Em 1927 encontrava-se ausente de Portugal, como se depreende de uma nota inserida no fim do livro Satânia, o último que publicou. Não se sabe nada dos últimos trinta e dois anos da sua vida; morreu em 1959, residindo então em Lisboa. Segundo o assento de óbito, morreu viúva, sem deixar filhos nem bens.
Há pouca informação na net, sobre Judite Teixeira a única que consegui, foi de António Manuel Couto Viana, in Coração Arquivista, Lisboa, Verbo, de que transcrevo alguns fragmentos:
E as «orgias de morfina» — a droga a que a poetisa chamava «a minha amante» («Dizem que eu tenho amores contigo / Deixa-os dizer! ... / Eles sabem lá o que há de sublime, / nos meus sonhos de prazer ») — que indignação terão causado, assim confessadas, com soberano despudor! (Na longínqua Macau, outro poeta, Camilo Pessanha, ia sumindo-se, aos poucos, «como faz um verme», sorvendo a fundos haustos pelo longo cachimbo de bambu o ópio da evasão.) Pasmo que qualquer dos poemas citados não tenha merecido à sensibilidade e cultura de Natália Correia a inclusão na sua Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, onde alguns talvez menos autênticos se coligiram. E pasmo que Judith Teixeira não esteja presente na Antologia da Poesia Feminina Portuguesa que a cultura e sensibilidade de António Salvado organizaram. Porque, apesar da frouxidão e desleixo da forma (quase sempre), há uma personalidade poética original («O que não sei / é ser banal» — diz a escritora) a distinguir e a prezar. Mais a mais, ela é a nossa única poetisa «modernista» (Violante de Cisneiros é um criptónimo de Côrtes-Rodrigues e Fernanda de Castro, com ser moderna, nunca foi «modernista». Muito menos Florbela, Virgínia Vitorino, Laura Chaves... — as mulheres-poetas da época). O segundo livro de Judith Teixeira, Castelo de Sombras, apresentava-se muito mais discreto que o primeiro. Em tudo. Decadência era um volume fascinantemente luxuoso, num formato de livro de arte, em excelente papel e com apurado arranjo tipográfico, tendo a enriquecê-lo a gravura da capa, a cores, da autoria do pintor «modernista» Carlos Porfírio, que foi o director de Portugal Futurista. Castelo de Sombras mantinha o bom gosto gráfico, o grande formato (embora menor que o de Decadência), mas o conteúdo perdera ousadia, «a vertigem sagrada da luxúria» que exigia Raul Leal, o profeta Henoch, para o mais sublime culto estético. («A luxúria é uma força!» gritava Valentine de Saint-Point, com quem Judith Teixeira se identifica, proclamando na sua conferência De Mim: «A luxúria é uma fonte dolorosa e sagrada de cujo seio violento corre, cantando e sofrendo, o ritmo harmonioso das nossas sensações!»)…/…
É irresistível: leio as poesias de Judith Teixeira e, separando muito trigo de muito joio, penso-as merecedoras de melhor sorte do que o silêncio, a ignorância, a que têm estado votadas».
Esta publicação, saída em 2002, como corolário de umas jornadas dedicadas a José Régio na Universidade de Aveiro, inclui o ensaio de Martim de Gouveia e Sousa intitulado "Régio e Judith Teixeira: um encontro, uma voz e uma 'brasa ardente' de que alguém se lembrará".
POEMAS DE JUDITH TEIXEIRA
Adoro o inverno.
Envolvo-me assim mais no teu carinho,
friorenta e louca...
Nascem-me na alma os beijos
que se vão aninhar na tua boca!...
Gosto da neve a diluir-se ao sol
em risos de cristal!
Vem-me turbar a ânsia do teu rogo...
E a neve fulgente dos meus dentes trémulos,
vai fundir-se na taça ardente,
rubra e original,
na qual eu bebo os teus beijos em fogo!
Tu adormentas a minha dor
na doce sombra dos teus cabelos,
e eu envolvo-me toda nos teus braços
para dormir e sonhar!...
- lá fora que não deixe de chover,
e o vento que não deixe de clamar!
Deixá-lo gritar!
Que importa o seu clamor,
se me abrasa o teu olhar vivíssimo?!...
Atei, meu amor, o fogo em que me exalto...
- Enrola-me mais... ainda mais... no teu afago;
que esta alegria do nosso amor suavíssimo,
será mais forte e gritará mais alto!
Inverno - Sol Posto
1925
A MINHA COLCHA ENCARNADA
Perfumes estonteantes
atiram-me embriagada
sobre os cetins roçagantes
da minha colcha encarnada!
Em espasmos delirantes,
numa posse insaciada -
rasgo as sedas provocantes
em que me sinto enrolada!
Tomo o cetim às mãos cheias..,
Sinto latejar as veias
na minha carne abrasada!
Torcem-me o corpo desejos...
mordendo o cetim com beijos
numa ânsia desgrenhada!
Inverno - Sol Posto
1925
A MINHA COLCHA ENCARNADA
Perfumes estonteantes
atiram-me embriagada
sobre os cetins roçagantes
da minha colcha encarnada!
Em espasmos delirantes,
numa posse insaciada -
rasgo as sedas provocantes
em que me sinto enrolada!
Tomo o cetim às mãos cheias..,
Sinto latejar as veias
na minha carne abrasada!
Torcem-me o corpo desejos...
mordendo o cetim com beijos
numa ânsia desgrenhada!
MAIS BEIJOS
Devagar...
outro beijo... outro ainda...
O teu olhar, misterioso e lento,
veio desgrenhar
a cálida tempestade
que me desvaira o pensamento!
Mais beijos!...
Deixa que eu, endoidecida,
incendeie a tua boca
e domine a tua vida!
Sim, amor...
deixa que se alongue mais
este momento breve!...
que o meu desejo subindo
solte a rubra asa
e nos leve!
Devagar...
outro beijo... outro ainda...
O teu olhar, misterioso e lento,
veio desgrenhar
a cálida tempestade
que me desvaira o pensamento!
Mais beijos!...
Deixa que eu, endoidecida,
incendeie a tua boca
e domine a tua vida!
Sim, amor...
deixa que se alongue mais
este momento breve!...
que o meu desejo subindo
solte a rubra asa
e nos leve!
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