O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

BERTOLT BRECHT (1898-1956)



Discutido, criticado, atacado, perseguido. Brecht lutou durante toda a sua vida pelos oprimidos. Claramente assumiu posições de esquerda e procurou colocar a luta de classes em tudo que escreveu. Nunca de forma dogmática. Sempre buscando a dúvida dialéctica.
Brecht nasceu, no dia 10 de Fevereiro de 1898. Como ele mesmo disse, viveu em tempos negros: viu a 1ª. Grande Guerra, viu a Revolução ser massacrada na Alemanha e seus líderes serem barbaramente assassinados, assim como milhares de operários e também as lideranças sindicais.Viu a fome nos anos 20, viu a ascensão de Hitler, viu a perseguição. Em 1933 viu o incêndio do Parlamento Alemão - o Reichstag - e compreendeu que tinha chegado uma nova era. Sabia que os próprios nazistas tinham colocado fogo no parlamento e colocado a culpa nos comunistas. As perseguições iam aumentar. Era hora de fugir.A partir daí fugiu de país em país, sabendo sempre que não era bem-vindo. Finalmente nos Estados Unidos sentiu na carne o que era a Caça às Bruxas. O anti-comunismo estava mais forte do que nunca no país que se dizia a terra da liberdade.Apesar de todas as perseguições, Brecht nunca parou de escrever. Escreveu de tudo: poesia, teatro, ensaios, roteiros de cinema. Mas apesar de a sua produção ser enorme tinha grandes dificuldades para sobreviver e sempre com o constante rótulo de comunista.Depois do fim da guerra voltou para a Alemanha, mas sabia que ela não era mais a mesma: era o tempo das duas Alemanhas. Num curto período de tempo finalmente Brecht teve o seu teatro e o seu colectivo de trabalho: o
Berliner Ensemble. Em 1954 o Berliner Ensemble fez a sua primeira grande viagem pela Europa, e a partir daí o nome de Bertolt Brecht, passou a ser um dos nomes mais importantes para o teatro no século XX.
Brecht, tornou-se muito conhecido como dramaturgo, escreveu mais de meia centena de peças, como por exemplo:
Baal, Tambores na Noite, O Casamento do Pequeno Burguês, A Excepção e a Regra, Os Sete Pecados Capitais, Terror e Miséria no Terceiro Reich, Os Fuzis da Senhora Carrar, Galileo Galilei, Mãe Coragem e seus Filhos, Schweik na Segunda Guerra Mundial, O Círculo de Giz Caucasiano, entre outras.Tornou-se relevante para o teatro até aos nossos dias, as suas peças estão regularmente em cena em todo o mundo.
Também o género cabaret, o tornou famoso. A parceria Kurt Weill-Bertold Brecht, na Alemanha dos anos 1920-1930, foi frutuosa. Bertolt Brecht revolucionou a linguagem teatral colocando o seu teatro ao serviço da desmistificação. Exigia, em primeiro lugar, que o actor mostrasse o personagem e não apenas o representasse. No mundo da música, este espírito instalou-se principalmente nas suas parcerias com os compositores Kurt Weill e Hanns Eisler.
Com Kurt Weill, Brecht criou um vasto e original universo musical que nos revela muito sobre a agitação social, política e cultural que impregnava a atmosfera da Berlim na época da República de Weimar. Weill imprimia à sua escrita musical uma ampla referência à música popular tocada nos clubes nocturnos e cabarés das esfumaçadas noites de Berlim, enquanto o texto de Brecht funcionava como uma poderosa arma de crítica social.
Três obras bem significativas da parceria Weill-Brecht,
“A ópera dos 3 vinténs” “Ascensão e queda da cidade de Mahagonny” (“Aufstieg und Fall der Stadt Mahagonny”) e “Happy End”. Também escreveu muita poesia.
Morreu com 58 anos no dia 14 de Agosto de 1956.


CONSULTA: AQUI

AS BOAS ACÇÕES

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Esmagar sempre o próximo

não acaba por cansar?

Invejar provoca um esforço

que incha as veias da fronte.

A mão que se estende naturalmente

dá e recebe com a mesma facilidade.

Mas a mão que agarra com avidez

rapidamente endurece.

Ah! que delicioso é dar!

Ser generoso que bela tentação!

Uma boa palavra brota suavemente

como um suspiro de felicidade!

.

.
I
.
Eu vivo em tempos sombrios.

Uma linguagem sem malícia

é sinal de estupidez,

uma testa sem rugas

é sinal de indiferença.

Aquele que ainda ri

é porque ainda não

recebeu a terrível notícia.
Que tempos são esses, quando

falar sobre flores é quase um crime.

Pois significa silenciar sobre tanta injustiça?

Aquele que cruza tranquilamente a rua

já está então inacessível aos amigos

que se encontram necessitados?
É verdade: eu ainda ganho o bastante para viver.

Mas acreditem: é por acaso.

Nado do que eu faço

Dá-me o direito de comer quando eu tenho fome.

Por acaso estou sendo poupado.

(Se a minha sorte me deixa estou perdido!)
Dizem-me: come e bebe!

Fica feliz por teres o que tens!

Mas como é que posso comer e beber,

se a comida que eu como,

eu tiro de quem tem fome?

se o copo de água que eu bebo,

faz falta aquem tem sede?

Mas apesar disso, eu continuo comendo e bebendo.
.II
.
Nos livros antigos está escrito o que é a sabedoria:

Manter-se afastado dos problemas do mundo

e sem medo passar o tempo que se tem para

viver na terra;

Seguir seu caminho sem violência,

pagar o mal com o bem,

não satisfazer os desejos, mas esquecê-los.

Sabedoria é isso!

Mas eu não consigo agir assim.

É verdade, eu vivo em tempos sombrios!
Eu vim para a cidade no tempo da desordem,

quando a fome reinava.

Eu vim para o convívio dos homens no tempo

da revolta

e me revoltei ao lado deles.

Assim se passou o tempo

que me foi dado viver sobre a terra.

Eu comi o meu pão no meio das batalhas,

deitei-me entre os assassinos para dormir,

Fiz amor sem muita atenção

e não tive paciência com a natureza.

Assim se passou o tempo

que me foi dado viver sobre a terra.
.III
.
Vocês, que vão emergir das ondas

em que nós perecemos,

pensem,

quando falarem das nossas fraquezas,

nos tempos sombrios

de que vocês tiveram a sorte de escapar.
Nós existíamos através da luta de classes,

mudando mais seguidamente de países que de

sapatos, desesperados!

quando só havia injustiça e não havia revolta.
Nós sabemos:o ódio contra a baixeza

também endurece os rostos!

A cólera contra a injustiça

faz a voz ficar rouca!

Infelizmente, nós,

que queríamos preparar o caminho para a amizade,

não pudemos ser, nós mesmos, bons amigos.

Mas vocês, quando chegar o tempo

em que o homem seja amigo do homem,

pensem em nós

com um pouco de compreensão.

.


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1
.

De que serve a bondade

Se os bons são imediatamente liquidados,

ou são liquidados

Aqueles para os quais eles são bons?

De que serve a liberdade

Se os livres têm que viver entre os não livres?

De que serve a razão

Se somente a desrazão consegue o alimento de que todos necessitam?
.
2
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Em vez de serem apenas bons, esforcem-se

Para criar um estado de coisas que torne possível a bondade

Ou melhor: que a torne supérflua!

Em vez de serem apenas livres, esforcem-se

Para criar um estado de coisas que liberte a todos

E também o amor à liberdade

Torne supérfluo!

Em vez de serem apenas razoáveis, esforcem-se

Para criar um estado de coisas

que torne a desrazão de um indivíduo

Um mau negócio.


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Quem construiu Tebas, a das sete portas?

Nos livros vem o nome dos reis,

Mas foram os reis que transportaram as pedras?

Babilónia, tantas vezes destruída,

Quem outras tantas a reconstruiu?

Em que casas

Da Lima Dourada moravam seus obreiros?

No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde

Foram os seus pedreiros?

A grande Roma

Está cheia de arcos de triunfo.

Quem os ergueu?

Sobre quem

Triunfaram os Césares?

A tão cantada Bizâncio

Só tinha palácios

Para os seus habitantes?

Até a legendária Atlântida

Na noite em que o mar a engoliu

Viu afogados gritar por seus escravos.
O jovem Alexandre conquistou as Índias

Sozinho?

César venceu os gauleses.

Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?

Quando a sua armada se afundou

Filipe de Espanha

Chorou.

E ninguém mais?

Frederico II ganhou a guerra dos sete anos

Quem mais a ganhou?
Em cada página uma vitória.

Quem cozinhava os festins?

Em cada década um grande homem.

Quem pagava as despesas?
Tantas histórias

Quantas perguntas

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O ANALFABETO POLÍTICO
.
O pior analfabeto

é o analfabeto político.

Ele não ouve, não fala,

nem participa dos acontecimentos políticos.

Ele não sabe que o custo da vida,

o preço do feijão, do peixe, da farinha,

do aluguer, do sapato e do remédio

dependem das decisões políticas.

O analfabeto político

é tão burro que se orgulha

e estufa o peito dizendo

que odeia a política.

Não sabe o imbecil que,

da sua ignorância política

nasce a prostituta, o menor abandonado

e o pior de todos os bandidos:

O político vigarista,

pilantra, corrupto e lacaio

das empresas nacionais e multinacionais.

MAIS POEMAS: AQUI

POEMAS ERÓTICOS: AQUI


C&H

Um comentário:

  1. Um blogue sempre com muita informação, muito agradável de percorrer... :))

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