JEAN-PAUL SARTRE
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
O VELHO E O MAR - HEMINGWAY
Ernest Hemingway, escreveu grandes obras, como ADEUS ÀS ARMAS, POR QUEM OS SINOS DOBRAM, FIESTA…que fazem parte da lista dos melhores livros de sempre, mas escreveu um romance, que foi a sua última obra de ficção, de que gosto especialmente, refiro-me a, O VELHO E O MAR, escrita em Cuba em 1951 e publicada no ano seguinte. Este livro recebeu o Prémio Pulitzer e em 1954 Hemingway obteve o Prémio Nobel. Numa prosa poética, Hemingway retrata, uma vez mais, a capacidade do homem de fazer face e superar com sucesso os dramas e as dificuldades da vida real, é uma suas obras mais comoventes.
(...) este pequeno romance, é um breve poema em prosa, uma epopeia de simples trama, singelamente narrada. Mas é, por outro lado, muito mais do que isso: um breviário nobilíssimo da dignidade humana, escrito com a mais requintada das artes. Poucas vezes, no nosso tempo, terá sido concebida e realizada uma obra tão pura, em que a natureza e a humanidade sejam, frente a frente, tão verdadeiras.
Jorge de Sena, Prólogo da Edição de 1956.
O VELHO E O MAR
Narra a aventura de um pobre e velho pescador, Santiago, que anseia por pescar «um dos grandes». Vai para o mar e no 85º dia, acaba por pescar um grande espadarte e esse facto vai proporcionar uma longa e empolgante história, cheia de perigos e imprevistos. O pescador tem de usar de toda a sua astúcia e grande persistência. O peixe com a sua imensa força acaba por rebocar o barco, para o alto mar. O velho sofre com o intenso sol e com as feridas nas mãos e faz muitas reflexões, sobre a dignidade dos homens e dos animais. Depois de alguns dias consegue matar o peixe. O «clímax» desta obra é a sua luta contra os tubarões, defendendo o peixe que pescou, mas quando consegue chegar à praia, do peixe só resta o esqueleto, toda a sua carne foi comida pelos tubarões. Uma obra que provoca muita reflexão sobre a condição do homem, as suas dificuldades de subsistência, a necessidade de persistência, a força que o homem pode ter, para vencer as dificuldades, como Hemingway diz no livro: «Um homem pode ser destruído, mas não derrotado».
sábado, 29 de janeiro de 2011
POEMAS DE PEDRO MEXIA
Atravesso as pontes mas
Pó
Nas estantes os livros ficam
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
CHRISTINE DE PIZAN (1365-c. 1434) – A PRIMEIRA FEMINISTA?
Simone de Beauvoir escreveu em 1949, que Épître au Dieu d'Amour , de Christine de Pizan, foi o primeiro livro em que uma mulher pegou na caneta em defesa do seu sexo.
Alguns estudiosos têm argumentado que ela deve ser encarada como uma das primeiras feministas, defendendo a importância do seu papel importante dentro da sociedade, assim como a reivindicação de uma educação similar para rapazes e raparigas. Outros estudiosos argumentam anacronismo no uso do termo ou que as suas ideias não eram progressistas o suficiente, para merecer tal designação.
Cristina de Pisano ( Christine de Pizan) poetisa e filósofa francesa, de origem italiana, nasceu em Veneza. O seu pai, Tommaso di Benvenuto Pisano, médico e astrólogo, era também conselheiro da República de Veneza e depois foi nomeado por Carlos V astrólogo, alquimista e físico da corte. Cristina foi educada num ambiente favorável ao desenvolvimento intelectual, aprendeu várias línguas, leu os redescobertos clássicos e os inúmeros manuscritos do arquivo real, dentro do espírito humanista do início do Renascimento.
Casou com 15 anos e teve três filhos, como cedo ficou viúva e cheia de dívidas contraídas pelo marido, decidiu dedicar-se à escrita. Escreveu as suas primeiras baladas, que despertaram interessa na corte e em alguns mecenas.
Christine de Pizan em 1401-1402, envolveu-se numa discussão literária, que lhe permitiu ir além dos círculos palacianos, granjeando o estatuto de escritora preocupada com a posição das mulheres na sociedade. A discussão ficou conhecida como: a «Querelle du Roman de la Rose». Christine instigou o debate, questionando os méritos literários de Jean de Meun, autor do «Romance da Rosa», um dos livros mais populares em França e na Europa no século XIII, mordaz às convenções do amor cortês, retratando as mulheres como nada mais que sedutoras. Christine, nos seus poemas Epistre au dieu d'Amours, critica os termos vulgares usados para descrever as mulheres e denegrir a função natural e própria da sexualidade feminina. O debate foi longo e a questão principal deixou de lado a crítica às capacidades literárias de Jean de Meun, para se concentrar nas difamações sobre as mulheres. A sua obstinação e coragem conquistaram a admiração e apoio de alguns dos grandes pensadores da época, como Jean de Gerson e Eustache Deschamps.
Christine teve uma profunda influência sobre a poesia do século XV, o seu sucesso deriva de uma escrita inovadora. Foi a primeira escritora na Europa.
A sua última obra, Ditié de Jeanne d'Arc, foi escrita no mosteiro de Poissy, para onde se retirou no fim da vida. Nela, celebra o aparecimento de uma líder militar feminina, Joana d'Arc. Além das suas qualidades literárias, este poema é importante para os historiadores, porque é o único registo de Joana d'Arc, juntamente com os documentos do seu julgamento. Desconhece-se a data exacta da morte de Christine de Pizan. Ao contrário do que se poderia supor, esta não ditou o seu esquecimento, mas aumentou o interesse pelos seus livros e ideias.
No livro, La Cité des Dames, Christine de Pizan cria uma cidade simbólica em que as mulheres são apreciadas e defendidas, baseando-se em três figuras alegóricas: Razão, Justiça e Rectidão, dialogando com as mesmas, exemplum e speculum, numa perspectiva feminina. Perguntas e respostas contra a misoginia predominante na época. Pela primeira vez a mulher aborda as questões que a afectam.
Em Trois vertus, Christine destaca o efeito persuasivo do discurso de mulheres e acções na vida quotidiana. Neste texto em particular, Christine alega que as mulheres devem reconhecer e promover a sua capacidade de intervir na esfera privada e social. Também afirma que o discurso de um caluniador corrói a honra e ameaça a união fraterna entre as mulheres. Christine, apresentou uma estratégia concreta que permitia a todas as mulheres, independentemente do seu estatuto, minar o discurso patriarcal dominante. Para o leitor, é uma obra que revela o que era a vida das mulheres em 1400, da grande dama do castelo até a esposa do comerciante, a serva, a camponesa, as viúvas e até mesmo as prostitutas.
http://xenophongroup.com/montjoie/pizan.htm
http://en.wikipedia.org/wiki/Christine_de_Pizan
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cristina_de_Pisano
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
BRAHMS E RIHM (CASA DA MÚSICA]
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JOHANNES BRAHMS (orq. De ARNOLD SCHÖNBERG)
QUARTETO COM PIANO Nº 1
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Para Schönberg, contrariamente ao que muitos diziam, Brahms não era um compositor conservador, com práticas retrógradas e adversário estético de Liszt, Wagner e Hugo Wolf.
Schönberg estudou desde muito cedo através da realização de arranjos e transcrições de obras de outros compositores e foi assim que orquestrou o quarteto de Brahms transformando-o numa sinfonia, com o seu humor dizia que era a «Quinta Sinfonia» de Brahms.
Apesar de algumas liberdades, a composição mantêm-se fiel ao texto original.
Nos últimos acordes desta extraordinária obra a potência sonora é tal que motiva a interrogação: será esta a peça que foi composta apenas para um piano, um violino, uma viola e um violoncelo?
WOLFGANG RIHM
CONCERTO DITHYRAMBE (1952) [Estreia nacional]
Uma peça interessante. Um quarteto toca no centro da orquestra como se estivesse numa jaula. O quarteto é como um animal furioso, a orquestra é como um contentor resistente e inabalável. Uma obra ferozmente ritmada. O quarteto de cordas toca notas muito rápidas, a orquestra fornece longas linhas melódicas, contrastando com a actividade frenética do quarteto de cordas.
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
ORFEU DA CONCEIÇÃO - ORFEU NEGRO
ORFEU NEGRO, foi realizado pelo francês, Marcel Camus e escrito por Camus, Vinicius e Jacques Viot e teve ainda a participação de Luis Bonfá. Ganhou a Palma de Ouro em Cannes, o Oscar e o Globo de Ouro em 1959, nos E.U.
Três anos antes a peça tinha estreado no teatro Municipal do Rio de Janeiro, com cenários de Oscar Niemeyer.
As datas de saída deste livro e da estreia, no Teatro Municipal desta cidade, de "Orfeu da Conceição" são propositadamente coincidentes. É uma espécie de festa que me deu, pois não me foi fácil escrever a peça, e muito menos encená-la. Há 16 anos, uma certa noite em casa do arquitecto Carlos Leão, depois de ler numa velha mitologia o mito grego de Orfeu, dava eu início aos versos do primeiro acto, que terminei com a madrugada raiando sobre quase toda a Guanabara, visível de minha janela. Só em Los Angeles, 6 anos depois, consegui encontrar o segundo e terceiro actos, sendo que este último perdi-o, só indo refazê-lo em 1953 quando, a instâncias de meu amigo o poeta João Cabral de Mello Neto, resolvi concorrer ao Concurso de Teatro do IV Centenário de São Paulo.
É difícil prever o destino de uma peça de teatro, sobretudo quando foi, como esta, ensaiada em três meses apenas, por contingências dos meus deveres de diplomata com data certa para regressar ao posto.
Três meses realmente heróicos, em que uma equipe de seis (o director Leo Jusi, o cenógrafo Oscar Niemeyer, o compositor António Carlos Jobim, a figurinista Lila de Moraes, a coreógrafa Lina de Luca e o pintor Carlos Scliar) criou condições para um elenco de 45 figuras, com 10 actores principais, pisar em cena, depois de um exaustivo trabalho em que há que salientar primeiro a coragem e lealdade dos actores e logo em seguida a capacidade de trabalho e o devotamento do director Leo Jusi. Mas a verdade é que deram todos, cada qual no seu sector, o máximo. São amigos meus me merecem tudo - e eu lhes sou devotadamente grato.
Dentro de uma semana, às 9 da noite, no Teatro Municipal, cessarão todas as nossas agonias. Depois da "ouverture" para grande orquestra, escrita por António Carlos Jobim especialmente para a peça, o pano se abrirá sobre cenário de Oscar Niemeyer: dois amigos muito queridos; duas obras que vivem a partir daqui perfeitamente integradas com a minha peça. Luiz Bonfá estará executando, da orquestra, o violão de Orfeu da Conceição, interpretado por Haroldo Costa: outros dois amigos a quem aprendi a querer muito. Os actores portarão os figurinos feitos por uma estreante em teatro como eu, como Oscar Niemeyer, como António Carlos Jobim: minha mulher Lila Moraes. E as gentis dançarinas dançarão os bailes que lhe foram marcados por uma outra estreante como coreógrafa de teatro: minha amiga Lina de Luca. E em tudo haverá uma cor, um desenho, um toque de Carlos Scliar: cuja amizade vem de longe.
Escravo de meus amigos, de quem tudo recebo e a quem tudo dou, agora pergunto eu: que maior alegria?
E uma última palavra: esta peça é uma homenagem ao negro brasileiro, a quem, de resto, a devo; e não apenas pela sua contribuição tão orgânica à cultura deste país, - melhor, pelo seu apaixonante estilo de viver que me permitiu, sem esforço, num simples relampejar do pensamento, sentir no divino músico da Trácia a natureza de um dos divinos músicos do morro carioca.
Rio, 19-9-1956. __ V. de M.
Monólogo de Orfeu
Este é um dos trechos mais bonitos do primeiro acto da peça, em que Orfeu sobressalta-se quando Eurídice lhe diz "Até, neguinho. Volto num instante".Orfeu tem um mau presságio, e pede à amada que não o deixe. Eurídice responde: "Meu neguinho, que bobagem! E' um instantinho só. Volto com a aragem..."
Orfeu:
Ai, que agonia que você me deu
Eurídice:Morta eu estou.Morta de amor, eu estou; morta e enterrada
Orfeu (sorrindo):Namorada!
quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
CITAÇÃO
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
POESIA - FIAMA HASSA PAIS BRANDÃO
O que nos chama para dentro de nós mesmos
é uma vaga de luz, um pavio, uma sombra incerta.
Qualquer coisa que nos muda a escala do olhar
e nos torna piedosos, como quem já tem fé.
Nós que tivemos a vagarosa alegria repartida
pelo movimento, pela forma, pelo nome,
voltamos ao zero irradiante, ao ver
o que foi grande, o que foi pequeno, aliás
o que não tem tamanho, mas está agora
engrandecido dentro do novo olhar.
Para Maria de Lourdes Pintasilgo
em breve homenagem
Fiama Hasse Pais Brandão
As Fábulas
edições quasi
Epístola para os meus medos
Sois: os sons roucos, a espera vã, uma perdida imagem.
O coração suspende o seu hálito e os lábios tremem
sinto-vos, vindes ao rés da terra, como ventos baixos,
poisais no peitoril. Sois muito antigos e jovens,
da infância em que por vós chorava encostada a um rosto.
Que saudade eu tenho, ó escuridão no poço,
ó rastejar de víboras nos caniços, ó vespa
que, como eu, degustaste o figo úbere.
Depois, mundo maior foi a presença e a ausência,
a alegria e as dores de outros que não eu.
E um dia, no alto da catedral de Gaudí,
chorei de horror da Queda, como os caídos anjos.
Fiama Hassa Pais Brandão
Epístolas e Memorandos,
Relógio d'Água
1996
Sótão
Por interstícios das malas abertas de quando éramos
crianças gritam as bocas sem nenhum eco
das bonecas. Criaturas fictícias, escalpelizadas
e sem tintas, de ventre oco. Mas o mortal
lugar do coração está ainda a palpitar.
O bojo do peito de celulóide, como o meu,
pede-nos perdão pela saudade que nos devora.
28/4/92
Fiama Hassa Pais Brandão
Cena Vivas
Relógio d´Água
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
POLÍTICA DE INTERESSE - EÇA DE QUEIROZ
domingo, 16 de janeiro de 2011
CASA DA MÚSICA - SINFONIA Nº2 «ROMÂNTICA» DE HOWARD HANSON
A Sinfonia nº2 «Romântica», dirigida pelo maestro Gerard Schwarz, foi para mim uma agradável surpresa.
sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
«PASSEANDO» PELO «O BANQUETE» DE PLATÃO!
O BANQUETE lança várias ideias e eu considero que o tema do amor não é estanque, nem definitivo, com a possibilidade sempre aberta de surgir mais uma voz a contestar ou a acrescentar. Não sou uma pessoa de certezas e até fico bastante perplexa com pessoas de certezas, vejo a vida no seu todo como algo fluído, um oceano intranquilo, avançando e recuando…
Diotima de Mantineia existiu não existiu? Uns dizem ter sido uma filósofa do amor muito influente, outros consideram que apenas existiu na mente de Sócrates. É nomeada no livro Banquete de Platão, um influente diálogo sobre o amor. O Banquete, acontece na casa de Agaton, poeta trágico ateniense. Diotima não estava presente, mas é referida por Sócrates, que disse que a encontrou em jovem e com ela aprendeu porque é que as pessoas amam, o que pretendem do amor e como o amor consegue perfurar as nuvens da ignorância e da ilusão humana, para proporcionar a iluminação. O amor transcende o que os olhos podem ver!
A palavra grega fundamental é Eros, da qual deriva o erotismo, mas os gregos pensavam que o desejo erótico era uma força que impregnava a vida sob todas as formas. Nota-se isso na obra de Homero, eros impelia o homem a tornar-se corajoso. Assim como quando uma mulher bela chora nos poemas de Safo, a causa do sofrimento é eros, por despertar nela o amor pela beleza impossível. Platão imaginava a amizade filosófica a cultivar uma tal joie de vivre que as almas gémeas podiam criar asas e erguer-se ao céu, inspiradas por eros. Eros era para os gregos, um intermediário entre deuses e homens.
No Banquete há vários intervenientes a discursar sobre o amor. Fedro, um jovem retórico, apresenta a versão homérica do amor, que encontra a sua expressão mais elevada nos actos de auto-sacrifício, dos que morreram na guerra dando a vida pelos outros. Pausânias, amante de Agaton, analisa de que modo o amor difere da concupiscência. Defende o amor permanente, de corpo e alma, a concupiscência é a gratificação sexual. Erixímaco, como médico, faz uma abordagem científica, o amor não exerce influência apenas na alma, mas dá ainda harmonia ao corpo. Defende a teoria do Universo, onde o amor une o mundo e o ódio o separa, sendo a vida ideal o equilíbrio físico e psicológico. O comediante, Aristófanes apresenta a ideia brilhante de que o amor representa a procura da metade perdida. Faz uma denúncia da insensibilidade dos homens para com o poder miraculoso de Eros. Para conhecer esse poder, é preciso antes conhecer a história da natureza humana e passa a narrar o mito da nossa unidade primitiva e posterior mutilação. Segundo Aristófanes, havia inicialmente três géneros de seres humanos, que eram duplos de si mesmos: o género masculino masculino, o feminino feminino e o masculino feminino, o qual era chamado de andrógino.
Assim, aqueles que foram um corte do andrógino, sejam homens ou mulheres, procuram o seu contrário. Isto explica o amor heterossexual. E aquelas que foram o corte do feminino ou do masculino, procurarão se unir ao seu igual. Aqui Platão apresenta uma explicação para o amor homossexual. Quando estas metades se encontram, sentem as mais extraordinárias sensações, intimidade e amor, a ponto de não quererem mais se separar, e sentem a vontade de se "fundirem" novamente num só. O amor para Aristófanes é portanto o desejo e a procura do todo perdido. Agaton ao contrário dos que o precederam canta o próprio deus e a sua essência.
Chega a vez de Sócrates que se refere a Diotima. Ela tinha-lhe dito que o amor podia ser mais que a compensação para o facto de o humano acarretar com a solidão, e mais que um ingrediente na amálgama que forma uma boa vida. O amor é ao mesmo tempo, poderoso e assustador. É o desejo que pode conduzir-nos às aspirações mais elevadas, ou mergulhar-nos nos medos mais profundos. Entregámo-nos aquilo que amamos, embora seja também o que mais tememos perder. Pode apurar o carácter, ou engolir-nos. Pode despertar um anseio pelo que é belo e bom, assim como impelir-nos para o que é carnal e corrupto. O amor pode colocar-nos numa senda virtuosa que, sobe em direcção a sugestões de transcendência, ou fazer-nos voar numa espiral viciosa em direcção à perda. No êxtase, pode fazer com que as pessoas saiam de si em direcção à vida em toda a sua plenitude. Como obsessão, pode virá-las contra si mesma e ser até causa de morte. Uma coisa é certa: a partir do momento em que vemos o poder do amor, a vida nunca mais parece igual.
Se o amor é tão extraordinário, como poderá ser domado, alimentado ou controlado? Diotima disse que era uma questão de sexo. Não exaltava a virgindade nem defendia o celibato, mas pensava que, no sexo, menos é provavelmente mais. O sexo não devia ser equiparado ao amor, porque os prazeres carnais não passam do eco dos deleites espirituais. O grande risco, no caso do sexo, é que é tão irresistível e cheio de promessas, que as pessoas ficam agarradas a ele. A sua energia devia ser sublimada na procura de um amor mais elevado, que tivesse menos a ver com posse e mais com contemplação.
Diotima era uma sacerdotisa e a sua visão de amor era religiosa. Este é de facto um amor, para mim complexo e inacreditável, que em todas as épocas muitos sentiram e continua a ser cultivado. O amor a algo transcendente, independentemente da religião em si e do que é amado. O «espírito religioso» de veneração a algo superior, que se pensa estar sempre presente, que tudo sabe, que pode intervir na vida de cada um, que um dia fará justiça…etc…etc…Que é afinal resultado da ignorância sobre o fundamental, que as explicações científicas não clarificam e que motiva uma frase muito recorrente desde sempre: DE ONDE VIMOS, O QUE SOMOS E PARA ONDE VAMOS!
A questão está em ter ou não ter fé! Como não tenho fé, «só sei que nada sei», como dizia Sócrates e não sei em que fase da sua vida a disse, se antes ou depois de conhecer Diotima!..
Platão coloca o seu apontamento crucial sobre o conceito de amor, onde o que se ama é somente aquilo que não se tem. E se alguém ama a si mesmo, ama o que não é. O objecto do amor sempre está ausente, mas sempre é solicitado. A verdade é algo que está sempre mais além: sempre que pensamos tê-la atingido, ela nos escapa entre os dedos e continua a inquietação da procura.
Segundo relatos do texto de Platão e de alguns de seus companheiros, o amor é um dos maiores bens do homem (junto com o inteligência e a sabedoria) e não é nem bom nem mau em si mesmo. O amor está relacionado com a verdade, amar não é somente exercer o poder sobre alguém ou demonstrar força, mas saber ser correspondido, ou seja, ser verdadeiro.
No meu ponto de vista, «falar» de amor é falar a priori do relacionamento espírito/carne entre duas pessoas! O sentimento afectivo tem graduações, inicialmente provoca o choque da paixão, o exacerbamento e depois pode continuar mais tranquilo ou quedar-se!
Pode ter como objectivo gerar filhos (ou não) e depois vem o amor dos pais pelos filhos e dos filhos pelos pais e o amor pela família! Manifesta-se também como uma energia da alma e do corpo para atingir certos fins, defender causas, ter ideais, ser criativo…pode mudar o mundo!
Chama-se também «amor» ao desejo de posse (a palavra amor está muito vulgarizada), como de qualquer outro bem material e transitório e pode ter outras motivações: vaidade, inveja, ambição, luxúria, satisfação do ego, como acontece quando o ego se sobrepõe a tudo e tudo é: «para usar e deitar fora»!
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
MARIA GABRIELA LLANSOL (1931-2008)
Maria Gabriela Llansol é provavelmente a mais inclassificável das escritoras portuguesas. Escreveu «nas margens da língua» e «fora da literatura», e viveu vinte anos no exílio da Bélgica, onde colheu inspiração para uma obra sem paralelo na literatura portuguesa.
O núcleo principal da sua obra inicia-se com duas triologias (Geografia de Rebeldes e O Litoral do Mundo) que ensaiam uma releitura da história intelectual e espiritual da Europa, com recurso à metamorfose ficcional de uma ampla galeria de figuras, das beguinas medievais a Camões, de Hölderlin a Nietzche ou de Bach a Fernando pessoa. Depois disso, envereda por uma «ordem figural do quotidiano» em cerca de vinte livros reveladores de uma escrita visionária e intensa de grande originalidade, que lhe valeu por duas vezes o Grande Prémio de Romance e Novela da APE, e que faz juz ao prognóstico de Eduardo Lourenço segundo o qual «Llansol será o próximo grande mito literário português, por paralelo com o Próprio Pessoa». Deixou um imenso espólio manuscrito de milhares de páginas inéditas, em curso de publicação (Assírio & Alvim).
(VAI SER HOMENAGEADA EM MARÇO NO CCB)
Muito pouco se encontra na Internet sobre a Gabriela Llansol, encontrei o site http://espacollansol.blogspot.com/, de onde transcrevi o que escrevi e que me suscitou muito interesse em conhecer a sua obra.
O texto é a única forma de identificar o sexo e a humanidade de alguém porque, ó poeta estranho, o sexo de alguém, é a sua narrativa. A sua, ou a que o texto conta, no seu lugar. Assim o sexo será como for o lugar do texto.
Quando se deseja alguém, como tu desejas Infausta,
sábado, 8 de janeiro de 2011
HOMENAGEM AO TEP
TEP - http://www.infopedia.pt/$teatro-experimental-do-porto
Foi fundada em 1950 e o seu primeiro director foi António Pedro, uma pessoa muito prestigiada, como pintor surrealista, poeta e teatrólogo.
Sobre António Pedro:
http://www.infopedia.pt/$antonio-pedro>.
Para aceitar o cargo teve a pressão de um grupo de intelectuais, do qual posso destacar por ser o mais conhecido fora do país, o poeta Eugénio de Andrade.
O Teatro Experimental do Porto, dura até hoje, com muitas vicissitudes vividas, sendo a maior a censura que sofreu devido ao regime salazarista, que no entanto, nunca a impediu de apresentar o teatro mais ousado e moderno, apesar dos cortes a lápis azul, das visitas da Pide (Polícia de Intervenção Política), da apreensão de cartazes, sendo o caso mais escandaloso, o cartaz referente à peça «A Casa De Bernarda Alba» de Federico Garcia Lorca, que embora arrancado das paredes, sempre aparecia nas ruas! O problema estava em ser colocado o sagrada coração de Jesus no sítio do sexo de uma mulher:
Isto motivou uma grande polémica, inclusive eram realizadas missas de perdão pela prevaricação!!!
O TEP começou por fazer representações em sítios diversos, até conseguir ter a sua própria sala, o chamado Teatro de Bolso, que tinha uma pequena plateia e um pequeno balcão, era de facto um espaço muito pequeno, que acabava por aconchegar as pessoas que o frequentavam tornando-as amigas, todas acabavam por ter o mesmo objectivo fugir da cultura castradora do regime e poder ver coisas diferentes! O convívio estendia-se também a actores, encenadores, técnicos, o que permitia sentir/ver o teatro por dentro, em cada dia de estreia, mesmo como espectadora não deixava de sentir um nó na garganta e desejar «merda»!
Eu só comecei a frequentar o TEP, precisamente nesse lugar especial chamado Teatro de Bolso, era então uma adolescente apaixonada por todas as formas culturais à margem, que existiam na cidade, foi lá que fui apresentada a diversos dramaturgos, tanto clássicos como modernos, dos quais posso destacar: Shakespeare, Ibsen, Wilde, Miller, Ionesco, Pirandello, Garcia Lorca, Brechet, Samuel Beckett, Karl Valentin, Thomas Bernhard, Heiner Müller, Jean-Paul Sartre, Harold Pinter, Jean Cocteau, Luis de Sttau Monteiro, Alexandre O'Neill, Bernardo Santareno, Eugene O'Neill, Alfonso Sastre, August Strindberg, Gil Vicente, Molière, Raul Brandão, Nicolau Gogol…
O TEP foi de facto uma escola de teatro para mim e teatro é a vida, como diziam os gregos é a mimesis da vida.
quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
POEMAS - FERREIRA GULLAR
terça-feira, 4 de janeiro de 2011
domingo, 2 de janeiro de 2011
MAESTRO IVO CRUZ (1935-2010)
Embora já tardiamente, não posso deixar de fazer aqui a minha homenagem ao maestro Manuel Ivo Cruz, meu professor de História da Música e uma pessoa de uma simpatia extraordinária para todos. Morreu no dia 24 de Dezembro, vítima de uma septicemia.·
Compositor, musicólogo e historiador, Ivo Cruz foi director musical e chefe da Orquestra Filarmónica de Lisboa, maestro do teatro nacional de São Carlos e presidente do Círculo Portuense de Ópera, no Porto.
Nascido em Lisboa, em 1935, Manuel Ivo Soares Cardoso Cruz - filho do maestro Ivo Cruz (1901-1985) - formou-se em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Deu o primeiro concerto, ainda como estudante, em 1954, foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, e formou-se com distinção, como maestro, pela Academia de Mozart da Universidade de Salzburgo, na Áustria.
Regressou a Lisboa e tornou-se director musical e chefe da Orquestra Filarmónica de Lisboa. Dirigiu programas de música da RTP, colaborou nas temporadas de ópera do Teatro da Trindade, em Lisboa, e nos concertos das orquestras sinfónicas da RDP. Foi maestro-director do Teatro Nacional de São Carlos, fundou e dirigiu os Cursos Internacionais da Costa do Estoril, e foi maestro convidado em diversos concertos e óperas em Espanha, Alemanha, França, Grécia, Itália, Brasil, Estados Unidos da América, Rússia e Venezuela.
Foi presidente e director artístico do Círculo Portuense de Ópera, no Porto, e da Ópera de Câmara do Real Teatro de Queluz.
Procurou divulgar obras musicais portuguesas menos conhecidas, fazendo, para isso, investigação na área da musicologia histórica portuguesa e apresentando um vasto reportório documentado, publicado pela EMI, Numérica e Tecla, segundo os dados biográficos da Infopédia.
Manuel Ivo Cruz recebeu, em 1969, o Prémio Moreira e Sá do Orfeão Portuense e foi distinguido em França com o título de Oficial de Mérito Cultural e Artístico, e no Brasil com a Ordem do Rio Branco. Foi ainda agraciado com a condecoração portuguesa de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique e, em 2004, nas comemorações do 50º aniversário da carreira artística, com a Medalha Municipal de Mérito, grau ouro, entregue pela Câmara Municipal do Porto.
sábado, 1 de janeiro de 2011
BILLY TAYLOR - «I WISH I KNEW HOW IT WOULD FEEL TO BE FREE»
Morreu Billy Taylor, autor desta música que foi adoptada nos anos 60 como um hino não oficial do movimento dos direitos civis nos Estados Unidos.