O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

terça-feira, 27 de julho de 2010

POESIAS DE JORGE LUIS BORGES

O REMORSO

Cometi o pior desses pecados
Que podem cometer-se.
Não fui sendo Feliz.
Que os glaciares do esquecimento
Me arrastem e me percam, desapiedados.
Plos meus pais fui gerado para o jogo
Arriscado e tão belo que é a vida,
Para a terra e a água, o ar, o fogo.
Defraudei-os. Não fui feliz. Cumprida
Não foi sua vontade. A minha mente
Aplicou-se às simétricas porfias
Da arte, que entretece ninharias.
Valentia eu herdei. Não fui valente.
Não me abandona. Está sempre ao meu lado
A sombra de ter sido um desgraçado.
Jorge Luis Borges, in "A Moeda de Ferro"
DO QUE NADA SE SABE

A lua ignora que é tranquila e clara
E não pode sequer saber que é lua;
A areia, que é a areia.
Não há uma
Coisa que saiba que sua forma é rara.
As peças de marfim são tão alheias
Ao abstracto xadrez como essa mão
Que as rege.
Talvez o destino humano,
Breve alegria e longas odisseias,
Seja instrumento de Outro.
Ignoramos;
Dar-lhe o nome de Deus não nos conforta.
Em vão também o medo, a angústia, a absorta
E truncada oração que iniciamos.
Que arco terá então lançado a seta
Que eu sou? Que cume pode ser a meta?
Jorge Luis Borges, in "A Rosa Profunda"

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