JEAN-PAUL SARTRE
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
MARIA DO MAR
sexta-feira, 28 de outubro de 2011
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
Prémio José Saramago 2011 atribuído à escritora brasileira Andréa del Fuego
"Os Malaquias" conta a história da família de Andréa, cujos bisavós morreram ao serem atingidos por um raio. Aqui fica um excerto: "Um gato esticou as pernas, as paredes se retesaram. A pressão do ar achatou os corpos contra o colchão, a casa inteira se acendeu e apagou, uma lâmpada no meio do vale. O trovão soou comprido alcançar o lado oposto da serra. Debaixo da construção a terra, de carga negativa, recebeu o raio positivo de uma nuvem vertical. As cargas invisíveis se encontraram na casa dos Malaquias. O coração do casal fazia a sístole, momento em que a aorta se fecha. Com a via contraída, a descarga não pôde atravessá-los e aterrar-se. Na passagem do raio, pai e mãe inspiraram, o músculo cardíaco recebeu o abalo sem escoamento. O clarão aqueceu o sangue em níveis solares e pôs-se a queimar toda a árvore circulatória. Um incêndio interno que fez o coração, cavalo que corre por si, terminar a corrida em Donana e Adolfo."
"'Os Malaquias' é um romance áspero, poético, original. Voltado para a paisagem rural, a que raramente os autores contemporâneos se circunscrevem, seu perfil arcaico e trágico suscitam emoções intensas", considerou a jurada Nelida Piñon. "Oferta-nos uma leitura da qual não se sai incólume, cada capítulo traçado para nos perturbar.Uma criação que, enquanto avança, sem pausa que nos console, distancia-se dos intimismos, dos individualismos exacerbados, do falso cosmopolitismo que ora pauta a produção urbana.Como se estivera a autora centrada em retratar a injustiça e a crueldade de que somos forjados". Para a escritora brasileira, graças "ao inusitado vigor de sua narrativa", Andréa del Fuego, "merece o prémio Saramago 2011, talhado para o seu talento", disse.
Nas edições anteriores, o Prémio José Saramago foi atribuído: aos portugueses Paulo José Miranda, por “Natureza Morta”, em 1999, e José Luís Peixoto, por “Nenhum Olhar”, em 2001. À brasileira Adriana Lisboa, “Sinfonia em Branco”, em 2003, e aos portugueses Gonçalo M. Tavares, “Jerusalém”, 2005; valter hugo mãe, “O Remorso de Baltazar Serapião”, 2007, e João Tordo, “As Três Vidas”, em 2009.
domingo, 23 de outubro de 2011
PAUL ÉLUARD
A NOITE
Acaricia o horizonte da noite, busca o coração de azeviche que a aurora recobre de carne. Ele te porá nos olhos pensamentos inocentes, chamas, asas e verduras que o sol ainda não inventou.
Não é a noite que te falta, mas o seu poder.
LA NUIT
Ce n'est pas la nuit qui te manque, mais sa puissance.
É uma dança de roda e de doçura
Berço nocturno e auréola do tempo,
Se já não sei tudo que vivi
É que os teus olhos não me viram sempre.
*
Folhas do dia e musgos de orvalho,
Hastes de brisas, sorrisos de perfume,
Asas de luz cobrindo o mundo inteiro,
Barcos de céu e barcos do mar,
Caçadores dos sons e nascentes de cores.
*
Perfume esparso de um manancial de auroras
Abandonado sobre a palha dos astros,
Como o dia depende da inocência
O mundo inteiro depende dos teus olhos
E todo o meu sangue corre no teu olhar.
«Algumas Palavras» - Paul Éluard (Tradução de António Ramos Rosa)
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
COOPERATIVA ARTÍSTICA ÁRVORE – EXPO. GRAÇA MORAIS: A CAMINHADA DO MEDO
Graça Morais foi a artista distinguida na 6ª edição do Prémio de Artes Casino da Póvoa. Para além da atribuição do prémio será também adquirida uma das obras da artista plástica intitulada "Série 2011: A Caminhada do Medo VIII", que passará a integrar a colecção de arte do Casino da Póvoa, e publicada uma monografia (esta edição, exclusivamente patrocinada pelo Casino da Póvoa e realizada pela Árvore – Cooperativa de Actividades Artísticas, CRL, dá continuidade à colecção de livros de arte associada ao Prémio de Artes Casino da Póvoa).
Para a organização, este prémio "visa distinguir e homenagear a obra de uma artista que ao longo do tempo construiu uma carreira que a consagra como uma das maiores pintoras contemporâneas. Uma mulher cujo universo cruza a herança do mundo rural, que assume a condição da mulher e da natureza na intuição ligada aos sentimentos e às emoções"..
O impacto da comunicação social com a avalanche de imagens de reportagem jornalística que invadem todos os meios de comunicação influenciam a criação da artista.
[...] Desde há vários anos que a actividade de Graça Morais se divide pelos dois ateliers que mantém em Freixiel e em Lisboa e, apesar das dificuldades que essa repartição acarreta, em geral, há sempre trabalho iniciado num e noutro espaço. Por vezes, trabalho contrastante entre um registo mais delicado, em torno das temáticas florais e vegetais, das formas que as estações do ano proporcionam, dominado pela amabilidade da natureza, e um registo mais dramático e exigente dominado pela dimensão humana.
[...] Estas podem ser as migrações provocadas pelos dramas humanos das acostagens nocturnas no sul de Itália, dos africanos sedentos de um lugar na Europa, das lutas religiosas e tribais dispersas pela África e pela Ásia, das revoltas nos países árabes, dos massacres fanáticos disseminados um pouco por todo o mundo, dos conflitos urbanos mal identificados.
Este não é um mundo de abundância nem um mundo marcado pelo ritmo das estações, é um mundo que vive debaixo de um Inverno frio ou de um Verão árido que semeia carcaças de animais mortos e a desolação das catástrofes naturais. Não é um mundo de abrigos domésticos, mas de vida desamparada no exterior onde todos estão expostos, desprotegidos, mal cobertos pelas mantas informes das organizações de assistência.
[...] As peças de menor dimensão, as colagens, dão a chave para os grandes desenhos e o modo como são compostos. Aí se percebe a importância do registo fotográfico, dos apontamentos escritos em folhas de diário e a sua recuperação posterior. Intervencionados e retrabalhados, esses materiais primários transformam-se mediante a pressão de novas circunstâncias: figuras e rostos fotografados cobertos por acrílico ou refeitos em desenho; personagens modificadas mediante a adição de elementos; imagens trancadas e bloqueadas sob uma mancha; papéis com fotografias coladas recebem escorrências de tinta-da-china e pingos de acrílico. Não são apenas reconfigurados os elementos compositivos pré-existentes, são os significados que sofrem uma reconstrução, predispondo-se a novas utilizações e interpretações.
Excertos de texto de autoria de Laura Castro, in catálogo da exposição
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
POEMA INÉDITO DE PAULO JOSÉ MIRANDA
Esforça-te para que saibam que o
[mundo começou de vez
Estende uma palavra amável ao
[transeunte
E o luxo anacrónico de um sorriso
Àquele que falar mal de ti
Perdoa – o com a ternura de falar bem
[dele
Segue pela rua não esquecendo nunca
Essa missão dura e difícil que tens
[pela frente
Ainda que te esbofeteiam te
[espezinhem te humilhem
És e serás sempre o profeta do
[humano
Aquele que anuncia a chegada do
[mundo
Poema inédito de Paulo José Miranda
Ninguém diria que trazias o cheiro
Dos últimos começos
Da primeira apanha de frutas das
[nossas árvores
Ninguém diria que cheiravas ao
[momento
Em que por fim
O enfermo abre a janela e deixa
[entrar o ar fresco
A prometida e bela manhã tantas
[vezes sonhada
Que faz renascer a vida e seus
[atributos
Ninguém diria que serias o Sol
E sua chama acesa bem alta
Queimando a pele humana
Desgastando todos os outros animais
Deixando o dia e que girar á sua
[volta em cinzas
Ninguém diria que tudo irá acabar
Numa cova profunda e escura
De tão escura que um ou outro
[insecto
Parecerá uma estrela