O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

quinta-feira, 1 de julho de 2010

OS ANOS ÁUREOS DO CINEMA ALEMÃO

O «NOVO CINEMA ALEMÃO» - (DÉCADAS DE 60 A 80) - FASSBINDER-WIM WENDERS- SCHLÖNDORFF – HERZOG-VON TROTTA

Tendo por base a Nouvelle Vague francesa e os protestos e causas defendidas em Maio 1968 em França, um novo cinema alemão surgiu e tornou-se conhecido internacionalmente. Os realizadores desse movimento foram: Rainer Werner Fassbinder, Werner Herzog, Wim Wenders e Volker Schlöndorff. Os seus filmes abordavam temas como o conflito de gerações, revolução sexual, emancipação feminina e as amarras da estrutura familiar alemã. Estes realizadores, tiveram um reconhecimento internacional, mas na Alemanha não eram muito bem vistos, eram olhados como arrogantes e pretensiosos.

Um dos nomes de maior relevo foi, Rainer Werner Fassbinder (1945 – 1982), fez 43 filmes (incluindo duas curta-metragens, e Berlin Alexanderplatz, de 15 horas e meia), esteve ligado ao cinema e ao teatro. Fassbinder, tinha uma disciplina intensa e grande energia criativa. Os seus filmes abordavam as paixões de uma Alemanha, que ainda «carregava» consequências do «pós-guerra», vivendo uma democracia com dificuldades económicas, políticas, sociais e morais. A solidão, o medo, o desespero, a angústia, a busca de identidade e a aniquilação do indivíduo por convencionalismos, o amor não correspondido, a felicidade sonhada, o desejo tortuoso e a exploração dos sentimentos. Nos seus filmes a mulher tem um lugar especial, revelando os mecanismos opressivos de que era vítima. Três filmes são paradigmáticos disso: O Casamento de Maria Braun, interpretada por Hanna Schygulla, Lola, vivida por Barbara Sukowa e Veronika Voss, interpretada por Rosel Zech.Fassbinder tinha uma diversidade de estilos: clássico, barroco, realista, alegórico, expressionista, moderno, considerando cada filme em particular. Todas as cenas eram minuciosamente estudadas, tanto no aspecto técnico, como no aspecto estético. Michael Ballhaus, foi um excelente colaborador e juntos prodigalizaram grande audácia técnica. Depois Ballhaus foi trabalhar para Hollywood com, Martin Scorsese, Francis Ford Coppola e Paul Newman. Fassbinder, na sua formação teve influências de mestres do melodrama hollywoodiano, como Raoul Walsh ou Douglas Sirk. Depois de Ballhaus, trabalhou com Xaver Scharzemberger, filmando, As Lágrimas Amargas de Petra von Kant, Lola e a mítica adaptação televisiva de Berlin Alexanderplatz, baseada numa novela de Alfred Döblin. Nos seus últimos filmes, o seu estilo tornou-se mais hermético, com A Terceira Geração, Um Ano de 13 luas e o clássico Querelle, baseada na obra Querella, de Jean Genet.Fassbinder levou ao cinema obras capitais da literatura alemã, como Effi Brest (1894), Theodor Fontane e Alfred Döblin. Realizou também uma trilogia sobre a República Federal no pós-guerra, assim como retratou o nascimento do nazismo. o seu auge e queda. Igualmente retratou os assuntos sociais e políticos da sua época, como o terrorismo de extrema-esquerda. Fassbinder morreu de uma overdose de drogas aos 36 anos. Há controvérsias se a overdose foi voluntária ou não, e se a discriminação sofrida por ser homossexual declarado, não tenha sido a causa para o seu fim prematuro.

Ernst Wilhelm "Wim" Wenders (1945). Nos seus filmes, a vida tem sempre uma grande dose de questionamento. É o mais internacional dos cineastas do Cinema Alemão, "pai" de personagens em constante crise existencial e de trajectória incerta. Antes de se dedicar ao cinema, estudou filosofia e medicina, mas desistiu dos sofismas e laboratórios, para investigar o ser humano através das películas. Frequentou a Hochshule für Film und Fernsehen (Escola Superior de Cinema e Televisão), de Munique. Entre 1967 e 1970, conciliou o curso com viagens a Paris, onde estudou pintura. Desde criança, Wenders sentiu interesse por outras culturas e por viagens. A sua primeira longa-metragem foi I Die Angst des Tormanns Beim Elfmetter (1971). Com Alice in den Staedten (1973), Wenders começou a projectar-se e entrou no mundo dos road movies, com personagens que vagueiam, procurando respostas para os seus conflitos. Com Der Americanische Freund (1977), adaptação de uma novela da escritora Patricia Highsmith, o cineasta ganhou fama internacional. O filme é um dos mais significativos da trajectória do cineasta, mostrando a associação e o confronto entre um alemão e um americano. Em 1982, Wenders segue o inevitável caminho rumo a Hollywood e dirige Hammet, para a produtora Zoetrope, do director Francis Ford Coppola. A experiência não é das mais satisfatórias para Wenders, que nas folgas rodou Der Stand der Dinge (1982), em Lisboa. Apesar de ter alinhado com a indústria cinematográfica, sempre procurou fazer um cinema de autor. Com, Paris, Texas, fez o seu trabalho mais popular e ganhou a Palma de Ouro em Cannes. Em 1987, Wenders finalizou o poético Asas do Desejo, sobre anjos que observam a desordem afectiva e material dos habitantes de Berlim. No filme, Wenders derrubou não o muro que separou as duas Alemanhas, mas procurou uma espécie de língua comum para uma certa ordem celestial e o mundo terrestre. Depois, fez a continuação da história, Weiter Ferne, So Nah! (1993). Com Until The End of the World (1991), Wenders realizou um projecto de muitos anos, mas não foi bem recebido pela critica, partiu depois para Lisbon Story (1995).Com Michelangelo Antonioni, Wenders participou das filmagens de Além das Nuvens, depois retornou a Hollywood para fazer The End of Violence, dentro do género do estilo explosivo de cineastas como Quentin Tarantino. Seguem-se outros filmes, como: Million Dollar Hotel , Buena Vista Social Club e outros.

Volker Schlöndorff (1939) foi para França, estudar cinema. Foi assistente de grandes nomes como Jean-Pierre Melville, Alain Resnais e, acima de tudo, Louis Malle, o seu maior mestre e amigo. Anos mais tarde, Schlöndorff voltaria mais uma vez ao cinema francês, com Um amor de Swann, de Marcel Proust, cuja adaptação ficou aquém das expectativas.No seu próprio país, Schlöndorff mostrou ser um director politicamente engajado, o que fica claro em filmes como, A honra perdida de Katharina Blum, mas foi com uma adaptação literária que Schlöndorff garantiu, em 1966/67, o seu lugar no grupo dos grandes nomes do Novo Cinema Alemão. Embora, O jovem Törless, de Robert Musil, não fosse certamente um material fácil para o cinema, Schlöndorff soube transpor a obra com maestria, encontrando um estilo específico.Daí em diante, Schlöndorff passou a ser considerado um "especialista em literatura". O director, filho de um médico, que perdeu cedo a mãe num terrível acidente automobilístico, sempre foi um leitor ávido. Acostumado desde a infância a só adormecer com um livro nas mãos, o cineasta teria dito certa vez, que a literatura era para ele pelo menos tão importante quanto o cinema.Na prática, soube conciliar os dois: O Tambor, agradou até mesmo ao seu autor Günter Grass, algo, naquele momento, difícil de acontecer. O Viajante, de Max Frisch, foi outra prova impressionante da habilidade de Schlöndorff de adaptar a literatura para o cinema. O Tambor ganhou o Óscar de melhor filme estrangeiro.Quando Schlöndorff recebeu o Óscar em 1980, ninguém vislumbrava que, poucos anos depois, os áureos tempos do cinema alemão já estariam perto do fim. A morte de Rainer Werner Fassbinder foi apenas um sinal simbólico e profundamente triste da decadência que se anunciava. Da mesma forma que outros directores, Schlöndorff usaria a fama conquistada após o triunfo de um Óscar para cruzar o oceano e trabalhar nos EUA, embora continuasse fiel às suas raízes literárias. A Morte de um caixeiro viajante (1985), peça de Arthur Miller, com Dustin Hoffmann no elenco, foi uma das memoráveis adaptações para o cinema de Schlöndorff. Depois dirigiu um estudo impressionante sobre o tema "culpa e responsabilidade" durante o período nazista (O nono dia) e também Strajk, die Heldin von Danzig (Greve, a heroína de Gdansk), um drama situado na Polónio nos tempos do sindicato Solidariedade.
Werner Herzog, nasceu em 1942, em Munique, e cresceu numa granja nas montanhas da Baviera. Estudou história, literatura e teatro em Munique e Pittsburgh ( EUA) nos anos de 1960, mas interrompeu os estudos para se dedicar ao cinema. Pertenceu ao movimento do jovem cinema alemão, desde o começo, alternando filmes de ficção e documentários. Herzog explorou de maneira intensa os limites entre realidade e ficção, privilegiando sempre o contacto físico e sensorial com a realidade. A sua capacidade narrativa depende essencialmente da possibilidade da sua experiência (...) e seus esforços se concentram na procura daquele instante mágico em que o homem vê, sente ou faz algo pela primeira vez, daí o seu interesse em contar histórias que se passam em lugares nunca antes filmados (como a selva amazónica) e em abordar personagens como Kaspar Hauser, cujo olhar para o mundo é o de constante descoberta. Os seus filmes contêm sempre heróis com sonhos impossíveis ou pessoas com talentos únicos em áreas obscuras. Herzog também seria aclamado por Lotte Eisner nos anos 1970, o que o levaria a retomar narrativas da cultura germânica, como se vê nos filmes Nosferatu e Woyzseck.A partir do final da década de 1980, dedicou-se mais aos documentários a até mesmo a direcção de ópera. Em 1991, dirigiu nos EUA um de seus poucos filmes de ficção, No coração da montanha, retomando um de seus temas predilectos: o alpinismo. Também realizou, em 1999, o documentário, Meu pior inimigo, sobre sua conturbada relação com Klaus Kinski ( 1926 – 1991) – actor que estrelou alguns de seus filmes mais importantes.


Margarethe Von Trotta (1942). Ao terminar a Escola secundária, começou a estudar Belas Artes. Frequentou a escola de dramaturgia em Munique. Trabalhou como actriz no Teatro de Stuttgart. Em 1969, conheceu Volker Schlöndorff e casaram. Margarethe tornou-se uma das actrizes mais famosas no período chamado de “Novo cinema alemão”. Em 1970, Margarethe começou a escrever ensaios e argumentos. No mesmo ano trabalhou pela primeira vez como directora (com Volker Schlöndorff). Ficou famosa como directora em 1975, quando co-dirigiu “The Lost Honour of Katharina Blum” com Schlöndorff. The Second Awakening of Christa Klages (1977) foi o primeiro filme que dirigiu sozinha. Em 1979, dirigiu, Sisters or the Balance of Happiness. Em 1981, alcançou renome internacional com, Die bleierne Zeit. Seguiu-se um filme sobre Rosa Luxemburgo com Barbara Sukowa e em 1989, von Trotta co-produziu, Felix.
[C&H]

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