O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

MARCELINO DOS SANTOS

Nasceu em Lumbo em 1929, viveu em Lourenço Marques, hoje Maputo e em 1947 veio estudar para o Instituto Industrial de Lisboa.

O seu pai era um activista político, membro da Associação Africana de Moçambique e Marcelino dos Santos, na Casa dos Estudantes do Império, encontrou-se com futuros líderes do movimento de independência das colónias: Amílcar Cabral (Guiné-Bissau), Agostinho Neto (Angola), Eduardo Mondlane (Moçambique).

Em 1950 Agostinho Neto foi preso, Mondlane foi para os Estados Unidos e Marcelino dos Santos foi para Paris, com outros camaradas. Aí escreveu na revista, Présence Africaine. Sob o pseudónimo de Lilinho Micaia, escreveu um livro de poesia que foi publicado na URSS.

Marcelino dos Santos foi fundamental na formação do Movimento Anti-Colonial em Paris, juntando-se à União Democrática Nacional de Moçambique, um dos grupos nacionalistas que depois se fundem para formar a FRELIMO.

Como era um hábil comunicador, fez parte da Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas e discursou na Organização de Unidade Africana, na Conferencia Afro-Asiática de Solidariedade e na Organização das Nações Unidas.

Com o assassinato de Mondlane, foi presidente da Frelimo, com Uria Simango e Samora Machel, num dos seus períodos mais difíceis. Em 1970 Machel assume a presidência e Marcelino dos Santos é vice-presidente.

Depois da independência ocupou vários cargos políticos.

Sob os pseudónimos de Kalungano e Micaia Lilinho, publicou poemas no Brado Africano e em duas antologias editadas pela Casa dos Estudantes do Império, em Lisboa. Com o seu nome real, publicou Canto do Amor Natural, editado pela Associação dos Estudantes do Império.

Os textos de Marcelino dos Santos descrevem a sorte do colonizado, vítima da sociedade e impossibilitado de atingir um meio de libertação. Mundo dividido e injusto. Marcelino dos Santos na sua poesia perspectivava uma situação e uma massificação de vontades verdadeiramente moçambicanas.

Já dentro da época de guerrilha, da luta armada em Moçambique, Marcelino dos Santos, levantou a voz e o gesto que proclamavam a destruição material dos demónios do colonialismo, na mais pura tentativa de cantar a libertação.

Assim, Marcelino dos Santos recorre ao estado mais puro de sentimentos: a infância. Regressar à infância, é regressar ao passado, invocando uma relação com a Natureza, a Terra, as Raízes, solidificando, assim, as estruturas existentes para definir o presente e arquitectar o futuro.

Desta forma, cingindo-se ao amplo conceito da Mãe-Negra, Mãe-África, define uma posição muito concreta na poesia moçambicana: uma posição combativa, da mais pura reivindicação. Marcelino dos Santos, é considerado como uma das vozes mais significantes da afirmação de uma poesia realmente Moçambicana.

SONHO DE MÃE NEGRA

Mãe negra

Embala o seu filho

E esquece

Que o milho já a terra secou

Que o amendoim ontem acabou.

Ela sonha mundos maravilhosos

Onde o seu filho irá à escola

À escola onde estudam os homens

Mãe negra

Embala o seu filho

E esquece

Os seus irmãos construindo vilas e cidades

Cimentando-as com o seu sangue

Ela sonha mundos maravilhosos

Onde o seu filho correria na estrada

Na estrada onde passam os homens

Mãe negra

Embala o seu filho

E escutando

A voz que vem do longe

Trazida pelos ventos

Ela sonha mundos maravilhosos

Mundos maravilhosos

Onde o seu filho poderá viver.

É PRECISO PLANTAR

É preciso plantar

mamã

é preciso plantar

é preciso plantar

nas estrelas

e sobre o mar

nos teus pés nus e pelos caminhos

é preciso plantar

nas esperanças proibidas

e sobre as nossas mãos abertas

na noite presente

e no futuro a criar

por toda a parte

mamã

é preciso plantar

a razão

dos corpos destruídos

e da terra ensanguentada

da voz que agoniza

e do coro de braços que se erguem

por toda a parte

por toda a parte

por toda a parte mamã

por toda a parte

é preciso plantar

a certeza

do amanhã feliz

nas caricias do teu coração

onde os olhos de cada menino

renovam a esperança

sim mamã

é preciso

é preciso plantar

pelos caminhos da liberdade

a nova árvore

da Independência Nacional.



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