O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE
JEAN-PAUL SARTRE
terça-feira, 29 de junho de 2010
POESIA DE KONSTANTN KAVAFIS
Muros
Sem piedade e sem pudor, sem dó e sem cuidado
à minha volta espessos muros tão altos quem teceu?
E eis‑me agora aqui na sorte a que fui dado,
em mais não penso: não me sai da ideia o que aconteceu.
Lá fora há tanto que fazer - tudo ruído!
E, se estes muros construíram, porque não dei por tal?
Não ouvi de pedreiro nem voz nem ruído
E sem saber fiquei fechado, sem vista e sem portal.
A cidade
Dizes: “Vou para outra terra, vou para outro mar.
Noutro lugar, melhor cidade há‑de haver certamente.
Será malogro, está escrito, tudo o que aqui tente
E - como morto - o coração sepultado aqui me jaz.
Por quanto tempo há‑de ficar minh'alma em tão podre paz?
Pra todo o lado olhei, em todo o lado vi
Ruínas negras desta minha vida aqui,
Que tantos anos eu gastei a estragar, a dissipar."
Novo lugar não vais achar, nem achar novos mares.
Vai‑te seguir esta cidade. Ruas vais percorrer,
serão as mesmas, e nos mesmos bairros hás‑de viver,
nas mesmas casas ficará de neve o teu cabelo.
Hás‑de ir ter sempre ao mesmo sítio, sem qualquer apelo.
Para outro lugar não há navio ou caminho
e estragares a vida tu neste cantinho
é pois igual a nesse largo mundo a dissipares.
Quanto puderes
Mesmo que não possas fazer a vida como a queres,
isto ao menos tenta
quanto puderes: não a desbarates
nos muitos contactos do mundo,
na agitação e nas conversas.
Não a desbarates arrastando‑a,
e mudando‑a e expondo‑a
ao quotidiano absurdo
das relações e das companhias
até se tornar um estranho importuno.
Candelabro
Num quarto pequeno e nu, quatro paredes somente,
recamadas de muito verdes panos,
um belo candelabro brilha incandescente;
e em cada uma das chamas se acende
uma lúbrica paixão, um lúbrico ardor.
Na pequena alcova, que ilumina refulgente
a forte luz que vem do candelabro,
não é vulgar fogo esta luz ardente.
Não foi feita para os corpos tementes
a volúpia que há neste calor.
Termópilas
Honra se deve àqueles que na vida
Termópilas fixaram p'ra guardar,
que do seu dever nunca se desviam
que nunca fogem ao que o dever dita
e justos são na acção e sempre rectos,
mas nunca perdem pena e compaixão;
se ricos, generosos, e se pobres
ainda generosos com seu pouco.
Que acodem sempre a todos quantos podem;
e, que à verdade sempre são fiéis,
mas não guardam rancor aos que são falsos.
E honra ainda mais lhes é devida,
se já prevêem (são tantos os que o fazem),
que no fim há‑de vir um Efiálte,
e os Persas no final hão‑de passar.
Che fece ... Il gran rifiuto
Para algumas pessoas há‑de chegar o instante
em que têm que dizer o grande Não ou o grande Sim.
Nessa altura se mostra qual delas tem dentro de si
pronto o Sim, qual o diz e logo segue adiante
do seu valor segura, e da sua certeza.
Quem nega não renega. E à pergunta, repetida,
"Não" diria. Porém durante toda a vida
Aquele "Não" tão certo lhe há‑de ter a vida presa.
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