O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

segunda-feira, 12 de julho de 2010

INGMAR BERGMAN (1918-2007)

INGMAR BERGMAN, para mim e toda uma geração cinéfila foi um realizador de culto, todos os seus filmes eram esperados com grande expectativa. Dos variadíssimos aspectos técnicos, ao trabalho com os actores e aos temas filosófico/reflexivos que abordava, todo o seu trabalho era de grande qualidade e conteúdo. À saída das salas de cinema, sentia-se um especial peso na cabeça, uma vontade de sentir o vento na cara, mas também a certeza de um enriquecimento. Depois entre amigos dissecava-se o conteúdo dos seus filmes, que eram sempre uma motivação reflexiva e um desafio à inteligência.

Filmes, lidando com temas como a mortalidade, a solidão e a fé. As suas influências provêm do teatro: Henrik Ibsen e August Strindberg.
Sempre vi o cinema como arte e não como entretimento com o saco das pipocas na mão. Relativamente a Bergman, porque a sua linha se manteve muito personalizada, é difícil dizer os filmes que mais gostei, porque realmente gostei de todos, embora não tendo como objectivo o aspecto comercial, há filmes que se tornaram mais conhecidos do grande público.Woody Allen descreveu Ingmar Bergman como "provavelmente o maior artista do cinema, levando tudo em conta, desde a invenção da câmara de filmar". Woody Allen, fez mesmo um filme muito bergmaniano,
Intimidades.
Tarkovsky, Woody Allen e Robert Altman, reconheciam a sua influência. Bergman não gostava de Orson Welles e Godard, mas tinha admiração por Spielberg, Scorsese, Coppola e Soderbergh.
Comentário de Jean-Luc Godard, sobre Bergman no Cahiers du Cinéma:
"O cinema não é um ofício. É uma arte. Cinema não é um trabalho de equipe. O director está só diante de uma página em branco. Para Bergman estar só é questionar-se; filmar é encontrar as respostas. Nada poderia ser mais classicamente romântico".















Ernst Ingmar Bergman nasceu a 14 de Julho de 1918. Foi duramente marcado por uma educação de cruel disciplina e severa educação religiosa (detalhado por si no livro Lanterna Mágica e no filme Fanny och Alexander. O seu refúgio era o seu mundo de fantasia. Com 19 anos afastou-se definitivamente dos pais.
Iniciou-se como encenador e dramaturgo e começou a trabalhar no cinema em 1942 como assistente de argumentista, assinando em 1944 o seu primeiro original, Hets para o maior cineasta daquele tempo, Alf Sjoeberg, e que receberia o Grande Prémio do Júri no Festival de Cannes. Em 1945 realizou o seu primeiro filme, Kris, e a partir daí manteve uma média de dois filmes por ano, conjugados com produções teatrais. O cineasta despertou atenção fora das suas fronteiras com, Sommarnattens leende em 1955, mas foi Det sjunde inseglet e Smultronstället, dois anos mais tarde, que lhe deram aclamação a nível mundial junto da crítica e do público. O primeiro, é uma alegoria sobre os anos da Peste no século XIV, recebeu o Grande Prémio do Júri em Cannes e inclui uma das cenas mais famosas da história do cinema, a de um cavaleiro medieval (interpretado por Max Von Sydow, numa das 13 vezes que trabalharam juntos) a jogar xadrez com a morte.


O segundo ganharia o Urso de Ouro no Festival de Cinema de Berlim e o Prémio da Crítica em Veneza. Criou o que se chamou de um universo bergmaniano, trabalhando repetidamente com certos actores, como: Max von Sydow, Erland Josephson, Gunnar Björnstrand, Bibi Andersson, Liv Ullmann e Ingrid Thulin, entre outros.
Os seus filmes eram esperados religiosamente e imprescindíveis de serem vistos, assim filmou: «Ansiktet/O Rosto» (1958), «Nära livet/O Direito à Vida» (1958, Prémio de Realização em Cannes), «Jungfrukällan/A Fonte da Virgem» (1959, Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, menção especial em Cannes), «Djävulens öga/O Olho do Diabo« (1960), «Såsom i en spegel/Em Busca da Verdade» (1962, segundo Oscar), «Nattvardsgästerna/Luz de Inverno» (1962), «Tystnaden/O Silêncio» (1963), «Persona/A Máscara» (1966),


«A Hora do Lobo» (1968), «Skammen/A Vergonha» (1968) e «En Passion/A Paixão» (1969). Nos anos 70, o prestígio cresceu com «Viskningar och rop/Lágrimas e Suspiros» (1972, Grande Prémio em Cannes),


«Scener ur ett äktenskap/Cenas da Vida Conjugal» (1973), «Ansikte mot ansikte/Face a Face» (1976), «Das Schlangenei/O Ovo da Serpente» (1978) e «Höstsonaten/Sonata de Outono» (1978, nomeação pelo argumento).

Em 1976 tem lugar um dos episódios mais penosos da sua vida, é detido para investigação por invasão fiscal. Bergman, que deixara a gestão de todas as finanças nas mãos de um advogado, foi interrogado durante horas. Após ser dispensado, foi proibido de deixar o país. O caso deu origem a um enorme escândalo na imprensa e o cineasta teve um esgotamento nervoso. Mais tarde, viria a ser absolvido de todas as acusações, mas a experiência -lo exilar-se na Alemanha. Regressou a Estocolmo para filmar, Fanny e Alexandre e afirmou ser a sua última película. Este filme obteve quatro Oscars, incluindo o seu terceiro na categoria de Melhor Filme Estrangeiro.


Dedicou-se depois principalmente ao teatro e televisão, e escreveu argumentos que outros adaptaram ao cinema, ainda que o cineasta admitisse que sentia sempre a necessidade de realizar, mesmo não tendo planos para um novo filme. Mas o seu último filme surgiu em 2002, Saraband, nesse filme recuperava as duas personagens principais de Cenas de Vida Conjugal.


Ingmar Bergman teve 5 casamentos tumultuosos e 9 filhos. Nos seus últimos anos de vida refugiou-se na ilha de Faaro.

O responsável por uma das grandes filmografias da história do cinema evitava ver os seus próprios filmes, porque isso o fazia sentir-se "deprimido e miserável".

[C&H]

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