Na época, Rodin ainda não era famoso, mas já iniciara a experimentação conceitual e estilística que viria a caracterizar a sua forma inusual de esculpir. Por isso, era odiado pelos críticos e amado pela vanguarda de Paris, ou seja, os impressionistas. Algumas semanas depois, Boucher viajou para Itália e pediu para Rodin assumir as suas aulas particulares. Assim, Camille aproximou-se de Rodin e este passou a frequentar o local e, passados dois anos, chamou Camille para trabalhar com ele. O convite coincidiu com um momento particularmente importante na carreira de Rodin. Ele acabara de receber uma encomenda do governo francês para fazer, Les Portes de l'Enfer e Les Bourgeois de Calais obras de grande porte que precisavam de ajudantes para serem feitas. Camille era uma artesã habilidosa e por isso ficou incumbida de fazer os pés e as mãos das estátuas.Desta época datam as primeiras obras conhecidas de Camille: La Vieille Hélène e Paul à treize ans.Não se sabe quando a convivência entre o mestre e a aluna se tornou um caso de amor, mas as cartas que trocavam em 1886 são reveladoras da paixão e do ciúme que Camille, desde o início, logo sentiu. Camille tinha 19 anos, Rodin era mais velho 24 anos. Rodin nessa época, já vivia com Rose Beuret, de quem tinha um filho, além disso, ostentava a fama de mulherengo. Mas Camille estava apaixonada e, em 1888, deixou a casa dos pais e passou a viver numa casa alugada por Rodin, que eles chamaram de “retiro pagão”. Passaram a frequentar lugares públicos, tornando-se amantes assumidos. O que era um escândalo para a época.Com o tempo Camille passou a ficar só, vivendo à espera de Rodin. O relacionamento começou a deixá-la deprimida, ela queria que Rodin se casasse com ela. Mas ele nunca chegou a deixar Rose (casaram em 1917). Jurava amor a Camille, mas dizia que não podia abandonar a mulher que havia estado ao seu lado nos momentos difíceis. Em 1892, Camille sofreu um aborto. Não se sabe se foi natural, mas ela abandonou o “retiro pagão” e afastou-se de Rodin. Para recuperar o tempo perdido, concentrou-se no trabalho. Foi a sua fase mais produtiva. Camille estudou a arte japonesa e dessa influência surgiram algumas das suas mais belas obras, como As Bisbilhoteiras e A Onda.Apesar das críticas favoráveis, a sua arte não era apreciada pelo grande público, pelo preconceito de ser mulher e porque diziam que ela copiava Rodin. Rodin e Camille continuaram a encontrar-se até 1898, quando romperam definitivamente. A sua obra, L’Age Mûr, marca essa ruptura .
Camille tentou um distanciamento, percebendo-se muito claramente essa tentativa de autonomia na sua obra (1880-94), tanto na escolha dos temas como no tratamento: La Valse ou La Petite Châtelaine. Camille viveu uma efémera fama, expondo em salões e participando de tertúlias em casa de Mallarmé e de Jules Renard, admiradores do seu trabalho.Ferida e desorientada, Camille Claudel nutriu então por Rodin um amor-ódio que a levou à paranóia. Instalou-se no número 19 do Quai Bourbon e continuou a sua busca artística em grande solidão apesar do apoio de críticos como Octave Mirbeau, Mathias Morhardt, Louis Vauxcelles e do fundidor Eugène Blot. Este último organizou duas grandes exposições. As suas exposições tiveram um grande sucesso da crítica, mas Camille já estava bastante doente, para se reconfortar com os elogios.Depois de 1905, os períodos paranóicos de Camille multiplicaram-se e acentuaram-se. Ela tinha delírios, em que via Rodin apoderando-se das suas obras para moldá-las e expô-las como suas, com o conluio do inspector do Ministério das Belas-Artes, e que desconhecidos queriam entrar na sua casa para lhe furtar as obras. Camille fica num grande abatimento físico e psicológico, não se alimentando e desconfiando de todos.A partir de 1906, destruíu grande parte da sua produção, numa espécie de exorcismo, como forma de livrar-se daquilo que ainda a vinculava ao homem amado e com a obsessiva dor do abandono. Rodin tentou em vão vê-la, transformando-se num inimigo perseguidor, dentro do delírio paranóico de Camille.Camille passou então a viver trancada no seu estúdio, cercada pelos seus gatos e com sérios problemas financeiros. Usava roupas e sapatos velhos, não comia e começou a beber. Depois de A Idade Madura, considerada a sua obra mais autobiográfica, ter sido recusada pela Exposição Universal de 1900, Camille, com 36 anos, passou a considerar que havia um complot de Rodin contra ela. Mas, apesar das suspeitas, ele continuou a intervir, assegurando-lhe novas encomendas. Camille fugia de todos, preferia viver sozinha, no silêncio e na escuridão. A sua última escultura data de 1906. Depois desse ano, destruiu toda s sua produção. A partir daí, as suas angústias tornaram-se ideias fixas e instalou-se a psicose.O seu irmão estava longe, em missão diplomática na China. O seu pai estava velho e doente. Ela não tinha mais ninguém, nem dinheiro, nem saúde, nem inspiração. Restava-lhe o abandono e o medo.O seu pai, morreu em 1913.Poucos dias depois, por ordem da mãe e do irmão, foi internada à força num asilo de loucos em Ville-Evrard e, um ano depois, com a eclosão da Primeira Guerra Mundial foi transferida para o hospital psiquiátrico de Montdevergues, onde morreu em 1943, após trinta anos de internamento. A mãe nunca a foi visitar e rejeitou a sugestão do conselho dos médicos para levá-la para casa. O seu irmão, Paul Claudel, além de próspero, fortaleceu-se politicamente, ao tornar-se embaixador da França. Não obstante, negou-se, em 1933, a pagar-lhe uma pensão hospitalar. Nos 30 anos de internamento, Paul visitou-a poucas vezes e nada fez para amenizar o sofrimento de Camille, apesar das cartas suplicantes que esta lhe enviou, narrando as condições sobre-humanas em que vivia.Rodin, enviou-lhe algum dinheiro, expôs algumas das esculturas de Camille que sobreviveram à destruição, mas nada fez para libertá-la do hospital. De qualquer maneira, qualquer iniciativa da sua parte, seria obstada pela mãe de Camille, que o considerava culpado pela ruína e loucura de sua filha.______________________________
A força e a grandiosidade do seu talento estavam na verdade num lugar muito incómodo: entre a figura lendária de Rodin e a de seu irmão que se tornou um dos maiores expoentes da literatura da sua geração. E não é difícil ver que as questões de género permeiam esse lugar menor dedicado a Camille.O seu génio foi sufocado por dois gigantes, a sua vida sufocada pelo abandono, as suas forças e a sua lucidez esgotadas por uma relação com o seu mestre e amante. Uma relação da qual não conseguiu desvincular-se, consumindo a sua vitalidade na vã tentativa de desembaraçar-se desse destino perverso. A sua forte personalidade, a sua intransigência, o seu génio criativo que ultrapassou a compreensão da sua época, permanecerá ainda e sempre um mistério.A sobrinha-neta de Camille, Reine-Marie Paris, autora de uma tese sobre a vida da artista (Camille Claudel, de 1984), conta que brincava com as suas esculturas guardadas na casa do avô, Paul, irmão de Camille. “Até pouco tempo atrás, a família tinha vergonha da escultora e o nome de Camille nem sequer era pronunciado”, disse.
LIVROS
Camille Claudel: Criação e Loucura, Liliana Liviano Wahba, 1998
Camille Claudel, uma Mulher, Anne Delbée, 1988
Rodin, Monique Laurent, 1988
FILME
Camille Claudel - Bruno Nuytten, 1989. Baseado na biografia escrita por Raine-Marie, sobrinha-neta de Camille, o filme foi o responsável pelo “renascimento” das obras da escultora.
SITE
www.camille-claudel.org, Mantido por Reine-Marie, informa sobre exposições e refere os museus onde estão as suas obras.
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