O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

quinta-feira, 30 de junho de 2011

QUE DIFÍCIL ESCOLHER OS LIVROS DA NOSSA VIDA...

Considero bastante difícil, depois de muito ler, fazer uma lista dos livros da minha vida, ( como os filmes e como as músicas) até porque há livros que faziam todo o sentido numa determinada época da vida e noutra já não fazem tanto, por outro lado também é de considerar a temática e assim uns agradam por uma razão, outros por outra. Apesar disto vou sempre ler, quando alguém fala de livros preferidos, até para ler o que ainda não li. Neste caso foi uma escritora editora.

Dos livros citados li: «Odisseia» de Homero, já que foi para mim livro obrigatório, «A Mancha Humana» de Philip Roth, «A Tia Júlia e o Escrevedor» de Mário Vargas Losa, «Poesia» de W.B. Yeats. São livros de facto do meu agrado, mas que sejam os mais…aí reside a minha dificuldade!

Não li «Pedro Páramo in «Obra Reunida» (Uma pequena obra prima que inspirou o realismo mágico), nem «Nenhum Olhar» de José Luís Peixoto, embora tivesse lido outros livros dele.

Como quarteto de ouro da literatura portuguesa do século XX, são considerados: «Sinais de Fogo» de Jorge de Sena, «Finisterra» de Carlos de Oliveira, «Húmus» de Raul Brandão e «Mau Tempo no Canal» de Vitorino Nemésio. Li estes livros, mas o último livro, custou-me bastante a ler, eu é que sou sempre muito persistente!

Não sei…sei sem dúvida que acrescentaria «O Livro do Desassossego» de Bernardo Soares.


terça-feira, 28 de junho de 2011

FILÓSOFO INSPIRA MANIFESTAÇÕES

As manifestações contra a crise têm surgido um pouco por toda a Europa ao arrepio dos partidos políticos tradicionais.Com mais ou menos incidentes e perturbação da ordem pública. Juntam gerações, que ganham a compreensão de alguns intelectuais, que vêem nos protestos a confirmação dos seus alertas, sobre os perigos que espreitam o futuro. É o caso do francês Edgar Morin, que acaba de publicar, La voie. Pour l’ Avenir de l’Humanité (O Caminho. Para o Futuro da Humanidade).

O pensador junta a sua voz a outro francês, Stéphane Hessel, que este ano lançou o panfleto, Indignai-vos, que serviu de rastilho para movimentos de protesto, que tomaram por exemplo, várias cidades espanholas.

Morin defende a reforma da sociedade de consumo e aquilo a que chama «democracia participativa», resultante do activismo da sociedade civil. O filósofo participou na resistência à ocupação alemã durante a Segunda Guerra Mundial e aderiu ao Partido Comunista Francês, do qual depois se desviou. Morin, numa entrevista recente, reconhece que o fim do comunismo provocou o despertar da hidra do fanatismo religioso e a sobreexcitação da hidra do capitalismo financeiro, numa sucessão de processos que tornam provável a ocorrência de uma catástrofe para a humanidade.

domingo, 26 de junho de 2011

AMBIENTE - MOHAN MUNASINGHE

MOHAN MUNASINGHE – Vice-presidente do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), das Nações Unidas, que em 2007 partilhou o prémio Nobel da Paz com Al Gore. Formado pela Universidade de Cambridge em Física, dá aulas de Desenvolvimento Sustentável em Manchester e é consultor do Governo do Sri Lanka, seu país de origem.

Algumas declarações de Munasinghe:

PONTO EM QUE ESTAMOS NO COMBATE AO AQUECIMENTO GLOBAL

O relatório do IPCC, publicado em 2007, era muito claro a dizer que o aquecimento global é um facto cientificamente confirmado e é causado pela actividade humana. Estudos mais recentes sugerem que a situação piorou. Em 2100, haverá pelo menos um aumento de três graus Celsius de temperatura; meio metro de aumento do nível do mar, no mínimo; teremos o degelo dos calotes polares; alteração na precipitação, mais tempestades, mais inundações. A situação será pior se não mudarmos o nosso comportamento.

MUDANÇA DE ESTILO DE VIDA É UMA QUESTÃO PRIORITÁRIA

As emissões de dióxido de carbono, na sua maioria vêm de países onde o rendimento per capita é elevado. No caso dos países pobres, a primeira prioridade vai no sentido de proteger os mais vulneráveis, isto porque as alterações climáticas vão afectar sobretudo os mais pobres o que é uma injustiça, porque não são eles que causam os problemas.

A crise mundial pode ser uma oportunidade para mudar comportamentos, para mudanças no sentido da sustentabilidade, mas pode-se continuar a não fazer mudanças e nesse caso cai-se num precipício e se assim for se houver uma grande catástrofe, já será demasiado tarde.

É preciso resolver os problemas do desenvolvimento sustentável: pobreza, fome, doenças, escassez de água…há uma série de problemas para resolver em conjunto. Tem que ser flectida a curva do desenvolvimento. Nos países ricos é preciso moderar o consumo, tem de haver um consumo e uma produção mais sustentáveis, com uma redução não só nas emissões do dióxido de carbono, mas também na água, na comida e por aí fora.

A questão principal é mudar a mentalidade das pessoas, não é impossível! Começa-se pelas coisas simples, hoje apagas a luz, amanhã plantas uma árvore, comes menos carne, fechas a torneira. De passos simples chegam-se a passos mais difíceis Temos que levar isto a sério, porque os líderes não estão a tomar as decisões correctas. Há uma falta de vontade política. Temos que fazer a mudança desde a base.

CONFERÊNCIA DO RIO+20, QUE SE VAI REALIZAR EM 2012

Vão ser estabelecidos os objectivos do consumo do milénio. Já temos as metas para o desenvolvimento dos mais pobres, agora os objectivos são para os mais ricos. Há 1,4 milhões de pessoas ricas no Mundo, que representam 20% da população mundial e são responsáveis por 85% de todo o consumo no Planeta. Estes precisam de fazer mudanças nos seus hábitos e se isso acontecer o impacto será enorme.

A IDEIA COM QUE SE FICA DAS CIMEIRAS É QUE AS DECISÕES NÃO SÃO IMPLEMENTADAS

Há duas coisas essenciais: as decisões são fracas e a implementação é ainda pior. Em 1992 ajudei a desenhar a Agenda XXI e a base para a convenção para as alterações climáticas, documentos excelentes para o futuro da Humanidade. Em 97 realizou-se a Convenção de Quioto, acordo fraco para o clima, mas nem isso foi correctamente implementado pela recusa dos E.U.A. O acordo de Copenhaga ainda foi ainda mais fraco. Os acordos são fracos e nem assim são implementados, porque aos líderes falta vontade política.

Em todos os países, as emissões aumentaram em vez de terem diminuído. As pessoas pensam não serem capazes de mudar, esperam que o senhor Obama, o senhor Hu Jintao façam alguma coisa. É necessário que as pessoas percebam que são capazes, porque depois, os líderes vão atrás, para já assiste-se a um recuo, as pessoas do topo não querem mudar nada, pensam na sua própria sustentabilidade. Mas isto é como o Titanic! Se o navio afundar, vão todos. Esta é a a mensagem para quem está a bloquear a mudança. São pessoas ricas, dos lóbis dos combustíveis fósseis, etc...

sábado, 25 de junho de 2011

haiku

A sensação de tocar com os dedos

O que não tem realidade-

Uma pequena borboleta.

Yosa Buson

Tocar um corpo

e o ar

e a língua de neve.

.

Tocar a erva

mortal e verde

de cinco noites

e o mar.

.

Um corpo nu.

E as praias fustigadas

pelo sol e o olhar.

.

Eugénio de Andrade

Jogo de sedução

entre o vento e as folhas.

Prazer volátil.

.

Juncos em movimento.

Os cabelos da água

penteados pelo vento.

.

Albano Martins

segunda-feira, 20 de junho de 2011

PRISIONEIROS NAS FILIPINAS...

Centro de Detenção e Reabilitação de Cebu, Filipinas: quase 1.500 detidos dançam This Is It.. Têm vários vídeos realmente impressionantes como este, a coordenação obtida não é fácil! È preciso empenho e disciplina.

Em Portugal têm sido feitas algumas experiências incluindo reclusos, vi ultimamente uma peça de teatro com actores profissionais e reclusos, mas não espectáculos desta dimensão.

É uma boa forma, de dar entusiasmo para uma vida positiva, a pessoas excluídas temporariamente da sociedade, dando-lhes uma ocupação de corpo e espírito, onde poderá estar implícita uma forma diferente de encarar a vida e impedir que o seu pensamento se concentre em aspectos sombrios.

Obviamente que têm que cumprir a sua pena, mas já lá vai o tempo de serem tratados como seres ignobeis.

O final deste vídeo é de facto surpreendente!

sexta-feira, 17 de junho de 2011

«A LARANJA MECÂNICA» - STANLEY KUBRICK


NA AMÉRICA ESTE POST FOI VOTADO COMO O MAIS ICONOGRÁFICO DA HISTÓRIA DO CINEMA.

Após 40 anos, o filme volta a ser exibido no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (Moma) e no Festival de Cannes.
Tenho bem na memória o filme, que de facto muito me impressionou.
Turning Like Clockwork incide sobre o conceito de «ultraviolência» e mostra todos os impactes culturais da mesma (foi sempre um desgosto para o realizador que movimentos de skinheads e punks tenham usado o filme como justificação para actos violentos).
O filme narra a história de um «hooligan» violento que é usado pelo Estado opressivo como exemplo de um programa de reinserção social parece ter um eco muito actual nas nossas sociedades. Se há quarenta anos o filme tinha um peso futurista, hoje, à parte o design retro, parece actual.
«Laranja Mecânica» envelheceu bem e ainda mete respeito toda a sua simbologia de lavagem cerebral e discurso sobre a ruindade do ser humano e a ultraviolência que nasce de nós.
Apesar do sucesso da bilheteira a controvérsia foi muito forte. Kubrick recebeu ameaças de morte. O filme apesar de estar a ter bastante êxito foi retirado dos cinemas americanos pela Warner.
O actor principal, Malcom McDowell disse: «O Alex foi o primeiro psicopata do cinema, acho que preparei o terreno para Hannibal Lecter (O Silêncio dos Inocentes)



Stanley Kubrick (Nova Iorque, 26 de julho de 1928Hertfordshire, 7 de março de 1999) foi um dos cineastas mais importantes do século XX, considerado por muitos como o maior cineasta de todos os tempos, responsável por uma carreira notável e bem-estruturada, de início seus filmes eram sempre muito polémicos e mal-recebidos pela crítica, depois tornaram-se todos clássicos consagrados pelos mesmos.

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MAIS

Há realizadores que acompanhei o seu percurso, Kubrick foi um deles a partir de: Spartacus e depois Lolita, Dr. Estranhoamor, 2001 Odisseia no Espaço, Laranja mecânica, Shining, Nascido Para Matar e De olhos bem Fechados.

O filme que sempre quis fazer sobre Napoleão, poderá estar em vias de acontecer, usando tudo aquilo que o realizador escreveu e o arquivo imenso que tem sobre esta figura histórica, mas não era um filme sobre história no sentido literal, que pretendia fazer.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

BANKSY -O FANTASMA PROVOCADOR DAS RUAS BRITÂNICAS

Banksy nasceu em 1975 em Bristol e o seu verdadeiro nome não é conhecido. É um artista de rua e enche as paredes de Bristol e Londres com os seus trabalhos em stencil. Iniciou a sua carreira com 14 anos, quando foi expulso da escola e esteve preso por pequenos delitos.

Como activista social, expõe a sua aversão aos conceitos de autoridade e poder. Nos seus trabalhos há criticas sociais, comportamentais e políticas de uma forma agressiva e sarcástica.

Em Bristol, inicialmente os seus trabalhos em paredes eram tapados com tinta, hoje são reconhecidos e preservados, devido à sua qualidade, Banksy conquistou o direito de intervir, ser apreciado e respeitado.


A art undergroud redefiniu, nas últimas décadas, as fronteiras e a subjectividade da expressão artística, colocando-a no limiar do vandalismo.

Porta-voz de todo um movimento libertário, Banksy surge na penumbra, mantendo o anonimato, provando que não é a auto-imagem a força motriz da projecção mediática. Banksy é um fantasma. Espectro de uma geração inconformada, política e socialmente activa e subversiva, não olha a meios para expor a sua obra. Criticando os problemas da contemporaneidade, explorando uma ideologia anarquista, pacifista, anticapitalista e absurda, assim se mostram os seus trabalhos: eficientes e provocadores, apesar de serem falíveis à passagem do tempo e ao eventual desaparecimento.


http://www.artofthestate.co.uk/banksy/banksy.htm

http://www.banksyunmasked.co.uk/

domingo, 12 de junho de 2011

MAHLER

Mahler apenas compôs um andamento da Sinfonia nº 10, um belíssimo adágio. A profecia cumpriu-se, o compositor morreu com 50 anos, devido a problemas cardíacos e respiratórios.

As sinfonias de Mahler, permaneceram uns anos num hiato, até que em 1960, Leonard Bernestein as regeu. Hoje Mahler é um dos compositores mais tocados e mais apreciados.

«Eu creio que há na música de Mahler um apelo à aventura dos sentidos que surpreende, deslumbra, comove e vicia.

Quando se começa a amar esta música, a sua sumptuosa riqueza sonora e orquestral, é praticamente impossível sair do sistema que ela cria, único e reconhecível. A composição mahleriana alterna de forma tão inesperada a intensidade dramática com a contenção lírica e meditativa, o trivial com o sublime, o rasgo com a citação, o fúnebre com o lúdico, o sofrimento com a jubilação que não há praticamente um único momento previsível no seu discurso. Ela é percurso mais que destino. Na sua indomável liberdade, as sinfonias de Mahler abordam territórios sonoros até então inexplorados; mas fazem-no com tal variedade de motivos e efeitos, uma tão arriscada exploração das potencialidades dos instrumentos da orquestra e dos outros que ele inventa ou convoca».

António Mega Ferreira

No coração da música de Mahler existe um desafio sem limites que é uma forma de exprimir a sua total imersão no mundo e de afirmar uma esperança que rompe entre as pungentes expressões da dor e da angústia.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

POEMAS DE LEONARD COHEN

LIVRO DO DESEJO

Não consigo superar as colinas
O sistema foi abaixo
Vivo de comprimidos
Coisa que agradeço a D--s

Segui o trajecto
Do caos à arte
Desejo o cavalo
Depressão a carruagem

Naveguei como um cisne
Afundei-me como uma rocha
Mas o tempo passou há muito
Pelas minhas reservas de riso

A minha página era demasiado
branca
A minha tinta era demasiado fina
O dia não quis escrever
Aquilo que a noite rabiscara

O meu animal uiva
O meu anjo aborreceu-se
Mas não me é permitida
Uma réstia de remorso

Pois alguém há-de utilizar
Aquilo que eu não soube ser
O meu coração será dela
De uma forma impessoal

Ela pisará o caminho
Perceberá a minha intenção
A minha vontade partida em duas
E a liberdade pelo meio

Por menos de um segundo
As nossas vidas colidirão
O interminável suspenso
A porta de par em par

Então ela há-de nascer
Para alguém como tu
O que nunca ninguém fez
Ela continuará a fazer

Sei que ela vem aí
Sei que ela irá olhar
E esse é o desejo
E este é o livro.

Leonard Cohen - Livro do Desejo (edições quasi)tradução de Vasco Gato

PARA O MEU VELHO LAYTON

Ele oculta a sua dor sem dono
em frases de amor
da mesma maneira
que um gato esconde as fezes
debaixo das pedras e aparece durante o dia,
arrogante, limpo, rápido, disposto
a caçar ou dormir ou a perecer de fome.

A cidade recebe-o com lixo
que ele interpreta como um elogio
a sua musculatura. Cascas de laranja,
latas, tripas chovendo como papel de teletipo.
Durante algum tempo ele destruiu as suas noites
com a sua sombra reflectida na janela da lua cheia
enquanto espiava a paz da gente vulgar.

Uma vez invejou-os.
Agora com um feliz
uivo saltava de monumento em monumento,
penetrava nos seus lugares mais sagrados, ébrio
de saber quão perto vivia dos mortos
debaixo da terra, ébrio de sentir o muito que queria
aos seus irmãos que ressonavam, os velhos e as crianças da cidade.

Até que por fim, cansado com o Tímon
do odor humano, ressentindo-se mesmo das suas próprias
pegadas no deserto, dedicou-se a caçar animais, e adornou-se
com braceletes de serpentes vivas e cizânias.
Enquanto a maré descia como uma manta,
ele dormia em cavidades das rochas um sono pesado
sem sonhos, a aragem brilhante do sol
como se fosse um laboratório automático
formando cristais no seu cabelo.Leonard Cohen - Flowers For Hitler - tradução de Carlos Besen

MISSÃO Trabalhei no meu trabalho/Dormi no meu sono/Morri na minha morte/E agora posso abandonar/ Abandonar aquilo que faz falta/E abandonar aquilo que está cheio/Necessidade de espírito/E necessidade no Buraco Amada, sou teu/Como sempre fui/Da medula aos poros/Do anseio à pele /Agora que a minha missão/Chegou ao fim:/Reza para que me seja perdoada/A vida que levei/ O Corpo que persegui/Perseguiu-me igualmente/O meu anseio é um lugar/O meu morrer, uma vela.
Leonard Cohen - Livro do Desejo (edições quasi) - tradução de Vasco Gato

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Nave 1 (2010) Wagner Malta Tavares - Galeria Marília Marzuca (Capa Newsletter Gulbenkian)

segunda-feira, 6 de junho de 2011

EXPOSIÇÕES EM SERRALVES

In Itinere é construído como um percurso, em várias dimensões: o percurso do próprio artista na construção da sua obra ao longo do tempo e dos vários ciclos que a compõem, o processo de preparação da exposição em Serralves e o itinerário do visitante através das salas do Museu.

José Barrias (1944) é um artista português residente em Milão que inicia o seu trabalho no início da década de 70, construindo narrativas visuais através do desenho, da pintura, da fotografia e da instalação. A memória íntima articula-se com a memória dos lugares e da História nos seus trabalhos. O tempo como passagem é convocado a partir da acumulação de vestígios e de referências onde a composição visual resulta da convergência das imagens e das histórias. O romance filosófico adquire assim a dimensão de um romance visual. Ou de “quase um romance…”, como diria Barrias, que assume o inacabado como condição da obra aberta que as suas narrativas constituem.

Gostei bastante desta exposição, em que me encontrei. Foi planeada para cinco espaços. Aborda percursos da vida, a memória íntima...os lugares, as imagens e os objectos...tudo aquilo que carregamos connosco, que nos faz seres únicos, sempre invisíveis, apesar de darmos visibilidade às memórias...quem poderá saber o que representa emocionalmente o objecto X ou Y?
Dois dos espaços não foram fotografados por impossibilidade, a sala em que o artista pretende juntar as suas memórias às nossas, numa sucessão de quadros que deixam um fim em aberto...e a Gruta Rupestre, um espaço sem luz, onde são projectadas imagens...

Espaço de memórias e lugares, tendo como pólo principal a bola onde estão coladas várias referências e na qual a sua filha fez questão em deixar os seus sapatos de criança...



Espaço onde predominam frases de vários escritores e de si próprio, desenhos nas paredes e alguns dos seus quadros...


O JARDIM DOS ENGANOS - Este quadro para todos que o viram era associado a um jardim, mas foi uma forma de reproduzir uma longa greve dos lixeiros em Milão, que teve grande impacto para o artista.


Este espaço, é muito interessante e foi-lhe dado o nome de «Loja de Curiosidades», em alusão às lojas de curiosidades existentes, antes de surgirem os museus e que eram mais de acumulação do que de qualificação. Aqui se encontram os objectos que Barrias foi acumulando durante a vida, que comprou, que lhe foram dados, que trouxe de sítios diversos...os objectos emocionais de uma vida! Eu também tenho a minha loja de curiosidades dispersa pelos meus espaços...







Espaço que fecha a exposição e que alude às sinuosidades da vida...


E o plano de fuga...que alude a um dos quadros famosos de Piero della Francesca

Sobre a exposição OFF THE WALL, não permitiam que fosse fotografada.



Off the Wall / Fora da Parede”, organizada pelo Whitney Museum of American Art de Nova Iorque e comissariada por Chrissie Iles, co-curadora das edições de 2004 e 2006 da célebre Whitney Biennial of American Art.

Na arte do século XX, inúmeros artistas cruzaram géneros e formas de expressão, reinventando os modos de produção artística. A obra de arte deixa de ser apenas uma pintura ou um desenho para pendurar numa parede ou uma escultura para apresentar em cima de um plinto. As artes visuais reúnem-se ao cinema, à fotografia, à experimentação sonora e às artes do movimento em novas linguagens que não cessam de se redefinir. Dos célebres Ballets Russes do princípio do século XX a coreógrafos contemporâneos como Merce Cunningham, Trisha Brown, Yvonne Rainer, Steve Paxton ou Deborah Hay, encontramos uma história riquíssima resultante de tais cruzamentos. As artes do espaço cruzam-se deste modo com as artes do tempo (todas as artes performativas mais aquelas que envolvem a imagem em movimento).

A exposição “Off the Wall / Fora da Parede” reúne mais de uma centena de obras, algumas provenientes da Colecção da Fundação de Serralves. Serão apresentados trabalhos de reconhecidos artistas como Carl Andre, John Baldessari, Jenny Holzer, Joan Jonas, Roy Lichtenstein, Robert Longo, Robert Mapplethorpe, Paul McCarthy, Bruce Nauman, Yoko Ono, Claes Oldenburg, Dennis Oppenheim, Tony Oursler, Richard Serra, Cindy Sherman e Andy Warhol, entre tantos outros.

Off the Wall / Fora da Parede” centra-se em acções que usam o corpo ao vivo, em frente da câmara ou em relação a uma superfície fotográfica ou impressa, ou a um desenho. Cada acção desloca o local da obra de arte do objecto para o corpo, funcionando em relação a, ou directamente sobre, o espaço físico da galeria. A parede e o chão tornam-se o palco de todas essas acções: caminhar na parede, bater com portas, bater com as mãos na parede, apanhar serradura do chão do estúdio, pisar um quadro, dar longas passadas e rastejar em volta de um espaço cilíndrico, escrever ou desenhar na parede e no chão, ou fazer um striptease por detrás do plano transparente do Grand Verre de Duchamp.

A exposição inclui também uma série de obras que revelam a teatralidade subjacente ao acto performativo e aos modos como os artistas apresentam o eu em imagens que questionam convenções relativas a identidade, género e corpo. Como aponta a curadora Chrissie Iles, “Os gestos performativos reunidos nesta exposição demonstram aquilo que pode ser descrito como a fase decisiva do modernismo, nas suas diversas rupturas do espaço autónomo da pintura e do desenho e da sua localização original – o plano da parede da galeria. O seu pai edipiano foi Jackson Pollock, cujas drip paintings dos anos 1950, executadas caminhando em volta de uma tela colocada na horizontal, sobre o chão do estúdio, levaram Harold Rosenberg a observar na época que ‘a dado momento, a tela passa a ser, para um sucessão de artistas americanos, um palco onde se actua… o que vai para a tela não é uma pintura, mas sim um acontecimento’”.

sábado, 4 de junho de 2011

A CANÇÃO DA TERRA - GUSTAV MAHLER

O Lied "Despedida", da Canção da Terra, de Mahler, finaliza esta extraordinária obra. Mahler evitou o título de Sinfonia por temer o destino de Beethoven, Schubert e Bruckner, que morreram depois de alcançarem as suas nonas sinfonias, mas esta foi mesmo a sua última obra completa, porque a que seria a 10ª. Sinfonia apenas compôs um dos andamentos.
Gustave Mahler quando compôs, A Canção da Terra, obra de absoluta resignação perante o destino, três desgraças tinham acontecido na sua vida: a morte da filha, a campanha anti-semita que o obrigou a demitir-se de director da Ópera Imperial de Viena e a descoberta pelos médicos da sua malformação cardíaca incurável. Neste período de incerteza e sofrimento Mahler começou a ler alguns poemas da Flauta Chinesa, ancestral poesia da dinastia Tang e escolheu os poemas mais tristes para musicar. A mensagem de A Canção da Terra é de resignação, de solidão absoluta, de impossibilidade de realização pessoal, de certeza da morte e da incapacidade de mudar o mundo. Acabou esta obra em 1909 e morreu dois anos depois.

6. Der Abschied ( A Despedida)


O sol põe-se por detrás das montanhas, a noite cai sobre o vale, a lua navega, tal como uma barca, no escuro mar celeste. Uma ligeira brisa acaricia os pinheiros sombrios, o rouxinol canta harmoniosamente, as flores empalidecem: a terra respira com calma. Homens cansados refrescam a casa: o sono vai restituir-lhes a alegria esquecida, a juventude perdida. Dois amigos despedem-se: «Para onde vais, e porquê esta viagem? pergunta o que fica. «Oh! Amigo, nesta terra a felicidade não quis nada comigo. Errante, vagabundeando pelas montanhas, vou à procura de repouso para o meu coração solitário.»

quarta-feira, 1 de junho de 2011

«A ÁRVORE DA VIDA»

Terence Malick é considerado um mestre de cinema, um realizador com talento e sensibilidade e só fez cinco filmes! É conhecido por deixar as suas imagens e silêncios transmitirem a mensagem que pretende passar, mas esta filosofia de realização foi aqui elevada a um expoente máximo e não foi nada consensual o prémio que ganhou no festival de Cannes, dividiu os críticos.





A história base é relativamente simples, baseando-se na vida de uma família com três filhos, em que os progenitores têm uma atitude bastante diferenciada perante a vida e os deveres da educação. O pai é rígido, a mãe uma sonhadora, que protege os seus filhos com amor. Tudo é questionado quando um dos filhos se torne um rebelde e morre!
O filme procura um significado mais além, com uma parte inicial de cerca de 30 minutos que é uma viagem espiritual ao princípio do mundo, reflexão sobre a criação, evolução e mesmo religião. Toda a sequência é de uma beleza e sensibilidade inegáveis, mas pela sua duração excessiva e a falta de um suporte narrativo por trás torna-se cansativa. O filme peca por querer ser mais do que devia. Perde-se, arrasta-se, na procura de um significado mais profundo e não segue uma linha de pensamento com uma direcção e um objectivo único.