O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

domingo, 27 de junho de 2010

CHARLOTTE RAMPLING EM LISBOA E NO PORTO COM A PEÇA YOURCENAR/ CAVAFIS

Sempre apreciei o trabalho desta artista e, tudo começou com o filme «O Porteiro da Noite», de Lilian Cavalcanti, onde contracenava com outro excelente actor Dirk Bogard. Um filme de tema pesado, uma sobrevivente de um campo de concentração reencontra-se com um guarda nazi que a torturou em tempo de guerra. A partir daí fez uma sucessão de filmes bons, aliando também a sua participação ao teatro.
«Não costumo fazer filmes para entreter as pessoas, escolho antes o que me desafia a superar as minhas próprias barreiras. Para descobrir o que significa a normalidade é preciso experimentar alguma «estranheza».
Esta máxima Charlotte aplica ao ecran e aos palcos de teatro.
Esta peça cruza alguns poemas de Konstanyinos Cavafis com excertos de romances e ensaios de Marguerite Yourcenar (Memórias de Adriano, A Obra ao Negro), que se identificou com o poeta numa viagem a Atenas, apesar do mesmo na altura já ter morrido.

Konstantinos Kavafis AQUI


Ítaca

Quando abalares, de ida para Ítaca,
Faz votos por que seja longa a viagem,
Cheia de aventuras, cheia de experiências.
E quanto aos Lestrigões, quanto aos Ciclopes,
O irado Poséidon, não os temas,
Disso não verás nunca no caminho,
Se o teu pensar guardares alto, e uma nobre
Emoção tocar tua mente e corpo.
E nem os Lestrigões, nem os Ciclopes,
Nem o fero Poséidon hás­‑de ver,
Se dentro d'alma não os transportares,
Se não tos puser a alma à tua frente.

Faz votos por que seja longa a viagem.
As manhãs de verão que sejam muitas
Em que o prazer te invada e a alegria
Ao entrares em portos nunca vistos;
Hás­‑de parar nas lojas dos fenícios
Para mercar os mais belos artigos:
Ébano, corais, âmbar, madrepérolas,
E sensuais perfumes de todas as sortes,
E quanto houver de aromas deleitosos;
Vai a muitas cidades do Egipto
Aprender e aprender com os doutores.

Ítaca guarda sempre em tua mente.
Hás­‑de lá chegar, é o teu destino.
Mas a viagem, não a apresses nunca.
Melhor será que muitos anos dure
E que já velho aportes à tua ilha
Rico do que ganhaste no caminho
Não esperando de Ítaca riquezas.

Ítaca te deu essa bela viagem.
Sem ela não te punhas a caminho.
Não tem, porém, mais nada que te dar.

E se a fores achar pobre, não te enganou.
Tão sábio te tornaste, tão experiente,
Que percebes enfim que significam Ítacas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário