SOBRE VIRGÍLIO DE LEMOS:
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  BRANCA A LUZ DA MADRUGADA
 
 Branca a luz da madrugada, universal, luz
 que se dilue na fantasia, em filigrana,
 da memória, moura e manuelina, luz nua
 que beija a sepultura branca e muda
 
 como o mármore nu onde se lê seu nome...
 Branca e secreta a luz, génese do inventado
 espaço, escravas da sedução e rainhas,
 agonias nas órbitas tácteis do seu corpo
 
 Notas musicais, perversos amores e sabres
 no meu ĺndico, lúdico, olhar ficcionado
 luz branca do meu inconsciente, textual enigma
 
 Eu entro na sepultura como o desejado
 príncipe, vulnerável aquele fugaz instante
 em que seu corpo morto desperta em sobressalto
 
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 A SOMBRA DA VIAGEM
 
 Como distinguir se o que ressuscitas
 em mim, é a carne ou o sonho, língua ou luz,
 se tudo em ti é determinação, e sangue,
 se em mim o que perdura ainda é o teu grito?
 
 No perdido paraíso de breves desmaios, sombras
 em que o essencial e o supérfluo se diluem,
 desgarrado serei o desvendar das imagens, fogo
 como tu por mim serás, do mar, as vibrações
 
 Alma com a força das vagas, delírio dos impulsos,
 sóis de cólera e da contenção dos absurdos,
 que se abrigam na paixão, como a luz nas grutas,
 
 gritos que só o silêncio capta, como o sonho
 sabe refazer a paisagem que o teu olhar exige
 ou o contrário talvez mais trágica que o real
 
 
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 A FORTALEZA E O MAR
 
 O tempo quadrado invade
 o canonizado lugar e o Amor
 deixa-se viver, Eros, talvez mar
 desta reflexiva via, meditação.
 
 O tempo e o lugar resistem
 como o fruto e a flor. E teu olhar
 sobre as coisas vigilante se nutre
 de estrelas, de areia, sobressaltos.
 
 Os mesmos fantasmas se cruzam
 pela praia, nos paradoxos repetidos
 entre a cobiça e o cego desejo.
 
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 ENTRE AS AREIAS E O MAR
 
 
 Entre as areias e o mar viaja
 o teu olhar. O teu corpo respira
 com os sinuosos traços das vagas
 e as sensações e a doçura e a ira
 
 São a própria luz feita desejo.
 O meu ópio será os teus anseios
 e as palpitações de teus lábios
 os gritos das gaivotas e os teus,
 
 na fusão lúdica do sémen e dos rios.
 Na confrontação devorado é o desejo
 e enquanto a paixão parte, voa
 o espírito em busca de outros sóis.
 
 
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 Lemos, Virgílio de – JOGOS DE PRAZER, Virgilio de lemos & Heterónimos: Bruno dos Reis, Duarte Galvão e Lee-Li Yang, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2009
 
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