MOHAN MUNASINGHE – Vice-presidente do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), das Nações Unidas, que em 2007 partilhou o prémio Nobel da Paz com Al Gore. Formado pela Universidade de Cambridge em Física, dá aulas de Desenvolvimento Sustentável em Manchester e é consultor do Governo do Sri Lanka, seu país de origem.
Algumas declarações de Munasinghe:
PONTO EM QUE ESTAMOS NO COMBATE AO AQUECIMENTO GLOBAL
O relatório do IPCC, publicado em 2007, era muito claro a dizer que o aquecimento global é um facto cientificamente confirmado e é causado pela actividade humana. Estudos mais recentes sugerem que a situação piorou. Em 2100, haverá pelo menos um aumento de três graus Celsius de temperatura; meio metro de aumento do nível do mar, no mínimo; teremos o degelo dos calotes polares; alteração na precipitação, mais tempestades, mais inundações. A situação será pior se não mudarmos o nosso comportamento.
MUDANÇA DE ESTILO DE VIDA É UMA QUESTÃO PRIORITÁRIA
As emissões de dióxido de carbono, na sua maioria vêm de países onde o rendimento per capita é elevado. No caso dos países pobres, a primeira prioridade vai no sentido de proteger os mais vulneráveis, isto porque as alterações climáticas vão afectar sobretudo os mais pobres o que é uma injustiça, porque não são eles que causam os problemas.
A crise mundial pode ser uma oportunidade para mudar comportamentos, para mudanças no sentido da sustentabilidade, mas pode-se continuar a não fazer mudanças e nesse caso cai-se num precipício e se assim for se houver uma grande catástrofe, já será demasiado tarde.
É preciso resolver os problemas do desenvolvimento sustentável: pobreza, fome, doenças, escassez de água…há uma série de problemas para resolver em conjunto. Tem que ser flectida a curva do desenvolvimento. Nos países ricos é preciso moderar o consumo, tem de haver um consumo e uma produção mais sustentáveis, com uma redução não só nas emissões do dióxido de carbono, mas também na água, na comida e por aí fora.
A questão principal é mudar a mentalidade das pessoas, não é impossível! Começa-se pelas coisas simples, hoje apagas a luz, amanhã plantas uma árvore, comes menos carne, fechas a torneira. De passos simples chegam-se a passos mais difíceis Temos que levar isto a sério, porque os líderes não estão a tomar as decisões correctas. Há uma falta de vontade política. Temos que fazer a mudança desde a base.
CONFERÊNCIA DO RIO+20, QUE SE VAI REALIZAR EM 2012
Vão ser estabelecidos os objectivos do consumo do milénio. Já temos as metas para o desenvolvimento dos mais pobres, agora os objectivos são para os mais ricos. Há 1,4 milhões de pessoas ricas no Mundo, que representam 20% da população mundial e são responsáveis por 85% de todo o consumo no Planeta. Estes precisam de fazer mudanças nos seus hábitos e se isso acontecer o impacto será enorme.
A IDEIA COM QUE SE FICA DAS CIMEIRAS É QUE AS DECISÕES NÃO SÃO IMPLEMENTADAS
Há duas coisas essenciais: as decisões são fracas e a implementação é ainda pior. Em 1992 ajudei a desenhar a Agenda XXI e a base para a convenção para as alterações climáticas, documentos excelentes para o futuro da Humanidade. Em 97 realizou-se a Convenção de Quioto, acordo fraco para o clima, mas nem isso foi correctamente implementado pela recusa dos E.U.A. O acordo de Copenhaga ainda foi ainda mais fraco. Os acordos são fracos e nem assim são implementados, porque aos líderes falta vontade política.
Em todos os países, as emissões aumentaram em vez de terem diminuído. As pessoas pensam não serem capazes de mudar, esperam que o senhor Obama, o senhor Hu Jintao façam alguma coisa. É necessário que as pessoas percebam que são capazes, porque depois, os líderes vão atrás, para já assiste-se a um recuo, as pessoas do topo não querem mudar nada, pensam na sua própria sustentabilidade. Mas isto é como o Titanic! Se o navio afundar, vão todos. Esta é a a mensagem para quem está a bloquear a mudança. São pessoas ricas, dos lóbis dos combustíveis fósseis, etc...