JORGE LUÍS BORGES, foi um caso à parte, pelo seu universalismo, a variedade e a excentricidade dos seus temas. Transitava pelos clássicos e por temas exóticos com uma intimidade assombrosa. Não satisfeito com Dante, Shakespeare ou Kafka, mergulhava nas sagas islandesas, nas lendas orientais e deliciava-se com As mil e uma noites, traduzidas por Sir Richard Burton. Eventualmente incursionava pelos subúrbios da sua amada Buenos Aires. Multifacetado escritor (poesia, conto e ensaio), notável estilista da língua espanhola moderna, talvez mesmo um dos mais relevantes do século XX, o Homero do Rio da Prata.
Manchou-lhe a gloriosa trajectória (nos últimos anos de vida, Borges virara um totem cultural consumido pela média internacional) a sua confraternização pública com as ditaduras militares. Ao apertar a mão de Augusto Pinochet em 1976, aceitando-lhe uma condecoração, perdeu definitivamente a possibilidade de lhe outorgarem o Prémio Nobel de Literatura.BIOGRAFIA DE JORGE LUÍS BORGES: http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u221.jhtm
O Presente não Existe
Não é extraordinário pensar que dos três tempos em que dividimos o tempo - o passado, o presente e o futuro -, o mais difícil, o mais inapreensível, seja o presente? O presente é tão incompreensível como o ponto, pois, se o imaginarmos em extensão, não existe; temos que imaginar que o presente aparente viria a ser um pouco o passado e um pouco o futuro. Ou seja, sentimos a passagem do tempo. Quando me refiro à passagem do tempo, falo de uma coisa que todos nós sentimos. Se falo do presente, pelo contrário, estarei falando de uma entidade abstracta. O presente não é um dado imediato da consciência.
Sentimo-nos deslizar pelo tempo, isto é, podemos pensar que passamos do futuro para o passado, ou do passado para o futuro, mas não há um momento em que possamos dizer ao tempo: «Detém-te! És tão belo...!», como dizia Goethe. O presente não se detém. Não poderíamos imaginar um presente puro; seria nulo. O presente contém sempre uma partícula de passado e uma partícula de futuro, e parece que isso é necessário ao tempo.
Jorge Luís Borges, in 'Ensaio: O Tempo'
LIMITES
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ResponderExcluirAo contrário de Santo Agostinho, para quem só o presente existe, uma vez que o passado "já não existe" e o futuro "ainda não existe".
Beijinho Manu e bom Domingo :))
De facto Josefa é interessante, esta concepção de Borges sobre o presente! Eu habitualmente digo que só vivo para o presente, porque o passado já passou e o futuro ainda não existe. Afinal nesta perspectiva o presente não é nada, e com que realmente se vive é com o passado!!!!
ResponderExcluirDe férias?
Boas férias!
Um abraço,
Manú