Sem título, Pessoa criou um texto que encerra uma muito peculiar interpretação da personagem Salomé. Esse projecto de peça, passível de muitos fios de leitura, foi adaptada por Amaral, com o objectivo de criar uma obra original, inspirada na beleza onírica deste drama pessoano.
As razões que levaram Amaral a escolher o texto: interpretação fascinante do mito de Salomé, o carácter simbolista do texto e a sua linguagem, que é trabalhada como um rendilhado precioso, polido em cada palavra, mas criando simultaneamente uma impressão difusa, como um halo poético que emana das vozes e das personagens.
SALOMÉ - CARAVAGGIO
ORIGENS MÍTICAS DE SALOMÉ: No Novo Testamento, sobretudo no Evangelho de S. Marcos, este mito surge num episódio lateral e, dentro do próprio episódio, Salomé é uma personagem secundária. A personagem central é Herodíade, mãe de Salomé, que casou em segundas núpcias com Herodes, irmão do primeiro marido e isso teve contornos escandalosos. No deserto, João Baptista clamava com veemência contra Herodíade, chamando-lhe «prostituta da Babilónia». Herodes mandou prendê-lo, mas devido à sua aura de santidade, não o queria matar, no entanto a sua enteada Salomé vai provocar isso. Durante um banquete Salomé dança e Herodes fica tão fascinado, que imprudentemente, lhe oferece tudo que ela desejar e esta sem saber o que pedir, consulta a mãe, que lhe ordena que peça a cabeça de João Baptista.
Este mito motivou várias abordagens: o romance de Flaubert, que deu origem à ópera Hérodiade de Massenet, Eça de Queiroz, dedicou-lhe algumas páginas na Relíquia, Salomé de Eugénio de Castro, Hérodiade de Mallarmé, Oscar Wilde que deu a Salomé uma grande carga erótica, assim como o compositor Richard Strauss e até Freud nos seus, Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade.
A forma de Pessoa abordar este mito é única e original. Como Pessoa, Salomé é alguém que vive essencialmente em pensamento. Salomé e Pessoa são ambos a imagem de João Baptista, cabeças separadas do corpo. Salomé foi construída à imagem de Pessoa, uma sonhadora. Há alguma diferença entre o sonho e a vida? Pessoa coloca-nos no interior de um intrincado labirinto de sonhos. Pessoa sonha uma personagem, Salomé, que sonha outra, João Baptista, que sonha outra um deus. Nesta peça todas as personagens podem ser vistas como criações de Salomé.
Este mito motivou várias abordagens: o romance de Flaubert, que deu origem à ópera Hérodiade de Massenet, Eça de Queiroz, dedicou-lhe algumas páginas na Relíquia, Salomé de Eugénio de Castro, Hérodiade de Mallarmé, Oscar Wilde que deu a Salomé uma grande carga erótica, assim como o compositor Richard Strauss e até Freud nos seus, Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade.
A forma de Pessoa abordar este mito é única e original. Como Pessoa, Salomé é alguém que vive essencialmente em pensamento. Salomé e Pessoa são ambos a imagem de João Baptista, cabeças separadas do corpo. Salomé foi construída à imagem de Pessoa, uma sonhadora. Há alguma diferença entre o sonho e a vida? Pessoa coloca-nos no interior de um intrincado labirinto de sonhos. Pessoa sonha uma personagem, Salomé, que sonha outra, João Baptista, que sonha outra um deus. Nesta peça todas as personagens podem ser vistas como criações de Salomé.
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