O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

segunda-feira, 2 de maio de 2011

MÃE

Mãe - Almada Negreiros

MÃE


Poema de Almada Negreiros(1893-1970)




Mãe! Vem ouvir a minha cabeça


a contar histórias ricas que ainda não viajei!


Traz tinta encarnada para escrever estas coisas!


Tinta cor de sangue verdadeiro, encarnado!


Eu ainda não fiz viagens


E a minha cabeça não se lembra senão de viagens!


Eu vou viajar. Tenho sede!


Eu prometo saber viajar.


Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um.


Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa.


Depois venho sentar-me a teu lado.


Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens,


aquelas que eu viajei, tão parecidas com as que não viajei,


escritas ambas com as mesmas palavras.


Mãe!


Ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado!


Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa.


Eu também quero ter um feitio,


um feitio que sirva exatamente para a nossa casa, como a mesa.


Como a mesa.


Mãe!


Passa a tua mão pela minha cabeça!


Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!





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