O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

sexta-feira, 8 de julho de 2011

«COMO DESENHAR UM CÍRCULO PERFEITO»

Do realizador Marco Martins, vi o seu primeiro filme «ALICE» (2005) que teve bastante sucesso, mantendo um suspense constante, apesar da história ser «magra»! «Alice» é de facto um filme inesquecível, onde se destaca a soberba interpretação de Nuno Lopes, a banda sonora de Bernardo Sassetti e a direcção de fotografia de Carlos Lopes.

Tive oportunidade agora de ver o seu segundo filme «Como Desenhar Um Circulo Perfeito». Filme que aborda a ruptura dos conceitos família/relação. História limite, história no limite. Como diz Marco Martins:«Quando estava a escrever o argumento, descobri no YouTube que havia um campeonato mundial de desenho de círculos perfeitos e pareceu-me que seria uma metáfora perfeita e muito forte para a personagem do Guilherme e para sugerir que eles estão presos dentro de um desses círculos.»

Sinopse: Numa velha e decrépita mansão, os gémeos Guilherme e Sofia cresceram a partilhar experiências e, aos poucos, vão descobrindo a sua sexualidade. Existe uma avó excêntrica, fanática pelo poker, uma mãe pouco presente e um pai ausente… Guilherme, incapaz de lidar com o amor não correspondido da sua irmã e das relações que ela mantém com outros rapazes, acaba por fugir de casa. Refugia-se em casa do pai, que vive isolado, imerso num mundo quase autista. Guilherme descobre então que a vida não cabe num círculo perfeito e volta para casa. Quando os gémeos se reencontram, surge finalmente o amor. De forma íntima e silenciosa, o filme oferece o prazer da exploração dos limites, criando um universo fechado e claustrofóbico, inocente e contagiante na simplicidade das suas emoções.

Há obsessões que não largam Marco Martins, que não descansou enquanto não aprendeu a desenhar círculos perfeitos, da mesma forma que não descansa das histórias tristes, que chegam ao ecrã ainda mais tristes. Desta vez, escreveu a meias com Gonçalo M. Tavares e realizou uma história de gémeos, incestos e círculos perfeitos. Outra vez soturna, melancólica, claustrofóbica.

Para MM, o cinema é uma conversa que vai continuando, assim voltou a convidar os actores Beatriz Batarda e Gonçalo Waddington e dois jovens actores, para cenas intensas e delicadas.

Para o realizador as cenas de sexo raramente acrescentam alguma coisa, têm um carácter voyeurista, acessório, previsível. Regra geral, são banais, por isso quis uma cena mais interior. Aqui era a primeira vez que eles tinham uma relação sexual... uma relação sexual entre dois irmãos. Era algo extremamente perturbador. Não queria que fosse uma cena vulgar, mas queria explorá-la, porque é raro ter-se a oportunidade de fazer uma cena assim. Precisou de os contextualizar e mostrou-lhe filmes, como: Bresson, Gus Van Sant, o "Les Enfants Terribles".

EM ENTREVISTA:

Tem uma obsessão por histórias tristes?

Confesso que sou obcecado por personagens obsessivas. Opto sempre por filmar no Inverno, o que torna os filmes mais escuros. O lado radioso de Lisboa lembra sempre os clichés - os bairros típicos, as sete colinas, as imagens dos postais - e esse lado não me apetece filmar. Tenho um lado lunar muito vincado, que é também onde me sinto melhor a criar.

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