Se o realismo poético francês, inspirou a Nouvelle Vague, em Itália também foi o inspirador do Neo-realismo e estes dois movimentos foram influenciadores de muito cinema subsequente.
Este movimento é datado nos anos 1944/45, fim da II Guerra Mundial, com o aparecimento do filme, Roma, Cidade Aberta de Rossellini. Um dos realizadores marcantes deste movimento estético, juntamente com Vittorio De Sica e Luchino Visconti. Relativamente à origem do termo, não há certezas.
Seguindo os estilos estéticos da História da Arte e do Cinema, o nascimento dessa corrente aconteceu gradualmente, levando algum tempo até que se observasse o aparecimento de um filme genuinamente neo realista. E, da mesma forma, sofreu uma decadência paulatina, sem um ponto delimitado de começo ou fim.
Este novo cinema pretendia, introduzir realidade dentro da ficção, a realidade social, psicológica, política, económica da época, como veículo estético-ideológico da resistência. Nos filmes os protagonistas eram pessoas da classe operária imersas num ambiente injusto e fatalista, sempre encontrando a frustração na eterna busca por melhores condições de vida.
Surgiu no final da Segunda Grande Guerra, quando a Itália estava em processo de "libertação" do regime fascista, que vigorou de 1922 a 1945,como veículo estético-ideológico da resistência. O Fascismo, muito além de puro fenómeno político, trazia consigo uma ideologia estética vinculada a valores morais e sociais, inerente às ideologias totalitárias. Um dos objectivos da geração neo realista, seria uma maior aproximação ao que acreditava ser a realidade do povo, para contrapor a essa "falsa imagem" da sociedade. Os jovens directores acreditaram no cinema como forma de expor e denunciar os problemas.
OBRAS CARISMÁTICAS:
Luchino Visconti, com seu filme "Ossessione", de 1942. Adaptação do romance "The Postman Always Rings Twice" ("O Carteiro sempre toca duas vezes"). O realizador, retratou um país de contrastes, que destoava da representação estilizada então dominante. Isso chocou a censura que, mesmo tendo aprovado, engavetaram a produção, até que o próprio Duce tivesse visto!
Roberto Rossellini, ainda durante a guerra — e, mais especificamente, no próprio campo de batalha — filma "Roma, Città Aperta" (1945), inserindo registos de combates verdadeiros na dramatização. Rodado clandestinamente, como a própria resistência dos Partisans, o filme situa-se num limiar entre encenação e o documento histórico.
Em "Germania, Anno Zero" (1947), Rosselini visitou a outra nação derrotada (e destroçada), a Alemanha, para mostrar uma realidade muito semelhante à da Itália. Submetidos novamente a uma ocupação, a restrições e a toda sorte de privações, os alemães violaram os valores éticos mais primários por causa da fome, e Rossellini espelha neles a própria crise italiana.
Mas é com Vittorio De Sica que o Neo-Realismo produz uma das obras mais expressivas e emblemáticas da sua estética. O filme «Ladri di biciclette» (1948) contém os principais elementos do filme Neo-Realista: a temática dos problemas sociais, a criança, os actores iniciantes ou desconhecidos, a ambientação in loco, a ausência de apelos técnicos ou dramatúrgicos e ao mesmo tempo um intenso conflito na trama. Pela história de um homem recém empregado, que tem como seu instrumento de trabalho a bicicleta, que lhe é roubada, e desse forma perde o emprego. De Sica emoldura um quadro da classe trabalhadora urbana de então, assombrada pelo desemprego.
Em 1948, também é o ano do aparecimento de vertentes distintas do mesmo movimento, que de certo modo significam estágios paralelos de desenvolvimento.
Em «La Terra Treme» filme de Visconti, pescadores da Sicília interpretam eles próprios, num filme rodado de maneira semi-documental.
[Trailer de «La terra Treme» inexistente. Um pouco sobre Visconti, que deixou filmes inesquecíveis]
Mas o apelativo "Riso Amaro", de Giuseppe DeSantis, constitui outra face do movimento, ainda que se situe dentro da maleável fronteira do "estilo" Neo-Realista. Para muitos críticos, observa-se o início do declínio do movimento. A chamada geração neo-realista, que ainda teve outros realizadores menos significativos, acaba, sucumbindo às circunstâncias.
Na década de 1950, o cenário já é outro, o quadro de crise económica e social parece ter sido amenizado, a televisão ganha cada vez mais espaço e para a enfrentar, os produtores passam a investir no cinema de puro entretenimento. Um pouco mais tarde, Federico Fellini e Michelangelo Antonioni, que tinham participado do Neo Realismo, afastam-se e tomam o caminho da farsa exuberante e do drama existencial.
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