Para Octavio Paz a poesia é a forma natural de convivência entre os homens. Sua crítica é um diálogo aberto com o mundo, sendo seu desejo "a busca de identidade da natureza humana na multiplicidade de signos". Segundo o poeta Sebastião Uchoa Leite, "a crítica de Octavio Paz é de ordem antropológica e poética. Paz é poeta e crítico das civilizações, acreditando, ao contrário de que as civilizações são mortais, na frase de Valéry, que mesmo as aparentemente mortas estão vivas: os seus signos circulam nessa ars combinatoria do universo histórico. Como tudo é linguagem, tudo significa".
Isto e isto e isto
O surrealismo tem sido a maçã de fogo na árvore da sintaxe
O surrealismo tem sido a camélia de cinza entre os peitos da adolescente possuída pelo espectro de Orestes
O surrealismo tem sido o prato de lentilhas que o olhar do filho pródigo transforma em festim fumegante de rei canibal
O surrealismo tem sido o bálsamo de Ferrabrás que apaga os sinais do pecado original e o umbigo da linguagem
O surrealismo tem sido a cusparada na hóstia e o cravo de dinamite no confessionário e o abre-te sésamo das caixas de segurança e das grades dos manicómios
O surrealismo tem sido a chama ébria que guia os passos do sonâmbulo que caminha na ponta dos pés sobre o fio de sombra que traça a folha da guilhotina no pescoço dos justiçados
O surrealismo tem sido o prego ardente na fronte do geómetra e o vento forte que à meia-noite levanta o lençol das virgens
O surrealismo tem sido o pão selvagem que paralisa o ventre da Companhia de Jesus até que a obriga a vomitar todos os seus gatos e seus diabos encarcerados
O surrealismo tem sido o punhado de sal que dissolve as velhas moedinhas do realismo socialista
O surrealismo tem sido a coroa de papelão do crítico sem cabeça e a víbora que desliza entre as pernas da mulher do crítico
O surrealismo tem sido a lepra do ocidente cristão e o açoite de nove cordas que desenha o caminho de saída para outras terras e outras línguas e outras almas sobre o lombo do nacionalismo embrutecido e embrutecedor
O surrealismo tem sido o discurso da criança soterrada em cada homem e a aspersão de sílabas de leite de leoas sobre os ossos calcinados de Giordano Bruno
O surrealismo tem sido as botas de sete léguas dos foragidos das prisões da razão dialéctica e a tocha de Pulgarcito que corta os nós da trepadeira venenosa que cobre os muros das revoluções petrificadas do século XX
O surrealismo tem sido isto e isto e isto
Nenhum comentário:
Postar um comentário