O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

CRISTOVAM PAVIA (1933-1968)



Nome: Francisco António Lahmeyer Flores Bugalho
Pseudónimo: Cristovam Pavia
Nascimento: 7-10-1933, Lisboa
Morte: 13-10-1968, Lisboa



Cristovam Pavia, foi reeditado, motivo que me levou aos meus livros, para reler a sua poesia.



«A poesia de Cristovam Pavia é a de revelação de si próprio, duma personalidade em conflito com o mundo em que vive e que procura uma fuga pela recuperação da infância morta, pela aceitação do seu conhecer-se diferente e despojado do que lhe é mais caro (a infância, o amor, o espaço e o tempo em que ambos se situavam), a transformação do seu próprio ser pelo sofrimento, num movimento de ascese e de autodestruição, quando o poeta atinge a consciência de si próprio e da sua voz».
José BentoCírculo de Poesia, Moraes Editores, Lisboa, 1982





POEMA VESPERAL
.
Dizem que não tenho idade para estar cansado.
Digo que não tenho idade para estar cansado.
Mas eu estou irremediavelmente cansado…
Não sei se conheço ou não a vida
Toda gente diz que não, que é impossível…)
Contudo, estou cansado.
.
Representei
E cansei-me; e desatei a gritar tudo…toda a verdade.
.
Febrilmente gritei; rasguei máscaras, cuspi más caras…
Agora até disso estou cansado
E nem leio o meu Baudelaire…o Príncipe de todos.
.
Experimentei «tomar alegria»,
Ouvir danças bárbaras,
Ver danças bárbaras,
Grandes contorsões modernas,
Sabiam falso…
.
Mais tarde descobri morto aquele-menino-que-fui.
Chorei…tive saudades…ali, puro menino saudável…
_Cansei saudades e lágrimas também…

Estou muito cansado.
.
Só interessa ir para a cama
E dormir…
.
Dormir bem…
.
MELANCOLIA.
Quando eu estiver convalescente
Daquela doença tão sonhada,
E tão magoada e tão minha;
_virás na luz violeta da tarde…
E em silêncio,
Naquela hora indecisa,
Pousarás como uma brisa
Sobre meus olhos cerrados…

Nenhum comentário:

Postar um comentário