Foi através do Jornal de Letras, que vi a edição do livro, Poesias, Desenhos e Correspondência, pela Imprensa Nacional Casa da Moeda. [ Prefácio, introdução, organização e notas de Gil Miranda (Professor Emérito de Teoria Musical no Oberlin College, EUA)]
REVOLUCIONÁRIO, EXCÊNTRICO SURREALISTA, METEÓRICO.
Músico, desenhador e poeta, sem ter pertencido a nenhum grupo literário, prenuncia a corrente surrealista que só entra em Portugal dois anos após a sua morte.
MAS QUEM É EDUARDO LIBÓRIO?
Com a «pulga» atrás da orelha, lá fui eu para a floresta da internet fazer as minhas explorações, porque de facto nunca tinha ouvido tal nome e não sei pelas quantas milésimas vezes senti aquele sopro: «só sei que nada sei» e nem é preciso dizer de quem!?...
Nessa floresta, onde ando sempre em explorações…pouco ou nada encontrei!
Na wikipédia a entrada é lacónica e diz apenas isto:
Eduardo Miguel Monteiro Libório, também conhecido pelo pseudónimo de Eduardo Claro, foi um músico e compositor português. Em sua honra foi criado o Prémio Eduardo Libório de História da Música, destinado a galardoar jovens músicos.
Música!?...Através do you tube nada! Mas cheguei a um compositor, Rui Serôdio que ganhou o prémio com o seu nome! Outro desconhecido para mim!...
Voltando ao Eduardo Libório, encontrei algo mais substancial em:
ONDE SE DIZ ENTRE OUTRAS COISAS: Eduardo Libório (1900-1946) músico de profissão e artista multifacetado, é um poeta desconhecido do público.
SOBRE A SUA POESIA: Uma linguagem poética de desarmante singeleza prende-nos pelo encanto e inesperado de temas e ideias, enunciadas com uma limpidez de cristal.
Ecoam aqui formas do que viria a ser alguma poesia surrealista surgida bem depois da morte do poeta ocorrida em 1946 (a primeira reunião do Grupo Surrealista de Lisboa realizou-se em fins de Outubro de 1947, na pastelaria A Mexicana). Nomeadamente, é alguma poesia de Alexandre O’Neill que me ocorre ao ler grande parte destes poemas.
E aqui sim, encontram-se alguns dos seus poemas, de que vou destacar:
POEMA GIRATÓRIO,
COM “FIGURAS DE PASSAR”,
DEDICADO PELO LIBÓRIO
A QUEM O QUEIRA ACEITAR
Passa a tristeza, a dor, passa o cuidado,
Passa o prazer – o amor passa também…
– E passam as saudades do passado
Se no passado não passou alguém…
Ilusões – esperanças passageiras,
Passos falsos – e “passas” verdadeiras,
Pássaros, Passarões – e Passarolas
Uns à solta e outros em gaiolas,
Todos vão, de passagem, pelo ar…
Passam, a passear, os mensageiros
De mensagens passadas – e a passar…
Passam na vida, a passo, os passageiros
Para o mundo onde havemos de voltar…
Passam dúvidas, fés – passam certezas
Do que já se passou – ou vai passar
E, por vezes, perpassam baronesas
Num passeio, de passagem – a girar.
O VIAJANTE
Gosto tanto de sonhar
– E de dormir…
Esquecer o tempo que passou
E não pensar no que há-de vir…
Viver a vida verdadeira
A noite inteira:
Fechar os olhos – e partir…
Tudo em silêncio, tudo apagado,
E eu, suspenso,
Maravilhado
A espreitar o que está do outro lado…
Se me esquecesse de voltar…
Oh! Se pudesse ficar assim,
Horas sem fim
Sem acordar.
A viajar dentro de mim…
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