
Viveu alguns anos em Braga e em 1950 foi com a família para Moçambique onde se radicou. Em Moçambique formou-se em jornalismo, leccionou em várias escolas, e contraiu matrimónio com uma nativa.
Publicou, em 1965, Poesias, inspirado na sua própria biografia. Um dos seus primeiros poemas foi Eu, a canção. Os seus três livros colocaram-no numa posição cimeira no ambiente cultural.


Faleceu com 60 anos, atropelado numa rodovia. Deixou um bilhete dirigido ao irmão: «Se um dia encontrarem o teu irmão Dinis, o espólio será fácil de verificar: dois sapatos, a roupa do corpo e alguns papéis que a polícia não entenderá».

Há poetas com musa. Muitos.
Eu, neste jardim do Éden,
a cargo do município,
onde um velho destece a sua vida
e, baixando o olhar,
ainda lhe afaga a trama,
quando a poesia se afoita,
amuo
na agrura de, ao acordar,
tê-la sonhado.
ninguém, meu amor
ninguém como nós conhece o sol
Podem utilizá-lo nos espelhos
apagar com ele
os barcos de papel dos nossos lagos
podem obrigá-lo a parar
à entrada das casas mais baixas
podem ainda fazer
com que a noite gravite
hoje do mesmo lado
Mas ninguém meu amor
ninguém como nós conhece o sol
Até que o sol degole
o horizonte em que um a um
nos deitam
vendando-nos os olhos
ninguém como nós conhece o sol
Podem utilizá-lo nos espelhos
apagar com ele
os barcos de papel dos nossos lagos
podem obrigá-lo a parar
à entrada das casas mais baixas
podem ainda fazer
com que a noite gravite
hoje do mesmo lado
Mas ninguém meu amor
ninguém como nós conhece o sol
Até que o sol degole
o horizonte em que um a um
nos deitam
vendando-nos os olhos
um anjo erra (o amor confuso)
Um anjo erra
nos teus olhos diurnos
humedecido do véu
(ao fundo, a íris entardece)
seguiu de cor a revoada das pombas
místico
um arroubo ascende a prumo
do plano em que me fitas
cisnes desaguam
do teu olhar em fio
e vogam ao redor, pelo estuário da sala
ao sol-poente
os vitrais das janelas
ardem na catedral assim erguida
colocamos um sonho
em cada nicho
e no círculo formado pelas nossas bocas
subentende-se com verve
a língua.
certo de que voltas, canção (o amor confuso)
Certo de que voltas, canção,
a incerta hora,
espero como quem mora
só, a visitação.
Sei, por sinais e anjos e desviados,
que rebentas dos sonhos desolados
em flores no chão.
Apenas flores, nem nimbos na lapela.
Flores para a mesa,
com o odor da certeza
de água, vinho e pão.
Apenas flores e tu,
ó meu amor sem nome,
e a nossa dupla fome
dum menino nu.
Certo de que voltas, canção,
a incerta hora,
espero como quem mora
só, a visitação.
Sei, por sinais e anjos e desviados,
que rebentas dos sonhos desolados
em flores no chão.
Apenas flores, nem nimbos na lapela.
Flores para a mesa,
com o odor da certeza
de água, vinho e pão.
Apenas flores e tu,
ó meu amor sem nome,
e a nossa dupla fome
dum menino nu.
a um filho morto
Ontem a comoção foi da espessura dum susto
duma árvore correndo
vertiginosamente para dentro do desastre
E já não choramos. Passamos
sem que o mais acurado apelo
nos decida
Nas camisas
teu monograma desanlaça-se.
Tua mão vê-o nos céus nocturnos
sabe que há uma ígnea
chave algures
Minha tristeza não tem expressão visível
como quando a chuva cessa
sobre a dádiva fugaz do nosso sangue
que hoje embebe a terra
É tal a ordem em nós
que um odor a bafio sai de nossas bocas
e uma teia de aranha interrompe o olhar
que te envolveu em vão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário