O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

MOTINS EM LONDRES: A SOCIEDADE ESTÁ MUITO COMPLEXA…

Os motins ocorridos em Londres, têm motivado muitos comentários. Eu não aprovo a violência e aquela onda de destruição selvagem de roubos e de incêndios, mas o que me ocorre de imediato é que as pessoas estão zangadas, infelizes e frustradas e isso tem as suas causas!

A sociedade padece de saúde mental e as pessoas ficam parvas com tudo que acontece!

Tudo começou com o protesto contra a polícia (pela morte de Mark Duggan) e as pessoas, brancos e negros, sentem-se frustradas com a polícia e com a Comissão Independente de Queixas contra a Polícia.

A psicologia explica o comportamento em grupo: individualmente, podemos não agir com violência, mas se outras pessoas no grupo o fazem é quase como se sentíssemos que também o podemos fazer - deixamos de nos ver como indivíduos, para passar a vermo-nos como parte de um grupo.

Os jovens então saíram para as ruas, cheios de raiva e desataram a roubar tudo! Aqueles bens (telemóveis, ipads, bebidas, roupas…), cujas campanhas são direccionadas para eles, com um marketing cheio de sedução! Eles sentem essa pressão para consumir e não há forma legítima para o fazer! Obviamente que isso gera revolta e frustração! Pode-se começar a pensar que é justo os jovens, terem essa pulsão de se rebelar!

Alguns vivem em contextos familiares problemáticos, alguns não têm acesso ao mercado de trabalho, alguns não têm acesso ao ensino superior, outros são descriminados e tratados mal pela polícia - em particular os negros e as minorias étnicas.

Se a tónica tem sido na comunicação social, os jovens os negros, as manifestações ocorridas, não são apenas de jovens e de negros, tem atravessado raças e gerações. São pessoas que sentem injustiça por diferentes razões mas juntam-se porque vêem um grupo a confrontar o sistema e o Estado e partilham este sentido de injustiça. Pode ser um jovem que sente injustiça pelo aumento de propinas ou pela falta de trabalho ou a classe trabalhadora mais velha que se sente insegura e sempre a ser onerada por uma crise, para a qual não contribuiu. Há um sentido partilhado de injustiça. É importante não fazer generalizações: não se trata apenas de jovens a roubar. É mais complexo.

Economia e psicologia são duas ciências que se confrontam e uma economia selvagem gera consequentemente uma irracionalidade psicológica. Não há um modelo político-económico real para os problemas da economia mundial. Muitas pessoas especializadas apontam os problemas, mas dizer como fazer na prática…

Temos depois o outro lado do problema, as pessoas que são afectadas e nada têm a ver com a injustiça, sofrendo de própria injustiça. Trabalham e acreditam num dia melhor, numa mudança de condições fruto do seu esforço. Existirá desculpabilização plausível para esta onda de destruição da vida dos outros e as acções de vandalismo praticadas?

Todos estamos a viver numa selva que nos devora, muitos rastilhos podem de um momento para o outro pegar fogo, sem qualquer orientação a não ser de forma selvática «vamos dar cabo de tudo»!


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