O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

quinta-feira, 27 de maio de 2010

MOTHER - A BUSCA PELA VERDADE

Joon-ho é um dos grandes nomes do cinema mundial actual e, certamente, só cresceu mais com este seu novo trabalho. Seu domínio visual permite que ele consiga transitar entre cenas de acção de tirar o fôlego e belíssimas sequências líricas que lembram muito o cinema clássico oriental.
Um filme grandioso, belo e incrivelmente ousado que merece ser lembrado, revisto e apreciado em toda sua complexidade e beleza.




SINOPSE
Hye-ja (Kim Hye-ja) é a mãe de Do-joon (Won Bin), um inocente rapaz que, aos 27 anos, ainda é inteiramente dependente dos cuidados dos adultos. Quando uma jovem rapariga é encontrada brutalmente assassinada num lugar abandonado, todas as pistas apontam para Do-joon que acaba por ser condenado pelo crime. Percebendo a urgência com que a polícia encerrou o caso e absolutamente convicta da inocência do filho, Hye-ja vai fazer de tudo para encontrar o verdadeiro responsável pelo homicídio. Assim começa a saga obstinada de uma mãe que, contra todas as evidências e um sistema policial pouco eficaz, não se deixará abalar pelo desespero.Uma história dramática sobre o poder do amor como força da Natureza.


Da crítica de Jorge Mourinha na Ípsilon:

O novo filme do coreano Bong Joon-ho é um extraordinário melodrama sobre a família, com uma interpretação alucinada de Kim Hye-ja. A figura da mãe é central, a sra. Yoon, é ao mesmo tempo mãe-coragem, mãe-galinha, mãe-possessiva, mãe-controleira, mãe-psicótica, mãe-resignada, mãe-determinada, mãe-enlouquecida. A sra. Yoon é todas as mães numa só, erguendo-se para defender até ao fim o seu filho, convicta para lá de toda e qualquer lógica ou razão de que Do-joon, que é deficiente mental, está inocente do assassínio de uma jovem. Mas essa convicção chega? Ou, no processo de defender Do-joon até às últimas instâncias, não estará também ela a soçobrar na loucura?
Aqui, ao cruzar o grande melodrama familiar com o filme policial de inspiração hitchcockiana, Bong repete a fusão de géneros à sombra de um olhar impiedoso sobre a sociedade coreana - uma cidade de província, onde tudo continua a ser um jogo de espelhos, onde nada é o que parece. A família é o último laço que mantém o edifício de pé. Só que, em "Mother", até esse edifício se arrisca a ruir a qualquer instante à medida que a sra. Yoon começa a fazer a sua investigação e descobre verdades desagradáveis até para si própria. A família, também já foi contaminada - e quando se procura defender os seus valores, o que é que se está realmente a defender?
Notável na sua navegação à vista por estilos, géneros, formas completamente diferentes, "Mother" poderia correr riscos, não fosse a arma secreta de Bong: Kim Hye-ja, popularíssima actriz coreana. A sua mãe, é um prodígio de modulação, capaz de ir do histerismo ao calculismo, sem nunca cair no mero exercício histriónico. É preciso uma senhora actriz para resistir imperturbável às amplitudes térmicas que o guião de "Mother" exige, sob pena de o filme se desfazer. Encontro ideal entre um cineasta e uma actriz, "Mother" torna-se num extraordinário melodrama familiar que desafia estilos, géneros, convenções e nos deixa sem fôlego quando a projecção termina.

Nenhum comentário:

Postar um comentário