de empréstimos a pessoas sem capacidade de liquidez. Esses créditos foram vendidos a bancos de todo o mundo (subprime) e a crise espalhou-se, abalando o sector bancário. Alguns bancos faliram outros tiveram que ser injectados de dinheiro pelos governos e bancos centrais.
Um caso em destaque foi Bernard Madoff, gestor de fortunas, cujo negócio «era uma grande mentira», está preso a cumprir uma pena de 150 anos de prisão.
Em Portugal o défice resume a história económica da última década em Portugal. O país sempre teve défice, mas o problema agravou-se em 2002, quando o euro entrou em circulação. Para cumprir as regras de Bruxelas, Portugal no ano seguinte teve logo que reduzir o défice. O problema continuou, até ao presente com o plano de consolidação orçamental mais violento da história da democracia, que empurrará o país para uma recessão, asseguram instituições como o Banco de Portugal, FMI e OCDE. O défice de 9% terá que cair para 3% em 2012. Portugal consome mais do que produz, financia a crédito este modo de vida e está numa situação insustentável. Este problema afectou de forma também violenta o Estado Social.
As agências de rating (Standard & Poor’s, Moody’s e Fitch) avaliam o valor de um país ou de uma empresa. Os governos e a maioria dos economistas consideram-nas co-responsáveis pelo colapso, por deficiente avaliação, ainda assim, as grandes potências mundiais não encontram outra alternativa e estas agências continuam a determinar o andamento dos mercados mundiais.
Petróleo continua a ser o calcanhar de Aquiles, dos países dependentes dos combustíveis fósseis. Em 2008 ocorreu o terceiro choque petrolífero, um novo choque pode surgir.
Em 2001 com a entrada da China na organização Mundial do Comércio, tudo mudou. Portugal, que tinha uma economia especializada em indústrias tradicionais (têxtil, calçado, vestuário) sofreu um grande impacte, que motivou redução de salários, esmagamento das margens de lucro encerramento de fábricas, empresas e lojas e consequente desemprego. A Índia outro colosso industrial tem tido um papel semelhante.
JUSTIÇA – A nível global, a Guerra no Iraque, com consequências para todo o mundo. Segundo Eurico Reis, Juiz Desembargador o ataque ao Iraque foi ilegítimo e provocou a ruína do edifício legal internacional que garantiu o estado de semi-paz em que vivemos durante os últimos 65 anos. Estamos todos a pagar os custos desse desvario com violações dos direitos das pessoas e das nações. O escândalo da década em Portugal foi o caso de pedofilia, Casa Pia, mas também «O Sexo dos Anjos», os abusos de pedofilia, por padres católicos. Na última década também esteve em discussão corrupção, a contrafacção, emigrantes e imigrantes, a despenalização do aborto, o casamento entre homossexuais…
TERRORISMO – Como se combate uma rede terrorista? Eis a questão central para a segurança das sociedades contemporâneas. É essa pergunta que os ataques terroristas desde o 11 de Setembro de 2001, colocam às nossas sociedades.
Fundada num dogma teocrático e no fundamentalismo religioso a capacidade de mobilização é grande. A sua estrutura é fluída, desterritorializada e transnacional. Usam meios diversos, não necessitando de armas de destruição maciça, mas podendo tê-las. Os seus alvos são civis, preferencialmente atingindo o maior número de pessoas.
O terrorismo que era localizado, passou a ser transnacional, dentro de uma lógica global e de conflito internacional. Esta é uma nova guerra, é chamada a guerra contra uma rede, para a qual nenhum estado está preparado.
GENOMA – Tal como se investe na educação, na saúde e na economia para darmos vantagens aos nossos descendentes, também se deve investir no melhoramento da sua herança genética. A engenharia genética, considerados os aspectos éticos, legais e sociais, pode dar uma gama de grandes contributos úteis ao homem e ao ambiente. Obviamente que a manipulação da vida tem dado muita controvérsia, a discussão é sempre entre o que pode ser feito e o que deve ser permitido. Actualmente a ideia é que a essência dos seres vivos está contida no seu ADN. O projecto do Genoma Humano defende a ideia de que quando o conhecimento do ADN for total, muitas doenças podem ser eliminadas.
Esta ideia é assustadora, mas todos os avanços da medicina tiveram pressões, porque iam mexer com a natureza e a sua evolução natural: transfusões de sangue, intervenções cirúrgicas, vacinas, antibióticos, transplantes, hormonas de crescimento, antidepressivos, «pílula»… Isto implicou o uso de «milhares de cobaias humanas», tudo tem o seu preço, mas segundo diz Alexandre Quintanilha 99,9 das espécies que surgiram à superfície da Terra já se extinguiram, ou a natureza está a ser perversa ou nós não sabemos lidar com ela, alguma coisa tem que ser feita!
O estudo dos genes, revela o que fomos, o que somos e seremos, as doenças contraídas e as que podemos vir a contrair, é a chamada medicina baseada na evidência.
REDES SOCIAIS/EU – Há várias redes sociais, que motivam a interacção humana. Num mundo que vive uma crise global, mas com efeitos localizados na Europa, as redes sociais constituem o início da procura dos que pensam como nós e a percepção de uma acção em comum, mas ainda não há uma organização para transformar a realidade. O destaque vai para o Facebook cuja presença geográfica teve uma grande expansão! De rede nos EUA, passou para o mundo anglo-saxónico e depois para o mundo em geral. Mais de quinhentos milhões de pessoas inscritas numa rede de amigos.
Neste mundo saturado de ilusões de oportunidades para dizermos «eu» e proclamarmos a nossa individualidade, tornou-se cada vez mais problemático fazer passar o valor mais clássico, e também mais visceral, da política: nós.
Redes sociais, onde expandimos o «eu». Idade do narcisismo sem culpa. Estar offiline ou online eis a questão!
A blogosfera, a mais contraditória e fascinante invenção de celebração do «eu», é também um dos espaços mais corrompidos pela confusão entre os confrontos da comunicação e da obscenidade dos conflitos: mentir, difamar e insultar os outros é mesmo frequentemente celebrado como apoteose do diálogo democrático. No séc. XX «freudiano», aprendemos que todas as ideias passam pelo corpo. Roland Barthes formulava que «o meu corpo não tem as mesmas ideias que eu». Neste presente de infinitas redes de comunicação, o corpo reduziu-se a um «objecto mutável. A vida das pessoas e das famílias, as suas alegrias e desilusões são notícia. Aparentemente a fama está ao alcance de qualquer um e há muitos a quererem!
MULHER – O feminismo, obrigado a alterações profundas de mentalidade, deixou de ser «uma questão de mulheres» para se tornar um verdadeiro humanismo do século XXI porque portador de alternativas económicas, sociais, culturais e políticas.
«A sociedade do futuro implica o reconhecimento dos seres humanos enquanto pessoas, onde querem que estejam, nas suas aspirações e nas cedências inevitáveis para as concretizar. Ninguém é um ser isolado e a convivência, qualquer que ela seja, implica a optimização das diferenças para a construção da qualidade de vida que consiste em cada um poder ser o que é.»
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