O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

sábado, 29 de janeiro de 2011

POEMAS DE PEDRO MEXIA


Duplo Império
.
Atravesso as pontes mas
(o que é incompreensível)
não atravesso os rios,
preso como uma seta
nos efeitos precários da vontade.
Apenas tenho esta contemplação
das copas das árvores
e dos seus prenúncios celestes,
mas não chego a desfazer
as flores brancas e amarelas
que se desprendem.
As estações não se conhecem,
como lhes fora ordenado,
mas tecem o duplo império
do amor e da obscuridade.
.
Pedro Mexia, in "Duplo Império"

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Nas estantes os livros ficam
(até se dispersarem ou desfazerem)
enquanto tudo passa.
O pó acumula-se
e depois de limpo
torna a acumular-se
no cimo das lombadas.
Quando a cidade está suja
(obras, carros, poeiras)
o pó é mais negro
e por vezes espesso.
Os livros ficam,
valem mais que tudo,
mas apesar do amor
(amor das coisas mudas que sussurram)
e do cuidado doméstico fica sempre,
em baixo, do lado oposto à lombada,
uma pequena marca negra do pó nas páginas.
A marca faz parte dos livros.
Estão marcados.
Nós também.
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Pedro Mexia, in "Duplo Império"

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