O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

COOPERATIVA ARTÍSTICA ÁRVORE – EXPO. GRAÇA MORAIS: A CAMINHADA DO MEDO

Graça Morais foi a artista distinguida na 6ª edição do Prémio de Artes Casino da Póvoa. Para além da atribuição do prémio será também adquirida uma das obras da artista plástica intitulada "Série 2011: A Caminhada do Medo VIII", que passará a integrar a colecção de arte do Casino da Póvoa, e publicada uma monografia (esta edição, exclusivamente patrocinada pelo Casino da Póvoa e realizada pela Árvore – Cooperativa de Actividades Artísticas, CRL, dá continuidade à colecção de livros de arte associada ao Prémio de Artes Casino da Póvoa).

Para a organização, este prémio "visa distinguir e homenagear a obra de uma artista que ao longo do tempo construiu uma carreira que a consagra como uma das maiores pintoras contemporâneas. Uma mulher cujo universo cruza a herança do mundo rural, que assume a condição da mulher e da natureza na intuição ligada aos sentimentos e às emoções"..

O impacto da comunicação social com a avalanche de imagens de reportagem jornalística que invadem todos os meios de comunicação influenciam a criação da artista.

[...] Desde há vários anos que a actividade de Graça Morais se divide pelos dois ateliers que mantém em Freixiel e em Lisboa e, apesar das dificuldades que essa repartição acarreta, em geral, há sempre trabalho iniciado num e noutro espaço. Por vezes, trabalho contrastante entre um registo mais delicado, em torno das temáticas florais e vegetais, das formas que as estações do ano proporcionam, dominado pela amabilidade da natureza, e um registo mais dramático e exigente dominado pela dimensão humana.

[...] Estas podem ser as migrações provocadas pelos dramas humanos das acostagens nocturnas no sul de Itália, dos africanos sedentos de um lugar na Europa, das lutas religiosas e tribais dispersas pela África e pela Ásia, das revoltas nos países árabes, dos massacres fanáticos disseminados um pouco por todo o mundo, dos conflitos urbanos mal identificados.
Este não é um mundo de abundância nem um mundo marcado pelo ritmo das estações, é um mundo que vive debaixo de um Inverno frio ou de um Verão árido que semeia carcaças de animais mortos e a desolação das catástrofes naturais. Não é um mundo de abrigos domésticos, mas de vida desamparada no exterior onde todos estão expostos, desprotegidos, mal cobertos pelas mantas informes das organizações de assistência.

[...] As peças de menor dimensão, as colagens, dão a chave para os grandes desenhos e o modo como são compostos. Aí se percebe a importância do registo fotográfico, dos apontamentos escritos em folhas de diário e a sua recuperação posterior. Intervencionados e retrabalhados, esses materiais primários transformam-se mediante a pressão de novas circunstâncias: figuras e rostos fotografados cobertos por acrílico ou refeitos em desenho; personagens modificadas mediante a adição de elementos; imagens trancadas e bloqueadas sob uma mancha; papéis com fotografias coladas recebem escorrências de tinta-da-china e pingos de acrílico. Não são apenas reconfigurados os elementos compositivos pré-existentes, são os significados que sofrem uma reconstrução, predispondo-se a novas utilizações e interpretações.

Excertos de texto de autoria de Laura Castro, in catálogo da exposição


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