O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

sexta-feira, 26 de março de 2010

BICENTENÁRIO DE ALEXANDRE HERCULANO

Apesar de ser um nome fundamental da literatura e da História de Portugal, o Ministério da Cultura não vai dedicar nenhum programa comemorativo ao bicentenário de Herculano que ocorre no próximo domingo.
A data vai ser assinalada por organizações privadas.
EM LISBOA: A comemoração foi organizada pelo Grémio Literário, onde Herculano foi sócio-fundador e vai decorrer na Sala dos Capítulos do Mosteiro dos Jerónimos, junto ao túmulo do escritor, historiador e político, com a presença simbólica da Ministra da Cultura e do respectivo secretário do Estado. Será deposta uma coroa de flores, seguindo-se a actuação de um grupo de câmara da Orquestra Metropolitana de Lisboa.
NO PORTO: Cooperativa Árvore, intervenção de Guilherme d'Oliveira Martins, presidente do Centro Nacional de Cultura, que discorrerá sobre Herculano e a sua obra. Leitura de textos. Lançamento do albúm de arte «Cinco Retratos para Herculano». O Jornal de Notícias no domingo incluiu um suplemento especial com um roteiro sobre os locais que mais influenciaram Herculano e uma entrevista de Vasco da Graça Moura, autor de uma tese sobre «Eurico, o presbítero».
POESIA

A GRAÇA
Que harmonia suave
É esta, que na mente
Eu sinto murmurar,
Ora profunda e grave,
Ora meiga e cadente,
Ora que faz chorar?
Porque da morte a sombra,
Que para mim em tudo
Negra se reproduz,
Se aclara, e desassombra
Seu gesto carrancudo,
Banhada em branda luz?
Porque no coração
Não sinto pesar tanto
O férreo pé da dor,
E o hino da oração,
Em vez de irado canto,
Me pede íntimo ardor?
És tu, meu anjo, cuja voz divina
Vem consolar a solidão do enfermo,
E a contemplar com placidez o ensina
De curta vida o derradeiro termo?
Oh, sim!, és tu, que na infantil idade,
Da aurora à frouxa luz,
Me dizias: «Acorda, inocentinho,
Faz o sinal da Cruz.»
És tu, que eu via em sonhos, nesses anos
De inda puro sonhar,
Em nuvem d'ouro e púrpura descendo
Coas roupas a alvejar.
És tu, és tu!, que ao pôr do Sol, na veiga,
Junto ao bosque fremente,
Me contavas mistérios, harmonias
Dos Céus, do mar dormente.
És tu, és tu!, que, lá, nesta alma absorta
Modulavas o canto,
Que de noite, ao luar, sozinho erguia
Ao Deus três vezes santo.
És tu, que eu esqueci na idade ardente
Das paixões juvenis,
E que voltas a mim, sincero amigo,
Quando sou infeliz.
Sinta a tua voz de novo,
Que me reboca a Deus:
Inspira-me a esperança,
Que te seguiu dos Céus!...

Este poema integra a antologia 100 poemas para SMS, compilada por valter hugo mãe e Jorge Reis-Sá.

A VITÓRIA E A PIEDADEI
Eu nunca fiz soar meus pobres cantos
Nos Paços dos senhores!
Eu jamais consagrei hino mentido
Da terra dos opressores.
Mal haja o trovador que vai sentar-se
À porta do abastado,
O qual com ouro paga a própria infâmia,
Louvor que foi comprado.
Desonra àquele, que ao poder e ao ouro
Prostitui o alaúde!
Deus à poesia deu por alvo a pátria,
Deu a glória e a virtude.
Feliz ou infeliz, triste ou contente,
Livre o poeta seja,
E em hino isento a inspiração transforme
Que na sua alma adeja.

FRASES DE HERCULANO

O homem é mais propenso a contentar-se com as ideias dos outros, do que a reflectir e a raciocinar.

Eu não me envergonho de corrigir os meus erros e mudar de opinião, porque não me envergonho de raciocinar e aprender.

Querer é quase sempre poder: o que é excessivamente raro é o querer.

Feliz a alma vulgar e rude que crê, e nem sempre sabe que a dúvida existe no mundo!

O segredo da felicidade é encontrar a nossa alegria na alegria dos outros.

A ingratidão é o mais horrendo de todos os pecados
Saber resistir à violência é forte, mas vulgar; saber resistir à calúnia e aos motejos é maior esforço e mais raro.

É erro vulgar confundir o desejar com o querer. O desejo mede os obstáculos; a vontade vence-os.

Quanto mais conheço os homens, mais estimo os animais.
As lágrimas de piedade consolam quando é um amigo que as derrama.

Que a tirania de dez milhões se exerça sobre um indivíduo, que a de um indivíduo se exerça sobre dez milhões, é sempre tirania, é sempre uma coisa abominável.

Das definições possíveis do homem, uma só é verdadeira: o homem é o animal que disputa.

Dai às paixões todo o ardor que puderes, ao prazeres mil vezes mais intensidade, aos sentidos a máxima energia e convertereis o mundo em paraíso, mas tirai dele a mulher, e o mundo será um ermo melancólico, os deleites serão apenas o prelúdio do tédio...



Alexandre Herculano foi um poeta português nascido em Lisboa em 1810. Escreveu também teatro e romance. Enquadra-se na época do romancismo. Para além de escritor foi historiador e jornalista. Morreu em Santarém em 1877.

MAIS SOBRE ALEXANDRE HERCULANO
http://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandre_Herculano#Algumas_obras_dispon.C3.ADveis_em_formato_digital_na_Internet

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