Era a mais velha de duas filhas de Georges de Beauvoir, um advogado, e Françoise Brasseur. Simone mais tarde optou por se livrar das suas origens burguesas. Foi professora de filosofia até 1943 em escolas de diferentes localidades francesas. Morreu de pneumonia em Paris, aos 78 anos
As suas obras oferecem uma visão reveladora da sua vida e do seu tempo.
No seu primeiro romance, A Convidada (1943), explorou os dilemas existencialistas da liberdade, da acção e da responsabilidade individual, temas que abordou igualmente em romances posteriores como, O Sangue dos Outros (1944) e Os Mandarins (1954), obra considerada a sua obra-prima e pela qual recebeu o Prêmio Goncourt.
As teses existencialistas, segundo as quais cada pessoa é responsável por si própria, introduzem-se também numa série de obras autobiográficas, além de Memórias de uma moça bem-comportada, A Força das Coisas e Tudo Dito e Feito. Entre os seus ensaios críticos cabe destacar, O Segundo Sexo, uma profunda análise sobre o papel das mulheres na sociedade; A velhice, sobre o processo de envelhecimento, onde teceu críticas apaixonadas sobre a atitude da sociedade para com os velhos e A cerimonia do Adeus (1981), onde evocou a figura do seu companheiro de tantos anos, Sartre.
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Simone, conheceu Sartre, quando foi com Maheu e Nizan ao seu quarto, para estudar Leibniz. Logo no primeiro encontro percebeu que Sartre era o que mais sabia do grupo. Sartre tinha 23 anos, Simone, 21. Depois desse primeiro contacto, seguiu-se um período de alegre camaradagem entre Simone e os três rapazes, que a consideravam como uma igual. Simone apesar de ser de uma família burguesa e com formação católica, era uma rapariga desinibida. Em pouco tempo, a amizade de Sartre prevaleceu sobre a dos outros dois. Formaram um casal, cujo entendimento funcionou, Sartre não privava Simone da sua liberdade e Simone era uma mulher antiburguesa que não queria casamento, filhos, nem bens patrimoniais comuns.
Nunca moraram na mesma casa, respeitando os limites da autonomia de cada um. Viviam uma parte de férias juntos e as restantes, cada um as gozava como queria. Uma união em que o pensamento e a escrita sempre estiveram em primeiro lugar, seguidos do companheirismo, do prazer da conversa, da paixão pela política. Simone sentia-se dominada intelectualmente por Sartre, mas simultaneamente ele era um estímulo para o seu trabalho intelectual. Sartre e Simone viveram desta maneira mais de 50 anos. Partilhavam toda a sua vivência intelectual, eram os primeiros a ler os livros um do outro. A lista de casos amorosos de Sartre é longa, Simone tinha conhecimento, estava dentro da proposta de liberdade sexual de ambos, mas segundo disse Sartre, Simone foi sempre a mulher que amou, as outras eram experiências, o mundo singular que precisava de conhecer.
Beauvoir, teve uma forte relação com o escritor norte-americano Nelson Algren logo após a guerra, e na década de 1950 manteve outra relação de oito anos com Claude Lanzmann, autor de Shoah, e antigo aluno de Sartre. No Verão, era comum Beauvoir e Lanzmann viajarem com Sartre e a sua amante Michelle Vian, ex-esposa do escritor Boris Vian.Depois postumamente soube-se da vida pessoal de Simone, com mais detalhe e para muitos as suas contradições vão contra as suas ideias relativamente à mulher e principalmente ao seu livro O SEGUNDO SEXO, que despertou milhões de mulheres e as lançou na liberdade e na revolta. Contrariamente ao que dizia no livro, a sua ligação com Nelson Algren foi de grande submissão e dependência.
E isso não era tudo. Simone, era lésbica. Dava aulas de filosofia e tinha um grande interesse pelas suas alunas inteligentes e bonitas, que seduzia, usava-as e passava-as a Sarte. A sua vida amorosa era um trio, ela, Sartre o «amor necessário» e os «amores contigentes»Isto é incomodo para Simone de Beauvoir que sempre tinha negado ser homossexual ou bissexual. Essa omissão, essa negação, é lamentável, sobretudo partindo de uma pessoa que sempre se jactou de nunca mentir, de estar acima da mentira. Isso causou perplexidade. Sobretudo nas mulheres e principalmente para as feministas.No seu livro O SEGUNDO SEXO, ela considera que as lésbicas seguem caminhos condenados, embora rectifique falsas certezas da psicanálise sobre o lesbianismo. Simone não estava preparada para se reconhecer como lésbica, no seu livro a sua concepção da emancipação feminina é a sua fraternidade com o homem, consolidada pela independência económica.
Mesmo durante os anos do MLF (Mouvement de Libération des Femmes — Movimento de Libertação das Mulheres), em que as lésbicas enfim, tiveram voz pública, Simone de Beauvoir jamais disse uma palavra de apoio, preferindo o combate a favor do aborto. Este silêncio sobre a homossexualidade tem uma razão, e pode explicar-se pelas suas ideias filosóficas. O materialismo existencial, que fundamenta a sua análise da opressão das mulheres, bloqueia o amor lésbico como uma dinâmica emancipadora. Pois se a mulher é o Outro, se a feminilidade é socialmente construída, se o amor é uma alienação livremente consentida, como é que uma mulher poderia construir a sua identidade de sujeito livre através de um amor por outra mulher? É impossível, e compreende-se porque tal visão da mulher “relativa” não pode desembocar numa análise da homofobia. Seria preciso que “a essência” não sucedesse à existência, que ela fosse ao menos co-originária para que o desejo homossexual fosse incluído como uma das dimensões da identidade humana.
A frase que inicia o capítulo de O Segundo Sexo sobre o lesbianismo é reveladora desta posição de identidade insustentável que teve Beauvoir do pós-guerra até à sua morte em 1986. “... a mulher sempre será frustrada como indivíduo activo”. “Não é o órgão da possessão que ela inveja no homem, mas a sua presa”. Eis as palavras extremamente reveladoras de sua relação com a mulher desejada e o mundo masculino. A mulher é uma “presa” sexual, um objecto de consumo, de devoração.
Pode-se imaginar em que contradições, Simone de Beauvoir, se debatia. Uma avidez existencial sem precedentes que incluía a volúpia feminina, uma paixão absurda por Sartre que lhe impôs amantes que ela “dividia” com ele. Enfim, um desgosto pela feminilidade concebida como puro produto da dominação não lhe ajudou em nada a abandonar o silêncio de sua práxis lésbica.
O Segundo Sexo, publicado em 1949 provocou escândalo, era uma análise política sem precedentes da questão feminina. Beauvoir demonstrava que a inferioridade feminina não é natural e sim construída socialmente. Muitos homens revoltavam-se contra o livro, enquanto as mulheres o liam. Até à sua morte, milhares de mulheres escreveram a Beauvoir, algumas para dizer que o seu livro as tinha salvo. A americana Betty Friedan dedicou-lhe, em 1963, A Mulher Mistificada, segunda obra fundadora do feminismo.Durante toda a vida, tal como Sartre, Beauvoir serviu-se de sua notoriedade para defender os intelectuais e os “oprimidos”, especialmente as mulheres. Nos últimos quinze anos da sua vida, encontrou nas mulheres do “movimento”, um radicalismo e uma exigência de clareza à sua medida e ela colaborava nesse movimento entusiasmada, “porque elas não eram feministas para tomar o lugar dos homens, mas sim para mudar o mundo”. Ela criou a associação, Escolher para o Direito a uma Maternidade Desejada, em conjunto com a advogada Gisèle Halimi, o Centro Audiovisual Simone-de-Beauvoir, com a atriz Delphine Seyrig e Carole Roussopoulos e a Liga do Direito das Mulheres.
Beauvoir, teve uma forte relação com o escritor norte-americano Nelson Algren logo após a guerra, e na década de 1950 manteve outra relação de oito anos com Claude Lanzmann, autor de Shoah, e antigo aluno de Sartre. No Verão, era comum Beauvoir e Lanzmann viajarem com Sartre e a sua amante Michelle Vian, ex-esposa do escritor Boris Vian.Depois postumamente soube-se da vida pessoal de Simone, com mais detalhe e para muitos as suas contradições vão contra as suas ideias relativamente à mulher e principalmente ao seu livro O SEGUNDO SEXO, que despertou milhões de mulheres e as lançou na liberdade e na revolta. Contrariamente ao que dizia no livro, a sua ligação com Nelson Algren foi de grande submissão e dependência.
E isso não era tudo. Simone, era lésbica. Dava aulas de filosofia e tinha um grande interesse pelas suas alunas inteligentes e bonitas, que seduzia, usava-as e passava-as a Sarte. A sua vida amorosa era um trio, ela, Sartre o «amor necessário» e os «amores contigentes»Isto é incomodo para Simone de Beauvoir que sempre tinha negado ser homossexual ou bissexual. Essa omissão, essa negação, é lamentável, sobretudo partindo de uma pessoa que sempre se jactou de nunca mentir, de estar acima da mentira. Isso causou perplexidade. Sobretudo nas mulheres e principalmente para as feministas.No seu livro O SEGUNDO SEXO, ela considera que as lésbicas seguem caminhos condenados, embora rectifique falsas certezas da psicanálise sobre o lesbianismo. Simone não estava preparada para se reconhecer como lésbica, no seu livro a sua concepção da emancipação feminina é a sua fraternidade com o homem, consolidada pela independência económica.
Mesmo durante os anos do MLF (Mouvement de Libération des Femmes — Movimento de Libertação das Mulheres), em que as lésbicas enfim, tiveram voz pública, Simone de Beauvoir jamais disse uma palavra de apoio, preferindo o combate a favor do aborto. Este silêncio sobre a homossexualidade tem uma razão, e pode explicar-se pelas suas ideias filosóficas. O materialismo existencial, que fundamenta a sua análise da opressão das mulheres, bloqueia o amor lésbico como uma dinâmica emancipadora. Pois se a mulher é o Outro, se a feminilidade é socialmente construída, se o amor é uma alienação livremente consentida, como é que uma mulher poderia construir a sua identidade de sujeito livre através de um amor por outra mulher? É impossível, e compreende-se porque tal visão da mulher “relativa” não pode desembocar numa análise da homofobia. Seria preciso que “a essência” não sucedesse à existência, que ela fosse ao menos co-originária para que o desejo homossexual fosse incluído como uma das dimensões da identidade humana.
A frase que inicia o capítulo de O Segundo Sexo sobre o lesbianismo é reveladora desta posição de identidade insustentável que teve Beauvoir do pós-guerra até à sua morte em 1986. “... a mulher sempre será frustrada como indivíduo activo”. “Não é o órgão da possessão que ela inveja no homem, mas a sua presa”. Eis as palavras extremamente reveladoras de sua relação com a mulher desejada e o mundo masculino. A mulher é uma “presa” sexual, um objecto de consumo, de devoração.
Pode-se imaginar em que contradições, Simone de Beauvoir, se debatia. Uma avidez existencial sem precedentes que incluía a volúpia feminina, uma paixão absurda por Sartre que lhe impôs amantes que ela “dividia” com ele. Enfim, um desgosto pela feminilidade concebida como puro produto da dominação não lhe ajudou em nada a abandonar o silêncio de sua práxis lésbica.
O Segundo Sexo, publicado em 1949 provocou escândalo, era uma análise política sem precedentes da questão feminina. Beauvoir demonstrava que a inferioridade feminina não é natural e sim construída socialmente. Muitos homens revoltavam-se contra o livro, enquanto as mulheres o liam. Até à sua morte, milhares de mulheres escreveram a Beauvoir, algumas para dizer que o seu livro as tinha salvo. A americana Betty Friedan dedicou-lhe, em 1963, A Mulher Mistificada, segunda obra fundadora do feminismo.Durante toda a vida, tal como Sartre, Beauvoir serviu-se de sua notoriedade para defender os intelectuais e os “oprimidos”, especialmente as mulheres. Nos últimos quinze anos da sua vida, encontrou nas mulheres do “movimento”, um radicalismo e uma exigência de clareza à sua medida e ela colaborava nesse movimento entusiasmada, “porque elas não eram feministas para tomar o lugar dos homens, mas sim para mudar o mundo”. Ela criou a associação, Escolher para o Direito a uma Maternidade Desejada, em conjunto com a advogada Gisèle Halimi, o Centro Audiovisual Simone-de-Beauvoir, com a atriz Delphine Seyrig e Carole Roussopoulos e a Liga do Direito das Mulheres.
Relativamente ao seu legado, numa entrevista, Anne Zelensky-Tristan, co-fundadora, em 1974, da Liga do Direito das Mulheres, presidida por Simone de Beauvoir, disse:“A ideia da Liga do Direito das Mulheres partiu dela, que estava irritada com a inércia da Liga dos Direitos Humanos nesse tópico. A associação foi fundada por várias mulheres e presidida por Beauvoir. Ela sempre esteve muito presente. Em 1971, estava à frente do Manifesto das 343, assinado por mulheres conhecidas que declaravam ter-se submetido a um aborto. O escândalo foi imenso. Em 1972, participou das duas Jornadas de denúncias dos crimes contra as mulheres. Simone de Beauvoir foi, para mim, um modelo vivo e um modelo de vida. Já muito jovem, eu quis viver como ela, assumir minha liberdade. Sempre admirei a tentativa dela e Sartre de reinventar o casal, tentativa esta que continua à frente do que se faz hoje. O Segundo Sexo, continua sendo uma bomba para o sistema patriarcal! Apesar dos guardiães do templo, sua herança é imensa.”http://www.simonebeauvoir.kit.net/artigos_p09.htm
No seu centenário (1908-2008), em França foi feita uma homenagem a Simone de Beauvoir. Fadela Amara, secretária de Estado do governo Sarkozy, encabeçou as suas felicitações com a seguinte frase: "Ser livre é querer a liberdade dos outros", citação de Simone de Beauvoir. O facto de uma ministra de um Executivo que tem entre seus objectivos "acabar com o pensamento de Maio de 68" citar Beauvoir, fundadora do feminismo moderno, maoísta ocasional, que se autodefinia como "totalmente de esquerda" e desejosa da queda do capitalismo, combinou mal com o lema sarkozista de "trabalhar mais para ganhar mais".
Hoje, através de biografias, depoimentos e análises, o que Sartre e Beauvoir simbolizaram é criticado por alguns. Não foram tão "resistentes" como diziam, não foram tão "livres" como pareciam, não tiveram tanta razão como se acreditava. E o marxismo já não é o sistema filosófico, e sim mais um entre eles, como esse existencialismo do qual eles foram os profetas.
Mas cerca de 1,2 milhão de exemplares foram vendidos desde 1949 (só em francês) de O Segundo Sexo, livro de referência do feminismo e consequente influência do mesmo na evolução da mentalidade contemporânea. Assim como é preciso considerar todas as outras obras que escreveu. Tudo contribuiu para fazer de Simone de Beauvoir num mito, embora alguns aproveitem só para descobrir que seus pés eram de barro. Com efeito, de barro humano. Sartre e Simone de Beauvoir são figuras mundiais respeitadas, curiosamente mais nos EUA do que em França.http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/elpais/2008/01/12/ult581u2409.jhtm
[C&H]
No seu centenário (1908-2008), em França foi feita uma homenagem a Simone de Beauvoir. Fadela Amara, secretária de Estado do governo Sarkozy, encabeçou as suas felicitações com a seguinte frase: "Ser livre é querer a liberdade dos outros", citação de Simone de Beauvoir. O facto de uma ministra de um Executivo que tem entre seus objectivos "acabar com o pensamento de Maio de 68" citar Beauvoir, fundadora do feminismo moderno, maoísta ocasional, que se autodefinia como "totalmente de esquerda" e desejosa da queda do capitalismo, combinou mal com o lema sarkozista de "trabalhar mais para ganhar mais".
Hoje, através de biografias, depoimentos e análises, o que Sartre e Beauvoir simbolizaram é criticado por alguns. Não foram tão "resistentes" como diziam, não foram tão "livres" como pareciam, não tiveram tanta razão como se acreditava. E o marxismo já não é o sistema filosófico, e sim mais um entre eles, como esse existencialismo do qual eles foram os profetas.
Mas cerca de 1,2 milhão de exemplares foram vendidos desde 1949 (só em francês) de O Segundo Sexo, livro de referência do feminismo e consequente influência do mesmo na evolução da mentalidade contemporânea. Assim como é preciso considerar todas as outras obras que escreveu. Tudo contribuiu para fazer de Simone de Beauvoir num mito, embora alguns aproveitem só para descobrir que seus pés eram de barro. Com efeito, de barro humano. Sartre e Simone de Beauvoir são figuras mundiais respeitadas, curiosamente mais nos EUA do que em França.http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/elpais/2008/01/12/ult581u2409.jhtm
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