O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

terça-feira, 11 de maio de 2010

SOBRE GÜNTER GRASS (1927)

Günter Wilhelm Grass estudou em Dantzig e, aos 17 anos, aderiu à juventude nazista, através da Waffen-SS. Ferido na guerra (1945), foi preso em Marienbad, então Checoslováquia, e libertado no ano seguinte. Trabalhou em minas e como aprendiz de pedreiro. Estudou desenho e escultura na Academia de Arte de Düsseldorf e na Academia de Artes de Berlim.
Já escrevia poemas, lidos para um grupo de escritores influentes, o grupo 47, mas só depois de mudar para Paris, passou a dedicar-se à literatura. Ao romance de crítica social "Die Blechtrommel" (O TAMBOR), seguiram-se "Katz und Maus" e "Hundejahre".
De ideais políticos de esquerda, participou de forma activa na vida pública do seu país e provocou polémica, renovou a literatura alemã do pós-guerra por meio de textos de irónicos e grotescos, especialmente satirizando a complacente atmosfera do milagre económico da reconstrução pós-nazista. Em 1999 o Nobel de Literatura.
Com uma obra que contesta, desde o início, as ideias nazis que o atraíram na juventude, hoje é considerado o porta-voz literário da geração alemã que cresceu durante o nazismo, e descreve-se a si mesmo como um Spätaufklärer, um devoto da iluminação, numa era cansada da razão.


Quando publicou DESCASCANDO A CEBOLA, livro autobiográfico, o mesmo produziu um choque, com a declaração do escritor Günter Grass, da sua participação como membro da Waffen -SS (tropa de elite do exército do Reich). Esta revelação provocou muita polémica entre escritores e jornalistas. Os argumentos dividiram-se basicamente em dois, de um lado estavam os que declaravam que isso não invalidava o valor dos seus romances, além de considerarem a pouquíssima idade de Grass quando actuou na Waffen . Do outro, questionaram a demora de Günter em revelar esta participação. Numa entrevista concedida a Der Spiegel, Grass comenta a repercussão que sua actuação na tropa nazista teve e explica-se. Ao ser indagado quanto a demora para a revelação, o escritor alemão declarou: Acreditava que minha obra como escritor e cidadão era suficiente. O entrevistador do Der Spiegel, fez uma relação com um trecho do livro autobiográfico, DESCASCANDO A CEBOLA e o romance O TAMBOR, buscando no romance um sentimento já revelador desta culpa de actos passados e a sua justificação pela pouca idade: No instante em que invoco o garoto de treze anos que eu era na época, em que me sinto tentado a julga-lo, ele me escapa. Ele não quer ser avaliado ou julgado. Foge para o colo da mãe e diz: «Eu era apenas um garoto, apenas um garoto. (DESCASCANDO A CEBOLA).
«Não sou responsável pelas coisas que fiz quando criança.» (Personagem Oskar em O TAMBOR). Num outro romance ainda podemos verificar o aparecimento de um possível traço autobiográfico e a sua relação com este sentimento de culpa, trata-se de MAUS PRESSÁGIOS. Alexandre e Alexandra, os protagonistas revelam: Não era necessário remexer no passado, porque as poucas aventuras à margem traziam lembranças inexactas ou mal ordenadas. E o facto de que ele, aos 14 anos, fosse soldado e aos dezassete, membro entusiasta da organização da juventude, era perdoado aos dois, mutuamente, como defeitos congénitos da sua geração; não era preciso descer a nenhum abismo; até porque ele, nos momentos em que duvidava de si próprio, dizia que tinha de lutar continuamente contra o jovem hitlerista que tinha dentro de si… Estaria Grass, ao longo de todos os seus romances, já dando pistas da sua vida passada? Seriam todos os seus romances um desabafo particular?

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