Tenho lido ultimamente, alguma coisa sobre o Movimento Simbolista. O precursor do movimento simbolista, em França, foi o poeta francês Charles Baudelaire com "As Flores do Mal", (1857), aqui já inserido. Mas só em 1881 a nova manifestação é rotulada, com o nome decadentismo, substituído por Simbolismo em manifesto publicado em 1886. Espalhando-se pela Europa, é na França, porém, que tem seus expoentes, como Paul Verlaine, Arthur Rimbaud e Stéphane Mallarmé (referi a poesia de uns, vou referir a de outros).
Os nomes de maior destaque no Simbolismo português são: Camilo
Pessanha, António Nobre, e Eugénio de Castro.
CLEPSIDRA
Murmúrio de água na clepsidra gotejante,
Lentas gotas de som no relógio da torre,
Fio de areia na ampulheta vigilante,
Leve sombra azulando a pedra do quadrante,
Assim se escoa a hora, assim se vive e morre…
Homem que fazes tu? Para quê tanta lida,
Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta ameaça?
Procuremos somente a Beleza, que a vida
É um punhado infantil de areia ressequida,
Um som de água ou de bronze e uma sombra que passa…
in Rosa do Mundo, 2001 Poemas para o Futuro, Assírio & Alvim
Eugénio de Castro (n. em Coimbra a 4 Março de 1869; m. em Coimbra, a 17 de Agosto de 1944)
A LAÍS
À ciprina Laís, de quem sou tributário.
A Laís que possui compridas tranças pretas,
P’lo meu escravo mandei, no seu aniversário,
Um cacho moscatel num cabaz de violetas.
Os amantes, que dão às suas namoradas
Fulgurantes anéis de riqueza estupenda,
Luminosos rocais e redes consteladas,
Hão-de sorrir, bem sei da minha humilde of’renda.
Pensei em dar-lhe, é certo, um precioso colar
E um anel com mais luz do que o incêndio de Tróia,
Mas reconsiderei de pronto, ao atentar
Que ainda ninguém viu dar jóias a uma jóia…
in 366 poemas de amor, antologia organizada por Vasco da Graça Moura,Quetzal Editores
TUA FRIEZA AUMENTA O MEU DESEJO
Tua frieza aumenta o meu desejo
Fecho os olhos para te esquecer
e, quanto mais procuro não te ver,
quanto mais fecho os olhos, mais te vejo.
Humildemente atrás de ti rastejo,
humildemente, sem te convencer,
enquanto sinto para mim crescer
dos teus desdéns o frígido cortejo.
Sei que jamais hei-de possuir-te. Sei
que outro, feliz, ditoso como um rei,
enlaçará teu virgem corpo em flor.
O meu amor, no entanto, não se cansa:
amam metade os que amam com esp’rança,
amar sem esp’rança é o verdadeiro amor
PRESSÁGIOS
Quando eu nasci, tocava o fogo
Na minha freguesia,
E um meu vizinho, que perdera ao jogo,
Golpeava as veias, quando eu nascia.
Chegando ao mundo, comigo vinha
Uma irmãzinha,
Pó que, mudado em flor, voltou logo a ser pó…
E eu comecei, chegando ao mundo, a ver-me só…
A linda gémea, que Deus me dera,
Logo morria, mal nascera,
Morria logo…Na freguesia, tocava a fogo…
Com tais avisos, com tais presságios,
Breve me afiz a padecer, sem protestar,
Ódios, tormentos, decepções, lutos, naufrágios,
Os idos, os de agora e os mais que hão-de chegar.
Eugénio de Castro (1869-1944)(in «Antologia», Introdução, Selecção e bibliografia deAlbano Martins, Imprensa – Nacional Casa da Moeda,Lisboa, 1987)
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