O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

terça-feira, 24 de agosto de 2010

DOCUMENTÁRIO DE AGUSTINA BESSA-LUÍS

Gostei de rever este documentário e ouvir a escritora a falar de si. Da infância, adolescência, da escrita, do seu casamento (interessante a forma como escolheu o companheiro, colocando um anúncio num jornal: Homem inteligente e culto...), dos seus êxitos, do seu relacionamento com o realizador Manuel de Oliveira, nem sempre cordato....enfim gostei de estar com Agustina, que dizia:

"Eu não me levo muito a sério. É a melhor maneira de viver. Aquele que se leva a sério está sempre numa situação de inferioridade perante a vida."

O seu primeiro livro foi o «Mundo Fechado» e desse livro, mandou cópias aos escritores, que na altura ela considerava importantes: Pascoaes, Torga, Aquilino, Ferreira de Castro.
Torga não respondeu, Pascoaes estava muito doente e pouco depois morreu, mas mais tarde foram encontrados nos seus papeis uns apontamentos para Agustina, favoráveis ao livro.


"Escrever é comover para desconvocar a angústia e aligeirar o medo...Ama-se a palavra usa-se a escrita despertam-se as coisas do silêncio em que foram criadas."

A sua escrita, são divagações sobre a condição humana. Uma visão cáustica, cruel e implacável sobre as paixões, com falhas de coerência e lógica, porque elas também existem na vida real.
Os seus grandes influenciadores foram, Dostoievsky e Freud, porque eles foram ao fundo da alma.
O seu romance preferido: Um Inverno Frio.



A Capacidade de Adaptação dos Portugueses
Os observadores estrangeiros maravilham-se de que Portugal resista à crise política e económica com tal poder de adaptação. Há nos Portugueses uma sinceridade para com o imediato que desconcerta o panorama que transcende o imediato. O infinito é o que eu situo - dizem. E assim vivem. Protegidos talvez por essa condição de afecto pelas coisas, pelos seus próprios delitos, que não consideram dramáticos, só ao jeito das necessidades. De resto — quem se apresenta a salvar-nos que não esteja suspeitamente indignado? Os que muito se formalizam muito escondem; os que acusam demasiado privam-se de ser leais consigo próprios. O país não precisa de quem diga o que está errado; precisa de quem saiba o que está certo.

Agustina Bessa-Luís, in 'Dicionário Imperfeito'

Garras dos sentidos

Não quero cantar amores,
Amores são passos perdidos,
São frios raios solares,
Verdes garras dos sentidos.
São cavalos corredores
Com asas de ferro e chumbo,
Caídos nas águas fundas,
não quero cantar amores.
Paraísos proibidos,
Contentamentos injustos,
Feliz adversidade,
Amores são passos perdidos.
São demências dos olhares,
Alegre festa de pranto,
São furor obediente,
São frios raios solares.
Da má sorte defendidos
Os homens de bom juízo
Têm nas mãos prodigiosas
Verdes garras dos sentidos.
Não quero cantar amores
Nem falar dos seus motivos

2 comentários:

  1. Olá,

    Apreciei sobremaneira o seu Blog, desde logo pelo post sobre a Agustina, escritora cuja obra admiro acima de todas as outras. Encantei-me também pelo aspecto gráfico do Blog, pela disposição do conteúdo, pela sobriedade, etc.
    Queria manifestar-lhe a minha admiração pelo seu projecto.

    Cumpts!

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  2. Olá,
    adorei o seu blog , pois sou um amante de arte , mas acho que estou casado com as ciências.
    o que gosto mais na arte é a pintura expressionista e também a expressionismo abstracto.
    cumprimentos

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