JEAN-PAUL SARTRE
segunda-feira, 31 de maio de 2010
TERCEIRA SINFONIA DE MAHLER
ARNOLD SCHÖNBERG (12.12.1904)
Inicialmente intitulada A GAIA CIÊNCIA e, depois, SONHO DE UMA MANHÃ DE VERÃO, a Terceira Sinfonia de Mahler, divide-se em seis andamentos, cujos subtítulos o compositor deu a conhecer: I «Pan desperta. O Verão anuncia-se»; II «O que as flores do campo me contam»; III «O que os animais do bosque me contam»; IV «O que o Homem me conta»; V «O que os anjos contam»; VI «o que o Amor me conta» e VI « O que a criança me conta».
A presença da natureza e a relação do homem com a transcendência através de uma submersão radical na natureza são elementos centrais de todas as quatro primeiras sinfonias de Mahler: na Primeira encontramos a natureza primordial, habitada por um herói que acabará por morrer; na Segunda acompanhamos o processo de resgate desse herói do mundo dos mortos para uma ressurreição poderosa; na Quarta assistimos à passagem da vida terrena para a vida celestial, cheia de anjos, santos e crianças.
A Terceira sinfonia desempenha um importante papel, definindo uma concepção estética-filosófica em patamares sucessivos do Ser, concepção fortemente influenciada pelos escritos de Schopenhauer e de Nietzche. Esta sinfonia desenha um percurso que corresponde à «arquitectura do mundo» de Schopenhauer. Por outro lado, o título provisório A Gaia Ciência, bem como o canto da Meia-Noite [Oh Homem, escuta!»] de Assim falou Zaratustra musicado no quarto andamento, apontam explicitamente para a obra de Nietzsche.
Mahler tinha uma vida muito sobrecarregada em Hamburgo, como director da Ópera, não tinha tempo para compor, para se distanciar da música lia e, Nietzsche era na altura o autor em que mergulhava. Só nas férias, passadas na pequena aldeia de Steinbach, no Tirol, Mahler compunha. Tinha mandado construir uma pequena barraca, onde tinha um pequeno piano, uma mesa e um sofá, território íntimo e inviolável. Levantava-se às cinco e meia da manhã ia para a cabana, trabalhando sete horas por dia, regressava para almoçar e depois fazia os seus passeios a pé. Esta era a rotina de férias, com duas imersões: uma no mundo da natureza, outra na interioridade criativa.
PRIMEIRO ANDAMENTO – PODEROSO-DECIDIDO
Neste andamento o compositor, pretende afirmar o poder do movimento, da marcha, da força construtiva que se opõe à rigidez da matéria «sem alma», à natureza primordial, «as forças elementares da natureza inanimadas e rígidas».
SEGUNDO ANDAMENTO – TEMPO DI MINUETTO- MUITO MODERADO
Mahler oferece uma visão serena e inocente da natureza campestre. Este andamento sugere um universo sonoro rococó, um idílio pastoril do séc. XVIII (Minuetto) visto pelos binóculos histoiricistas do Romantismo do século XIX. Como se as flores e pastores da montanha entrassem nos salões espelhados da cultura burguesa da Viena fin de siècle.
Mahler disse: Claro que não me fico pela serenidade das plantas; repentinamente tudo se põe mais sério e grave, Como se um vento tempestuoso varresse os prados e abanasse as folhas e flores das plantas, dobrando-as e quebrando-as, forçando-as a entrarem num reino mais alto.
TERCEIRO ANDAMENTO – COMODO, SCHERZANDO
Descreve a morte da Primavera e o surgimento do Verão. Aqui Mahler aproxima-se de idiomas populares, numa concepção de humor influenciado por Jean Paul: descendo aos níveis mais baixos da representação revela-se a máscara trágica da existência. O humor negro ou carnavalesco de Mahler é sempre porta de acesso aos abismos mais radicais da sua alma.
QUARTO ANDAMENTO – MUITO LENTO. MISTERIOSO
O andamento nietzscheano «Oh Homem, escuta!»
Oh Homem! Presta atenção
O que diz a profunda meia-noite?
«Eu dormia, eu dormia,
E despertei de um sonho profundo:
O mundo é profundo,
E mais profundo que o dia julga,
Profunda é a sua dor,
E a alegria…mais profunda que o sofrimento.
A dor diz: Passa!
Mas toda a alegria deseja a eternidade,
A profunda, profunda eternidade!»
Trata-se do Canto da Meia-Noite, o apelo de Zaratustra ao despertar do homem, ao abandono do «sono profundo», em que se encontra. Sobre uma sonoridade de fundo sombria, entregue às cordas graves, surge a voz desolada (O Mensch!). Ouvem-se depois trombones agudos e terceiras trompas (Gib Acht!) até que o oboé se impõe «como uma sombra da natureza».
QUINTO ANDAMENTO – NUM TEMPO DIVERTIDO E COM UMA EXPRESSÃO JOVIAL
«Bim! Bam!» Exalta a alegria e o sonho de um universo ingénuo e inocente
Um andamento lento de grande intensidade sonora e força expressiva. Mahler neste andamento pretende atingir as mais altas esferas do Ser – o «Amor», o amor que se confunde com a ideia de Deus. «Deus só pode ser pensado como «o amor». Neste andamento são inseridos episódios de vida, momentos mais ou menos burlescos da existência, etapas necessárias ao Ser para passar de um estado inorgânico ao mundo das esferas.
[Elementos colhidos do programa, escrito por: Paulo Pereira de Assis.]
CASA DA MÚSICA – 29.05.2010
SINFONIA Nº.3 DE MAHLER
ONP
DIRECÇÃO MUSICAL – CHRISTOPH KÖNIG
MEIO-SOPRANO – ANKE VONDUNG
CORO CASA DA MÚSICA
CORO INFANTIL DO CPO
sexta-feira, 28 de maio de 2010
O ANDAIME - FERNANDO PESSOA
O tempo que eu hei sonhado
quinta-feira, 27 de maio de 2010
MOTHER - A BUSCA PELA VERDADE
Um filme grandioso, belo e incrivelmente ousado que merece ser lembrado, revisto e apreciado em toda sua complexidade e beleza.
SINOPSE
Hye-ja (Kim Hye-ja) é a mãe de Do-joon (Won Bin), um inocente rapaz que, aos 27 anos, ainda é inteiramente dependente dos cuidados dos adultos. Quando uma jovem rapariga é encontrada brutalmente assassinada num lugar abandonado, todas as pistas apontam para Do-joon que acaba por ser condenado pelo crime. Percebendo a urgência com que a polícia encerrou o caso e absolutamente convicta da inocência do filho, Hye-ja vai fazer de tudo para encontrar o verdadeiro responsável pelo homicídio. Assim começa a saga obstinada de uma mãe que, contra todas as evidências e um sistema policial pouco eficaz, não se deixará abalar pelo desespero.Uma história dramática sobre o poder do amor como força da Natureza.
Da crítica de Jorge Mourinha na Ípsilon:
O novo filme do coreano Bong Joon-ho é um extraordinário melodrama sobre a família, com uma interpretação alucinada de Kim Hye-ja. A figura da mãe é central, a sra. Yoon, é ao mesmo tempo mãe-coragem, mãe-galinha, mãe-possessiva, mãe-controleira, mãe-psicótica, mãe-resignada, mãe-determinada, mãe-enlouquecida. A sra. Yoon é todas as mães numa só, erguendo-se para defender até ao fim o seu filho, convicta para lá de toda e qualquer lógica ou razão de que Do-joon, que é deficiente mental, está inocente do assassínio de uma jovem. Mas essa convicção chega? Ou, no processo de defender Do-joon até às últimas instâncias, não estará também ela a soçobrar na loucura?
Aqui, ao cruzar o grande melodrama familiar com o filme policial de inspiração hitchcockiana, Bong repete a fusão de géneros à sombra de um olhar impiedoso sobre a sociedade coreana - uma cidade de província, onde tudo continua a ser um jogo de espelhos, onde nada é o que parece. A família é o último laço que mantém o edifício de pé. Só que, em "Mother", até esse edifício se arrisca a ruir a qualquer instante à medida que a sra. Yoon começa a fazer a sua investigação e descobre verdades desagradáveis até para si própria. A família, também já foi contaminada - e quando se procura defender os seus valores, o que é que se está realmente a defender?
Notável na sua navegação à vista por estilos, géneros, formas completamente diferentes, "Mother" poderia correr riscos, não fosse a arma secreta de Bong: Kim Hye-ja, popularíssima actriz coreana. A sua mãe, é um prodígio de modulação, capaz de ir do histerismo ao calculismo, sem nunca cair no mero exercício histriónico. É preciso uma senhora actriz para resistir imperturbável às amplitudes térmicas que o guião de "Mother" exige, sob pena de o filme se desfazer. Encontro ideal entre um cineasta e uma actriz, "Mother" torna-se num extraordinário melodrama familiar que desafia estilos, géneros, convenções e nos deixa sem fôlego quando a projecção termina.
segunda-feira, 24 de maio de 2010
CINEMA FRANCÊS-NOUVELLE VAGUE-ALGUNS FILMES DA MINHA VIDA
Tudo começou com Jean Vigo, que filmou em 1934, O ATALANTE, filme que descreve de forma poética, as desventuras de um casal. Esta obra de Vigo pode ser considerada o «marco zero do realismo poético francês», pois representa uma nítida quebra de estética.
François Truffaut, foi um dos arautos do movimento NOUVELLE-VAGUE. Cedo teve grande apetência para o cinema, vendo todos os filmes que podia, andando pelos cineclubes, privando com pessoas também interessadas no cinema.
Quando conheceu André Bazin, esse foi o conhecimento primordial da sua vida, além da protecção que passou a ter, foi a partir daí, que se tornou crítico de cinema e fez parte da mítica revista, Cahiers du cinéma,revista sobre crítica do cinema, fundada em 1951 por André Bazin, Jacques Doniol-Valcroze e Joseph-Marie Lo Duca. União entre a originária revista intitulada Revue du Cinéma e a participação de membros dos cineclubes: Ciné-Club du Quartier Latin e Objectif 49. Nesta união, surgiram outros nomes, na equipe de edição (que era inicialmente composta por Éric Rohmer e Maurice Scherer): Jacques Rivette, Jean-Luc Godard, Claude Chabrol e François Truffaut. Estes jovens colaboradores, estavam interessados em fazer um cinema novo e assim surgiu a NOUVELLE VAGUE. O seu postulado era a "Politique des auteurs", (inspirada em Hitchcok) que defendia a produção autoral, intimista e a baixo custo. O cinema era arte e este movimento veio a influenciar outras cinematografias.
Muitos realizadores aderiram ao postulado da NOUVELLE VAGUE, tanto os que já filmavam, como os que começaram a filmar: René Clair,Robert Bresson, René Clément, Henri-Georges Clouzot, Alain Resnais, Eric Rohmer entre outros.
ALGUNS FILMES:
À BOUT DE SOUFFLE (1960), de Jean-Luc Godard
PIERROT, LE FOU (1965) de Jean-Luc Godard
MA NUIT CHEZ MAUDE (1969) Eric Rohmer
HIROSHIMA MON AMOUR (1959) Alain Resnais
LES QUATRE CENTS COUP (1959), de François Truffaut
JULES e JIM (1962), François Truffaut
domingo, 23 de maio de 2010
MIGUEL DE UNAMUNO
Filólogo, poeta, romancista e filósofo espanhol
Miguel de Unamuno
(29/9/1864, Bilbao, Espanha31/12/1936, Salamanca, Espanha)
Miguel de Unamuno desafiou os franquistas dizendo: "Vencereis, mas não convencereis".
BIOGRAFIA DE MIGUEL DE UNAMUNO : AQUI. SOBRE A SUA OBRA: http://unamuno.sites.uol.com.br/
Me voy de aquí, no quiero más oírme;
Hay ojos que miran, -hay ojos que sueñan,
¡Dime qué dices, mar, qué dices, dime!
sexta-feira, 21 de maio de 2010
ADAGIOS
Lembro o filme «O PROCESSO» , de Orson Welles, baseado no livro do mesmo nome de Franz Kafka.
BARBER
Lembro o filme «PLATOON» de Oliver Stone.
quinta-feira, 20 de maio de 2010
SOBRE A DEMOCRACIA...
A Corrupção é Proporcional à Democracia
Os homens são atormentados pelo pecado original dos seus instintos anti-sociais, que permanecem mais ou menos uniformes através dos tempos. A tendência para a corrupção está implantada na natureza humana desde o princípio. Alguns homens têm força suficiente para resistir a essa tendência, outros não a têm. Tem havido corrupção sob todo o sistema de governo. A corrupção sob o sistema democrático não é pior, nos casos individuais, do que a corrupção sob a autocracia. Há meramente mais, pela simples razão de que onde o governo é popular, mais gente tem oportunidade para agir corruptamente à custa do Estado do que nos países onde o governo é autocrático. Nos estados autocraticamente organizados, o espólio do governo é compartilhado entre poucos. Nos estados democráticos há muito mais pretendentes, que só podem ser satisfeitos com uma quantidade muito maior de espólio que seria necessário para satisfazer os poucos aristocratas. A experiência demonstrou que o governo democrático é geralmente muito mais dispendioso do que o governo por poucos.
Aldous Huxley, in 'Sobre a Democracia e Outros Estudos'
A Sugestibilidade Humana
Os ideais da democracia e da liberdade chocam com o facto brutal da sugestibilidade humana. Um quinto de todos os eleitores pode ser hipnotizado quase num abrir e fechar de olhos, um sétimo pode ser aliviado das suas dores mediante injecções de água, um quarto responderá de modo pronto e entusiástico à hipnopédia. A todas estas minorias demasiado dispostas a cooperar, devemos adicionar as maiorias de reacções menos rápidas, cuja sugestibilidade mais moderada pode ser explorada por não importa que manipulador ciente do seu ofício, pronto a consagrar a isso o tempo e os esforços necessários.
É a liberdade individual compatível com um alto grau de sugestibilidade individual? Podem as instituições democráticas sobreviver à subversão exercida do interior por especialistas hábeis na ciência e na arte de explorar a sugestibilidade dos indivíduos e da multidão? Até que ponto pode ser neutralizada pela educação, para bem do próprio indivíduo ou para bem de uma sociedade democrática, a tendência inata a ser demasiado sugestionável? Até que ponto pode ser controlada pela lei a exploração da sugestibilidade extrema, por parte de homens de negócios e de eclesiásticos, por políticos no e fora do poder?
Aldous Huxley, in 'Regresso ao Admirável Mundo Novo'
Li há anos um livro de Aldous Huxley, ADMIRÁVEL MUNDO NOVO, mas como não tinha ideia nenhuma sobre esse livro, fui à internet ver do que se tratava:
Admirável Mundo Novo é uma fábula futurista escrita em 1932, que narra um hipotético futuro onde as pessoas são pré-condicionadas biologicamente e condicionadas psicologicamente a viverem em harmonia com as leis e regras sociais, dentro de uma sociedade organizada por castas. A sociedade desse "futuro" criado por Huxley não possui a ética religiosa e valores morais que regem a sociedade actual. Qualquer dúvida e insegurança dos cidadãos era dissipada com o consumo da droga sem efeitos colaterais chamada "soma". As crianças têm educação sexual desde os mais tenros anos da vida. O conceito de família não existe.
Estranho!?...Condicionalismo biológico, condicionalismo psicológico, castas, sem valores morais, drogas, crianças, família...não chegamos a tanto e no entanto há aspectos, que lembram isto e aquilo...numa síntese geral não passaríamos de marionetas!...
sexta-feira, 14 de maio de 2010
quinta-feira, 13 de maio de 2010
CINEMA ALEMÃO - WIN WENDERS - FILMES DA MINHA VIDA
O ESTADA DAS COISAS
PARIS-TEXAS
O AMIGO AMERICANO
terça-feira, 11 de maio de 2010
SOBRE GÜNTER GRASS (1927)
Já escrevia poemas, lidos para um grupo de escritores influentes, o grupo 47, mas só depois de mudar para Paris, passou a dedicar-se à literatura. Ao romance de crítica social "Die Blechtrommel" (O TAMBOR), seguiram-se "Katz und Maus" e "Hundejahre".
De ideais políticos de esquerda, participou de forma activa na vida pública do seu país e provocou polémica, renovou a literatura alemã do pós-guerra por meio de textos de irónicos e grotescos, especialmente satirizando a complacente atmosfera do milagre económico da reconstrução pós-nazista. Em 1999 o Nobel de Literatura.
Com uma obra que contesta, desde o início, as ideias nazis que o atraíram na juventude, hoje é considerado o porta-voz literário da geração alemã que cresceu durante o nazismo, e descreve-se a si mesmo como um Spätaufklärer, um devoto da iluminação, numa era cansada da razão.
Quando publicou DESCASCANDO A CEBOLA, livro autobiográfico, o mesmo produziu um choque, com a declaração do escritor Günter Grass, da sua participação como membro da Waffen -SS (tropa de elite do exército do Reich). Esta revelação provocou muita polémica entre escritores e jornalistas. Os argumentos dividiram-se basicamente em dois, de um lado estavam os que declaravam que isso não invalidava o valor dos seus romances, além de considerarem a pouquíssima idade de Grass quando actuou na Waffen . Do outro, questionaram a demora de Günter em revelar esta participação. Numa entrevista concedida a Der Spiegel, Grass comenta a repercussão que sua actuação na tropa nazista teve e explica-se. Ao ser indagado quanto a demora para a revelação, o escritor alemão declarou: Acreditava que minha obra como escritor e cidadão era suficiente. O entrevistador do Der Spiegel, fez uma relação com um trecho do livro autobiográfico, DESCASCANDO A CEBOLA e o romance O TAMBOR, buscando no romance um sentimento já revelador desta culpa de actos passados e a sua justificação pela pouca idade: No instante em que invoco o garoto de treze anos que eu era na época, em que me sinto tentado a julga-lo, ele me escapa. Ele não quer ser avaliado ou julgado. Foge para o colo da mãe e diz: «Eu era apenas um garoto, apenas um garoto. (DESCASCANDO A CEBOLA).
«Não sou responsável pelas coisas que fiz quando criança.» (Personagem Oskar em O TAMBOR). Num outro romance ainda podemos verificar o aparecimento de um possível traço autobiográfico e a sua relação com este sentimento de culpa, trata-se de MAUS PRESSÁGIOS. Alexandre e Alexandra, os protagonistas revelam: Não era necessário remexer no passado, porque as poucas aventuras à margem traziam lembranças inexactas ou mal ordenadas. E o facto de que ele, aos 14 anos, fosse soldado e aos dezassete, membro entusiasta da organização da juventude, era perdoado aos dois, mutuamente, como defeitos congénitos da sua geração; não era preciso descer a nenhum abismo; até porque ele, nos momentos em que duvidava de si próprio, dizia que tinha de lutar continuamente contra o jovem hitlerista que tinha dentro de si… Estaria Grass, ao longo de todos os seus romances, já dando pistas da sua vida passada? Seriam todos os seus romances um desabafo particular?
segunda-feira, 10 de maio de 2010
O TAMBOR DE Volker Schlöndorff, baseado no livro homónimo de Günter Glass
O filme é baseado num romance de Günter Grass,que narra a ascensão do nazismo. Internado num manicómio, Oskar relembra a sua vida desde os três anos, quando decidiu parar de crescer por ódio aos pais e ao mundo adulto. Este romance teve um impacto, que ultrapassou as fronteiras do espaço da língua alemã e representa um marco significativo da literatura mundial. Suscitou muitas más críticas e protestos contra as cenas «libertinas», considerando-o mesmo pornográfico. Grass incorporou o demoníaco no seu romance, sobre a época do nazismo e dissecou os pequenos-burgueses, pretensamente indefesos, mas coniventes com o regime, traçando seus destinos com a história mundial em diversos pequenos episódios. Do ponto de vista da história da literatura, o estilo expressionista experimental de O Tambor, «o desfile de carnaval narrativo», influenciou gerações de autores. Já o próprio Grass reconheceria como modelo, escritores como Alfred Döblin.
DO MESMO REALIZADOR FILMES QUE RECORDO:
1969 – Michael Kohlhaas. Der Rebell – da novela homónima de Heinrich von Kleist
1975 – Die verlorene Ehre der Katharina Blum – baseado na obra homónima de Heinrich Böll
Volker Schlöndorff, fez parte do Novo Cinema Alemão, nome dado à produção cinematográfica da Alemanha, nas décadas de 1960, 1970 e 1980.Principais representantes além de Schlöndorff, Rainer Werner Fassbinder, Werner Herzog, Wim Wenders e Margarethe Von Trotta.
Movimento que surgiu, depois do poderoso cinema expressionista alemão, de: Fritz Lang, Willelm F. Murnau e Joseph von Sternberg (1917- 1933), após a I Guerra Mundial. Durante a II Guerra Mundial, Leni Riefenstahl,foi a directora mais prestigiada no cinema do regime nazista, que motivou a emigração de vários realizadores para os EUA: Lang, Billy Wilder, Preminger.
sexta-feira, 7 de maio de 2010
SE...
Se podes dizer bem de quem te calunia…
Se podes ver por terra as obras que fizeste,
Se puderes obrigar o coração e os músculos
Se vivendo entre o povo és virtuoso e nobre…
(RUDYARD KIPLING
- tradução de Féliz Bermudes)
quinta-feira, 6 de maio de 2010
quarta-feira, 5 de maio de 2010
RAUL LEAL (1886-1964)
Em 1935, quando o fascismo se consolidava Pessoa escreveu uma carta a Carmona, que não chegou a enviar, onde dizia, "que até aqui a Ditadura não tinha tido o impudor de renegando toda a verdadeira política do espírito - isto é, o de pôr o espírito acima da política - vir intimar quem pensa a que pense pela cabeça do Estado, que a não tem, ou de vir intimar a quem trabalha a que trabalhe livremente como lhe mandam".
As pesquisas que tenham feito na Internet, fazem bastante referência a esta situação (a que já fiz referência aqui no blogue), mas relativamente à obra de Raul Leal não encontrei nada.
terça-feira, 4 de maio de 2010
segunda-feira, 3 de maio de 2010
POETA ALDA LARA
Prelúdio Pela estrada desce a noite
Alda Ferreira Pires Barreto de Lara Albuquerque. Benguela, Angola, 9.6.1930 - Cambambe, Angola, 30.1.1962). Era casada com o escritor Orlando Albuquerque. Muito nova veio para Lisboa onde concluiu o 7º ano do Liceu. Frequentou as Faculdades de Medicina de Lisboa e Coimbra, licenciando-se por esta última. Em Lisboa esteve ligada a algumas das actividades da Casa dos Estudantes do Império. Declamadora, chamou a atenção para os poetas africanos. Depois da sua morte, a Câmara Municipal de Sá da Bandeira instituiu o Prémio Alda Lara para poesia. Orlando Albuquerque propôs-se editar-lhe postumamente toda a obra e nesse caminho reuniu e publicou um volume de poesias e um caderno de contos. Colaborou em alguns jornais ou revistas, incluindo a Mensagem (CEI).
Obra poética:
Poemas, 1966, Sá de Bandeira, Publicações Embondeiro;
Poesia, 1979, Luanda, União dos Escritores Angolanos;
Poemas, 1984, Porto, Vertente Lda. (poemas completos).
POESIA
E apesar de tudo,
ainda sou a mesma!
Livre e esguia,
filha eterna de quanta rebeldia
me sagrou.
Mãe-África!
Mãe forte da floresta e do deserto,
ainda sou,
a irmã-mulher
de tudo o que em ti vibra
puro e incerto!...
- A dos coqueiros,
de cabeleiras verdes
e corpos arrojados
sobre o azul...
A do desdém
nascendo dos abraços
das palmeiras...
A do sol bom,
mordendo
o chão das Ingombotas...
A das acácias rubras,
salpicando de sangue as avenidas,
longas e floridas...
Sim!, ainda sou a mesma.
- A do amor transbordando
pelos carregadores do cais
suados e confusos,
pelos bairros imundos e dormentes
(Rua 11...Rua 11...)
pelos negros meninos
de barriga inchada
e olhos fundos...
Sem dores nem alegrias,
de tronco nu e musculoso,
a raça escreve a prumo,
a força destes dias...
E eu revendo ainda
e sempre, nela,
aquela
longa historia inconsequente...
Terra!
Minha, eternamente...
Terra das acácias,
dos dongos,
dos cólios baloiçando,
mansamente... mansamente!...
Terra!
Ainda sou a mesma!
Ainda sou
a que num canto novo,
pura e livre,
me levanto,
ao aceno do teu Povo!...
em poentes cor de sangue...
Trago os braços embrulhados
numa palma bela e dura
e nos lábios a secura
dos anseios retalhados...
Enrolada nos quadris
cobras mansas que não mordem
tecem serenos abraços...
E nas mãos, presas com fitas
azagaias de brinquedo
vão-se fazendo em pedaços...
Só nos olhos naufragados
estes poentes de sangue...
Só na carne rija e quente,
este desejo de vida!...
Donde venho, ninguém sabe
e nem eu sei...
Para onde vou
diz a lei
tatuada no meu corpo...
E quando os pés abram sendas
e os braços se risquem cruzes,
quando nos olhos parados
que trazem naufragados
se entornarem novas luzes...
Ah! Quem souber,
há-de ver
que eu trago a lei
no meu corpo...
RONDA
Na dança dos dias
meus dedos bailaram...
Na dança dos dias
meus dedos contaram
contaram, bailando
cantigas sombrias...
Na dança dos dias
meus dedos cansaram...
Na dança dos meses
meus olhos choraram
Na dança dos meses
meus olhos secaram
secaram, chorando
por ti, quantas vezes!
Na dança dos meses
meus olhos cansaram...
Na dança do tempo,
quem não se cansou?!
Oh! dança dos dias
oh! dança dos meses
oh! dança do tempo
no tempo voando...
Dizei-me, dizei-me,
até quando? até quando?
POEMAS QUE EU ESCREVI NA AREIA
I
Meu bergantim, onde vens,
que te não posso avistar?
Bergantim! Meu bergantim!
Quero partir, rumo ao mar...
Tenho pressa! Tenho pressa!
Já vejo abutres voando
além, por cima de mim...
Tenho medo... Tenho medo
de não me chegar ao fim.
Meus braços estão torcidos.
Minha boca foi rasgada.
Mas os olhos, estão bem vivos,
e esperam, presos ao Céu...
Que haverá p'ra além da noite?
p'ra além da noite de breu?
Ah! Bergantim, como tardas...
Não vês meu corpo jazendo
na praia, do mar esquecido?...
Esse mar que eu quis viver,
e sacudir e beijar,
sem ondas mansas, cobrindo-o...
Quem dera viesses já...
que vai ficando bem tarde!
E eu não me quero acabar,
sem ver o que há para além
deste grande, imenso céu
e desta noite de breu...
Não quero morrer serena
em cada hora que passa
sem conseguir avistar-te...
Com meu olhar enxergando
apenas a noite escura,
e as aves negras, voando...
II
Meu bergantim foi-se ao mar...
Foi-se ao mar e não voltou,
que numa praia distante,
meu bergantim se afundou...
Meu bergantim foi-se ao mar!
levava beijos nas velas,
e nas arcas, ilusões,
que só a mim me ofereci...
Levava à popa, esculpido,
o perfil, leve e discreto,
daqueles que um dia perdi.
Levava mastros pintados,
bandeiras de todo o mundo,
e soldadinhos de chumbo
na coberta, perfilados.
Foi-se ao mar meu bergantim,
Foi-se ao mar... nunca voltou!
.........................
E por sete luas cheias
No areal se chorou... CONSULTA: http://betogomes.sites.uol.com.br/AldaLara.htm
sábado, 1 de maio de 2010
SEXTA DE MAHLER (GRANDES EMOÇÕES)
Esta sinfonia vai suscitar muitos enigmas que só uma geração que tenha compreendido e digerido as minhas primeiras cinco sinfonias pode vir a entender – GUSTAV MAHLER
A SEXTA SINFONIA de Mahler expressa a luta do Homem contra a matéria, a tentativa de afirmar a capacidade individual da vontade humana, contra a violenta inevitabilidade do destino. No fim vence a resignação, a força do destino e a solidão fundamental do indivíduo singular – mas trata-se de uma vitória de Pirro para a matéria: através da derrota, o Homem supera-se a si mesmo, alcançando esferas existenciais mais elevadas. A solidão, a ânsia por um inalcançável Olimpo e a pesada derrota corporal são representadas simbolicamente por três instrumentos de percussão, cujo uso dentro de uma obra sinfónica é pioneiro: os chocalhos de vaca (cowbells) simbolizando a solidão humana radical, a celesta sugerindo um Olimpo almejado, e o martelo (como um golpe seco de machado) representando a derrota física e psíquica completa.
Esta obra é dramática, existencialmente negativista e essencialmente trágica. As luminosas caminhadas solitárias, na alta montanha dos Alpes austríacos (com a companhia apenas de chocalhos de vacas), conduzem Mahler à profundidade tenebrosa da sua psique (onde os violentos golpes de martelo repercutiam intensamente).
A SEXTA revela uma mente ao mesmo tempo perturbada e visionária, confiante e aterrada, desejosa de viver mais, contemplando a morte olhos nos olhos.
PRIMEIRO ANDAMENTO – allegro, enérgico, ma non troppo
É como uma marcha imparável e impiedosa, de fôlego ininterrupto e carácter vincado. O segundo tema do primeiro andamento é conhecido como o «Tema de Alma», dedicado à mulher, como também lhe foi dedicada parte da QUINTA. Acaba com uma fanfarra de júbilo: o Homem está ainda firme no mundo, mesmo se já teve uma visão da sua radical solidão.
SEGUNDO ANDAMENTO – Scherzo, Wuchig/Trio, Alväterisch, grazioso
Mahler dedica-se a uma das suas especialidades, criar distâncias incómodas entre o que a música «promete» e aquilo que de facto oferece. Este andamento consiste num jogo alternado de danças, compassos e métricas: uma sequência de caricaturas de Ländlers e Minuetos, ou simplesmente uma brincadeira de crianças endiabradas, intercaladas por dois trios serenos e tranquilos.
TERCEIRO ANDAMENTO: Andante Moderato
Oscila entre um lirismo exacerbado de cariz «pós-schubertiano», passagens quase Berceuse, erupções apaixonadas e subtis confidências poéticas. Parece sugerir uma reflexão sobre o universo feminino que rodeava Mahler (a mulher, Alma, duas filhas e a irmã do compositor).
QUARTO ANDAMENTO: Finalle: Allegro moderato/ allegro enérgico
Chegamos à catarsis, um dos movimentos mais dramáticos de toda a música Ocidental, que vai desenvolver um sentido de catástrofe contínua, irreversível e conclusiva.
Na luminosa observação de Erwin Ratz, o «fim», a «morte», a derrota sem apelo do herói, adquire aqui um novo sentido: o Homem cumpriu a sua missão. Mesmo que tenha aparentemente perdido, que tenha sido lançado no mais fundo dos abismos, a sua individualidade alcançou esferas mais elevadas. Deste modo a morte não é um fim, os golpes violentos do martelo aniquilam o elemento físico e psicológico, mas é através dessa destruição que se alcançam novos, infinitos e impalpáveis universos.
[Informações colhidas: programa da Casa da Música (Paulo Pereira de Assis)]