O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

quarta-feira, 4 de maio de 2011

PRÉMIOS LITERÁRIOS



Lídia Jorge ganhou o Prémio da Latinidade “João Neves da Fontoura”.
Presidido pelo ensaísta Eduardo Lourenço, o júri da edição do galardão deste ano decidiu atribuí-lo a Lídia Jorge “pela consagração da sua obra como escritora que muito tem contribuído para o enriquecimento do património cultural e literário do Portugal contemporâneo”.
Até 2008 designado por Prémio da Latinidade “Troféu Latino”, passou em 2009 a ter o nome de Prémio da Latinidade “João Neves da Fontoura”, ministro dos Negócios Estrangeiros brasileiro a quem se deve a criação da União Latina como organização internacional.
Com este Prémio criado em 2002, a União Latina visa homenagear uma personalidade ou instituição que se tenha distinguido, pela sua obra, na difusão da Latinidade, nos domínios artístico, literário ou científico.


Nascida em Boliqueime, no Algarve, em 1946, Lídia Jorge licenciou-se em Filologia Românica na Universidade de Lisboa, deu aulas, escreveu quinze livros editados em várias línguas, entre eles romances, antologias de contos e uma peça de teatro.
A publicação do seu primeiro romance, em 1980, “O Dia dos Prodígios”, foi considerado marcante num período em que se tinha iniciado uma nova fase da literatura portuguesa.

Nas edições anteriores foram galardoados o cineasta Manoel de Oliveira (2002), o ensaísta Eduardo Lourenço (2003), o arquitecto Álvaro Siza Vieira (2004), o ex-Presidente da República Mário Soares (2005), a investigadora de estudos clássicos Maria Helena da Rocha Pereira (2006), o historiador José Mattoso (2007), o ator e encenador Luís Miguel Cintra (2008), o artista plástico Júlio Pomar (2009), e o arquitecto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles (2010).
Fundada em 1954, a União Latina é composta por 36 Estados de língua oficial ou nacional românica e tem como objectivo promover a reflexão sobre os valores culturais e linguísticos do conjunto da comunidade latina e a consciência da identidade cultural comum destes povos.




Fado do retorno - Lídia Jorge

Amor, é muito cedo
E tarde uma palavra
A noite uma lembrança
Que não escurece nada

Voltaste, já voltaste
Já entras como sempre
Abrandas os teus passos
E paras no tapete

Então que uma luz arda
E assim o fogo aqueça
Os dedos bem unidos
Movidos pela pressa

Amor, é muito cedo
E tarde uma palavra
A noite uma lembrança
Que não escurece nada

Voltaste, já voltei
Também cheia de pressa
De dar-te, na parede
O beijo que me peças

Então que a sombra agite
E assim a imagem faça
Os rostos de nós dois
Tocados pela graça.

Amor, é muito cedo
E tarde uma palavra
A noite uma lembrança
Que não escurece nada

Amor, o que será
Mais certo que o futuro
Se nele é para habitar
A escolha do mais puro

Já fuma o nosso fumo
Já sobra a nossa manta
Já veio o nosso sono
Fechar-nos a garganta

Então que os cílios olhem
E assim a casa seja
A árvore do Outono
Coberta de cereja.


O escritor Pedro Tamen vence o Grande Prémio da Poesia, atribuído pela Associação de Escritores Portugueses, com "O Livro do Sapateiro”

Em Fevereiro deste ano, “O Livro do Sapateiro” já tinha vencido o prémio Correntes d’Escritas. Em edições anteriores, o Grande Prémio da Poesia distinguiu Natália Correia, Eugénio de Andrade António Ramos Rosa, Fernando Echevarria, Gastão Cruz, Fiama Hasse Pais Brandão, entre outros.

Pedro Tamen nasceu em Lisboa em 1934, tendo recebido ao longo da sua vida literária vários galardões, entre eles o Prémio D. Dinis em 1981; em 1919, o Prémio da Crítica e o Grande Prémio Inapa de Poesia; em 1997, recebeu o Prémio Nicola e em 2000 foi distinguido com o Prémio Imprensa e o Prémio do PEN Club.


Não falo de palavras, nem de goivos,

mas de horas atadas ao pescoço.

Poema verdadeiro é sermos noivos:

saber tirar a pele e o caroço

ao grito entre a morte e outra morte

que nos mantenha lassos e despertos

até que venha o talhe que nos corte

e nos retire os poços e desertos.

Por isso, meu amor, o que te dou,

beijo beijado em corpo claro e vivo,

é mais que o verso que te dizem,

ou aliterante, agudo ou conjuntivo.


Colado a tudo, mesmo a contragosto,

o rio inventa o verso, e não assim

como se ao espelho visse o próprio rosto,

mas tu além-palavra, ao pé de mim.

(Escrito de Memória, 1973)



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