O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

terça-feira, 6 de julho de 2010

A APARENTE VIVÊNCIA EM PAZ DE UM CASAL DE MEIA-IDADE

Edward Hopper

Imaginem duas pessoas robotizadas. Levantam-se, quarto de banho, pequeno-almoço, compras, um toma café e o outro compra o jornal. Vão para casa, um lê o jornal o outro vai ler as notícias à Internet! De vez enquanto cruzam-se e dizem palavras imperceptíveis. Há hora do almoço, juntam-se na cozinha e ligam a televisão para ver as notícias. Há alguns comentários superficiais, já combinaram não falar na política, para evitar discussões, aliás já desistiram de falar de muitas coisas, nas quais estão sempre em desacordo.
Nós já não conversamos, ficamos calados para não discutirmos.
Ela diz «vou dar um passeio, o tempo não está mau».
Ele diz «vais?»
Ela. «Vamos, se quiseres!»
«Não sei se quero, estou cansado!»
Os dois, caminham até ao parque, de que falam?
De pouco, coisas muito triviais.
Depois sentam-se numa esplanada e ficam olhando para um lado e para o outro em silêncio. Ela leva sempre um livro, ele fecha os olhos. Dorme? Não dorme?
Regressam a casa e ele vai para o sofá.
Mas no que havia de dar isto, não passas de um mongo de chinelos, numa letargia, entre o sono e a realidade.
Ela vai para o computador, ou ler ou falar ao telefone.
Ele diz: Tu muito falas e muito escreves!?...
Ela faz que não ouve.
Mais tarde, ela vai fazer o jantar.
Jantam na sala, como sempre correm as notícias. Ela barafusta irritado para a televisão, ela fica em silêncio.
Depois ele regressa ao sofá. Ela vai para o quarto. Cada um tem uma televisão, porque não vêem os mesmos programas. Ele vê, dorme e fica até às tantas no sofá. Nem se apercebe quando ela vai à cozinha, comer qualquer coisa! Depois disso ela mete-se na cama e adormece, só o vê de manhã deitado ao seu lado!..

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