O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

terça-feira, 1 de junho de 2010

HOMENS DE ESCABECHE - TEATRO SEIVA TRUPE




HOMENS DE ESCABECHE – ANA ISTARÚ
TEATRO SEIVA TRUPE
ENCENAÇÃO: ANTÓNIO FEIO
ACTORES: JOANA ESTRELA – JOSÉ FIDALGO

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HOMENS DE ESCABECHE, relata na primeira pessoa, a vida de Alice passando pelos vários homens que fazem parte da sua vida: infância, adolescência e idade adulta. De uma forma docemente provocadora e divertida, a história leva-nos para um caminho que conta com o saudável costume de nos rirmos de nós próprios. Alice, sem o querer converte-se numa narradora dos seus fracassos, mantendo um difícil equilíbrio entre a ilusão e a amargura.
Ao longo do espectáculo, assiste-se às cenas normais do quotidiano, onde Alice desenvolve a consciência do género feminino e a descoberta do mundo adulto. O pai é sempre uma figura presente pela negativa. De tropeço em tropeço Alice, vai do seu primeiro amor até ao mais profundo, averiguando se os seus desejos são efectivamente seus ou algo imposto desde criança.
Os temas tocados são diversos: o amor, o desejo, o casal, o sexo, a maternidade. A peça questiona a sobrevivência ainda do machismo, através de expressões e atitudes mais subtis, difíceis de erradicar por completo. Revela estereótipos sexuais com uma visão aberta e sensível, através das reflexões de Alice.
HOMENS DE ESCABECHE, mostra a tensão homem-mulher a partir das suas diferenças, mas de uma forma cheia de humor inteligente.






[ANA ISTARÚ- Poeta, actriz e dramaturga, que nasceu em Porto Rico em 1960. Escreveu o seu primeiro livro com 15 anos e tem uma carreira de sucesso, tendo sido muito premiada.]
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Uma lua crescente
Cavalga entre minhas pernas.

Em suas coxas doura-se,
Corcel, o sol nascente.

Que o marido pombo,
A ameixa rotunda.

Esta esposa que sou
A concha.
A mais morena lebre
Em meu varão se eleva.

Horizonte me habita
De goiaba e de curva.

O eixo do seu corpo
Do meu corpo é eixo.

Um ébano em dois ramos,
Uma emaranhada tinta.
Uma lua crescente
Cavalga entre as suas pernas.

Em minhas coxas se doura,
Corcel, o sol nascente.
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NO INÍCIO

No inicio era minha mãe
Caverna tépida e arredondada
Berço de carne florescida,
Rincão banhado de pulsações,
Cascata de lençóis engomados.
E no início era meu pai,
Horto de trepadeiras sob a lua,
Sangue clara de amor nas janelas
Contra seu pescoço de lume.
Então eu cresci, ramalhada suave,
Como um vento intenso
Sobre seu ventre.
E a vida me despertou
No país acima do chão
Com o odor que brota dos troncos
E as mãos que dependuram roupa nos pátios,
Quando a chuva rebenta
Sobre Outubro,
Cavalo imenso e desbocado.

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