O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

domingo, 4 de setembro de 2011

VIRGILIO DE LEMOS

SOBRE VIRGÍLIO DE LEMOS:
http://www.infopedia.pt/$virgilio-de-lemos

BRANCA A LUZ DA MADRUGADA

Branca a luz da madrugada, universal, luz
que se dilue na fantasia, em filigrana,
da memória, moura e manuelina, luz nua
que beija a sepultura branca e muda

como o mármore nu onde se lê seu nome...
Branca e secreta a luz, génese do inventado
espaço, escravas da sedução e rainhas,
agonias nas órbitas tácteis do seu corpo

Notas musicais, perversos amores e sabres
no meu ĺndico, lúdico, olhar ficcionado
luz branca do meu inconsciente, textual enigma

Eu entro na sepultura como o desejado
príncipe, vulnerável aquele fugaz instante
em que seu corpo morto desperta em sobressalto


A SOMBRA DA VIAGEM

Como distinguir se o que ressuscitas
em mim, é a carne ou o sonho, língua ou luz,
se tudo em ti é determinação, e sangue,
se em mim o que perdura ainda é o teu grito?

No perdido paraíso de breves desmaios, sombras
em que o essencial e o supérfluo se diluem,
desgarrado serei o desvendar das imagens, fogo
como tu por mim serás, do mar, as vibrações

Alma com a força das vagas, delírio dos impulsos,
sóis de cólera e da contenção dos absurdos,
que se abrigam na paixão, como a luz nas grutas,

gritos que só o silêncio capta, como o sonho
sabe refazer a paisagem que o teu olhar exige
ou o contrário talvez mais trágica que o real



A FORTALEZA E O MAR

O tempo quadrado invade
o canonizado lugar e o Amor
deixa-se viver, Eros, talvez mar
desta reflexiva via, meditação.

O tempo e o lugar resistem
como o fruto e a flor. E teu olhar
sobre as coisas vigilante se nutre
de estrelas, de areia, sobressaltos.

Os mesmos fantasmas se cruzam
pela praia, nos paradoxos repetidos
entre a cobiça e o cego desejo.


ENTRE AS AREIAS E O MAR


Entre as areias e o mar viaja
o teu olhar. O teu corpo respira
com os sinuosos traços das vagas
e as sensações e a doçura e a ira

São a própria luz feita desejo.
O meu ópio será os teus anseios
e as palpitações de teus lábios
os gritos das gaivotas e os teus,

na fusão lúdica do sémen e dos rios.
Na confrontação devorado é o desejo
e enquanto a paixão parte, voa
o espírito em busca de outros sóis.


Lemos, Virgílio de – JOGOS DE PRAZER, Virgilio de lemos & Heterónimos: Bruno dos Reis, Duarte Galvão e Lee-Li Yang, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2009


Nenhum comentário:

Postar um comentário